A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL
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JULIANA ROSA CORRÊA A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL Viçosa - MG Curso de Comunicação Social/Jornalismo da UFV 2013
JULIANA ROSA CORRÊA A EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA E UMA ANÁLISE DA TECNOLOGIA DIGITAL Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social/ Jornalismo da universidade Federal de Viçosa, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. Orientadora:Mariana Lopes Bretas Viçosa – MG Curso de Comunicação Social/Jornalismo da UFV 2009
AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por sempre me dar forças e me auxiliar em minhas dificuldades. Pelo amor demonstrado em cada instante da minha vida. Aos meus pais e familiares pelo apoio incondicional e pelo exemplo de vida. Aos amigos por todos os momentos compartilhados, orações e palavras encorajadoras. Aos professores pela sabedoria e ensinamentos transmitidos. À professora Mariana Bretas pela orientação neste trabalho, por toda a paciência e conhecimento compartilhado. Enfim, agradeço a todos que, de alguma forma, contribuíram para a construção deste trabalho e que marcaram minha passagem pela UFV.
Universidade Federal de Viçosa Departamento de Artes e Humanidades Curso de Comunicação Social/Jornalismo Monografia intitulada A evolução da fotografia e uma análise da tecnologia digital, de autoria da estudante Juliana Rosa Corrêa, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores: ___________________________________________________ Prof. Dr. Mariana Lopes Bretas Curso de Comunicação Social/Jornalismo ___________________________________________________ Prof. Ma. Laene Mucci Daniel Curso de Comunicação Social/Jornalismo ___________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Xavier Ribeiro do Vale Curso de Agronomia/Fitopatologia Viçosa, 11 de maio de 2013
RESUMO A fotografia passou por vários estágios desde que foi criada, no início do século XIX, até chegar à tecnologia digital, bastante utilizada nos dias de hoje. Durante muito tempo enfrentou o dilema se poderia ou não ser considerada arte, e hoje é uma das mais expressivas formas de manifestações artísticas. A presente monografia analisa a fotografia como uma forma de arte e as consequências que a popularização e a tecnologia digital trouxeram para esta atividade, como a possível banalização do exercício da fotografia. PALAVRAS – CHAVE Fotografia; tecnologia digital; arte; banalização. ABSTRACT The photograph went through several stages since it was created, in the early nineteenth century, until it reaches the digital technology, widely used today. Long faced the dilemma if it could or not to be considered art, and today is one of the most importantways of artistic expressions. This monograph examines photography as an art form and the consequences that the popularization and digital technology have brought to this activity, as a possible trivialization of exercise photography. KEY-WORDS Photograph; digital technology; art; trivialization.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 ..................................................................................................................... Página 13 Figura 02 ..................................................................................................................... Página 15 Figura 03 ..................................................................................................................... Página 17 Figura 04 ..................................................................................................................... Página 19 Figura 05 ..................................................................................................................... Página 21 Figura 06 ..................................................................................................................... Página 22 Figura 07 ..................................................................................................................... Página 25 Figura 08 ..................................................................................................................... Página 26 Figura 09 ..................................................................................................................... Página 32 Figura 10 ..................................................................................................................... Página 33 Figura 11 ..................................................................................................................... Página 34 Figura 12 ..................................................................................................................... Página 35 Figura 13 ..................................................................................................................... Página 35 Figura 14 ..................................................................................................................... Página 37 Figura 15 ..................................................................................................................... Página 38 Figura 16 ..................................................................................................................... Página 39 Figura 17 ..................................................................................................................... Página 40 Figura 18 ..................................................................................................................... Página 40 Figura 19 ..................................................................................................................... Página 41 Figura 20 ..................................................................................................................... Página 42 Figura 21 ..................................................................................................................... Página 44 Figura 22 ..................................................................................................................... Página 45 Figura 23 ..................................................................................................................... Página 47 Figura 24 ..................................................................................................................... Página 48
SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10 CAPÍTULO 1 – SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DA FOTOGRAFIA............................12 1.1 – A câmara escura e o surgimento do daguerreótipo..........................................................13 1.2 – Kodak e a fotografia analógica........................................................................................16 1.3 – A fotografia instantânea...................................................................................................18 1.4 – Fotografia e tecnologia digital.........................................................................................20 CAPÍTULO 2 – TECNOLOGIA DIGITAL E BANALIZAÇÃO DA FOTOGRAFIA...24 2.1 – Popularização da fotografia e facilidades da câmera digital............................................24 2.2 – Banalização da fotografia.................................................................................................27 CAPÍTULO 3 – FOTOGRAFIA COMO UMA FORMA DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA............................................................................................................................31 3.1 – Pintura e cinema: Antecessor e sucessor da fotografia....................................................31 3.2 – Os primeiros a enxergar a fotografia como arte...............................................................36 3.3 – Fotografia dentro da arte contemporânea.........................................................................39 3.4 – Lomografia.......................................................................................................................43 CAPÍTULO 4 – BANALIZAÇÃO E ARTE DO PONTO DE VISTA DE FOTÓGRAFOS AMADORES USUÁRIOS DE REDES SOCIAIS..................................46 4.1 – As redes sociais Flickr e Instagram..................................................................................46 4.2 – Pesquisa e perfil dos usuários..........................................................................................48 4.3 – Pesquisa e resultados qualitatvos.....................................................................................50
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................58 ANEXOS..................................................................................................................................64
INTRODUÇÃO Desde o século XVI a humanidade tem conhecimento de alguns conceitos relacionados à fotografia, como a câmara escura e o escurecimento da prata pela luz; era possível gravar imagens em uma superfície revestida por sais de prata, quando esta era colocada no interior de uma câmara escura, mas tais imagens desapareciam rapidamente, quando entravam em contato com a luz ambiente. Esta técnica de congelar as imagens não surgiu de uma hora para outra; ela foi se desenvolvendo com o tempo, até que em 1826, Joseph Nicéphore Niépce registra a primeira fotografia reconhecida da história. Nos 187 anos que separam a criação de Niépce até os dias de hoje muita coisa mudou. A fotografia passou por diferentes estágios: com o daguerreótipo, invenção de Daguerre, teve a técnica reconhecida cientificamente em 1839 e possibilitou a grvação de imagens sem possibilidade de reprodução. A partir da câmera de filme, em 1888 por George Eastman, a fotografia passou a ser acessível, por esta ser mais rápida, barata e prática. Este momento foi de tal importância que predominou na fotografia por cerca de um século. A fotografia instantânea, lançada em 1948 por Edwin Lnad, possibilitou visualisar as imagens assim que estas eram tiradas, sem a necessidade de enviar o filme para o laboratório para revelação. Por fim a tecnologia digital, que fez suas primeiras imagens em 1965, mas só passou a ser comercializada em 1981, é altamente difundida na sociedade dos dias atuais, com equipamentos na maioria das vezes automáticos, gravando as imagens em formato digital. A tecnologia digital acarretou em grandes mudanças para a fotografia; a popularização desta tecnologia democratizou a atividade, permitindo a um grande número de pessoas o acesso à produção fotográfica e possibilitando a estas o registro de momentos, pessoas e o que mais queiram fotografar. No entanto, equipamentos automáticos, registrando fotografias pixelizadas em formato digital trouxeram como consequência a perda da qualidade para as imagens. E o fato de a fotografia digital não agregar valor com a compra e revelação de filmes, não possuir um “original” e não exigir que as imagens sejam impressas fazem com que seja produzidas um número muito grande de fotografias, muitas das quais não possuiem qualidade ou técnica, o que pode por vezes banalizar a atividade fotográfica. Quando a fotografia surgiu, os pintores da época se sentiram ameaçados pela nova atividade. Como a pintura era o único meio de retratar pessoas e registrar cenas, esta teve que encontrar novos meios para se destacar diante da nova atividade que surgia. Durante certo 10
tempo, houve uma discussão se a fotografia poderia ou não ser considerada uma manifestação de arte e hoje, após o esforço de alguns artistas-fotógrafos e de movimentos que pretendiam elevar a fotografia à categoria das artes, como o pictorialismo, ela é considerada uma das mais importantes formas de expressões artísticas. A prova disto é que hoje se encontram exposições de fotografias em museus e galerias de arte. Para o fotógrafo nem sempre é fácil encontrar espaço para expor suas obras, especialmente se este for amador ou estiver no início da carreira. Uma opção encontrada para solucionar este problema seria expor suas imagens na internet. Algumas redes sociais permitem aos usuários publicar gratuitamente fotografias e outras imagens e visualizar o conteúdo de outros usuários. Duas das redes sociais que permitem aos fotógrafos expor suas imagens na internet são o Flickr e o Instagram. Neste projeto, a fim de analisar as opiniões e preferências dos usuários das redes sociais citadas acima, aplicou-se um questionário, que será analisado juntamente com o material coletado através da pesquisa bibliográfica, a qual tem por base livros dos autores Roland Barthes, Susan Sontag e Walter Benjamin. 11
CAPÍTULO 1 Surgimento e evolução da fotografia No ano de 1839, em Paris, o inventor Louis Jacques Mandé Daguerre apresenta ao mundo sua mais recente invenção, que mudaria para sempre o modo de se registrar acontecimentos, momentos históricos e cenas cotidianas: o daguerreótipo, método para se gravar imagens sobra uma superfície (PATRÍCIO, 2011). Um longo caminho foi percorrido pela humanidade até se chegar na invenção de Daguerre, passando pela criação e desenvolvimento da câmara escura, que é o princípio básico da fotografia, até o uso de produtos químicos, principalmente sais de prata, para se fixar a imagem em determinada superfície. A grande revolução causada pela invenção da fotografia foi na verdade, não o mecanismo/aparato de captação, que já era conhecido, mas sim a criação de um suporte químico sobre o qual a imagem projetada pudesse ser fixada sem precisar que o artista realizasse um desenho manual sobre o suporte. (ANJOS, 2012, p. 2) De mecanismos demorados, complicados e obsoletos, como eram o daguerreótipo e outros processos similares de captura de imagem, a fotografia deu um salto, em 1888, com a criação da primeira câmera fotográfica comercial, criada por George Eastman, a Kodak Nº1. Este segundo momento da fotografia, utilizando filmes fotográficos, permitiu a pessoas comuns o acesso ao registro de imagens e dominou a história da fotografia por mais de um século. Com a Kodak, a fotografia se tornou “instantânea” e qualquer amador poderia tirar boas fotos. Com o slogan "You press the button, we do the rest", Eastman tentou fazer da fotografia algo popular, fácil, que não necessitava muita técnica. Seu argumento persuasivo era a possibilidade de uma história do dia-a-dia contada por imagens feitas pelos próprios protagonistas. (BRUNET, 2001, p. 2) O terceiro momento de grande importância na história da fotografia surgiu da necessidade de se ver na hora as imagens que eram fotografadas. Surge a fotografia instantânea, através da câmera Polaroid, idealizada em 1948 pelo inventor e físico Edwin Land. Estes três momentos da fotografia (daguerreótipo, fotografia de filme e fotografia instantânea) têm como base a câmara escura e a fotoquímica acontecendo devido à presença de sais de prata. Durante muitos anos gravar imagens teve estas características, até o lançamento da fotografia digital. 12
Alguns autores defendem que o ato de congelar imagens utilizando tecnologia digital não pode ser chamado de fotografia, pois fotografia significa “escrita com a luz”, e as câmeras digitais apenas captam sinais luminosos através de um sensor. “O - sistema de codificação discreto – acaba por se opor ao - sistema analógico de registro numa emulsão sensível, à base de sais de prata, das variações contínuas da luz refletida pelos objetos” (MENDES, 2002, p. 51). No entanto, os equívocos da linguagem são aceitos na linguagem popular e comercial. Somente os filmes podem ser “revelados”. Utilizar esse termo para o digital, é um erro aceito somente no comércio, para melhor entendimento da pessoa leiga no assunto. Fotografia capturada com a tecnologia digital se “imprime” e não se revela. (PATRÍCIO, 2011, p. 70) O atual momento da fotografia, que utiliza a tecnologia digital, teve seu início na década de 1980 e vem cada vez mais ganhando espaço com equipamentos compactos e automáticos. Embora tenha se popularizado, ainda divide opiniões, principalmente, entre os fotógrafos profissionais e aqueles mais antigos que não abandonaram os filmes analógicos. 1.1 – A câmara escura e o surgimento do daguerreótipo A história da fotografia está intimamente ligada ao conceito da câmara escura. A câmara escura é um ambiente (que pode ser tanto uma sala quanto uma caixa) isento de luz em seu interior, exceto por um orifício muito pequeno no centro de um de seus lados. A luz, ao ultrapassar este orifício, forma uma imagem invertida e pouco nítida na parede oposta dentro da câmara escura. Figura 1: Representação do funcionamento de uma câmara escura 13
A câmara escura é usada na fotografia tanto analógica quanto digital. A imagem é formada no interior da mesma, quando a luz que atravessa o orifício atinge o material fotossensível. O tempo de exposição e a nitidez da imagem dependem do tamanho do orifício: se este é grande, a imagem fica menos nítida, e o tempo de exposição é menor. Da mesma forma, quanto menor o orifício, mais nítida é a imagem, e maior o tempo de exposição. A primeira descrição de uma câmara escura vem do século IV a.C, pelo filósofo Aristóteles, quando este observa um eclipse solar. Ele utiliza um aparelho que contém um pequeno orifício, por onde a luz atravessa e se expande antes de chegar ao chão. A evolução da câmara escura se deu principalmente por físicos e astrônomos que observavam eclipses solares através dela, como o astrônomo árabe Al Hazen no século XI e o filósofo e matemático Roger Bacon no século XIII. (CALAÇA, 2012) Durante a Renascença, alguns pintores utilizavam a câmara escura como um aparelho auxiliar em seus desenhos, já que esta poderia refletir uma imagem real a uma tela mantendo as mesmas proporções, contudo, com uma nitidez muito baixa. No início do século XVI, pintor e inventor italiano Leonardo Da Vinci resolveu esta questão, colocando uma lente de vidro no lugar do orifício. Nos séculos XVII e XVIII, vários pesquisadores utilizavam a câmara escura a fim de gerar imagens em um material fotossensibilizado. Utilizando sais de prata (pois já se sabia na época que a prata escurecia em contato com a luz), estes pesquisadores obtinham sucesso no ato de gravar as imagens, mas não sabiam como interromper o processo de gravação. Assim, elas desapareciam rapidamente, pouco depois de serem retiradas da câmara escura, mesmo se permanecessem em um ambiente com pouca luz. Encontrar um material que servisse como fixador de imagens foi um grande desafio para estes pesquisadores até o século XVIII. No ano de 1826, um francês chamado Joseph Nicéphore Niépce, fazendo testes com um material coberto com betume da Judéia e sais de prata, consegue gravar e fixar uma imagem (CALAÇA, 2012). Esta, que retrata a vista de uma janela, é considerada a primeira fotografia da história, e a técnica foi batizada pelo próprio Niépce de heliografia. Contudo, Niépce não quis revelar ao mundo sua descoberta. Ele guarda para si os segredos da heliografia até que conhece o também francês Louis Jacques Mandé Daguerre. Este já utilizava a câmara escura na produção de desenhos e dioramas quando se interessa pelo que viria a ser um dia a fotografia. Ao conhecer Niépce e a heliografia, ambos decidem 14
assinar um contrato de sociedade, em 1829, para dar continuidade às pesquisas (TURAZZI, 2008). Figura 2:Vista da Janela, a primeira fotografia criada por Niépce Diante dos poucos avanços da sociedade, Daguerre decide dar continuidade às suas pesquisas sem a ajuda de Niépce, utilizando sais de prata. Niépce morre em 1833, Daguerre segue seus trabalhos e descobre dois anos depois que o vapor do mercúrio funciona como revelador nas imagens. Diz-se que esta descoberta foi acidental, aconteceu em um dia quando Daguerre guardou algumas placas sensibilizadas em um armário e, ao retirá-las no dia seguinte, percebeu que as imagens estavam muito mais nítidas e não escureciam com a luz ambiente. Constatou então que um termômetro havia quebrado dentro do armário e passou a incluir o mercúrio em suas pesquisas. Descobriu que este material, além de servir de revelador, diminui de horas para alguns minutos o tempo de exposição. Com isto, tornou-se possível a fotografia não somente de paisagens e objetos inanimados, como acontecia antes, mas também de pessoas, desde que estas ficassem sentadas e imóveis diante da câmara escura. Surge o daguerreótipo. O processo para obtenção de um consiste em sensibilizar uma placa de cobre revestida de prata polida e sensibilizada com vapor de iodo. Coloca-se o material, que é sensível à luz, em uma câmara escura por alguns minutos e ao se retirar, o 15
utiliza-se o vapor de mercúrio como revelador. Para se fixar a imagem, era usado o cloreto de sódio, sendo substituído mais tarde pelo tiossulfato de sódio, que dava maior durabilidade à imagem (OKA, ROPERTO). O resultado era um positivo único, nítido, sem caráter reprodutivo, que deveria ser protegido por um vidro a fim de evitar a oxidação. O novo invento foi revelado ao mundo no dia 19 de agosto de 1839, sendo reconhecido pela Academia de Ciências de Paris. Além de ter seu nome na invenção, Daguerre passou a receber uma pensão vitalícia do governo, para que qualquer pessoa pudesse utilizar o daguerreótipo sem precisar pagar patente, o que fez com que este se espalhasse com certa rapidez, visto que era de fácil reprodução. O tempo de hegemonia do daguerreótipo foi curto; durou até por volta da década de 1850, pois nesta época outros processos de gravação de imagem mais baratos, rápidos, e que proporcionavam a reprodutibilidade foram criados, como o Calótipo, do inglês Willian Fox Talbot, o que não diminui a importância histórica do daguerreótipo Diz-se muitas vezes que foram os pintores que inventaram a fotografia (transmitindo-lhe o enquadramento, a perspectiva albertiniana e a óptica da câmara obscura. E eu digo: não, foram os químicos. Porque o noema só foi possível a partir do dia em que uma circunstância científica (a descoberta da sensibilidade à luz dos sais de prata) permitiu captar e imprimir diretamente os raios luminosos emitidos por um objecto diretamente iluminado. (BARTHES, 2009, p. 91) Barthes atribui toda a criação da fotografia aos químicos, no momento em que o daguerreótipo surge e revoluciona toda uma geração e muda a maneira de registrar a história. 1.2 – Kodak e a fotografia analógica Durante as décadas que se seguiram desde a invenção do daguerreótipo a fotografia pouco evoluiu. O ato de registrar imagens ainda era algo trabalhoso e demorado, que exigia técnica, capital, equipamento e conhecimento de química por parte dos fotógrafos; eram poucos os que podiam trabalhar neste novo ramo. É neste contexto que ocorre uma revolução, provocada por George Eastman. Eastman teve seu primeiro contato com a fotografia em 1878, aos 24 anos de idade, quando planejava uma viagem e um amigo de trabalho sugeriu que fizesse um registro da mesma. Eastman adquiriu todo o pesado equipamento, a câmera com tripé, os produtos químicos e as placas de vidro, além de pagar para aprender a usar. Ele não fez a viagem, mas 16
ficou completamente absorvido pela fotografia e passou a buscar um meio mais simples de fazê-la. Eastman começa a trabalhar com placas secas feitas de gelatina, descoberta por Richard Maddox em 1871. Este material tinha o inconveniente de ser pesado, frágil e levava- se muito tempo para substituir a placa na câmera. A solução foi sensibilizar folhas de celulóide, que eram pequenas e maleáveis. Em 1888, era lançada a Kodak Nº1, câmera portátil de fácil manuseio (CHIEZA, TELES, 2012; OKA, ROPERTO). A primeira câmera comercial da história tinha um rolo de filme maleável enrolado em carretel e fazia 100 fotos em negativo por rolo. A câmera, já carregada, era vendida a U$$25,00 e para recarregá-la com um novo filme, custava U$$10,00 (OLIVEIRA, 2009). Eastman investia muito em publicidade e o slogan da Kodak era: “You press the button, we do the rest” (você aperta o botão, nós fazemos o resto). Figura 3: Câmera Kodak Nº 1 Uma câmera pequena, simples, acessível, que dava ao fotógrafo apenas o trabalho de enquadrar a imagem e apertar o botão, como o próprio slogan diz, que a empresa se encarrega de revelar e recarregar a máquina, deu a muitas pessoas a possibilidade de se tornarem fotógrafas, especialmente aquelas que tinham interesse apenas na imagem pronta e não no processo para obtê-las. Com este sistema de prestação de serviço Eastman dissemina a fotografia para aqueles que desejavam apenas tirar fotos sem ter que se preocupar com infraestrutura como lugar escuro, emulsionar vidro ou papel, para muitos só interessavam a foto e foi isto de Eastman proporcionou. (OLIVEIRA, 2009, p. 665) 17
A fotografia com filme predominou desde sua criação até o final do século XX, com poucas mudanças ao longo deste tempo. O filme utilizado neste período e usado até hoje por amantes da fotografia analógica é formado por várias camadas unidas por gelatina. A reação fotoquímica que vai formar a imagem se dá devido a grãos de sais de prata sensíveis à luz. Após a revelação o resultado é uma tira de imagens em negativo, que pode ser positivada quantas vezes forem necessárias. Para se positivar um negativo (ou simplesmente fazer cópias), utiliza-se um ampliador (projetor com uma lente para focar a imagem e uma fonte de luz controlada), aonde o negativo é posto e projetado sobre o papel sensibilizado e depois de ficar certo tempo exposto sob o negativo o papel irá formar um negativo deste, ou seja, um positivo, que é a fotografia de fato, o que interessa à maioria das pessoas (WOODWORTH). Enquanto os filmes continuaram utilizando os mesmos produtos base de sua fabricação, as câmeras fotográficas analógicas evoluíram drasticamente ao longo do tempo; de câmeras grandes e pesadas do início do século XX, que davam ao fotógrafo apenas a função de enquadrar e “apertar o botão”, hoje se encontram câmeras compactas, feitas de diferentes materiais (metal, plástico), com maiores possibilidades ao se fazer a foto, através da escolha da lente, do controle de velocidade e abertura de diafragma, que dão ao fotógrafo maior autonomia na hora de fotografar, apesar de dar também maior responsabilidade, pois qualquer erro da parte dos fotógrafos pode acarretar na perda da fotografia. Depois de reinar absoluto por mais de um século, o filme fotográfico se viu ameaçado pelo advento da tecnologia digital. Foi o que aconteceu com a Kodak no dia 19 de janeiro de 2012, 131 anos após sua criação. A empresa fracassou na tentativa de levantar fundos para financiar sua reestruturação financeira e se viu obrigada a pedir concordata. (NASCIMENTO). Mas a empresa não fechou, e no início de 2013 a Kodak diversificou parcialmente o ramo da fotografia, trabalhando com comunicação gráfica, scanners, câmeras digitais, impressoras para fotografias, artigos para cinema, contudo, não abandonou a produção de filmes e câmeras analógicas. 1.3 – A fotografia instantânea Os filmes fotográficos haviam se difundido, mas fotografar ainda era algo que levava tempo, especialmente na hora de revelar. Ao bater a foto, o fotógrafo precisava esperar até 18
que o filme fosse levado ao estúdio de revelação, passasse pelos processos químicos, o negativo fosse positivado em um papel fotográfico e finalmente devolvido. O questionamento que viria a solucionar este problema veio de uma criança de cinco anos; nas férias de verão de 1944, a filha do físico e inventor estado-unidense Edwin Land lhe pergunta por que tinha de esperar tantos dias para ver as fotos que seu pai fazia dela. Diante desta pergunta tão simples, Land enxerga uma nova possibilidade para a fotografia. Quatro anos mais tarde cria e lança no mercado a Polaroid, primeira câmera instantânea da história. A fotografia instantânea surgiu não como um capricho, mas como uma necessidade da época. Como não existia a tecnologia digital e muitas vezes era necessário ver na hora o que se foi fotografado, a invenção de Land veio como uma solução a este dilema. Figura 4: Câmera Polaroid A Polaroid produz fotos sem negativos. A luz entra em contato direto com o papel fotográfico sensibilizado com sais de prata e a câmera expele uma foto preta, que depois de 60 segundos revela a imagem (posteriormente, este tempo foi reduzido para 10 segundos). A fotografia produzida é uma imagem única, sem possibilidade de reprodução, de baixa qualidade. A fotografia instantânea foi muito difundida, visto que as câmeras eram destinadas a um público amador, pois eram de fácil manuseio e vendidas a preço acessíveis (embora os 19
papéis fotográficos fossem vendidos a um valor elevado, o que garantia o lucro da Polaroid Corporation). Assim como a Kodak, a Polaroid não resistiu à concorrência da fotografia digital e em fevereiro de 2008 anunciou o fim da produção das câmeras instantâneas (FERRAZ, 2012). Diante disto, duas empresas começaram na produção da fotografia instantânea: a Fujifilm, com a linha instax que produz câmeras e filmes próprios, e a Impossible, empresa sediada em uma fábrica fechada da Polaroid, formada por ex-funcionários da mesma, que fabricam filmes para as antigas câmeras Polaroid. Estes funcionários foram motivados a trabalhar em um projeto com pouca chance de lucro, em um mercado já bastante prejudicado pela concorrência das câmeras digitais, apenas pela paixão à fotografia analógica, especialmente a fotografia instantânea (CORRÊA; FERRAZ, 2012). O conceito de instantaneidade da Polaroid foi resgatado pela rede social Instagram algumas décadas mais tarde; o Instagram, aplicativo para celulares e outros aparelhos, além de aplicar filtros que dão um tom vintage à fotografia, permite adicionar imagens, pelo celular, ao perfil da rede social, no mesmo instante que foram tiradas, sem a necessidade de descarregar em um computador, da mesma forma que a Polaroid não tinha a necessidade de levar a câmera ou negativo em um estúdio para revelação. 1.4 – Fotografia e tecnologia digital A fotografia analógica, tanto a instantânea quanto a de filme, havia se tornado popular e ocupava um espaço único na sociedade no final do século XX. Mas os equipamentos evoluíram, as residências passaram a ser abastecidas por computadores, telefones sem fio. Meios de transporte e comunicação cada vez mais rápidos, tanta tecnologia que a própria fotografia começou a se tornar obsoleta. A sociedade em modernização encontrava muitos problemas para fotografar nas décadas finais do século XX: os papéis fotográficos instantâneos eram caros, as fotografias não eram de alta qualidade e não permitiam reprodução. Os filmes em negativo demoravam a serem revelados, dependiam de investimento tanto para aquisição do filme quanto para revelação e nestes dois modos de fotografar existia o risco de ocorrer algum erro na hora de bater a foto, perdendo assim tanto o dinheiro quanto a fotografia. 20
É neste contexto que surge a fotografia digital. As primeiras imagens digitais vêm da Guerra fria, do programa espacial norte americano. As primeiras imagens sem filme registraram a superfície de Marte e foram capturadas por uma câmera de televisão a bordo da sonda Mariner 4, em 1965. Eram 22 imagens em preto e branco de apenas 0,04 megapixels, mas que levaram quatro dias para chegar à Terra. (PATRÍCIO, 2011, p. 60) Figura 5: Uma da imagens de Marte capturadas pela sonda Mariner Estas imagens digitais de Marte, embora tivessem sido o embrião de uma grande inovação tecnológica, não surgem com este propósito, mas devido a uma necessidade específica daquele momento; seria totalmente inviável a sonda fazer imagens analógicas do planeta visinho e retornar à Terra para que estas pudessem ser reveladas. Dez anos depois de ter-se feito as imagens em Marte, a Kodak apresenta o primeiro protótipo de câmera sem filme. Pesava quatro quilos e gravava imagens em uma fita cassete. Mas a primeira câmera digital comercial da história foi lançada pela Sony em 1981. Esta câmera, a Mavica, capturava imagens de 0,3 megapixels e tinha capacidade de armazenar até 50 fotos (AYRES). Era um produto totalmente voltado para as classes mais altas (a Mavica custava cerca de U$$12.000,00 dólares), com fotografias de qualidade tão baixa que ela poderia ser considerada um produto de luxo, pouco funcional. 21
Figura 6: Câmera fotográfica Mavica As imagens geradas pela Mavica e pelas primeiras câmeras digitais eram como imagens congeladas de TV. Ao longo das décadas de 1990 e 2000, as câmeras digitais sofreram grandes evoluções; se tornaram compactas, automáticas, passaram a desempenhar múltiplas funções (filmadora, webcam), receberam cartões de memória capazes de armazenar centenas de fotos e suas imagens passaram a ser gravadas em resoluções muito altas (algumas câmeras amadoras superam 14 megapixels). A câmera digital não utiliza processos químicos na captura de imagens. A luz, ao passar pela lente, é registrada em um sensor e armazenada em um cartão de memória. As imagens em formato digital são formadas em pixels, com resolução maior ou menor, dependendo das configurações e qualidade da câmera. Geralmente, um visor presente na câmera permite a visualização do enquadramento da imagem e da fotografia depois de pronta. Depois de tiradas, as fotos podem ser enviadas (através de um cabo ou pelo próprio cartão de memória) e visualizadas em um computador ou algum outro dispositivo eletrônico, podendo ou não ser impressas. Alguns fotógrafos ainda têm resistência à fotografia digital. Estes alegam que, pelo fato de as câmeras serem na maioria das vezes automáticas, a pessoa que a manuseia não conseguirá aprender as técnicas para se tirar uma boa foto e nem conhecerá termos essenciais dentro da fotografia (como diafragma, obturador, ISO). Outro problema das câmeras automáticas é que o fotógrafo dificilmente vai conseguir uma imagem com os ajustes de foco, luz, velocidade e profundidade de campo que deseja. 22
Entretanto, as facilidades da fotografia digital possibilitam a um maior número de pessoas adquirir um equipamento fotográfico, visto que estes são mais fáceis de usar. Embora a câmera em si possa ser mais cara (se comparada com uma câmera analógica com as mesmas funções) não há gastos ao longo do tempo com filmes e revelação. A fotografia digital também contribuiu para o fotojornalismo, pois os equipamentos atuais transferem as imagens instantaneamente para o computador, de modo que estas podem atualizar websites e portais jornalísticos em tempo real. A fotografia digital também permite enviar uma imagem para qualquer lugar do mundo pela internet, sem a demora e os riscos dos meios de transporte convencionais ao enviarem uma imagem em papel fotográfico ou negativo. 23
CAPÍTULO 2 Tecnologia digital e banalização da fotografia A fotografia digital surgiu de forma muito precária, com equipamentos de baixa qualidade e preço alto, se comparada com as câmeras analógicas. Mas surgiu para atender necessidades da sua época, e três décadas após o lançamento da primeira câmera digital comercial surgiram no mercado equipamentos compactos, de alta qualidade, presentes não apenas na própria câmera, mas em dispositivos eletrônicos móveis, como celulares e tablets. A câmera digital iniciou sua popularização na década de 1990, e a partir da década de 2000, com a inclusão de câmeras em aparelhos eletrônicos, um número maior de pessoas pôde ter acesso à fotografia, embora esta tenha, em geral, qualidade pior do que as câmeras digitais convencionais. Este grande número de câmeras digitais, muitas com pouca qualidade, acabam por banalizar o exercício da fotografia. Banalizar significa tornar vulgar, banal, comum, trivial, sem originalidade (DICIONÁRIO AURÉLIO DE PORTUGUÊS). Em todo lugar no mundo existe fotografia; na mídia impressa, em outdoors, nas paredes das casas, em folhetos de propagandas, em álbuns de redes sociais e na internet de uma forma geral. Por meio de fotos, cada família constrói uma crônica visual de si mesma – um conjunto portátil de imagens que dá testemunho da sua coesão. Pouco importam as atividades fotografadas, contanto que as fotos sejam tiradas e estimadas. (SONTAG, 2004, p. 19) Além do grande número de câmeras e fotografias que se vê, percebe-se também que fotografar é hoje uma atividade quase que obrigatória em determinados momentos, como viagens e festas. A câmera digital facilitou fotografar estes eventos em quantidade, no sentido de que o fotógrafo pode tirar inúmeras imagens semelhantes, sem se preocupar em trocar o filme e sem gastos com revelação. Contudo, desta forma é muito fácil obter-se uma fotografia de qualidade duvidosa, além de ser lançada no mundo uma quantidade imensa de imagens, muitas das quais não chegará a ser impressa. 2.1 - Popularização da fotografia e facilidades da câmera digital 24
Desde sua criação até décadas mais tarde, a fotografia foi uma atividade para poucas pessoas. Quem quisesse fotografar, precisava ter conhecimento de química, física, precisaria adquirir equipamento e despender tempo tanto para o momento do registro, quanto para a revelação. E o indivíduo que desejasse ser fotografado precisaria abrir mão de uma quantidade considerável de capital para ter uma imagem sua eternizada, embora essa quantia fosse menor do que aquela cobrada anteriormente por pintores retratistas (LEITE; SILVA, 2012). A primeira câmera para as massas foi lançada em 1990. Era a Kodak Brownie, uma câmera feita de papelão que tirava oito fotografias por filme e podia ser adquirida por um dólar. Além de pequena e barata, a Brownie era de fácil manuseio, como representa a propaganda mostrada abaixo, que diz até uma criança poderia fotografar com ela. Alguns fotógrafos iniciaram a fotografia na infância com uma Brownie, como o renomado fotojornalista francês Henry Cartier-Bresson (SANTANA). Figura 7: Cartaz de propaganda da câmera brownie A Brownie foi considerada pela revista Photography Monthly como a mais importante câmera de todos os tempos, em uma lista que mostrava o que, para eles, seriam as 50 melhores câmeras. Este título veio devido à revolução que causou no mundo da fotografia, a 25
introdução do conceito de instantâneo e à quantidade de unidades vendidas (127 milhões de unidades produzidas somente entre 1952 e 1967) (PHOTOGRAPHY MONTHLY). A partir da Kodak Brownie houve o início da popularização da fotografia. Durante o século XX, as imagens fotográficas alcançaram um espaço único na sociedade e nas mídias; fotografias tinham lugar reservado nas mídias impressas, em propagandas e dentro das residências, de forma que estas imagens passaram a fazer parte do cotidiano. E após quase um século de hegemonia da fotografia analógica, a fotografia digital surgiu, e começou a se popularizar nas décadas de 1990 e 2000. A fotografia é um dos meios de comunicação visual que alcança boa parcela da sociedade e que possui uma grande credibilidade junto à mesma, devido ao seu contexto histórico social. Em decorrência do forte desenvolvimento tecnológico alcançado pelas indústrias, a máquina fotográfica tornou-se um bem de consumo de relativa acessibilidade à população. Com custos reduzidos e com uma forma cada vez mais compacta, a câmera fotográfica é um objeto presente no cotidiano da sociedade, tendo deixado, há tempos, de ser item exclusivo de profissionais da área. (KAWAKAMI, 2012 p. 169) Figura 8: Câmera digital da marca Nikon Apesar de a fotografia digital não produzir uma imagem em material palpável (salvo se for impressa), apenas podendo ser vista na tela do computador e de outros equipamentos digitais, esta tecnologia vem alcançando uma maior parcela da população nos últimos anos. Parte disto se deve à facilidade de manuseio dos aparelhos, embora estes apresentem mais funções do que uma câmera analógica. As câmeras digitais modernas, em sua maioria, funcionam também como filmadoras e webcans, permitem ao usuário dar efeitos às fotos, como tons envelhecidos e preto-e-branco e algumas câmeras ainda registram imagens em 3D. O foco, abertura do diafragma e velocidade do obturador ainda são automáticos nas câmeras 26
não-profissionais, o que proporciona aos amadores fotos com melhores condições de iluminação, mesmo que estes saibam pouco ou nada sobre estas técnicas. Outra vantagem que a fotografia digital encontrou em relação à analógica foi a questão de custos. As câmeras analógicas, mesmo que custem menos, agregam valor na hora de adquirir e revelar filmes. As câmeras digitais, por descarregarem as imagens direto em um computador, possuem um custo de produção mais baixo em relação à analógica (KAWAKAMI, 2012). Apesar de todas as facilidades oferecidas pela tecnologia digital, muitos fotógrafos ainda são relutantes em aderir a ela. Um dos motivos seria a manipulação e o uso de recursos da computação para alterar as imagens, como explica Oliveira: A “velha guarda” vê problemas éticos na manipulação e tratamento das imagens, que aumentam as possibilidades de fraudes e de danos aos fotografados, ferindo o código de ética da categoria e colocando em risco uma credibilidade conquistada, principalmente, pelo fotojornalismo. (OLIVEIRA, P. 4) Sontag diz que “algo de que ouvimos falar mas de que duvidamos parece comprovado quando nos mostram uma foto” (SONTAG, 2004, p. 16). Sabe-se que a manipulação existe desde os primórdios da fotografia, com retoques, cenas montadas e imagens sobrepostas. Mas com a fotografia digital e programas para manipulação de imagens fica cada vez mais difícil uma imagem transmitir confiança ao observador, sobre a veracidade do fato que ela mostra. E como esta não possui um negativo, um “original” a que recorrer, fica muito difícil, especialmente ao fotojornalista, comprovar a (não) manipulação de uma imagem (MENDES, 2002). As câmeras automáticas também não são bem vistas por estes fotógrafos. “Os fotógrafos da era digital são acusados de falta de domínio dos métodos e técnicas utilizados na fotografia, como luz, filtros, velocidade do obturador, entre outros” (OLIVEIRA, p. 5). É como se estas câmeras quisessem avançar tecnologicamente, mas fazer com que o fotógrafo regrida na técnica, como se estas câmeras tivessem se apropriado da máxima da Kodak do final do século XIX, “você aperta o botão, nós fazemos o resto”. 2.2 – Banalização da fotografia O surgimento das câmeras digitais no final do século XX e a popularização desta tecnologia trouxeram como conseqüências um maior número de equipamentos fotográficos 27
nas mãos da população e uma maior produção fotográfica, embora muitas destas imagens não cheguem a ser impressas. Pode-se dizer que a produção exacerbada de fotografias fez com que a mesma acabasse por ser banalizada. Pode parecer extremo, no entanto, para muitos, as fotografias são vistas como veículos visuais que podem ser produzidos por qualquer um que saiba disparar o botão da máquina fotográfica. (KAWAKAMI, 2012, p. 172) Este excesso de imagens é resultado das facilidades e acessibilidades de equipamentos fotográficos, disponíveis hoje não apenas nas câmeras em si, mas também em celulares, tablets e outros dispositivos eletrônicos móveis. Diversas imagens fotografadas são excluídas antes de serem impressas por diversas razões, seja por má qualidade da imagem, pelo fato de se ter tirado outras fotografias semelhantes ou simplesmente por não se gostar do resultado. Não há qualquer razão para que o fotógrafo guarde as imagens consideradas ruins, mas isto só prova como a fotografia vem sendo tratada de um modo banal. Assim como as fotografias digitais são banalizadas por serem excluídas, pode-se dizer que o mesmo acontece pelo excesso de cópias que se faz destas. Benjamin diz que as obras de arte originais possuem uma aura, chamada autenticidade (BENJAMIN, p. 212). Com as imagens analógicas, mesmo que se faça muitas revelações da mesma foto, o negativo carregará consigo esta aura. Com a fotografia digital isto não acontece; mesmo que se chamar o arquivo sem modificações dentro do cartão de memória da câmera de original, este deixa de sê-lo quando é copiado para um computador ou outro aparelho eletrônico. A fotografia vem se tornando banal não apenas pela quantidade de imagens ou pela qualidade técnica destas, mas também pelos temas retratados e pelos motivos que levam o indivíduo a fotografar. No início do século XX, quando a atividade fotográfica ainda estava se tornando algo para o público, os temas mais comuns de seres fotografados eram retratos de família e momentos importantes, como casamentos, como explica Sontag: “Nas primeiras décadas da fotografia, esperava-se que as fotos fossem imagens idealizadas. Ainda é esse o objetivo da maioria dos fotógrafos amadores, para quem uma bela foto é uma foto de algo belo, como uma mulher, um pôr-do-sol” (SONTAG, 2004, p. 40). Em época recente, a fotografia tornou-se um passatempo quase tão difundido quanto o sexo e a dança – o que significa que, como toda forma de arte de massa, a fotografia não é praticada pela maioria das pessoas como uma arte. É sobretudo um rito social, uma proteção contra a ansiedade e um instrumento de poder. (SONTAG, 2004, p. 18) Por outro lado, apesar da popularização da fotografia ter provocado sua banalização, ocorre a democratização desta. Por mais que surjam inúmeras imagens, com pouca qualidade técnica e temas comuns, as pessoas estão tendo maior acesso a equipamentos fotográficos e 28
estão podendo registrar cenas e momentos que desejam. Afinal, esta é a intenção da maioria destes fotógrafos. E neste maior acesso aos equipamentos, por vezes descobre-se um fotógrafo com habilidade que se destaca por fazer boas fotos, que provavelmente não teria chegado à fotografia se não fosse pelas facilidades de acesso. De algumas décadas para cá, o resultado final da fotografia foi, muitas vezes, cedendo importância para o ato de fotografar; para muitas pessoas estar em um determinado ambiente com uma câmera na mão registrando tudo o que ocorre é mais importante do que desfrutar o momento, como se a fotografia se tornasse um ritual. Barthes diz sobre a fotografia unária, aquela que, através dela, “uma única série é produzida pela base; são estas as transformações: passiva, negativa, interrogativa e enfática. A fotografia é unária quando transforma enfaticamente a sem a desdobrar, sem a fazer vacilar” (BARTHES, 2009, p. 50). O autor enfatiza que a fotografia unária tem de tudo para ser banal, e exemplifica, dizendo que fotos de reportagens e pornográficas são imagens unárias, já que elas não possuem o que ele chama de punctum – o que causa o choque (BARTHES, 2009). Pode-se dizer que autorretratos que ilustram perfis de redes sociais também são fotografias unárias; grande maioria destes (desses) possuem a função de mostrar o rosto do indivíduo, talvez fazendo alguma pose ou expressão, mas sem nenhuma intenção, nada que vá chocar o observador. “Fotos chocam na proporção em que mostram algo novo” (SONTAG, 2004, p. 30). Muitas das imagens idealizadas no início da fotografia, e valorizadas até hoje pela beleza que exprimem podem ser consideradas imagens banalizadas. Por maior perfeição técnica que a foto de uma flor tenha, não vai chamar a atenção como a fotografia de algo que não se costuma ver com freqüência, como uma paisagem desconhecida, um planeta ou um animal raro do fundo do mar. Fotografias de tragédias, crimes e atrocidades chocam, mas a repetida exposição destas imagens desgasta este choque, torna-as imagens comuns (SONTAG, 2004). Imagens de atrocidades estampadas todos os dias em jornais e outros veículos de mídia acabam por se tornar fotografias unárias, banais. “O fotógrafo, tal como um acrobata, deve desafiar as leis do provável ou até do possível; a um ponto extremo ele deve desafiar as do interessante. A foto torna-se a partir do momento em que não sabe porque é que foi tirada” (BARTHES, 2009, p. 42). Barthes recomenda ao fotógrafo inovar, ir além das capacidades e das circunstâncias que fazem a foto. Não banalizar a imagem e a atividade fotográfica seria buscar 29
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