Fatores de risco para óbito por COVID-19 no Acre, 2020: coorte retrospectiva

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Artigo
original      Fatores de risco para óbito por COVID-19 no Acre, 2020:
              coorte retrospectiva
              doi: 10.1590/S1679-49742021000300018

           Risk factors for death by COVID-19, in Acre, Brazil, 2020: retrospective cohort

           Factores de riesgo de muerte por COVID-19, en Acre, Brasil, 2020: cohorte retrospectiva

           Patrícia Rezende do Prado¹ - orcid.org/0000-0002-3563-6602
           Fernanda Raphael Escobar Gimenes² - orcid.org/0000-0002-5174-112X
           Marcos Venicius Malveira de Lima³ - orcid.org/0000-0002-0332-2721
           Virgilio Batista do Prado4 - orcid.org/0000-0003-0394-2143
           Carolina Pontes Soares1 - orcid.org/0000-0002-9897-5863
           Thatiana Lameira Maciel Amaral1 - orcid.org/0000-0002-9197-5633

           ¹Universidade Federal do Acre, Centro de Ciências da Saúde e do Desporto, Rio Branco, AC, Brasil
           ²Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, SP, Brasil
           ³Secretaria de Estado de Saúde do Acre, Departamento de Vigilância Epidemiológica, Rio Branco, AC, Brasil
           4
            Secretaria de Estado de Saúde do Acre, Rio Branco, AC, Brasil

           Resumo
              Objetivo: Analisar fatores de risco para óbito em indivíduos com síndrome respiratória aguda grave por COVID-19.
           Métodos: Coorte retrospectiva, constituída de indivíduos adultos com COVID-19, de março a setembro de 2020, notificados
           pelo sistema de vigilância epidemiológica do estado do Acre, Brasil. Empregou-se regressão de Cox. Resultados: Entre
           57.700 indivíduos analisados, a incidência foi de 2.765,4/100 mil habitantes, e a mortalidade, de 61,8/100 mil hab. Os fatores
           de risco para o óbito foram ser do sexo masculino (HR=1,48 – IC95% 1,25;1,76), ter idade ≥60 anos (HR=10,64 – IC95%
           8,84;12,81), sintoma de dispneia (HR=4,20 – IC95% 3,44;5,12) e apresentar multimorbidade (HR=2,23 – IC95% 1,77;2,81),
           com destaque para cardiopatas e diabetes mellitus. Os sintomas ‘dor de garganta’ e ‘cefaleia’ estavam presentes nos casos
           leves da doença. Conclusão: Ser homem, idoso, apresentar cardiopatia, diabetes mellitus e dispneia foram características
           associadas ao óbito pela COVID-19.
              Palavras-chave: Síndrome Respiratória Aguda Grave; Infecções por Coronavírus; Estudos Longitudinais; Fatores de
           Risco; Mortalidade.

           Endereço para correspondência:
           Thatiana Lameira Maciel Amaral - Universidade Federal do Acre, Centro de Ciências da Saúde e do Desporto, Campus
           Universitário, BR 364, Km 4, Distrito Industrial, Rio Branco, AC, Brasil. CEP: 69920-900
           Caixa postal 500
           E-mail: thatianalameira27@gmail.com

                                                Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 30(3):e2020676, 2021                                 1
Fatores de risco para óbito por COVID-19

Introdução                                                      características da população e dos serviços de saúde,
                                                                e, nesse sentido, estudos longitudinais de seguimento
   A síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em de-            podem ser úteis para conhecer realidades locais e
corrência da COVID-19 (SRAG por COVID-19) é causada             subsidiar ações de saúde baseadas nessas realidades.
por um coronavírus identificado em Wuhan, capital da                O objetivo desta pesquisa foi analisar as caracterís-
província de Hubei, China, no mês de dezembro de                ticas epidemiológicas e os fatores de risco para óbito
2019.1 O novo coronavírus tem alta transmissibilidade           em indivíduos com SRAG por COVID-19 no estado do
e capacidade de causar casos graves e óbitos. No final          Acre, Brasil, em 2020.
de setembro de 2020, ele foi responsável por mais de
32,7 milhões de casos confirmados e mais de 1 milhão            Métodos
de mortes no mundo. O continente americano foi o
mais atingido, com um número de casos superior a 16,2               Estudo longitudinal de coorte retrospectiva. O Acre
milhões. Então, o Brasil era o segundo país afetado pela        está localizado na região Norte do país, na Amazônia
COVID-19 na região das Américas, com 4,8 milhões de             Ocidental brasileira, faz divisa com Peru e Bolívia, e
casos confirmados e mais de 143 mil mortes.2                    possui população estimada em 881.935 pessoas para
                                                                o dia 1º de julho de 2019.5 O estado conta com 380
     Muitas pesquisas vêm sendo                                 estabelecimentos de saúde, entre centros, postos e
     realizadas, na busca de práticas                           hospitais, distribuídos entre 22 municípios.6
                                                                    O estudo incluiu todos os casos de COVID-19 notifi-
     baseadas em evidências científicas,                        cados no Acre até 1º de setembro de 2020. A primeira
     sendo fundamental contribuir com                           notificação de COVID-19 no estado data de 15 de março
     estudos epidemiológicos visando a                          de 2020, com os sintomas relatados tendo-se iniciado
     promoção da saúde, a prevenção da                          no dia anterior; o último caso incluído no estudo
                                                                apresentou os primeiros sintomas quatro dias antes da
     doença e o planejamento da assistência
                                                                notificação em 1º de setembro de 2020. O tempo-zero
     hospitalar, com a identificação de                         da coorte foi definido pela data do início dos sintomas,
     indivíduos sujeitos a fatores de risco                     e o delta-tempo (∆T) correspondeu ao período desde
     para mortalidade.                                          a data do início dos sintomas até o desfecho (cura ou
                                                                óbito) para casos com confirmação diagnóstica de
   A pandemia afetou drasticamente os serviços de               SRAG por COVID-19. O tempo de seguimento foi de 60
saúde. Muitas pesquisas vêm sendo realizadas, na                dias, contados a partir da data dos primeiros sintomas.
busca de práticas baseadas em evidências científicas,               Todo caso de SRAG é compulsoriamente notificado
sendo fundamental contribuir com estudos epidemio-              e digitado, de forma individual, no Sistema de Infor-
lógicos visando à promoção da saúde, à prevenção da             mação de Vigilância da Gripe (SIVEP-Gripe), cujos
doença e ao planejamento da assistência hospitalar,             dados foram utilizados nesse sistema de notificação.
com a identificação de indivíduos sujeitos a fatores            Dado a SRAG por COVID-19 ser uma emergência de
de risco para mortalidade.3                                     Saúde Pública de importância nacional e internacional,
   Nesse cenário, alguns fatores de risco para morta-           o Ministério da Saúde, por meio da Nota Técnica nº
lidade pela SRAG por COVID-19 têm sido sugeridos,               20/2020-SAPS/GAB/MS, tornou compulsória a noti-
como a linfopenia grave, altos níveis de proteína C reativa     ficação dos casos, para investigação epidemiológica
(correlacionada com a gravidade da hipoxemia), idade            longitudinal e formulação de políticas e estratégias de
mais avançada (≥60 anos), sexo masculino, raça/cor da           saúde. Este foi o objetivo desta pesquisa.7
pele não branca, menor nível socioeconômico, presença               O diagnóstico dos casos com COVID-19 foi realizado
de comorbidades (e.g., diabetes mellitus, doenças car-          por meio de confirmação laboratorial, com o teste
diovasculares, hipertensão arterial e câncer, presença de       molecular (RT-PCR) ou o teste imunológico.
febre, dispneia, tosse e estado imunocomprometido),                 A SRAG foi definida pela presença concomitante de
assim como obesidade e estilo de vida não saudável.4 No         quatro critérios: (i) a febre, mesmo que autorreferida,
entanto, tais fatores podem se modificar, a depender das        (ii) a tosse ou dor de garganta, (iii) a dispneia ou

2                                 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 30(3):e2020676, 2021
Patrícia Rezende do Prado e colaboradores

saturação de O2
Fatores de risco para óbito por COVID-19

Tabela 1 – Caracterização dos indivíduos testados para COVID-19 (N=57.700) segundo resultado do teste,
           notificados, Acre, 2020
                                                                                                           Total                     Positivo             Negativo
 Variável                                                                                                                                                                      p-valora
                                                                                                              N                  N               %       N               %
 Sexob                                                               Masculino                             26.296           11.342              46,5   14.954           45,0
Patrícia Rezende do Prado e colaboradores

Continuação

Tabela 2 – Distribuição dos casos de COVID-19 (n=24.389) segundo município de residência, sinais e sintomas, e
           presença de multimorbidade, Acre, 2020
 Variável                                                                                                                                                              N           %
 Multimorbidade                                                                                  Sim                                                                  1.492        5,9
                                                                                                 Doença cardíaca                                                       834         3,3
                                                                                                 Diabetes mellitus                                                     443         1,7
                                                                                                 Doença respiratória crônica                                           186         0,7
 Morbidades relatadas                                                                            Doença renal crônica                                                  103         0,7
                                                                                                 Imunossupressão                                                       173         0,7
                                                                                                 Doença cromossômica                                                   61          0,2
                                                                                                 Gestante de alto risco                                                63          0,2

Tabela 3 – Distribuição dos casos de SRAGa por COVID-19 (n=18.987) segundo características epidemiológicas,
           clínicas e ocorrência do desfecho ‘óbito’ pela doença, Acre, 2020
                                                                                                                          Total                        Óbito
 Variável                                                                                                                                                                     p-valorb
                                                                                                                            N                   N                %
 Sexoc                                                                  Masculino                                         8.905                333              3,7
Fatores de risco para óbito por COVID-19

Tabela 4 – Fatores de risco para óbito pela SRAGa por COVID-19, Acre, 2020
 Variável                                                                      HRb bruta                IC95%c              p-valord          HRb ajustadae               IC95%c              p-valord
 Sexo                                                   Masculino                  1,78              1,49;2,11
Patrícia Rezende do Prado e colaboradores

como ser profissional de saúde, foram negativamente          estudos recentes apontem que os jovens não estão
associados ao óbito (Tabela 4).                              livres dessa condição quando apresentam obesida-
                                                             de. Estudo realizado nos Estados Unidos identificou
Discussão                                                    prevalência de obesidade próxima de 40%, enquanto
                                                             na China, essa condição observada foi de 6,2%.13 Na
    No presente estudo, foram identificados como fato-       França, demonstrou-se associação significativa entre
res de risco para óbito pela SRAG por COVID-19: sexo         prevalência de obesidade e SRAG por COVID-19 grave,
masculino, idade acima de 60 anos ou mais, dispneia,         sugerindo que a obesidade pode ser um fator de risco
presença de multimorbidade, com destaque para o              para evolução grave da doença e, consequentemente,
diabetes mellitus e problemas cardíacos; e como              maior risco de admissão em UTI.14
sintomas e sinais relacionados ao melhor prognóstico,            A doença grave envolve pneumonia intersticial
o relato de dor de garganta e a cefaleia, assim como         bilateral, o que requer suporte ventilatório na UTI e
ser profissional de saúde.                                   pode evoluir para síndrome da angústia respiratória
    A pandemia teve início no Acre em meados de              aguda (SARA), de alta mortalidade.4 Em Rio Branco,
março de 2020. Aquele momento, de emergência da              a prevalência de índice de massa corporal (IMC)
COVID-19 no estado, representou uma vantagem para            acima de 25 kg/m² é de 48,4% entre indivíduos com
o Acre, ao permitir mais tempo para o planejamento           18 a 39 anos, e de 62,1% na faixa etária de 40 a 59
da resposta da Saúde Pública regional. Ademais, a            anos,15 o que também coloca a população mais jovem
cidade de Rio Branco conta com um laboratório espe-          em risco, uma vez que o tecido adiposo serve como
cializado em doenças contagiosas, o que possibilitou         reservatório para o vírus.16
a identificação dos casos no primeiro momento da                 Foi identificado que os profissionais de saúde,
pandemia. Medidas de isolamento, como suspensão              especialmente os técnicos de enfermagem, médicos
de aulas e restrição de atividades não essenciais,           e enfermeiros, são grupos de risco importantes
também foram implementadas precocemente, com o               para contrair a COVID-19, porque estão na linha de
intuito de reduzir o impacto sobre o sistema de saúde.       frente das ações da Saúde frente à pandemia. Esses
Contudo, essas vantagens e as atitudes tomadas não           profissionais se arriscam diariamente, para salvar
evitaram, totalmente, a disseminação da doença na            os doentes acometidos pela SRAG por COVID-19,
população, e mortes foram inevitáveis.                       apesar da exaustão física e mental, da inquietação e
    Neste estudo, o perfil dos indivíduos contaminados       agonia de ter de tomar decisões difíceis de triagem
mostra que aqueles em idade produtiva se encon-              dos doentes nos serviços de atendimento, da dor de
tram sob maior risco de infecção. Porém, a maior             perder pacientes, colegas e amigos, além do medo de
mortalidade observada em indivíduos na idade de 60           transmitir a infecção para seus familiares. A falta de
anos ou mais corrobora os dados obtidos em estudo            equipamentos de proteção individual (EPIs), também
com 1.808 casos da doença no município do Rio de             são uma preocupação17 e, apesar da elevada taxa
Janeiro, onde, segundo os pesquisadores envolvidos,          de infecção, não foi observado, neste estudo, maior
pessoas na faixa etária dos 30 aos 59 anos foram mais        risco de mortalidade entre os profissionais de saúde.
incidentes entre os casos, enquanto indivíduos com 60        Como se não bastasse, a carga viral elevada nos casos
a 89 anos apresentaram maior taxa de mortalidade.8           mais graves coloca os profissionais responsáveis
    Dados da Coreia do Sul9 e da Alemanha,10 por sua vez,    por seu cuidado entre os grupos de maior risco de
demonstraram a elevada incidência na segunda década          infecção,4 além de a transmissão assintomática e a
de vida, um aspecto a considerar igualmente, haja vista      pré-sintomática responderem, respectivamente, por
o estudo alemão ter sugerido um papel importante dessa       51,7%18 e 44,0%19 das novas infecções.
faixa etária na propagação da epidemia, mesmo após a             Sobre os sintomáticos, as principais manifestações
implementação das medidas de distanciamento social. Na       observadas foram febre e tosse; dor de garganta e
Itália, os casos de UTI tinham média de 63 anos e apenas     dispneia também se fizeram presentes entre eles.
13,0% apresentavam menos de 51 anos.11                       Esses achados corroboram uma revisão de 65 artigos,
    Pacientes idosos com COVID-19 têm maior pro-             segundo a qual, menos comuns, foram identificados
babilidade de evoluir para a doença grave,12 embora          outros sintomas como cefaleia, diarreia, hemoptise e

                               Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 30(3):e2020676, 2021                                7
Fatores de risco para óbito por COVID-19

coriza;20 e mais preditores de infecção por COVID-19,           a presença de doenças cardiovasculares pode agravar
a perda do olfato e a perda do paladar, também iden-            a pneumonia e resultar em desfechos desfavoráveis.26
tificados em outro estudo.21                                        Entre as limitações da presente pesquisa, um ponto
    A hiposmia é um sintoma prevalente em indivíduos            a ser discutido está na utilização de dados secundários,
com COVID-19, mais frequente nessa do que em                    obtidos da vigilância epidemiológica estadual, o que
outras infecções do trato respiratório. Ela foi descrita        limitou o detalhamento das informações, especialmente
como sintoma com alto valor preditivo positivo para             sobre a presença ou não de hipertensão. Sugere-se a
infecção pelo coronavírus (88,8%) e, também, como               inclusão, no questionário do e-SUS VE, das variáveis
o sintoma inicial em até 35% dos casos da doença,               ‘hipertensão arterial’, ‘anosmia/hiposmia/disgeusia/
estando associada aos casos menos graves,3 assim                ageusia’, ‘mialgia’, ‘dor de garganta’, ‘cefaleia’, ‘coriza’ e
como revelou a coorte do presente estudo.                       ‘diarreia’, no sentido de melhor fundamentar pesquisas
    Entre os sintomas relatados, no que se refere à             futuras. Outras possíveis limitações do estudo são (i) a
presença de dispneia, houve diferença estatística entre         qualidade das informações, dependente do preenchi-
os que foram a óbito e os sobreviventes. A dispneia é           mento completo e correto da ficha de notificação do
relatada em casos graves, visto que a COVID-19 utiliza          e-SUS VE, e (ii) a subnotificação dos casos. Entretanto, a
a enzima conversora da angiotensina 2 (ECA 2) como              utilização desse banco de dados permite traçar um perfil
receptor, sendo amplamente encontrada nos tecidos do            de casos graves de SRAG por COVID-19, fundamental
pulmão, intestino, rim e vasos sanguíneos. Ademais, esse        neste momento de pandemia.
processo resulta em liberação de citocinas e consequen-             Outro ponto a ser questionado é o autorrelato da
te dano aos tecidos pulmonares, renais e cardíacos.22           multimorbidade, que pode resultar em subnotificações e
    Quanto à presença de multimorbidades, ela foi maior         subestimação da força de associação com resultados ad-
entre os indivíduos que foram a óbito por COVID-19              versos. Cumpre lembrar que o autorrelato para doenças
no Acre. Em Nova Iorque, Estados Unidos, estudo com             crônicas é amplamente utilizado, e que tais informações
5.700 indivíduos hospitalizados revelou que 88,0%               foram obtidas por profissionais de saúde. Outros estudos
apresentavam mais de uma morbidade, sendo as mais               são necessários para explorar o tema, utilizando-se de
prevalentes a hipertensão arterial (56,6%), a obesidade         fontes de dados primários e dispondo de maior tempo
(41,7%) e o diabetes mellitus (33,8%).23 Na China,              de seguimento. Finalmente, o número reduzido de óbitos
estudo com 1.590 pessoas hospitalizadas revelou que             resultou em intervalos de confiança amplos, cabendo
as morbidades mais prevalentes foram a hipertensão e            cautela na análise dos dados apresentados.
o diabetes, implicando um risco de 1,79 (1,16;2,77)                 Destaca-se como ponto forte da pesquisa o segui-
entre indivíduos com pelo menos uma morbidade,                  mento prolongado, com avaliação dos desfechos ‘cura’
e de 2,59 (1,61;4,17) entre aqueles com duas ou                 e ‘óbito’. Ademais, o estudo foi realizado em um estado
mais morbidades.24 Segundo uma pesquisa brasileira,             da região Norte do Brasil, com uma população que
realizada no período da pandemia até a 21ª Semana               obteve seu diagnóstico de análises laboratoriais e sua
Epidemiológica de 2020, o diabetes também foi mais              notificação de COVID-19 feita no e-SUS VE/SIVEP-Gripe,
prevalente em indivíduos hospitalizados com SRAG por            sendo acompanhados para fechamento dos casos e iden-
COVID-19, comparados à população geral do país.25 A             tificação dos desfechos em saúde. A escolha do tipo de
possível explicação para os quadros graves em pessoas           estudo e a abrangência da amostra, neste momento de
com diabetes mellitus deve-se ao reconhecimento                 pandemia, reforçam sua importância, na medida em que
constante da glicose pelos receptores de lectina do tipo        o trabalho subsidia conhecimentos sobre a realidade de
C, gerando maior inflamação.22                                  estados distantes dos grandes centros urbanos do país,
    Em estudo com 1.139 casos e 11.390 controles rea-           permitindo a identificação de fatores de risco regionais
lizado em Madri, Espanha, pesquisadores observaram              para óbito na SRAG por COVID-19.
que os inibidores do sistema renina-angiotensina-aldos-             Conclui-se que o estudo analisou as características
terona não aumentaram o risco de SRAG por COVID-19              epidemiológicas e os fatores de risco para óbito em
grave, sendo desaconselhada a descontinuidade do trata-         indivíduos diagnosticados com SRAG por COVID-19 no
mento por parte dos doentes. Ademais, o monitoramento           estado do Acre. É necessária atenção aos grupos de ris-
contínuo desses indivíduos foi recomendado, porque              co, inclusive idosos, dispneicos e portadores de diabetes

8                                 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 30(3):e2020676, 2021
Patrícia Rezende do Prado e colaboradores

mellitus. Alguns sintomas foram mais comuns nos casos        análise e interpretação dos dados e redação da primeira
leves da doença e devem ser mais bem elucidados em           versão do manuscrito. Prado VB e Amaral TLM contri-
pesquisas futuras.                                           buíram na análise e interpretação dos dados, e revisão
                                                             crítica do manuscrito. Todos os autores aprovaram
Contribuições dos autores                                    a versão final do artigo e são responsáveis por todos
                                                             os aspectos do trabalho, incluindo a garantia de sua
   Prado PR, Gimenes FRE, Lima MVM e Soares CP               precisão e integridade.
contribuíram na concepção e delineamento do artigo,

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                               Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 30(3):e2020676, 2021                                      9
Fatores de risco para óbito por COVID-19

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                                                                   FC, Carvalho LM, et al. Description and comparison
    ES.2020.25.10.2000180.
                                                                   of demographic characteristics and comorbidities
19. He X, Lau EHY, Wu P, Deng X, Wang J, Hao X,                    in SARI from Covid-19, SARI from influenza,
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                                                               26. Abajo FJ, Rodríguez-Martín S, Lerma V, Mejía-
20. Liu K, Chen Y, Lin R, Han K. Clinical features of              Abril G, Aguilar M, García-Luque A, et al. Use of
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                                                                   May 30;395(10238):1705-14. doi: https://doi.
21. Printza A, Constantinidis J. The role of self-reported
                                                                   org/10.1016/S0140-6736(20)31030.
    smell and taste disorders in suspected Covid-19.. Eur

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Patrícia Rezende do Prado e colaboradores

Abstract                                                         Resumen
   Objective: To analyze risk factors for death in                  Objetivo: Analizar los factores de riesgo de muerte
individuals with Severe Acute Respiratory Syndrome               en individuos con Síndrome Respiratorio Agudo Grave
by COVID-19. Methods: Retrospective cohort, with                 por COVID-19. Métodos: Cohorte retrospectiva, con
adult individuals with COVID-19, between March and               individuos adultos con COVID-19, entre marzo y
September 2020, notified by Epidemiological Surveillance         septiembre 2020, notificado pelo Sistema de Vigilancia
System in state of Acre, Brazil. Cox Regression was used.        Epidemiológica en el estado de Acre, Brasil. Se utilizó
Results: Of the 57,700 individuals, the incidence was            la regresión de Cox. Resultados: 57.700 individuos
2,765.4/100,000 inhabitants and mortality 61.8/100,000           evaluados, la incidencia fue de 2.765,4/100.000
inhabitants. The risk factors for death were: male               habitantes y la mortalidad 61,8/100.000 habitantes. Los
gender (HR=1.48 – 95%CI 1.25;1.76), age ≥60 years old            factores de riesgo de muerte fueron: sexo masculino
(HR=10.64 – 95%CI 8.84;12.81), dyspnea (HR=4.20 –                (HR=1,48 – IC95% 1,25;1,76), edad ≥60 años (HR=10,64
95%CI 3.44;5.12), multimorbidity (HR=2.23 – 95%CI                – IC95% 8,84;12,81), disnea (HR=4,20 – IC95%
1.77;2.81), with emphasis heart problems and diabetes.           3,44;5,12), multimorbidad (HR=2,23 – IC95% 1,77;2,81),
The symptoms sore throat (HR=0.44 – 95%CI 0.27;0.71)             incluidos problemas cardíacos y diabetes. Los síntomas
and headache (HR=0.44 – 95%CI 0.22;0.89) were present            dolor de garganta y de cabeza estuvieron presentes en
in mild cases of the disease. Conclusion: Men, older             casos leves de la enfermedad. Conclusión: Hombres,
adults, those with heart disease, diabetes and dyspnea           ancianos, personas com enfermedades cardíacas,
were at risk of death in the occurrence by COVID-19.             diabetes y disnea fueron características asociadas com
   Keywords: Severe Acute Respiratory Syndrome;                  la muerte por COVID-19.
Coronavirus Infections; Longitudinal Studies; Risk                  Palabras-clave: Síndrome Respiratorio Agudo Grave;
Factors; Mortality.                                              Infecciones por Coronavirus; Estudios Longitudinales;
                                                                 Factores de Riesgo; Mortalidad.

                                                                   Recebido em 26/08/2020
                                                                   Aprovado em 09/03/2021

                                                   Editor associado: Bruno Pereira Nunes -       orcid.org/0000-0002-4496-4122
                                                      Editora científica: Taís Freire Galvão -   orcid.org/0000-0003-2072-4834
                                                      Editora geral: Leila Posenato Garcia -     orcid.org/0000-0003-1146-2641

                               Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 30(3):e2020676, 2021                                       11
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