TUI, UM JOGO SOBRE A ARTE DE AMAR

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TUI, UM JOGO SOBRE A ARTE DE AMAR

                            Ana Ester Nogueira Pinto, MD
              Psiquiatra e Psicoterapeuta atuando clinicamente desde 1980
 Fundadora e Coordenadora do Centro de Incentivo da Saúde ProCurar-se, BH-MG-Brasil
           Co-autora do livro e do jogo Tui, uma leitura sobre a arte de amar

RESUMO
Objetivos: Com mais de 20 anos de escuta das demandas de amor, investimos na criação
de um método para abordagem psicoterapêutica breve no que se refere a relações amorosas,
relações de casal e familiares, relações humanas em ge ral e do indivíduo com o próprio
sentimento amoroso.
Métodos: Uso do jogo de tabuleiro criado com inspiração nos 64 hexagramas do I Ching,
invocando o espírito lúdico nos participantes, facilitando a interação e a exposição dos
sentimentos e angústias amorosas. Na fase de testes, foram feitos jogos quinzenais com 06
participantes por mesa, durante um ano. Após comprovada sua eficácia terapêutica, foi
lançado em 2000, passando a ter uso clínico pelas autoras e outros terapeutas.
Resultados: Foram atendidas cerca de 450 pessoas, com idades entre 20 e 65 anos, de
ambos os sexos. O uso do jogo foi um facilitador, tendo se mostrado um instrumento de
grande precisão entre o trajeto do jogo de cada um e o fluir das questões amorosas. 90% das
pessoas confirmaram serem auxiliadas na compreensão mais ampla dos obstáculos de sua
história amorosa. Para 6% dos atendidos, a consciência adquirida teve força de
transformação sobre a situação real. Apenas 4% consideraram diversão.
Conclusão: O uso do jogo TUI mostrou-se um instrumento eficaz nas abordagens
psicoterapêuticas das relações amorosas, de casal e família, bem como proporcionou a
ampliação da compreensão do próprio amor. Por ser um jogo e invocar o espírito lúdico, ele
faz reconectar o “puer aeternus” saudável e renovador. A regência do jogo é o princípio da
sincronicidade e, ao facilitador cabe a leitura dessa conexão.

NOTA : a criação do jogo TUI foi feita em parceria co m a Dra. Acely Hovelacque, méd ica clínica e
homeopata, que é também autora do livro “A Chave dos Labirintos- uma viagem fantástica muito além dos
sete pecados” (Ed. Marco Zero). No entanto, o presente trabalho é de autoria da Dra. Ana Ester Nogueira, que
se dedica eminentemente à prática clín ica e não a pesquisas. Foi escrito para apresentação no XV Congresso
Internacional da Associação Junguiana do Brasil em 2007.

                                                                     CONS ULTÓRIOS PROCURAR-S E
                                                                             Av. Raja Gabaglia, 4453 / 08
                                                                      Santa Lúcia    Belo Horizonte – M G
                                                                      30360-670       fone: (31) 32975511
                                                                                   www.procurarse.co m.br
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TUI, UM JOGO SOBRE A ARTE DE AMAR

A CRIAÇÃO

        O jogo TUI foi criado em 1998, após uma viagem aos mistérios da Grécia e
Turquia, celebrando a primeira década de existência do ProCurar-se, clínica fundada pelas
médicas Acely Hovelacque e Ana Ester Nogueira, co-autoras do livro e do jogo. Desde os
seus primórdios, como o próprio nome indica: em prol da cura de si mesmo e/ou em busca
de si mesmo, a clínica teve a intenção de transdisciplinizar os cuidados em saúd e.
         Sincronicamente, naquele ano, completavam a maioridade de sua prática clínica já
que se formaram em 1980. Ao longo dos muitos anos de consultas, a escuta terapêutica
sempre remeteu às angústias amorosas dos mais diversos conteúdos e formas. A viagem
mítica parece ter aflorado a compreensão simbólica mais profundamente e ter estimulado a
capacidade de síntese. Tal sincronicidade faz parte da gênese do jogo TUI.
        São palavras de Carl Jung que ajudam a explicar: “A criação do novo não é uma
conquista do intelecto, mas do instinto de prazer agindo por uma necessidade interior. A
mente criativa brinca com os objetos que ama.”
        Existe uma palavra em sânscrito que também é esclarecedora sobre para o caso: lîla.
Ela não tem uma tradução exata para o português, ma s, são quatro os significados que
permitem apreendê- la. O primeiro seria simplesmente “jogo, brincadeira”. O segundo seria
“brincadeira divina”, o contínuo jogo da criação/destruição/recriação; o dobrar e desdobrar
do Cosmos. Um terceiro significado seria “profunda liberdade”, para traduzir a delícia e o
prazer de se entregar a cada momento de viver o presente. Por fim, significaria amor.
        Ou seja, lîla é complexo. Pode ser a coisa mais simples que existe quando
espontânea, franca, lúdica, expressão da criança interior. À medida que evoluímos como
pessoas, lîla representa a possibilidade de desfrutar a inteireza do Ser, o que traz alegria,
serenidade e prazer.
        O jogo TUI é lîla. O nome TUI, traduzido como alegria, foi emprestado do I Ching,
o livro das mutações. O I, mutações, indica este movimento contínuo do universo que
resulta na impermanência de tudo. Este fluir é lîla. O hexagrama 58, TUI, indica a imagem
de dois lagos, que em suas trocas, alimentam um ao outro, sobrevivendo assim às mais
rigorosas secas. A alegria aí expressa baseia-se numa força e firmeza interior, que se
externaliza como suavidade e gentileza. A força e a firmeza devem residir no coração. A
suavidade e gentileza devem se manifestar no relacionamento com os outros. Para o I
Ching, a verdadeira alegria é serena e silenciosa, e se cultiva na quietude, no recolhimento.
Ela acontece quando a mente para de desejar satisfações externas e passa a se contentar
com tudo, a ser grata por todas as dádivas da vida. Os prazeres do entretenimento, da
diversão podem ser fontes de distração, mas, a alegria que nutre o coração brota da
tranqüila segurança de estar em contato com a interioridade mais profunda, onde as
escolhas são coerentes com o Ser, o Eu mais profundo, o Self.
        Tui e lîla têm sentidos muito próximos. O jogo representa uma reverência à energia
do Amor, uma forma de cultivá- la que transcende as interações pessoais. Ele é uma
proposta de interação da pessoa com ela mesma, para se ver na sua própria relação com o
amor. Evidentemente, é possível refletir sobre as muitas formas de amor. Como no I
Ching, o uso oracular ou como evolução e sabedoria é uma escolha compatível com o
momento de quem joga.

POR QUE UM JOGO?

        O homem sempre tentou interpretar a vida e o cósmico, desvendar mistérios da
natureza e encontrar o segredo da existência. Desde a primeira angústia que levou um
homem a atirar para cima uma lasca de osso, com a intenção de saber se era sim ou não a
resposta à sua dúvida, os jogos têm servido ao propósito de auxiliar no diálogo do ser
humano com o invisível. A origem dos jogos é incerta. Estão presentes desde as culturas
milenares, mas foram introduzidos na Europa pelos árabes entre os séculos VIII e IX aC.
Seu caráter sagrado pode ser apreendido a partir de sua linguagem simbólica, tendo como
função auxiliar o homem na busca da verdade (sabedoria) e na busca de si mesmo,
cumprindo uma função oracular. Em seus primórdios, representavam a luta humana na
superação de seus obstáculos, o enfrentamento do cotidiano, os significados mais amplos
do caminho da própria vida e possibilitavam o religare entre os mistérios da Terra e do
Céu.
        Assim sendo, o jogo de dados, por exemplo, um dos mais antigos do mundo, deriva-
se de práticas primitivas de se “tirar a sorte” ou de se descobrir o futuro por meio do sim e
não. O uso de lascas de ossos ou cacos de cerâmica evoluiu até o atual “cara ou coroa”
prestando-se a este mesmo fim. Os dados apresentam uma curiosidade que não há de ser
mera coincidência: a soma de suas faces opostas é sempre igual a sete. Sete é um número
carregado de significados: os sete chacras do hinduísmo, os sete selos do Apocalipse de São
João, os sete dias da semana, as sete notas musicais, os sete pecados.
        As vinte e oito peças retangulares do Dominó simbolizam o ciclo luna r e suas
marcas na Terra, vinculando-se à geomancia (mantéia = adivinhar; geo/gaia = terra). O
tabuleiro de gamão tem 12 casas triangulares de cada lado com cores alternadas,
representando as doze horas do dia e da noite. Cada jogador usa 15 peças, totalizando 30,
que representa o mês. Os quatro naipes dos baralhos correspondem aos quatro elementos
(terra, água, fogo e ar) e às quatro estações e o total de 52 cartas é uma referência às
cinqüenta e duas semanas do ano.
        Os tabuleiros dos jogos são representações mandálicas. Mandala é um termo
sânscrito que significa “círculo mágico”. Suas formas circulares, ou mesmo
quadrangulares, se organizam em torno de um centro, sugerindo a eterna busca humana de
atingir o núcleo de si mesmo, o eu não dividido (indivíduo), o Ser. Os tabuleiros são um
espaço de interlúdio (inter = no meio de; ludeus = prazer), um intervalo na vida para se
desligar das obrigações, se deixar absorver e centrar a atividade psíquica em um mundo à
parte, de fantasia ou conflito, mas que, por ser “centrador”, orienta para a transcendência.
        Os jogos de origem chinesa traduzem a dualidade yin-yang (feminino- masculino)
em suas peças brancas e pretas. As 64 casas do I Ching, do xadrez e do go-ban simbolizam
as combinações e encontros das oito forças mitológicas: Céu, Terra, Trovão, Vento, Água,
Fogo, Montanha, Lago. Os jogos que se utilizam das 64 casas parecem ser os mais
sofisticados já que se utilizam amplamente das leis matemáticas das probabilidades. O
xadrez foi criado como um exercício de treinamento em prudência, determinação, intuição
e conhecimento. O I Ching é um livro milenar de sabedoria chinesa, mas, torna-se um
oráculo ao colocar o acaso como parte integrante e essencial da situação. Isto significa
olhar para um acontecimento como através de uma janela no tempo, buscando perceber no
mundo interno e externo o conjunto de eventos vinculados no mesmo momento, prováveis
de se sucederem em conjunto (sincronicidade). Não é possível uma previsão exata com
base no oráculo, mas sim uma série de expectativas e possibilidades, que o sujeito irá,
conscientemente, favorecer ou não. O TUI seguiu esta inspiração.
       Ao absorver a atenção dos que participam de um jogo, este exerce um papel
compensador a nível psíquico: por ser lúdico, as defesas racionais afrouxam e o
inconsciente pode se manifestar. Os jogos têm como característica criar um clima de
entusiasmo capaz de gerar um estado de vibração e euforia. O prazer de jogar chega a ser
tão grande que pode se transformar em vício, tornando-se veículo de um excesso de
canalização da libido. No entanto, bem usado, o jogo abre as vias de comunicação e
desperta a intuição, sugerindo caminhos inovadores para aqueles que dele se aproveitam.

O USO DO JOGO TUI

        O uso de qualquer sistema oracular justifica-se apenas enquanto a própria pessoa
não sabe ler na própria vida e nos muitos sinais à sua volta, os significados necessários à
compreensão de seu caminho e do sentido de sua existência. O uso respeitoso de um
oráculo representa uma reverência para com aquilo que há de mais profundo em nós
mesmos, para com o que há de mais puro, verdadeiro e essencial em nós, ou seja, os
conteúdos de nosso inconsciente, do Self.
        Para que se obtenham bons resultados com o uso do TUI, alguns cuidados tornam-
se imprescindíveis. O primeiro deles é a correta formulação da pergunta. É preciso saber
com clareza o que se quer e expressá- lo de uma forma precisa, sintética, inequívoca. Mas, é
essencial compreender que o jogo não atende aos desejos da mente racional e sim, aos
anseios da verdade de si mesmo, do próprio coração num sentido muito profundo.
Freqüentemente, as respostas podem não atender ao que se pensa, frustrar o que se gostaria.
O jogo auxilia na busca da verdade sobre si mesmo, numa crescente conscientização do
ignorado.
        O segundo cuidado é ritualizar o momento do jogo. Isso significa uma atitude
meditativa para reduzir a influência dispersiva da mente racional, com suas expectativas e
memórias, desejos e repulsas. A verdade do Ser, do Self encontra-se no inconsciente. A
ritualização torna a pessoa mais disponível para aquilo que lhe é sugerido de seu
inconsciente. Na realidade, quem responde é quem pergunta. A diferença está na origem: a
pergunta normalmente pertence ao aspecto periférico (personalidade); a resposta é central
(Self). Nessa ritualização, acender uma vela ou voltar-se para onde está a luz do sol
simboliza a intenção de abrir a consciência para ver e entender as respostas que forem
dadas. No entanto, é importante que o ritual escolhido faça sentido para quem o faz, tenha
ressonância interior para aquela pessoa.
        Os textos do jogo sugerem respostas que só serão compreendidas nos simbolismos
da vida quem joga. É o caminho pelo trajeto do tabuleiro que se torna a resposta. O jogo
remete ao que cada um faz e pode fazer para se assumir co-autor do próprio destino, o que
cada um pode ou deve fazer para favorecer o fluxo dos acontecimentos. Isto é sabedoria.
        No jogo, se intenciona o lançar dos dados para representar a configuração do
universo daquela pessoa, naquele momento, na questão determinada por ela. Ao facilitador
do jogo cabe traduzir esta sincronicidade, que evidencia a coincidência de acontecimentos
no espaço e no tempo e mostra a peculiar interdependência de eventos objetivos entre si,
assim como dos estados subjetivos (psíquicos) de quem joga. Ou seja, traduzir cada jogada
remetendo a uma mensagem da sabedoria interna para esclarecer a questão trazida por
quem joga. No TUI, o único critério de validade da resposta é a sensação do jogador de que
o texto das cartelas corresponde a uma interpretação válida de sua condição psíquica, ainda
que possa não ser aquela que ele gostaria.

A PRÁTICA

        O jogo TUI é utilizado pelo grupo de terapeutas dos Consultórios ProCurar-se desde
1998. Em 2000, com o lançamento ao público, houve uma grande expansão favorecida pela
mídia. Como conseqüência, nos primeiros seis meses, foram atendidas uma média de 12
pessoas por semana, de origens diversas. Desenvolvemos o critério de fazer um teste de
Desenho da Figura Humana (uma variação do teste de Marcover) para nossa própria
avaliação, de maneira rápida, da estrutura psicoemocional da cada participante. Tal cuidado
serviu para nos orientar quanto ao tipo e a forma de interpretação/devolução a ser feita, já
que, a priori, não haveria acompanhamento terapêutico após o jogo. Mas, é importante
ressaltar que em cerca de 30% dos casos fizemos uma indicação formal de psicoterapia
(outros 30% das pessoas atendidas já se submetiam a algum tipo de psicoterapia).
        Rotineiramente, os atendimentos foram de 12 pessoas ao mês para jogar em grupo.
O número ideal de participantes em cada mesa é de quatro e seis pessoas: menos de quatro
fica um jogo empobrecido nas trocas possíveis e mais que seis costuma ter um ritmo muito
lento. Quando um casal ou família quer jogar, então preferimos que seja apenas entre os
membros, esclarecendo que o jogo representará uma troca entre eles, incluindo talvez
lembranças que não pertencem àquela relação, mas que esta é uma proposta de ampliar e
aprofundar a compreensão de uns sobre o(s) outro(s) e sobre a sua própria relação, o que
resulta em maior intimidade e cumplicidade. Como em todo processo terapêutico de casal
(ou família), os dados que surgirem devem sempre ser trabalhados no sentido de
aumentarem seu conhecimento, sua consciência em prol de sua evolução e cura e, jamais,
realmente jamais, serem usados como instrumento de "ataque" entre as pessoas
envolvidas. Assim, consideramos essencial sempre abrir esses trabalhos invocando a
energia amorosa, estimulando o ouvir e se expressar pelo coração, e, pela meditação,
acalmar o ego em suas intervenções.
        Como preparação para o jogo, sempre pedimos que as pessoas organizem uma
colagem com imagens (recortadas de revistas) que mostrem o tipo de amor que gostariam
de viver. Além de estimular a linguagem do inconsciente, isso evidencia o foco da questão
trazida, facilitando a síntese da questão a ser proposta.
        Usamos dois dados para remeter à idéia da parceria - eu e o outro. O outro é
essencial para o encontro consigo mesmo e co m o amor. Os dados em suas faces opostas
sempre somam sete, numa alusão aos sete dias da semana, simbologia que usamos para
dizer da inserção no cotidiano da vida, suas dificuldades e possibilidades de suavização e
prazer a cada dia, pois a manutenção do amor exige cuidado e dedicação.
        Para iniciar o jogo, pedimos que seja tirada soma par pois isso reflete a intenção da
parceria - seja consigo mesmo, seja com o outro. Antes de se conseguir a soma par, os
números ímpares obtidos apontam para a dificuldade daquela pessoa, a sua ainda não
disponibilidade para o “jogo” do amor, para as trocas, e servem de reflexão para ela. Todas
as casas têm uma cartela a ser lida conforme vão se tirando os dados. O conteúdo do texto é
simbólico e cada pessoa deverá refletir sobre o que a situação sugere, o que aquilo tem em
comum com sua vida.
        Em nossa experiência, o mais comum é que o terço inicial da trajetória no tabuleiro
do jogo fale de episódios já vividos pela pessoa, o terço médio aponte questões atuais e o
último terço do trajeto faça alusões a perspectivas futuras. Evidentemente isso não é exato
sempre e, temos observado, que pessoas mais trabalhadas, mais conscientes de seu processo
permanecem centradas nas questões mais atuais.
        Geralmente, os participantes identificam-se com as situações apontadas nas casas.
Observamos que quando não entendem a que se refere o conteúdo da cartela, comumente
diz respeito a uma resistência no processo de conscientização sobre si mesma.
        E' óbvio que as casas representativas de impedimentos costumam frustrar. Afinal,
todos gostariam de ter um caminho livre e fluido no amor. Os obstáculos costumam conter
importantes lições. Os sete pecados aparecem como casas de maior obstáculo, com regras
especiais. A intenção é facilitar a compreensão daquilo que tem dificultado o caminho ou a
expressão amorosa daquela pessoa. Insistimos em que ela "conte casos", ou seja, fale do
assunto, para ela mesma reconhecer o obstáculo e pensar a sua superação. Caso a pessoa se
sinta bloqueada para identificar sua questão, costumamos sugerir que os participantes
troquem "casos" entre si. Quem tem um relato, o conta, e quem deveria contar, fica
"devendo" um caso ou uma prenda. A idéia é que a troca seja um fluxo leve e divertido, que
as pessoas relaxem para se perceberem com mais clareza e bom humor.
        Os pecados são as casas que mais incomodam, mas existem sempre casas para fazer
pensar com consciência questões pouco discutidas sobre as relações amorosas. Existem
casas para lembrar que, a cada momento, somos nós que fazemos as escolhas que irão
definir o caminho. E, as melhores casas sempre remetem ao fato de que o amor é generoso
e investe na partilha.
        “Ganha” o jogo quem chega ao casal, tirando a soma exata nos dados. O casal é
apenas um símbolo da harmonia do encontro masculino-feminino. Pode ser em si mesmo
ou com o outro. Significa que aquela pessoa tem essa possibilidade de vivenciar a inteireza.
Isso sempre requer aprendizado. Todos ganham em aprender algo mais sobre si mesmo e
suas relações. Optamos por dificultar esse final porque é assim que o ser humano faz...
Todas as vezes em que se vê perante uma decisão importante, ele freia, ele volta atrás, ele
tem dúvidas e medos. Isto é humano e temos que respeitar. E até retroceder mesmo. O
custo e benefício de cada definição, apenas quem a faz é que sabe. Caso o jogo se
prolongue por duas horas, o grupo determina o limite de tempo para encerramento e busca
compreender as razões pelas quais não se chegou ao casal.
        Nossos resultados foram baseados em 450 pessoas atendidas, sendo a grande
maioria entre 31 e 50 anos de idade (66%), período em que é freqüente a reconstrução ou
revisão da proposta de relação amorosa duradoura. A maior demanda originou-se do sexo
feminino (68%). Não consideramos no resultado as pessoas que jogaram mais de uma vez
(cerca de 40 pessoas).
        A devolução foi bastante animadora com vivências muito ricas para todos os
participantes. 90% dos casos (405 pessoas) confirmaram a ampliação da compreensão de si
mesmas, clareando aspectos ainda obscuros de sua forma de relação amorosa. 6% das
pessoas relataram ter recebido o impulso necessário para efetivar mudanças concretas em
sua vida amorosa. 4% consideraram o jogo como apenas diversão.
A partir de 2001, apresentamos o jogo em outras capitais (Fortaleza, Vitória,
Florianópolis, Brasília, São Paulo) e em cidades do interior de Minas Gerais.
Disponibilizamos assim o TUI para outros terapeutas. Avaliamos que existem 64 jogos em
uso. Não temos os resultados dos usos destes outros terapeutas.

CONCLUSÕES

        O jogo TUI tem se mostrado um poderoso aliado aos processos de crescimento e
evolução. Os relacionamentos têm passado por muitas transformações e, em função da
própria cultura, as pessoas se mostram muito perdidas em como dar continuidade às
relações. Isso chega a ser trágico quando se trata de filhos, a relação obrigatoriamente mais
duradoura de uma vida. Falar de vínculos, de perseverança, de tolerância e de limites
tornou-se essencial. O jogo traz reflexões abrangentes.
        A interpretação de como foi o jogo de cada participante depende de como cada um
se familiariza com a linguagem dos símbolos. Para alguns será só uma brincadeira mesmo.
Para nossos clientes, tem sido mais uma chance de compreensão e aprofundamento de suas
histórias pessoais. O uso terapêutico ocorre em função do que o terapeuta percebe e pode
colocar a cada participante. Esta é a arte terapêutica: o que, como e quando dizer. O jogo
sinaliza, aponta, referencia. Cada um lida com os sinais de seu jeito. Como dissemos,
chegamos a constatar que 27 pessoas fizeram movimentos concretos de mudanças em suas
vidas amorosas, seja uma separação ou uma viagem de revitalização da relação ou até uma
definição de assumir um casamento.
        Isso também faz parte das possibilidades do jogo: a liberdade de usá- lo do jeito que
cada um escolhe para trabalhar ou viver. Apresentamos as nossas leituras pessoais.
Sabemos, no entanto, que em cada partida surgem situações inusitadas que exigem soluções
novas e criativas. Este é o espaço da criação individual. É possível até alterar as regras, se
for conveniente ao grupo. É nossa intenção que cada um possa usufruir o TUI, com leveza e
aprendizado. O TUI é um jogo para reinvestir na alegria de amar, é um recurso de ajuda a
quem deseja ampliar sua própria sabedoria de amar. Para os terapeutas é um instrumento de
abordagem breve.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

   1) FRIEDMANN, Adriana. História e simbolismo de jogos, brinquedos e brincadeiras
      universais. São Paulo: Cadernos do NEPSID (Núcleo de Estudos e Pesquisas em
      Simbolismo, infância e desenvolvimento), 2003.
   2) JUNG, Carl & cols. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
   3) RIZZI, Leonor & HAYDT, Regina Célia. Atividades lúdicas na educação da criança.
       São Paulo: Ática, 2005.
   4) WILHELM, Richard. I Ching, O Livro das Mutações. São Paulo: Pensamento, 1982.
   5) WU, Jyh Cherng. I Ching, a alquimia dos números. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.
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