A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL

Página creada Victoria Fontany
 
SEGUIR LEYENDO
A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL
JULIANA ROSA CORRÊA

A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA
 ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL

                      Viçosa - MG
      Curso de Comunicação Social/Jornalismo da UFV
                          2013
A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL
JULIANA ROSA CORRÊA

A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA
 ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL

                       Monografia apresentada ao Curso de Comunicação
                       Social/ Jornalismo da universidade Federal de
                       Viçosa, como requisito parcial para obtenção do
                       título de Bacharel em Jornalismo.

                       Orientadora:Mariana Lopes Bretas

                      Viçosa – MG
      Curso de Comunicação Social/Jornalismo da UFV
                          2009
A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL
Aos amigos que conheci em Viçosa.

Que marcaram e que vão fazer parte para sempre da minha história.
A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL
AGRADECIMENTOS

      Agradeço primeiramente a Deus por sempre me dar forças e me auxiliar em minhas
dificuldades. Pelo amor demonstrado em cada instante da minha vida.

      Aos meus pais e familiares pelo apoio incondicional e pelo exemplo de vida.

      Aos amigos por todos os momentos compartilhados, orações e palavras
encorajadoras.

      Aos professores pela sabedoria e ensinamentos transmitidos.

      À professora Mariana Bretas pela orientação neste trabalho, por toda a paciência e
conhecimento compartilhado.

      Enfim, agradeço a todos que, de alguma forma, contribuíram para a construção deste
trabalho e que marcaram minha passagem pela UFV.
A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL
Universidade Federal de Viçosa
                                Departamento de Artes e Humanidades
                                Curso de Comunicação Social/Jornalismo

Monografia intitulada A evolução da fotografia e uma análise da tecnologia digital, de
autoria da estudante Juliana Rosa Corrêa, aprovada pela banca examinadora
constituída pelos seguintes professores:

              ___________________________________________________
                           Prof. Dr. Mariana Lopes Bretas
                       Curso de Comunicação Social/Jornalismo

              ___________________________________________________
                            Prof. Ma. Laene Mucci Daniel
                       Curso de Comunicação Social/Jornalismo

              ___________________________________________________
                      Prof. Dr. Francisco Xavier Ribeiro do Vale
                          Curso de Agronomia/Fitopatologia

                                Viçosa, 11 de maio de 2013
A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL
RESUMO

A fotografia passou por vários estágios desde que foi criada, no início do século XIX, até
chegar à tecnologia digital, bastante utilizada nos dias de hoje. Durante muito tempo
enfrentou o dilema se poderia ou não ser considerada arte, e hoje é uma das mais expressivas
formas de manifestações artísticas. A presente monografia analisa a fotografia como uma
forma de arte e as consequências que a popularização e a tecnologia digital trouxeram para
esta atividade, como a possível banalização do exercício da fotografia.

PALAVRAS – CHAVE

Fotografia; tecnologia digital; arte; banalização.

ABSTRACT

The photograph went through several stages since it was created, in the early nineteenth
century, until it reaches the digital technology, widely used today. Long faced the dilemma if
it could or not to be considered art, and today is one of the most importantways of artistic
expressions. This monograph examines photography as an art form and the consequences that
the popularization and digital technology have brought to this activity, as a possible
trivialization of exercise photography.

KEY-WORDS

Photograph; digital technology; art; trivialization.
A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 ..................................................................................................................... Página 13

Figura 02 ..................................................................................................................... Página 15

Figura 03 ..................................................................................................................... Página 17

Figura 04 ..................................................................................................................... Página 19

Figura 05 ..................................................................................................................... Página 21

Figura 06 ..................................................................................................................... Página 22

Figura 07 ..................................................................................................................... Página 25

Figura 08 ..................................................................................................................... Página 26

Figura 09 ..................................................................................................................... Página 32

Figura 10 ..................................................................................................................... Página 33

Figura 11 ..................................................................................................................... Página 34

Figura 12 ..................................................................................................................... Página 35

Figura 13 ..................................................................................................................... Página 35

Figura 14 ..................................................................................................................... Página 37

Figura 15 ..................................................................................................................... Página 38

Figura 16 ..................................................................................................................... Página 39

Figura 17 ..................................................................................................................... Página 40

Figura 18 ..................................................................................................................... Página 40

Figura 19 ..................................................................................................................... Página 41

Figura 20 ..................................................................................................................... Página 42

Figura 21 ..................................................................................................................... Página 44

Figura 22 ..................................................................................................................... Página 45

Figura 23 ..................................................................................................................... Página 47

Figura 24 ..................................................................................................................... Página 48
A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10

CAPÍTULO 1 – SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA............................12

1.1 – A câmara escura e o surgimento do daguerreótipo..........................................................13

1.2 – Kodak e a fotografia analógica........................................................................................16

1.3 – A fotografia instantânea...................................................................................................18

1.4 – Fotografia e tecnologia digital.........................................................................................20

CAPÍTULO 2 – TECNOLOGIA DIGITAL E BANALIZAÇÃO DA FOTOGRAFIA...24

2.1 – Popularização da fotografia e facilidades da câmera digital............................................24

2.2 – Banalização da fotografia.................................................................................................27

CAPÍTULO              3     –    FOTOGRAFIA COMO                             UMA FORMA DE EXPRESSÃO
ARTÍSTICA............................................................................................................................31

3.1 – Pintura e cinema: Antecessor e sucessor da fotografia....................................................31

3.2 – Os primeiros a enxergar a fotografia como arte...............................................................36

3.3 – Fotografia dentro da arte contemporânea.........................................................................39

3.4 – Lomografia.......................................................................................................................43

CAPÍTULO 4 – BANALIZAÇÃO E ARTE DO PONTO DE VISTA DE
FOTÓGRAFOS AMADORES USUÁRIOS DE REDES SOCIAIS..................................46

4.1 – As redes sociais Flickr e Instagram..................................................................................46

4.2 – Pesquisa e perfil dos usuários..........................................................................................48

4.3 – Pesquisa e resultados qualitatvos.....................................................................................50
A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................58

ANEXOS..................................................................................................................................64
A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL
INTRODUÇÃO

       Desde o século XVI a humanidade tem conhecimento de alguns conceitos
relacionados à fotografia, como a câmara escura e o escurecimento da prata pela luz; era
possível gravar imagens em uma superfície revestida por sais de prata, quando esta era
colocada no interior de uma câmara escura, mas tais imagens desapareciam rapidamente,
quando entravam em contato com a luz ambiente. Esta técnica de congelar as imagens não
surgiu de uma hora para outra; ela foi se desenvolvendo com o tempo, até que em 1826,
Joseph Nicéphore Niépce registra a primeira fotografia reconhecida da história.

       Nos 187 anos que separam a criação de Niépce até os dias de hoje muita coisa mudou.
A fotografia passou por diferentes estágios: com o daguerreótipo, invenção de Daguerre, teve
a técnica reconhecida cientificamente em 1839 e possibilitou a grvação de imagens sem
possibilidade de reprodução. A partir da câmera de filme, em 1888 por George Eastman, a
fotografia passou a ser acessível, por esta ser mais rápida, barata e prática. Este momento foi
de tal importância que predominou na fotografia por cerca de um século. A fotografia
instantânea, lançada em 1948 por Edwin Lnad, possibilitou visualisar as imagens assim que
estas eram tiradas, sem a necessidade de enviar o filme para o laboratório para revelação. Por
fim a tecnologia digital, que fez suas primeiras imagens em 1965, mas só passou a ser
comercializada em 1981, é altamente difundida na sociedade dos dias atuais, com
equipamentos na maioria das vezes automáticos, gravando as imagens em formato digital.

       A tecnologia digital acarretou em grandes mudanças para a fotografia; a popularização
desta tecnologia democratizou a atividade, permitindo a um grande número de pessoas o
acesso à produção fotográfica e possibilitando a estas o registro de momentos, pessoas e o
que mais queiram fotografar. No entanto, equipamentos automáticos, registrando fotografias
pixelizadas em formato digital trouxeram como consequência a perda da qualidade para as
imagens. E o fato de a fotografia digital não agregar valor com a compra e revelação de
filmes, não possuir um “original” e não exigir que as imagens sejam impressas fazem com
que seja produzidas um número muito grande de fotografias, muitas das quais não possuiem
qualidade ou técnica, o que pode por vezes banalizar a atividade fotográfica.

       Quando a fotografia surgiu, os pintores da época se sentiram ameaçados pela nova
atividade. Como a pintura era o único meio de retratar pessoas e registrar cenas, esta teve que
encontrar novos meios para se destacar diante da nova atividade que surgia. Durante certo
                                                                                            10
tempo, houve uma discussão se a fotografia poderia ou não ser considerada uma manifestação
de arte e hoje, após o esforço de alguns artistas-fotógrafos e de movimentos que pretendiam
elevar a fotografia à categoria das artes, como o pictorialismo, ela é considerada uma das mais
importantes formas de expressões artísticas. A prova disto é que hoje se encontram
exposições de fotografias em museus e galerias de arte.

       Para o fotógrafo nem sempre é fácil encontrar espaço para expor suas obras,
especialmente se este for amador ou estiver no início da carreira. Uma opção encontrada para
solucionar este problema seria expor suas imagens na internet. Algumas redes sociais
permitem aos usuários publicar gratuitamente fotografias e outras imagens e visualizar o
conteúdo de outros usuários.

       Duas das redes sociais que permitem aos fotógrafos expor suas imagens na internet
são o Flickr e o Instagram. Neste projeto, a fim de analisar as opiniões e preferências dos
usuários das redes sociais citadas acima, aplicou-se um questionário, que será analisado
juntamente com o material coletado através da pesquisa bibliográfica, a qual tem por base
livros dos autores Roland Barthes, Susan Sontag e Walter Benjamin.

                                                                                            11
CAPÍTULO 1

Surgimento e evolução da fotografia

          No ano de 1839, em Paris, o inventor Louis Jacques Mandé Daguerre apresenta ao
mundo sua mais recente invenção, que mudaria para sempre o modo de se registrar
acontecimentos, momentos históricos e cenas cotidianas: o daguerreótipo, método para se
gravar imagens sobra uma superfície (PATRÍCIO, 2011).

          Um longo caminho foi percorrido pela humanidade até se chegar na invenção de
Daguerre, passando pela criação e desenvolvimento da câmara escura, que é o princípio
básico da fotografia, até o uso de produtos químicos, principalmente sais de prata, para se
fixar a imagem em determinada superfície.

                         A grande revolução causada pela invenção da fotografia foi na verdade, não o
                         mecanismo/aparato de captação, que já era conhecido, mas sim a criação de um
                         suporte químico sobre o qual a imagem projetada pudesse ser fixada sem precisar
                         que o artista realizasse um desenho manual sobre o suporte. (ANJOS, 2012, p. 2)
          De mecanismos demorados, complicados e obsoletos, como eram o daguerreótipo e
outros processos similares de captura de imagem, a fotografia deu um salto, em 1888, com a
criação da primeira câmera fotográfica comercial, criada por George Eastman, a Kodak Nº1.
Este segundo momento da fotografia, utilizando filmes fotográficos, permitiu a pessoas
comuns o acesso ao registro de imagens e dominou a história da fotografia por mais de um
século.

                         Com a Kodak, a fotografia se tornou “instantânea” e qualquer amador poderia tirar
                         boas fotos. Com o slogan "You press the button, we do the rest", Eastman tentou
                         fazer da fotografia algo popular, fácil, que não necessitava muita técnica. Seu
                         argumento persuasivo era a possibilidade de uma história do dia-a-dia contada por
                         imagens feitas pelos próprios protagonistas. (BRUNET, 2001, p. 2)
          O terceiro momento de grande importância na história da fotografia surgiu da
necessidade de se ver na hora as imagens que eram fotografadas. Surge a fotografia
instantânea, através da câmera Polaroid, idealizada em 1948 pelo inventor e físico Edwin
Land.

          Estes três momentos da fotografia (daguerreótipo, fotografia de filme e fotografia
instantânea) têm como base a câmara escura e a fotoquímica acontecendo devido à presença
de sais de prata. Durante muitos anos gravar imagens teve estas características, até o
lançamento da fotografia digital.

                                                                                                       12
Alguns autores defendem que o ato de congelar imagens utilizando tecnologia digital
não pode ser chamado de fotografia, pois fotografia significa “escrita com a luz”, e as câmeras
digitais apenas captam sinais luminosos através de um sensor. “O  - sistema de
codificação discreto – acaba por se opor ao  - sistema analógico de registro
numa emulsão sensível, à base de sais de prata, das variações contínuas da luz refletida pelos
objetos” (MENDES, 2002, p. 51). No entanto, os equívocos da linguagem são aceitos na
linguagem popular e comercial.

                        Somente os filmes podem ser “revelados”. Utilizar esse termo para o digital, é um
                        erro aceito somente no comércio, para melhor entendimento da pessoa leiga no
                        assunto. Fotografia capturada com a tecnologia digital se “imprime” e não se revela.
                        (PATRÍCIO, 2011, p. 70)
       O atual momento da fotografia, que utiliza a tecnologia digital, teve seu início na
década de 1980 e vem cada vez mais ganhando espaço com equipamentos compactos e
automáticos. Embora tenha se popularizado, ainda divide opiniões, principalmente, entre os
fotógrafos profissionais e aqueles mais antigos que não abandonaram os filmes analógicos.

       1.1 – A câmara escura e o surgimento do daguerreótipo

       A história da fotografia está intimamente ligada ao conceito da câmara escura. A
câmara escura é um ambiente (que pode ser tanto uma sala quanto uma caixa) isento de luz
em seu interior, exceto por um orifício muito pequeno no centro de um de seus lados. A luz,
ao ultrapassar este orifício, forma uma imagem invertida e pouco nítida na parede oposta
dentro da câmara escura.

       Figura 1: Representação do funcionamento de uma câmara escura

                                                                                                        13
A câmara escura é usada na fotografia tanto analógica quanto digital. A imagem é
formada no interior da mesma, quando a luz que atravessa o orifício atinge o material
fotossensível. O tempo de exposição e a nitidez da imagem dependem do tamanho do orifício:
se este é grande, a imagem fica menos nítida, e o tempo de exposição é menor. Da mesma
forma, quanto menor o orifício, mais nítida é a imagem, e maior o tempo de exposição.

       A primeira descrição de uma câmara escura vem do século IV a.C, pelo filósofo
Aristóteles, quando este observa um eclipse solar. Ele utiliza um aparelho que contém um
pequeno orifício, por onde a luz atravessa e se expande antes de chegar ao chão. A evolução
da câmara escura se deu principalmente por físicos e astrônomos que observavam eclipses
solares através dela, como o astrônomo árabe Al Hazen no século XI e o filósofo e
matemático Roger Bacon no século XIII. (CALAÇA, 2012)

       Durante a Renascença, alguns pintores utilizavam a câmara escura como um aparelho
auxiliar em seus desenhos, já que esta poderia refletir uma imagem real a uma tela mantendo
as mesmas proporções, contudo, com uma nitidez muito baixa. No início do século XVI,
pintor e inventor italiano Leonardo Da Vinci resolveu esta questão, colocando uma lente de
vidro no lugar do orifício.

       Nos séculos XVII e XVIII, vários pesquisadores utilizavam a câmara escura a fim de
gerar imagens em um material fotossensibilizado. Utilizando sais de prata (pois já se sabia na
época que a prata escurecia em contato com a luz), estes pesquisadores obtinham sucesso no
ato de gravar as imagens, mas não sabiam como interromper o processo de gravação. Assim,
elas desapareciam rapidamente, pouco depois de serem retiradas da câmara escura, mesmo se
permanecessem em um ambiente com pouca luz.

       Encontrar um material que servisse como fixador de imagens foi um grande desafio
para estes pesquisadores até o século XVIII. No ano de 1826, um francês chamado Joseph
Nicéphore Niépce, fazendo testes com um material coberto com betume da Judéia e sais de
prata, consegue gravar e fixar uma imagem (CALAÇA, 2012). Esta, que retrata a vista de uma
janela, é considerada a primeira fotografia da história, e a técnica foi batizada pelo próprio
Niépce de heliografia.

       Contudo, Niépce não quis revelar ao mundo sua descoberta. Ele guarda para si os
segredos da heliografia até que conhece o também francês Louis Jacques Mandé Daguerre.
Este já utilizava a câmara escura na produção de desenhos e dioramas quando se interessa
pelo que viria a ser um dia a fotografia. Ao conhecer Niépce e a heliografia, ambos decidem
                                                                                           14
assinar um contrato de sociedade, em 1829, para dar continuidade às pesquisas (TURAZZI,
2008).

          Figura 2:Vista da Janela, a primeira fotografia criada por Niépce

          Diante dos poucos avanços da sociedade, Daguerre decide dar continuidade às suas
pesquisas sem a ajuda de Niépce, utilizando sais de prata. Niépce morre em 1833, Daguerre
segue seus trabalhos e descobre dois anos depois que o vapor do mercúrio funciona como
revelador nas imagens. Diz-se que esta descoberta foi acidental, aconteceu em um dia quando
Daguerre guardou algumas placas sensibilizadas em um armário e, ao retirá-las no dia
seguinte, percebeu que as imagens estavam muito mais nítidas e não escureciam com a luz
ambiente. Constatou então que um termômetro havia quebrado dentro do armário e passou a
incluir o mercúrio em suas pesquisas. Descobriu que este material, além de servir de
revelador, diminui de horas para alguns minutos o tempo de exposição. Com isto, tornou-se
possível a fotografia não somente de paisagens e objetos inanimados, como acontecia antes,
mas também de pessoas, desde que estas ficassem sentadas e imóveis diante da câmara
escura.

          Surge o daguerreótipo. O processo para obtenção de um consiste em sensibilizar uma
placa de cobre revestida de prata polida e sensibilizada com vapor de iodo. Coloca-se o
material, que é sensível à luz, em uma câmara escura por alguns minutos e ao se retirar, o

                                                                                         15
utiliza-se o vapor de mercúrio como revelador. Para se fixar a imagem, era usado o cloreto de
sódio, sendo substituído mais tarde pelo tiossulfato de sódio, que dava maior durabilidade à
imagem (OKA, ROPERTO). O resultado era um positivo único, nítido, sem caráter
reprodutivo, que deveria ser protegido por um vidro a fim de evitar a oxidação.

       O novo invento foi revelado ao mundo no dia 19 de agosto de 1839, sendo
reconhecido pela Academia de Ciências de Paris. Além de ter seu nome na invenção,
Daguerre passou a receber uma pensão vitalícia do governo, para que qualquer pessoa
pudesse utilizar o daguerreótipo sem precisar pagar patente, o que fez com que este se
espalhasse com certa rapidez, visto que era de fácil reprodução.

       O tempo de hegemonia do daguerreótipo foi curto; durou até por volta da década de
1850, pois nesta época outros processos de gravação de imagem mais baratos, rápidos, e que
proporcionavam a reprodutibilidade foram criados, como o Calótipo, do inglês Willian Fox
Talbot, o que não diminui a importância histórica do daguerreótipo

                       Diz-se muitas vezes que foram os pintores que inventaram a fotografia
                       (transmitindo-lhe o enquadramento, a perspectiva albertiniana e a óptica da câmara
                       obscura. E eu digo: não, foram os químicos. Porque o noema  só foi
                       possível a partir do dia em que uma circunstância científica (a descoberta da
                       sensibilidade à luz dos sais de prata) permitiu captar e imprimir diretamente os raios
                       luminosos emitidos por um objecto diretamente iluminado. (BARTHES, 2009, p.
                       91)
       Barthes atribui toda a criação da fotografia aos químicos, no momento em que o
daguerreótipo surge e revoluciona toda uma geração e muda a maneira de registrar a história.

       1.2 – Kodak e a fotografia analógica

       Durante as décadas que se seguiram desde a invenção do daguerreótipo a fotografia
pouco evoluiu. O ato de registrar imagens ainda era algo trabalhoso e demorado, que exigia
técnica, capital, equipamento e conhecimento de química por parte dos fotógrafos; eram
poucos os que podiam trabalhar neste novo ramo. É neste contexto que ocorre uma revolução,
provocada por George Eastman.

       Eastman teve seu primeiro contato com a fotografia em 1878, aos 24 anos de idade,
quando planejava uma viagem e um amigo de trabalho sugeriu que fizesse um registro da
mesma. Eastman adquiriu todo o pesado equipamento, a câmera com tripé, os produtos
químicos e as placas de vidro, além de pagar para aprender a usar. Ele não fez a viagem, mas
                                                                                                          16
ficou completamente absorvido pela fotografia e passou a buscar um meio mais simples de
fazê-la.

       Eastman começa a trabalhar com placas secas feitas de gelatina, descoberta por
Richard Maddox em 1871. Este material tinha o inconveniente de ser pesado, frágil e levava-
se muito tempo para substituir a placa na câmera. A solução foi sensibilizar folhas de
celulóide, que eram pequenas e maleáveis. Em 1888, era lançada a Kodak Nº1, câmera
portátil de fácil manuseio (CHIEZA, TELES, 2012; OKA, ROPERTO).

       A primeira câmera comercial da história tinha um rolo de filme maleável enrolado em
carretel e fazia 100 fotos em negativo por rolo. A câmera, já carregada, era vendida a
U$$25,00 e para recarregá-la com um novo filme, custava U$$10,00 (OLIVEIRA, 2009).
Eastman investia muito em publicidade e o slogan da Kodak era: “You press the button, we
do the rest” (você aperta o botão, nós fazemos o resto).

       Figura 3: Câmera Kodak Nº 1

       Uma câmera pequena, simples, acessível, que dava ao fotógrafo apenas o trabalho de
enquadrar a imagem e apertar o botão, como o próprio slogan diz, que a empresa se encarrega
de revelar e recarregar a máquina, deu a muitas pessoas a possibilidade de se tornarem
fotógrafas, especialmente aquelas que tinham interesse apenas na imagem pronta e não no
processo para obtê-las.

                          Com este sistema de prestação de serviço Eastman dissemina a fotografia para
                          aqueles que desejavam apenas tirar fotos sem ter que se preocupar com
                          infraestrutura como lugar escuro, emulsionar vidro ou papel, para muitos só
                          interessavam a foto e foi isto de Eastman proporcionou. (OLIVEIRA, 2009, p. 665)

                                                                                                       17
A fotografia com filme predominou desde sua criação até o final do século XX, com
poucas mudanças ao longo deste tempo. O filme utilizado neste período e usado até hoje por
amantes da fotografia analógica é formado por várias camadas unidas por gelatina. A reação
fotoquímica que vai formar a imagem se dá devido a grãos de sais de prata sensíveis à luz.
Após a revelação o resultado é uma tira de imagens em negativo, que pode ser positivada
quantas vezes forem necessárias. Para se positivar um negativo (ou simplesmente fazer
cópias), utiliza-se um ampliador (projetor com uma lente para focar a imagem e uma fonte de
luz controlada), aonde o negativo é posto e projetado sobre o papel sensibilizado e depois de
ficar certo tempo exposto sob o negativo o papel irá formar um negativo deste, ou seja, um
positivo, que é a fotografia de fato, o que interessa à maioria das pessoas (WOODWORTH).

       Enquanto os filmes continuaram utilizando os mesmos produtos base de sua
fabricação, as câmeras fotográficas analógicas evoluíram drasticamente ao longo do tempo;
de câmeras grandes e pesadas do início do século XX, que davam ao fotógrafo apenas a
função de enquadrar e “apertar o botão”, hoje se encontram câmeras compactas, feitas de
diferentes materiais (metal, plástico), com maiores possibilidades ao se fazer a foto, através da
escolha da lente, do controle de velocidade e abertura de diafragma, que dão ao fotógrafo
maior autonomia na hora de fotografar, apesar de dar também maior responsabilidade, pois
qualquer erro da parte dos fotógrafos pode acarretar na perda da fotografia.

       Depois de reinar absoluto por mais de um século, o filme fotográfico se viu ameaçado
pelo advento da tecnologia digital. Foi o que aconteceu com a Kodak no dia 19 de janeiro de
2012, 131 anos após sua criação. A empresa fracassou na tentativa de levantar fundos para
financiar   sua reestruturação    financeira   e se viu      obrigada a pedir        concordata.
(NASCIMENTO). Mas a empresa não fechou, e no início de 2013 a Kodak diversificou
parcialmente o ramo da fotografia, trabalhando com comunicação gráfica, scanners, câmeras
digitais, impressoras para fotografias, artigos para cinema, contudo, não abandonou a
produção de filmes e câmeras analógicas.

       1.3 – A fotografia instantânea

       Os filmes fotográficos haviam se difundido, mas fotografar ainda era algo que levava
tempo, especialmente na hora de revelar. Ao bater a foto, o fotógrafo precisava esperar até

                                                                                              18
que o filme fosse levado ao estúdio de revelação, passasse pelos processos químicos, o
negativo fosse positivado em um papel fotográfico e finalmente devolvido.

       O questionamento que viria a solucionar este problema veio de uma criança de cinco
anos; nas férias de verão de 1944, a filha do físico e inventor estado-unidense Edwin Land lhe
pergunta por que tinha de esperar tantos dias para ver as fotos que seu pai fazia dela. Diante
desta pergunta tão simples, Land enxerga uma nova possibilidade para a fotografia. Quatro
anos mais tarde cria e lança no mercado a Polaroid, primeira câmera instantânea da história.

       A fotografia instantânea surgiu não como um capricho, mas como uma necessidade da
época. Como não existia a tecnologia digital e muitas vezes era necessário ver na hora o que
se foi fotografado, a invenção de Land veio como uma solução a este dilema.

       Figura 4: Câmera Polaroid

       A Polaroid produz fotos sem negativos. A luz entra em contato direto com o papel
fotográfico sensibilizado com sais de prata e a câmera expele uma foto preta, que depois de 60
segundos revela a imagem (posteriormente, este tempo foi reduzido para 10 segundos). A
fotografia produzida é uma imagem única, sem possibilidade de reprodução, de baixa
qualidade.

       A fotografia instantânea foi muito difundida, visto que as câmeras eram destinadas a
um público amador, pois eram de fácil manuseio e vendidas a preço acessíveis (embora os
                                                                                     19
papéis fotográficos fossem vendidos a um valor elevado, o que garantia o lucro da Polaroid
Corporation).

       Assim como a Kodak, a Polaroid não resistiu à concorrência da fotografia digital e em
fevereiro de 2008 anunciou o fim da produção das câmeras instantâneas (FERRAZ, 2012).
Diante disto, duas empresas começaram na produção da fotografia instantânea: a Fujifilm,
com a linha instax que produz câmeras e filmes próprios, e a Impossible, empresa sediada em
uma fábrica fechada da Polaroid, formada por ex-funcionários da mesma, que fabricam filmes
para as antigas câmeras Polaroid. Estes funcionários foram motivados a trabalhar em um
projeto com pouca chance de lucro, em um mercado já bastante prejudicado pela concorrência
das câmeras digitais, apenas pela paixão à fotografia analógica, especialmente a fotografia
instantânea (CORRÊA; FERRAZ, 2012).

       O conceito de instantaneidade da Polaroid foi resgatado pela rede social Instagram
algumas décadas mais tarde; o Instagram, aplicativo para celulares e outros aparelhos, além de
aplicar filtros que dão um tom vintage à fotografia, permite adicionar imagens, pelo celular,
ao perfil da rede social, no mesmo instante que foram tiradas, sem a necessidade de
descarregar em um computador, da mesma forma que a Polaroid não tinha a necessidade de
levar a câmera ou negativo em um estúdio para revelação.

       1.4 – Fotografia e tecnologia digital

       A fotografia analógica, tanto a instantânea quanto a de filme, havia se tornado popular
e ocupava um espaço único na sociedade no final do século XX. Mas os equipamentos
evoluíram, as residências passaram a ser abastecidas por computadores, telefones sem fio.
Meios de transporte e comunicação cada vez mais rápidos, tanta tecnologia que a própria
fotografia começou a se tornar obsoleta.

       A sociedade em modernização encontrava muitos problemas para fotografar nas
décadas finais do século XX: os papéis fotográficos instantâneos eram caros, as fotografias
não eram de alta qualidade e não permitiam reprodução. Os filmes em negativo demoravam a
serem revelados, dependiam de investimento tanto para aquisição do filme quanto para
revelação e nestes dois modos de fotografar existia o risco de ocorrer algum erro na hora de
bater a foto, perdendo assim tanto o dinheiro quanto a fotografia.

                                                                                           20
É neste contexto que surge a fotografia digital. As primeiras imagens digitais vêm da
Guerra fria, do programa espacial norte americano.

                         As primeiras imagens sem filme registraram a superfície de Marte e foram
                         capturadas por uma câmera de televisão a bordo da sonda Mariner 4, em 1965. Eram
                         22 imagens em preto e branco de apenas 0,04 megapixels, mas que levaram quatro
                         dias para chegar à Terra. (PATRÍCIO, 2011, p. 60)

       Figura 5: Uma da imagens de Marte capturadas pela sonda Mariner

       Estas imagens digitais de Marte, embora tivessem sido o embrião de uma grande
inovação tecnológica, não surgem com este propósito, mas devido a uma necessidade
específica daquele momento; seria totalmente inviável a sonda fazer imagens analógicas do
planeta visinho e retornar à Terra para que estas pudessem ser reveladas.

       Dez anos depois de ter-se feito as imagens em Marte, a Kodak apresenta o primeiro
protótipo de câmera sem filme. Pesava quatro quilos e gravava imagens em uma fita cassete.
Mas a primeira câmera digital comercial da história foi lançada pela Sony em 1981. Esta
câmera, a Mavica, capturava imagens de 0,3 megapixels e tinha capacidade de armazenar até
50 fotos (AYRES). Era um produto totalmente voltado para as classes mais altas (a Mavica
custava cerca de U$$12.000,00 dólares), com fotografias de qualidade tão baixa que ela
poderia ser considerada um produto de luxo, pouco funcional.

                                                                                                      21
Figura 6: Câmera fotográfica Mavica

       As imagens geradas pela Mavica e pelas primeiras câmeras digitais eram como
imagens congeladas de TV. Ao longo das décadas de 1990 e 2000, as câmeras digitais
sofreram grandes evoluções; se tornaram compactas, automáticas, passaram a desempenhar
múltiplas funções (filmadora, webcam), receberam cartões de memória capazes de armazenar
centenas de fotos e suas imagens passaram a ser gravadas em resoluções muito altas (algumas
câmeras amadoras superam 14 megapixels).

       A câmera digital não utiliza processos químicos na captura de imagens. A luz, ao
passar pela lente, é registrada em um sensor e armazenada em um cartão de memória. As
imagens em formato digital são formadas em pixels, com resolução maior ou menor,
dependendo das configurações e qualidade da câmera. Geralmente, um visor presente na
câmera permite a visualização do enquadramento da imagem e da fotografia depois de pronta.
Depois de tiradas, as fotos podem ser enviadas (através de um cabo ou pelo próprio cartão de
memória) e visualizadas em um computador ou algum outro dispositivo eletrônico, podendo
ou não ser impressas.

       Alguns fotógrafos ainda têm resistência à fotografia digital. Estes alegam que, pelo
fato de as câmeras serem na maioria das vezes automáticas, a pessoa que a manuseia não
conseguirá aprender as técnicas para se tirar uma boa foto e nem conhecerá termos essenciais
dentro da fotografia (como diafragma, obturador, ISO). Outro problema das câmeras
automáticas é que o fotógrafo dificilmente vai conseguir uma imagem com os ajustes de foco,
luz, velocidade e profundidade de campo que deseja.

                                                                                         22
Entretanto, as facilidades da fotografia digital possibilitam a um maior número de
pessoas adquirir um equipamento fotográfico, visto que estes são mais fáceis de usar. Embora
a câmera em si possa ser mais cara (se comparada com uma câmera analógica com as mesmas
funções) não há gastos ao longo do tempo com filmes e revelação.

       A fotografia digital também contribuiu para o fotojornalismo, pois os equipamentos
atuais transferem as imagens instantaneamente para o computador, de modo que estas podem
atualizar websites e portais jornalísticos em tempo real. A fotografia digital também permite
enviar uma imagem para qualquer lugar do mundo pela internet, sem a demora e os riscos dos
meios de transporte convencionais ao enviarem uma imagem em papel fotográfico ou
negativo.

                                                                                          23
CAPÍTULO 2

Tecnologia digital e banalização da fotografia

       A fotografia digital surgiu de forma muito precária, com equipamentos de baixa
qualidade e preço alto, se comparada com as câmeras analógicas. Mas surgiu para atender
necessidades da sua época, e três décadas após o lançamento da primeira câmera digital
comercial surgiram no mercado equipamentos compactos, de alta qualidade, presentes não
apenas na própria câmera, mas em dispositivos eletrônicos móveis, como celulares e tablets.

       A câmera digital iniciou sua popularização na década de 1990, e a partir da década de
2000, com a inclusão de câmeras em aparelhos eletrônicos, um número maior de pessoas pôde
ter acesso à fotografia, embora esta tenha, em geral, qualidade pior do que as câmeras digitais
convencionais.

       Este grande número de câmeras digitais, muitas com pouca qualidade, acabam por
banalizar o exercício da fotografia. Banalizar significa tornar vulgar, banal, comum, trivial,
sem originalidade (DICIONÁRIO AURÉLIO DE PORTUGUÊS).

       Em todo lugar no mundo existe fotografia; na mídia impressa, em outdoors, nas
paredes das casas, em folhetos de propagandas, em álbuns de redes sociais e na internet de
uma forma geral.

                       Por meio de fotos, cada família constrói uma crônica visual de si mesma – um
                       conjunto portátil de imagens que dá testemunho da sua coesão. Pouco importam as
                       atividades fotografadas, contanto que as fotos sejam tiradas e estimadas. (SONTAG,
                       2004, p. 19)
       Além do grande número de câmeras e fotografias que se vê, percebe-se também que
fotografar é hoje uma atividade quase que obrigatória em determinados momentos, como
viagens e festas. A câmera digital facilitou fotografar estes eventos em quantidade, no sentido
de que o fotógrafo pode tirar inúmeras imagens semelhantes, sem se preocupar em trocar o
filme e sem gastos com revelação. Contudo, desta forma é muito fácil obter-se uma fotografia
de qualidade duvidosa, além de ser lançada no mundo uma quantidade imensa de imagens,
muitas das quais não chegará a ser impressa.

       2.1 - Popularização da fotografia e facilidades da câmera digital

                                                                                                      24
Desde sua criação até décadas mais tarde, a fotografia foi uma atividade para poucas
pessoas. Quem quisesse fotografar, precisava ter conhecimento de química, física, precisaria
adquirir equipamento e despender tempo tanto para o momento do registro, quanto para a
revelação. E o indivíduo que desejasse ser fotografado precisaria abrir mão de uma
quantidade considerável de capital para ter uma imagem sua eternizada, embora essa quantia
fosse menor do que aquela cobrada anteriormente por pintores retratistas (LEITE; SILVA,
2012).

         A primeira câmera para as massas foi lançada em 1990. Era a Kodak Brownie, uma
câmera feita de papelão que tirava oito fotografias por filme e podia ser adquirida por um
dólar. Além de pequena e barata, a Brownie era de fácil manuseio, como representa a
propaganda mostrada abaixo, que diz até uma criança poderia fotografar com ela. Alguns
fotógrafos iniciaram a fotografia na infância com uma Brownie, como o renomado
fotojornalista francês Henry Cartier-Bresson (SANTANA).

         Figura 7: Cartaz de propaganda da câmera brownie

         A Brownie foi considerada pela revista Photography Monthly como a mais importante
câmera de todos os tempos, em uma lista que mostrava o que, para eles, seriam as 50
melhores câmeras. Este título veio devido à revolução que causou no mundo da fotografia, a

                                                                                          25
introdução do conceito de instantâneo e à quantidade de unidades vendidas (127 milhões de
unidades produzidas somente entre 1952 e 1967) (PHOTOGRAPHY MONTHLY).

       A partir da Kodak Brownie houve o início da popularização da fotografia. Durante o
século XX, as imagens fotográficas alcançaram um espaço único na sociedade e nas mídias;
fotografias tinham lugar reservado nas mídias impressas, em propagandas e dentro das
residências, de forma que estas imagens passaram a fazer parte do cotidiano. E após quase um
século de hegemonia da fotografia analógica, a fotografia digital surgiu, e começou a se
popularizar nas décadas de 1990 e 2000.

                         A fotografia é um dos meios de comunicação visual que alcança boa parcela da
                         sociedade e que possui uma grande credibilidade junto à mesma, devido ao seu
                         contexto histórico social. Em decorrência do forte desenvolvimento tecnológico
                         alcançado pelas indústrias, a máquina fotográfica tornou-se um bem de consumo de
                         relativa acessibilidade à população. Com custos reduzidos e com uma forma cada
                         vez mais compacta, a câmera fotográfica é um objeto presente no cotidiano da
                         sociedade, tendo deixado, há tempos, de ser item exclusivo de profissionais da área.
                         (KAWAKAMI, 2012 p. 169)

       Figura 8: Câmera digital da marca Nikon

       Apesar de a fotografia digital não produzir uma imagem em material palpável (salvo
se for impressa), apenas podendo ser vista na tela do computador e de outros equipamentos
digitais, esta tecnologia vem alcançando uma maior parcela da população nos últimos anos.
Parte disto se deve à facilidade de manuseio dos aparelhos, embora estes apresentem mais
funções do que uma câmera analógica. As câmeras digitais modernas, em sua maioria,
funcionam também como filmadoras e webcans, permitem ao usuário dar efeitos às fotos,
como tons envelhecidos e preto-e-branco e algumas câmeras ainda registram imagens em 3D.
O foco, abertura do diafragma e velocidade do obturador ainda são automáticos nas câmeras

                                                                                                          26
não-profissionais, o que proporciona aos amadores fotos com melhores condições de
iluminação, mesmo que estes saibam pouco ou nada sobre estas técnicas.

         Outra vantagem que a fotografia digital encontrou em relação à analógica foi a questão
de custos. As câmeras analógicas, mesmo que custem menos, agregam valor na hora de
adquirir e revelar filmes. As câmeras digitais, por descarregarem as imagens direto em um
computador, possuem um custo de produção mais baixo em relação à analógica
(KAWAKAMI, 2012).

         Apesar de todas as facilidades oferecidas pela tecnologia digital, muitos fotógrafos
ainda são relutantes em aderir a ela. Um dos motivos seria a manipulação e o uso de recursos
da computação para alterar as imagens, como explica Oliveira:

                         A “velha guarda” vê problemas éticos na manipulação e tratamento das imagens,
                         que aumentam as possibilidades de fraudes e de danos aos fotografados, ferindo o
                         código de ética da categoria e colocando em risco uma credibilidade conquistada,
                         principalmente, pelo fotojornalismo. (OLIVEIRA, P. 4)
         Sontag diz que “algo de que ouvimos falar mas de que duvidamos parece comprovado
quando nos mostram uma foto” (SONTAG, 2004, p. 16). Sabe-se que a manipulação existe
desde os primórdios da fotografia, com retoques, cenas montadas e imagens sobrepostas. Mas
com a fotografia digital e programas para manipulação de imagens fica cada vez mais difícil
uma imagem transmitir confiança ao observador, sobre a veracidade do fato que ela mostra. E
como esta não possui um negativo, um “original” a que recorrer, fica muito difícil,
especialmente ao fotojornalista, comprovar a (não) manipulação de uma imagem (MENDES,
2002).

         As câmeras automáticas também não são bem vistas por estes fotógrafos. “Os
fotógrafos da era digital são acusados de falta de domínio dos métodos e técnicas utilizados na
fotografia, como luz, filtros, velocidade do obturador, entre outros” (OLIVEIRA, p. 5). É
como se estas câmeras quisessem avançar tecnologicamente, mas fazer com que o fotógrafo
regrida na técnica, como se estas câmeras tivessem se apropriado da máxima da Kodak do
final do século XIX, “você aperta o botão, nós fazemos o resto”.

         2.2 – Banalização da fotografia

         O surgimento das câmeras digitais no final do século XX e a popularização desta
tecnologia trouxeram como conseqüências um maior número de equipamentos fotográficos
                                                                                  27
nas mãos da população e uma maior produção fotográfica, embora muitas destas imagens não
cheguem a ser impressas.

                       Pode-se dizer que a produção exacerbada de fotografias fez com que a mesma
                       acabasse por ser banalizada. Pode parecer extremo, no entanto, para muitos, as
                       fotografias são vistas como veículos visuais que podem ser produzidos por qualquer
                       um que saiba disparar o botão da máquina fotográfica. (KAWAKAMI, 2012, p. 172)
       Este excesso de imagens é resultado das facilidades e acessibilidades de equipamentos
fotográficos, disponíveis hoje não apenas nas câmeras em si, mas também em celulares,
tablets e outros dispositivos eletrônicos móveis. Diversas imagens fotografadas são excluídas
antes de serem impressas por diversas razões, seja por má qualidade da imagem, pelo fato de
se ter tirado outras fotografias semelhantes ou simplesmente por não se gostar do resultado.
Não há qualquer razão para que o fotógrafo guarde as imagens consideradas ruins, mas isto só
prova como a fotografia vem sendo tratada de um modo banal.

       Assim como as fotografias digitais são banalizadas por serem excluídas, pode-se dizer
que o mesmo acontece pelo excesso de cópias que se faz destas. Benjamin diz que as obras de
arte originais possuem uma aura, chamada autenticidade (BENJAMIN, p. 212). Com as
imagens analógicas, mesmo que se faça muitas revelações da mesma foto, o negativo
carregará consigo esta aura. Com a fotografia digital isto não acontece; mesmo que se chamar
o arquivo sem modificações dentro do cartão de memória da câmera de original, este deixa de
sê-lo quando é copiado para um computador ou outro aparelho eletrônico.

       A fotografia vem se tornando banal não apenas pela quantidade de imagens ou pela
qualidade técnica destas, mas também pelos temas retratados e pelos motivos que levam o
indivíduo a fotografar. No início do século XX, quando a atividade fotográfica ainda estava se
tornando algo para o público, os temas mais comuns de seres fotografados eram retratos de
família e momentos importantes, como casamentos, como explica Sontag: “Nas primeiras
décadas da fotografia, esperava-se que as fotos fossem imagens idealizadas. Ainda é esse o
objetivo da maioria dos fotógrafos amadores, para quem uma bela foto é uma foto de algo
belo, como uma mulher, um pôr-do-sol” (SONTAG, 2004, p. 40).

                       Em época recente, a fotografia tornou-se um passatempo quase tão difundido quanto
                       o sexo e a dança – o que significa que, como toda forma de arte de massa, a
                       fotografia não é praticada pela maioria das pessoas como uma arte. É sobretudo um
                       rito social, uma proteção contra a ansiedade e um instrumento de poder. (SONTAG,
                       2004, p. 18)
       Por outro lado, apesar da popularização da fotografia ter provocado sua banalização,
ocorre a democratização desta. Por mais que surjam inúmeras imagens, com pouca qualidade
técnica e temas comuns, as pessoas estão tendo maior acesso a equipamentos fotográficos e
                                                                                       28
estão podendo registrar cenas e momentos que desejam. Afinal, esta é a intenção da maioria
destes fotógrafos. E neste maior acesso aos equipamentos, por vezes descobre-se um
fotógrafo com habilidade que se destaca por fazer boas fotos, que provavelmente não teria
chegado à fotografia se não fosse pelas facilidades de acesso.

       De algumas décadas para cá, o resultado final da fotografia foi, muitas vezes, cedendo
importância para o ato de fotografar; para muitas pessoas estar em um determinado ambiente
com uma câmera na mão registrando tudo o que ocorre é mais importante do que desfrutar o
momento, como se a fotografia se tornasse um ritual.

       Barthes diz sobre a fotografia unária, aquela que, através dela, “uma única série é
produzida pela base; são estas as transformações: passiva, negativa, interrogativa e enfática. A
fotografia é unária quando transforma enfaticamente a  sem a desdobrar, sem a
fazer vacilar” (BARTHES, 2009, p. 50). O autor enfatiza que a fotografia unária tem de tudo
para ser banal, e exemplifica, dizendo que fotos de reportagens e pornográficas são imagens
unárias, já que elas não possuem o que ele chama de punctum – o que causa o choque
(BARTHES, 2009). Pode-se dizer que autorretratos que ilustram perfis de redes sociais
também são fotografias unárias; grande maioria destes (desses) possuem a função de mostrar
o rosto do indivíduo, talvez fazendo alguma pose ou expressão, mas sem nenhuma intenção,
nada que vá chocar o observador.

       “Fotos chocam na proporção em que mostram algo novo” (SONTAG, 2004, p. 30).
Muitas das imagens idealizadas no início da fotografia, e valorizadas até hoje pela beleza que
exprimem podem ser consideradas imagens banalizadas. Por maior perfeição técnica que a
foto de uma flor tenha, não vai chamar a atenção como a fotografia de algo que não se
costuma ver com freqüência, como uma paisagem desconhecida, um planeta ou um animal
raro do fundo do mar. Fotografias de tragédias, crimes e atrocidades chocam, mas a repetida
exposição destas imagens desgasta este choque, torna-as imagens comuns (SONTAG, 2004).
Imagens de atrocidades estampadas todos os dias em jornais e outros veículos de mídia
acabam por se tornar fotografias unárias, banais.

       “O fotógrafo, tal como um acrobata, deve desafiar as leis do provável ou até do
possível; a um ponto extremo ele deve desafiar as do interessante. A foto torna-se
 a partir do momento em que não sabe porque é que foi tirada” (BARTHES,
2009, p. 42). Barthes recomenda ao fotógrafo inovar, ir além das capacidades e das
circunstâncias que fazem a foto. Não banalizar a imagem e a atividade fotográfica seria buscar

                                                                                             29
También puede leer