Maria de Buenos Aires, de Astor Piazzolla - Cistermúsica

Página creada Isabela Fontana
 
SEGUIR LEYENDO
Mecenas

Maria de Buenos Aires,
de Astor Piazzolla
Daniel Schvetz, direção
Ana Ester Neves, soprano                                                                    Patrocinador Outros Mundos:

ÓPERA - TANGO
29 de julho de 2021 · 21h00
Cine-teatro de Alcobaça – João d’Oliva Monteiro

Programa                                                Ficha Artística
María de Buenos Aires                                   Ana Ester Neves, soprano solista
Ópera de câmara em duas partes                          Christian Luján, barítono solista
Astor Piazzolla (1921 - 1992)                           Guido Lisioli, recitante solista
Libreto de Horacio Ferrer (1933 - 2014)
                                                        Ana Beatriz Manzanilla, primeiro violino
Os 17 quadros de María de Buenos Aires:                 Beatriz Saglimbeni, segundo violino
1. Alevare                                              Pedro Muñoz, viola
2. Tema de María                                        Carolina Matos, violoncelo
3. Balada renga para un organito loco                   Pedro Wallenstein, contrabaixo
4. Yo soy María                                         Katherine Rawdon, flauta
5. Milonga carrieguera                                  Elizabeth Davis, percussão
6. Fuga y misterio                                      Alexandre Frazão, bateria
7. Poema valseado                                       Mário Delgado, guitarra
8. Tocata rea                                           Martín Sued, bandoneón
9. Miserere canyengue                                   Janice Landritsky, Bárbara Faustino e Zé Bernardino,
10. Contramilonga a la funerala por la primera muerte   dança e coro recitante
de María
11. Tangata del alba                                    Eduardo Stupia, audiovisual
12. Carta a los árboles y a las chimeneas               Duilio Fonda, ilustração
13. Aria de los analistas
                                                        Daniel Schvetz, piano e direção musical
14. Romanza del duende poeta y curda
15. Alegro tangabile
16. Milonga de la anunciación
17. Tangus Dei                                          Co-produção:

                                                        Apoio:
Sinopse                                                       de câmara, coro e solistas, destacando-se as óperas O
                                                              Principezinho, O Defunto e Conferência dos Pássaros,
María de Buenos Aires é um espetáculo teatral/                a Misatango, a Cantata para un Silencio, o Concerto
musical — o primeiro no género de ópera-tango de              para Bandoneón e Orquestra, o Duplo Concerto para
Astor Piazzolla — com libreto de Horacio Ferrer, poeta        Acordeão, Saxofone e Orquestra, o Concertino para
uruguaio-argentino que escreveu também poemas para            Piano e Cordas, e o bailado O Cavaleiro da Dinamarca,
vários tangos de Piazzolla.                                   encomenda da EADCN, no Centenário de Sophia de
                                                              Mello Breyner. É professor de Composição e Análise
O enredo, complexo e com laivos surrealistas, desenvolve-     Musical do Conservatório Nacional. Colaborou com a
se ao longo de 17 quadros, alternando entre secções           Antena 2, a Cinemateca Portuguesa, o CESEM, a ESML,
cantadas, recitadas ou exclusivamente instrumentais,          a Metropolitana, a Casa da América Latina, o Inatel ou
onde acompanhamos a vida, morte, ressurreição e               o Instituto Cervantes, entre outras entidades.
maternidade de María. A protagonista deambula entre
personagens típicos e cenas do quotidiano da capital
argentina, cruzando-se com um poeta narrador que é            Ana Ester Neves
também um duende, várias marionetas sob seu controle,
                                                              Reconhecida intérprete do canto lírico português,
e um circo de psicanalistas.
                                                              afirma-se no panorama musical pela sua qualidade
María e a sua sombra são a representação de Buenos            e versatilidade vocais que lhe permitem abraçar
Aires, associadas ao tango, à vida das ruas e da noite.       projetos muito contrastantes, desde a música barroca à
Mas a personagem encerra em si múltiplas leituras e           contemporânea, passando da ópera ao musical.
surge frequentemente associada tanto à Virgem Maria
                                                              Diplomou-se em Canto pelo Conservatório Nacional de
e a Jesus Cristo, como à condição feminina.
                                                              Música de Lisboa e prosseguiu os seus estudos na Royal
A obra estreou na Sala Planeta em Buenos Aires a 8            Academy of Music em Londres onde obteve uma Pós-
de maio de 1968. O próprio compositor classificou-a de        Graduação em Ópera e posteriormente na Universidade
“Operita”, que poderemos considerar “de Câmara”, e é          de Boston, na School for the Arts, onde concluiu o
apresentada com um efetivo de onze instrumentistas,           Mestrado em Interpretação Vocal.
dois cantores solistas (uma soprano e um barítono), um
                                                              A intensa diversidade da sua carreira tem-na levado
recitante e um grupo coral de pequeno formato (com 4 a
                                                              a apresentar-se em Portugal, Inglaterra, Áustria,
6 elementos) também recitante.
                                                              Alemanha, Itália, Grécia, Espanha, França, Brasil e EUA,
                                                              quer como recitalista, quer como solista de orquestra.
                                                              Também do repertório operático destacam-se as suas
Biografias                                                    interpretações de Micaela na ópera Carmen, Musetta em
                                                              La Bohéme, La Contessa em As Bodas de Fígaro, Tatyana
                                                              em Eugene Onegin, Bess em Porgy and Bess, D. Elvira em
Daniel Schvetz
                                                              D. Giovanni, Xenya em Boris Godunov, Lady Billows em
Estudou piano e composição no Conservatório Nacional          Albert Herring, Laura em Neues vom Tage, Violetta em
de Buenos Aires - López Bouchard, composição no               La Traviata, Tosca em Tosca, Cio-Cio-San em Madama
Conservatório Beethoven, e música electroacústica             Butterfly, a Mãe em Ahmal and the Night Visitors, entre
na Universidade Ricardo Rojas. Participou nos Cursos          outras. Estreou a ópera The Bacchae no papel principal
Latino-Americanos de Música Contemporânea e Cursos            de Agave de Theodore Antoniou, em Atenas.
de Verão no IRCAM (recursos eletroacústicos). Foi
                                                              É sua preocupação a divulgação do repertório português,
discípulo em piano de Roberto Brando, Moises Makaroff,
                                                              pelo que o tem apresentado nas salas portuguesas mais
M. R. Oubiña de Castro, em composição, contraponto e
                                                              importantes e também no estrangeiro. Estreou os papéis
fuga de Guillermo Graetzer, em análise e harmonia do
                                                              principais das óperas O Doido e a Morte (D. Aninhas) e A
séc. XX de Fermina Casanova. Viajou várias vezes pela
                                                              Rainha Louca (D. Maria I) de Alexandre Delgado, Édipo
Argentina, Peru, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai
                                                              ou a Tragédia do Saber (Jocasta) e Os Dias Levantados
como intérprete e investigador dos diversos folclores,
                                                              (O Anjo Camponês) de António Pinho Vargas e As Três
sendo inspirado por muitas obras desse período, não
                                                              Máscaras de Ferro (Fanny Owen) de Eurico Carrapatoso.
só pelas riquíssimas variedades e estilos musicais,
                                                              Estreou também a cantata Urban Urbe de Daniel
como pela poesia, literatura e tradições culturais das
                                                              Schvetz. Destacam-se ainda as suas interpretações da
diversas geografias e povoações. Participou em projetos
                                                              14.ª Sinfonia de Chostakovitch, o Requiem para o Planeta
jazzísticos e de improvisação pura, de inspiração
                                                              Terra de João Pedro Oliveira, o Requiem de Verdi, e El
folclórica como Luna, Canto Entero, de tango e inspiração
                                                              Sombrero de Tres Bicos de Falla.
tangueira como El Borde, Duo Naka-Schvetz, e de vários
projetos de música contemporânea como Ophris com              Vencedora dos concursos Mary Garden e Luísa Todi, é
César Viana, interpretando obras de compositores              detentora dos prémios operáticos Gilbert Betjemann e
portugueses, e os ensembles Septeto Daniel Schvetz,           Ricordi. Gravou a Sinfonia n.º 6 de Joly Braga Santos para
Duo Moderato Tangabile com o tubista Sérgio Carolino,         a Marco Polo, Os Dias Levantados de António Pinho
o duo Pois É com a cantora Sara Belo e Pianordeão             Vargas para a EMI-Classics e gravou também para a
com o acordeonista Pedro Santos. Compôs vários tipos          RTP, RDP e BBC. É membro fundador do Trio Vissi d’Arte
de obras para piano — peças curtas, ciclos de prelúdios,      e colaborou com o Grupo de Música Contemporânea de
variações, peças didáticas — para orquestra, ensembles        Lisboa.
A sua interpretação de Mrs. Lovett em Sweeney Todd          Guido Lisioli
de Stephen Sondheim valeu-lhe a nomeação para os
Globos de Ouro na categoria de Melhor Atriz e o Prémio      Guido Lisioli, de nacionalidade argentina, é um professor,
Bernardo Santareno de Melhor Interpretação.                 compositor e produtor musical com mais de dez anos
                                                            de experiência na preparação de cantores de diferentes
No campo da Pedagogia foi Professora Assistente da          faixas etárias, estilos musicais e nacionalidades.
Disciplina de Canto na Universidade de Boston, lecionou
Canto no Conservatório Regional do Algarve, na              Com formação académica na consagrada Escola
Universidade de Évora e no Politécnico de Castelo Branco    de Musica Popular de Avellaneda (Buenos Aires,
(ESART). É professora na Escola Profissional de Teatro      Argentina) teve como professores grandes lendas da
de Cascais. É convidada frequentemente para lecionar        música argentina pertencentes ao tango, jazz, folclore,
Masterclasses de Canto e tem realizado várias ações de      rock e pop.
formação sobre técnica vocal para profissionais de voz,
                                                            Para complementar a sua formação fez os cursos
locutores da rádio e televisão.
                                                            de “Management e Desenvolvimento de Artistas” e
                                                            “Reflexões da musica” com o ex-director de Sony BMG
Christian Luján                                             Argentina, Afo Verde e com a experimentada licenciada
                                                            Alejandra Cragnolini, formadores no Teatro San Martin
Christian Luján iniciou os seus estudos no Instituto das
                                                            em Buenos Aires.
Belas Artes de Medellín, Colombia. Frequenta o Curso
de musicologia na FCSH e o de canto no Conservatório        O seu percurso musical inclui produções e colaborações
Nacional onde estudou com Manuela de Sá. Prosseguiu         em diferentes projectos de metal, rock, pop, dark-folk, e
os seus estudos no Flanders Opera Studio, na Bélgica,       folclore argentino, levando-o também a participar em
sob a direção de Ronny Lawers e na International Opera      bandas sonoras para largas e curtas metragens. Como
Academy sob a direção de Guy Joosten.                       compositor grava os seus trabalhos musicais individuais
                                                            e de grupo onde conta com a colaboração de diferentes
Tem representado: Albert em Werther de Jules Massenet,
                                                            músicos.
Lorenzo em I Capuleti e I Montecchi de Bellini, Leporello
em D. Giovanni de W. A. Mozart, Guglielmo, em Così          Foi convidado a partilhar palco em eventos musicais
fan Tutte de W.A. Mozart, Un Dieu Infernal em Alceste       com grandes figuras da música mundial como Duncan
de Gluck, Dottor Grenvil em La Traviata de G. Verdi, Le     Patterson (ex-Anathema), Anneke Van Giersbergen (ex-
Geôlier em Les Dialogues des Carmélites de F. Poulenc,      The Gathering) em diferentes partes do mundo.
Varsonofjev em Khovansktsjina de M. Mussorgsky,
Charles Edward em Candide de L. Bernstein, Papageno         Na área do ensino foi vocal coach selecionado para dar
em A Flauta Mágica de W. A. Mozart, K. Mauricio             aulas na Yamaha Musical (Quilmes, Argentina) onde
em A Morte do Palhaço de José Mário Branco e João           ensinou um grande número de cantores ao longo de
Brites, Pinellino em Gianni Schicchi de G. Puccini,         vários anos, continuando depois a sua carreira como
Father em Romy Schneider Opera de Joris Blanckaert,         professor em Portugal.
Lodovico e Montano em Otello de G. Verdi, Rabbit e
Prince em Assepoester Droom, Vermummte Herr e Otto
em Frülings Erwachen, Publio em La Clemenza di Tito
de W.A. Mozart, Colas em Bastien und Bastienne de
W.A. Mozart, Junius Brutos em The Rape of Lucretia de
Benjamin Britten, entre outros.

Ao longo da sua carreira, já atuou em alguns das salas
de espetáculos mais prestigiadas, como o Teatro Verdi
di Trieste, o Teatro Nacional São Carlos, o Alden Biesen
Zomeropera 2014, Brussels Philharmonic, Vlaamse
Opera, Teatro São João, Flagey e Centro Cultural de
Belém.

                       É expressamente proibida a captação de imagens e som durante o espetáculo.
                       Desligue o telemóvel, desfrute e grave na sua memória.
                       Poderá rever os melhores momentos no website e nas redes sociais do festival.

Consulte a programação completa em www.cistermusica.com
Libreto
Libreto original María de Buenos Aires                   Voces de los hombres que volvieron del Misterio
De Horacio Ferrer                                        (Recitado)
                                                         Que moje el Diablo en garnacha
                                                         su renga pata al moler.
Cuadro 1: Alevare
                                                         La voz de un Payador
El Duende
                                                         (Cantado)
Ahora que es la hora y que un rumor de yerba Mora
                                                         El tiempo muestra la hilacha,
trasnocha en tu silencio, por un poro de este asfalto
                                                         ¡y nadie la quiere ver!
yo habré de conjurar tu voz… Ahora que es la hora.
                                                         El Duende
Ahora que ya has muerto para siempre y van de asalto,
                                                         (Hablado)
por vos, mis brujas rubias a tanguear misas calientes
                                                         Ella vino desde aquella dimensión transbariotera donde
al alba, con sus lerdas putañías de contraltos.
                                                         alcanza,
Ahora que tu amor se fue a baraja y, zurdamente,         a la esperanza, una barrera y un camino;
con una extraña arcada canallesca en cada ojera,         la campana, tres estrellas, una ojera en el balcón
te ardió una cruz de vino en la tiniebla de la frente.   sombroso, un gol, la plaza…
                                                         El sol sin prisa de una misa con mañanas y vecinos y
Ahora que en la sórdida tensión filibustera              torcazas;
de un clave bien trampeado tocan tangos con tus huesos   algunos mozos que le den a las polleras;
las manos desveladas de un Caín y una trotera.           y un andén, con otro humo y otra pena y otro tren para
                                                         la espera.
Ahora que el rencor, con rabia y pólvora de un peso      Una novena una ramera, un almacén.
gatilla, en su plegado bandoneón, la hechicería
de un golpe en Ay Menor para el costado de tus besos.    La voz de un Payador
                                                         (Cantado)
Ahora que ya estás de nunca más, Niña María,             La pequeña nació un día
yo mezclaré un puñado de esa voz bandoneonera,           que estaba borracho Dios:
que aún quema en tu garganta, con un poco de la mía,     por eso, en su voz, dolían
con borra de recuerdos, fiato negro y carraspera         tres clavos zurdos… ¡Nacía
tordilla de un bordón. Así, del íntimo extramuro         con un insulto en la voz!
porteño de tu adiós, atravesando las fronteras
sencillas de la muerte, he de traer tu canto oscuro.     Voces de los hombres que volvieron del Misterio
                                                         (Recitado)
Tendrá la edad de Dios y dos antiguas mataduras:         Tres clavos negros… Un día
Un odio a diestra; y, a zurda, una ternura. Y al duro    que estaba mufado Dios.
y dulce son fantasma de sus ecos, las futuras Marías,
repechando Santa Fe rumbo a otra aurora, se              La voz de un Payador
apuraran temblando sin saber por qué se apuran…          (Cantado)
                                                         Tres clavos negros… Un día
Ahora que es la hora. Humo zaino y yerba Mora…           que estaba de estaño Dios.
Penacho de relente, ya tu voz — maríamente — vendrá
con tu memoria, aquí pequeña y una, ahora.               El Duende
                                                         (Hablado)
Ahora que es tu hora: María de Buenos Aires.             Y dos angelotes de la guarda parda,
                                                         dos raros palomos que andaban de trote por la orilla ñata,
Cuadro 2: Tema de María.                                 trajeron — llorando — a la Niña en el lomo.

(María responde a esa convocatoria y aparece             En la cal mulata del último muro, plegando de pena las
encarnada en su voz en un tema de tango, “Tema de        alas de lata,
María”. El tango es el lenguaje de María, aquí una       grabaron su nombre: María, con balas morenas.
canción sin palabras)                                    De arena y de frío le hicieron los días, ¡tan duros!
                                                         Y, a espaldas del río, allá donde el río se junta a la nada,
                                                         con una pregunta bordada en la falda, la Niña
Cuadro 3: Balada renga para organito loco.
                                                         María creció en siete días.
La voz de un Payador
                                                         La voz de un Payador
(Cantado)
                                                         (Cantado)
Pianito de mala racha
                                                         Zapada a contrasuerte,
que muele cuentos… A ver
                                                         Milonga a suerte de verdad,
si muestra el rengo la hilacha
                                                         que un bordón de mala muerte
de su valse, a la muchacha,
                                                         — sin llorarte ni quererte —
¡la que nadie quiere ver!
                                                         fraseaba en tu soledad…
Voces de los hombres que volvieron del Misterio            El Duende
(Recitado)                                                 (Hablado)
Pequeña… ¡Qué inversa suerte                               De olvido eres entre todas las mujeres.
saber toda la verdad!
                                                           La voz de un Payador
La voz de un Payador                                       (Cantado)
(Cantado)                                                  Triste María de Buenos Aires…
La zapada de la muerte
punteaba en su soledad.                                    El Duende
                                                           (Hablado)
El Duende                                                  De olvido eres entre todas las mujeres.
(Hablado)
Como esta ciudad, de duelo y de fiesta, robada a as        La voz de un Payador
brujas terrajas y en celo que                              (Cantado)
empujan la vida, María fue un poco del loco desvelo de     Triste María de Buenos Aires…
cada baraja suicida y vacía
                                                           El Duende
jugada a la apuesta perdida de la soledad.
                                                           (Hablado)
Fue el verso de antojo broncao en la puerta del primer
                                                           De olvido eres entre todas las mujeres.
fracaso y la rosa tuerta de un
payaso cojo. Diosa y atorranta, del cielo y del hampa         Extra: entre los Cuadro 3 y 4 (misma música que
fue trampa lo mismo. Y atados de                              Cuadro 15)
un pelo por el alba van, su parte de abismo, su parte de
pan.
                                                           Cuadro 4: Yo soy María
La voz de un Payador
(Cantado)                                                  María
Y en el barrio, las arpías                                 (Cantado)
viejas de negro capuz                                      Yo soy María
como en una eucaristía                                     de Buenos Aires
mugrentera, por María                                      de Buenos Aires María, no ven quién soy yo?
rezan lunfardos en cruz.                                   María Tango, María del arrabal,
                                                           María noche, María pasión fatal,
Voces de los hombres que volvieron del Misterio            María del amor de Buenos Aires
(Recitado)                                                 ¡soy yo!
Allá en el barrio, María,
¡le han puesto nombre a tu cruz!                           Yo soy María
                                                           de Buenos Aires
La voz de un Payador                                       si en este barrio la gente pregunta quién soy,
(Cantado)                                                  pronto muy bien lo sabrán
María de Agorería,                                         las hembras que
tendrás dos tangos por cruz…                               me envidiarán,
                                                           y cada macho a mis pies
El Duende                                                  como un ratón
(Hablado)                                                  en mi trampa ha de caer.
Pero aquellos hombres, los rudos maestros de mi
tristería, que saben del mudo arremango                    Yo soy María
que cabe a ese nombre, y han vuelto - a su modo - tan      de Buenos Aires
lerdos, tan serios de todos los                            soy la más bruja cantando ¡y amando también!
nuestros misterios, cuando hay pena llena                  Si el bandoneón me provoca… ¡tiará, tatá!
canyengueando el aire de las curderías, lo                 le muerdo fuerte la boca… ¡tiará, tatá!
nombran - apenas - ladrando a su recuerdo la sombra        con diez espasmos en flor que yo tengo en mi ser.
de los tangos que ya fueron y no
existen todavía.                                           Siempre me digo
                                                           ¡dale María!
La voz de un Payador                                       cuando un misterio me viene trepando la voz,
(Cantado)                                                  y canto un tango que jamás nadie cantó
Triste María de Buenos Aires…                              y sueño un sueño que nadie jamás soñó:
                                                           porque el mañana es hoy
El Duende                                                  con el ayer después, ¡che!
(Hablado)
De olvido eres entre todas las mujeres.                    (Tarareo y orquesta)

La voz de un Payador                                       Yo soy María
(Cantado)                                                  de Buenos Aires
Triste María de Buenos Aires…                              de Buenos Aires María, ¡yo soy mi ciudad!
                                                           María Tango, María del arrabal,
María noche, María pasión fatal,              de un zodíaco mulato,
María del amor de Buenos Aires                le harán trece mordeduras
¡soy yo!                                      en las líneas de la mano.

                                              (Cantado)
Cuadro 5: Milonga Carrieguera (por María la   Y un beso, que era un poco
Niña)                                         de azafrán y de desgano,
                                              se sabrá a página entera
Porteño gorrión con sueño
                                              ¡como si fuera un asalto!
(Cantado)
En los ojos de mi niña,                       Setenta veces los siete
contracompás de otros llantos,                asombros le habrán robado,
anda una oscura nostalgia                     le quedarán tres: el mío
de cosas que aún no han pasado.               y los ojos de su gato.
La calle le echo los naipes                   María
de odiar, recontramarcados,                   (Cantado)
la madre: hilaba Pérezas;                     Porteño gorrión con Sueño,
y el padre: arriaba fracasos.                 ya nunca me alcanzarás…
La vieja tristonguería                        Porteño gorrión con sueño
del blues de los lunfardarios,                (Cantado)
da un qué sé yo a mi María                    Mi voz, en todas las voces
y otro al lomo de su gato.                    para siempre sentirás.
(Recitado)
Zaina la voz, la cadera,                      Cuadro 6: Fuga y Misterio (Instrumental)
la crencha y los pechos zainos,               (María, tal como presagiara el Porteño Gorrión con
le van, de furca, en la espalda,              Sueño, se marcha de noche de su barrio y atraviesa,
las ganas de veinte machos.                   silenciosa y alucinada, la ciudad)

(Cantado)
De renoche, cuando llueve                     Cuadro 7: Poema Valseado
siempre igual - siempre - en su patio,        (Encanallada por un bandoneón como en las antiguas
le cuentan tangos de hadas                    leyendas del tango, ella canta su conversión a la vida
las bocas del subterráneo.                    oscura)

Setenta veces los siete                       María
vientos del Sur, la han alzado;               (Cantado)
sólo a mi voz ella entorna                    Un bandoneón que mi tristeza tiene escrita,
su piel, su rosa y sus años.                  hoy dos temblores me ha mezclado en la garganta:
                                              con gusto a Sur, me dio el temblor de milonguita,
María                                         y otro - peor - ¡que sabe a Norte y nadie canta!
(Cantado)
Porteño Gorrión con Sueño,                    (Recitado)
vos nunca me alcanzarás.                      Del bandoneón, que huele a sombra de macroses,
Soy rosa de un no te quiero,                  oigo el arcángel de la prostibulería,
ya nunca me alcanzarás.                       frasear su acorde canallesco a siete voces
                                              que suenan siete y son - siempre - la mía.
Porteño gorrión con sueño
(Cantado)                                     (Cantado)
Te irás de noche, María                       Si hasta el abrazo de morir me siento en celo,
de este cantón porteñato,                     y me lo arranco un poco en cada gatería,
con la trenza destrenzada                     ¡qué duelo habrá que ya no alcance a ser mi duelo!
y el sueño desabrochado.                      ¡qué parda trampa que no pueda ser ya mía!

Y los pardos camioneros                       (Recitado)
que estiban bronca al mercado                 Y seré un resto de ceniza entanguecida;
te harán un ramo de grelos                    y el medio amor, desde el final, me hará su guiño,
y un coro de navajazos.                       y, aún, arderé, por dos monedas, otra vida,
                                              sobre un lunático repliegue del corpiño.
Mas allá, en los masalláses
nocheteros y enwhiskados,                     (Cantado)
dos hippies de barba zurda                    Seré más triste, más descarte, más robada
la insultarán con milagros.                   que el tango atroz que nadie ha sido todavía;
                                              y a Dios daré, muerta y de trote hacia la nada,
(Recitado)                                    el espasmódico temblor de cien Marías…
Las rubias mandragoneras
(Recitado)                                               Con restos de antiguos crespones en llamas
Un nuevo viento de la rosa de los vientos                pondremos candiles las viejas madamas.
remueve el son de un bandoneón en mi retiro.
Y el bandoneón tiene una bala en el aliento              Voces de ladrones antiguos
para gritar mi muerte al son de un sólo tiro…            (Recitado)
                                                         Atávicos signos de supersticiones
                                                         tendrán nuestras uñas de antiguos ladrones.
Cuadro 8: Tocata Rea
(El Duende se bate a duelo con el Bandoneón)             Voces de madamas
                                                         (Recitado)
El Duende                                                Las viejas madamas, abriendo los lechos,
(Recitado, al Bandoneón)                                 tendremos la hoja de te entre los pechos.
Goteaban un absorto prestigio de glicinas
las llagas de tu fuelle. Y el eco de un rosario          Voces de ladrones antiguos
tangueado eran tus pliegues, cinchando la barcina        (Recitado)
ternura de un milagro… ¡Qué estafa esas espinas          Con un antifaz de charol en la jeta
que un día nos vendiste gimiendo en el calvario!         daremos maitines con dos palanquetas.

Yo sé que, entre tus voces, secreto y arbitrario.        Voces de madamas y ladrones
te chaira las lengüetas el Diablo, y que tus sones       (Recitado. A una vez)
son gritos afanados del óleo perdulario                  Que hoy viene la Niña y estarán en flor
que un Goya miserable pintó contra un sudario,           la yeta y el vino y un Re muy Menor.
con lágrimas de Judas, de horteras y cabrones.
                                                         Ladrón antiguo mayor
Yo he visto a tu patota de sardos bandoneones            (Cantado)
batir las negras alas y arder las botoneras              Porque estaba escrito con sal en los muros
a punto de Macumba. Y, allá, en los trascartones         de esta catacumba porteñesca y sola,
del Mal, sangrar del turbio marfil de los botones        y abrimos al grito de siete bandolas
la voz de María, ¡con todo el beso afuera!               un séptimo sello lunfardo y maduro.

¿A dónde la enterraste? ¡Me cache! Si ella era           Porque estaba escrito con tango, este día,
el poco misterio que un Dios atribulado,                 y afuera hay olvido y es Martes y es Trece,
un pobre Dios porteño que amaba a su manera,             dará un negro gallo de sangre, tres veces,
nos dio, para que siempre - por dentro - nos siguiera    la pascua canyengue que anuncia a María.
golpeando una pregunta, ¡que vos nos has matado!
                                                         Voces de madamas
Ahora y en la hora, de atrape y profecía                 (Recitado)
te harán los sordos dedos de un ángel retobado           Ya viene la Niña buscando el mulato
un solo a dos puñales, por cada fechoría,                camino del abismo, montada en su gato.
un solo de Iscariote, con swing de antifonía
canera, hasta que escupas, de a dos,                     Ladrón antiguo mayor
¡los dos teclados!                                       (Cantado)
                                                         Son reas candelas de luz en cuclillas
Entonces con un verso de dientes apretados,              sus ojos que alumbran, corriendo las losas,
un verso en punta de hacha, con sed, total, prohibido,   pequeñas auroras polares de cosas,
te voy a hacer un tajo triunfal, de lado a lado,         muy viejas, que habitan las alcantarillas.
para que mueras triste, gritando de parado,
en una como náusea de tangos, lo perdido.                Le queman las noches detrás de la frente,
                                                         como húmedas monjas de polvo que zurcen
                                                         - rezando morbosas milongas - sus dulces,
Cuadro 9: Miserere canyengue de los ladrones             calladas y extrañas ojeras calientes.
antiguos en las alcantarillas.
                                                         Voces de ladrones antiguos
Ladrón antiguo mayor
                                                         (Recitado)
(Cantado)
                                                         La Niña ha llegado… La Niña cayó:
Hoy, que a los poetas y a los pungas y a las locas
                                                         ¡diremos un cántico en Clave de No!
les saldrá, otra vez, un cuervo blanco por la boca:
hoy, que por el dos profundo y fijo de los dados         Ladrón antiguo mayor
miran, de otro mundo, dos ojitos alunados…               (Cantado, a María)
                                                         Desde hoy, para siempre, condeno a tu sombra:
Hoy, que irá a buscar su par por bares espantosos,
                                                         Que en pena y robada a la mano de Dios,
la cansada pierna de neón de un luminoso;
                                                         regrese al asfalto, dramática y sola,
Hoy, que la aburrida tangazón de un cortado
                                                         y arrastre tus culpas, bien hembra y bien sombra,
un arlequín - que vio la punta de un piolín -
                                                         sangrada por siete navajas de Sol.
¡se hundió abrazado de un terrón!…
                                                         (María tararea desgarradamente su tema como fondo
Voces de madamas
                                                         de coros)
(Recitado)
Voces de madamas                                        Por el escote, le salía una neblina
(Recitado)                                              negra y atada con la cinta sucia y triste
María torcaza, María en el buche,                       que un raro beatle destrenzaba, a la sordina,
te harán los martirios su sórdido escruche.             del luto misterioso de sus twistes.

Voces de ladrones antiguos                               Se murió tanto la Niña
(Recitado)                                              cuando se puso a morir,
María de un peso, ¡María, qué risa!                     que era una trágica encinta
te trincan los muslos dos manos de tiza…                que, llena de muertecitas,
                                                        ¡no cesaba de parir!
Voces de madamas
(Recitado)                                              ¡Qué cosa! nuestra María
María de un whisky, María en las rocas,                 murió por primera vez…
que gusto - a la vuelta - ¡tendrás en la boca!          La enterraron dos mendigas
                                                        al doblar de las propinas
Voces de ladrones antiguos                              en la borra de un exprés.
(Recitado)
María bufosa, María de Amén,                            Pero en su sola catamufa, zurdo antojo
y un punto escarlata tendrás en la sien.                de un loco mimo sobrehumano, a contrayumba
                                                        de dos pequeñas explosiones de los ojos,
Ladrón antiguo mayor                                    echó dos lágrimas de rimmel por la tumba…
(Cantado)
Allá va la Sombra de María a su otro infierno…          María de Buenos Aires
Sólo, queda aquí, la vaina rosa de su cuerpo:           lloró por primera vez.
tiene todo el mal del mundo, en flor, cabal y abierto
hasta el final; y sin embargo, ¡el corazón
                                                        Cuadro 11: Tangata del Alba (Instrumental)
se ha negado a ser peor!
                                                        (Ya sepultado el cuerpo de María, comienza el largo
Voces de madamas y de los ladrones                      via crucis de La Sombra de María. Deambula, perdida,
(A una vez)                                             por Buenos Aires)
Ladrón Antiguo Mayor:
su corazón… ¡está muerto!                               Cuadro 12: Carta a los árboles y a las chimeneas.

                                                        La sombra de María
SEGUNDA PARTE
                                                        (Hablado)
                                                        Buenos Aires, Abril de Toda Mi Tristeza.
Cuadro 10: Contramilonga a la funerala por la           Queridos Árboles, amadas Chimeneas que dan la
primera muerte de María                                 sombra y dan la nube de mi barrio:

El Duende                                               (Cantado)
(Recitado)                                              Mi dolor ha inventado el dolor
María de Buenos Aires                                   de otra cruz en la misma raíz;
murió por primera vez;
se lo dijeron - fue tarde…                              (Hablado)
con sus muecas funerales,                               Todo pasó como sabrán… Que estoy de luto por mi
un puñal y un cascabel.                                 propio recuerdo. En tanto les escribo
                                                        con la ternura al hombro y llena de esa sola mala
Y el alba se atoró con sensación de embolia             palabra que no sé cómo se dice; sale,
rea, de cuando la Niña, arriando el gesto,              otra vez, el Sol para apedrearme el miedo con unas
rumbo a una calle con velones y magnolias               migas de su dulce desayuno, como
ya con las cosas de morir y el frío puestos.            aquel que tira tres pelotas por veinte contra la cara
                                                        ensangrentada de la infamia.
Y en la esquina donde aún tejen
las Mamitas con esplín,                                 (Cantado)
dos Malenas de relente                                   Ya la gente fue a vivir;
- que habían muerto muchas veces -                      ¡cabe el cielo en un jornal!;
le enseñaron a morir.                                   loco de azul, a Dios le sobra luz
                                                        para amasar los pájaros y el pan.
Misterio allá, misereteando en la maroma                Si El, otra vez me cierra el ventanal,
de un jingle obsceno en soledad de sacramento,          hartos de mí, los ojos me darán
fueron cinchando la cureña de palomas                   tres vueltas y se irán
los doce judas de un cristito temulento.                bizqueando hasta un guiñol
                                                        de pólvora y de alcohol.
Por las fábricas, las pibas
que hacen la noche a telar,                             Ya dirán, en el barrio, después:
le pusieron, a María,                                   su recuerdo está grave, ¡otra vez!…
un malvón de poliamida
y una orquídea de percal.                               (Hablado)
Queridos Árboles y amadas Chimeneas: igual que el        con culpas de antes ¡de antes!…
humo y que la hoja ya perdidos, oirán
mi nombre con la sombra en la muerte viva la vez          Analista primero
primera y la vez última que un viento -                   (Cantado)
asma del Sur, gusto de Amén, macho en exilio - ¡entre a   Buenos Aires, Buenos Aires,
zapar su Tango Aún por Buenos                             saca tus sueños al sol,
Aires!                                                    que este sueño es de María,
                                                          ¡rataplín y rataplón!
(Hablado y Cantado)
Nada más. No hay adiós: que el adiós                      Coro de Analistas
nos dolía al principio y no al fin.                       (Recitado)
                                                          ¡Cámara uno: al recuerdo!
(Hablado)                                                 ¡Cámara dos: a la conciencia!
Ya en un balcón oloroso a mi voz, pónganle dos lutitos    Que pongan un decorado
de hollín.                                                con trapecios de tiniebla,
La Sombra de María                                        que la niña hará su salto
                                                          vestida de memoria negra.
                                                          Y el Analista Primero
Cuadro 13: Aria de los Analistas
                                                          le pide cuatro piruetas.
Coro de Analistas
                                                          Analista primero
(Recitado)
                                                          (Cantando a la Sombra de María)
¡Pasen a ver, caballeros!:
                                                          Cerrá los ojos María,
cosas jamás nunca vistas
                                                          que así en tus ojos cabrá
traeremos los analistas
                                                          un patio ñato y un canto
¡a este circo porteñero!…
                                                          que en ese patio se oirá.
… ¡Pasen a ver!: malabares
                                                          (Hablado)
de un bello remordimiento
                                                          Es el llanto de tu madre?
que hace su trágico intento
¡con siete libriums impares!…                             La sombra de María
                                                          (Hablado)
Analista primero
                                                          No lo siento. Dicen, de ella, que tenía en la cintura una
(Cantado)
                                                          gran sensiblería, como de silla
Buenos Aires, Buenos Aires
                                                          vacía, y que fregaba estrellas sucias para afuera. Pero
saca tus sueños al sol,
                                                          que nunca lloraba. Eso cuentan
que los sueños tienen picos,
                                                          los que estaban de ella al tanto.
¡rataplín y rataplón!
                                                          Fue un Viernes, - y no fue santo - y, ya, me lo acuerdo
Coro de Analistas                                         mal.
(Recitado)
                                                          Analista primero
¡Pasen a ver!: que la vida
                                                          (Cantando)
se enredó en la pena floja,
                                                          Abrí los sueños, María,
y un Yo porque se le antoja
                                                          que así en tus sueños habrá
¡traga angustias encendidas!
                                                          una fragua con dos manos
Aquí está la voltereta                                    que en esa fragua hacen pan.
de un rencor que, en zapatillas,
                                                          (Hablado)
saca un boom de pesadillas
                                                          Son las manos de tu padre?
¡por detrás de la careta!
                                                          La sombra de María
Analista primero
                                                          (Hablado)
(Cantado)
                                                          No sé. Pero de él se ha recordado que jugaba al pase
Buenos Aires, Buenos Aires,
                                                          inglés con dos cortafierros cargados
saca tus sueños al sol,
                                                          con sangre dura, y que perdía cuantas veces lo quería.
que los sueños tienen filo,
                                                          Eso juran los que entonces le
¡rataplín y rataplón!
                                                          ganaban con sietes y onces de risa.
Coro de Analistas                                         Fue un Miércoles de ceniza, y ya me lo acuerdo mal.
(Recitado)
                                                          Analista primero
¡Pasen a ver!: que asomado
                                                          (Cantado)
por el plano sagital,
                                                          Cerrá tus ojos María
da un doble de olvido mortal
                                                          que así dos ojos verás,
¡un gran recuerdo amaestrado!
                                                          un grito y un beso izquierdo
¡Pasen a ver!: ¡Adelante!                                 que en este grito se va.
que en la pista y poco a poco
                                                          (Hablado)
va hilando una sombra el copo
Es ése tu primer beso?                                     (Hablado)
                                                           Aquí, en este mágico bar talismanero ¡se sabe casi
La sombra de María                                         todo!… lo cuentan, de escolaso las sotas
(Hablado)                                                  y los reyes, ventrílocuos cabreros de cosas que el
No sabría. Pero cuentan que en él cabía tanta tristeza     Destino fermenta entre los mazos.
como la que hubo en el Jesús que no                        Aquí, pegado al ñato revés de cada vaso nos mira el ojo
tuvo para leños y se pintó una cruz en el lomo. Y que,     quieto y abierto de locura, que
ese beso, otro día, se hizo hacer un                       algún Discepolín que quiso verle los pasos al diablo,
pequeño aborto cerezo en cada labio. Eso callan los que    cosió con un hilito de amargura.
saben de ese beso y aún lo gozan.
Yo, entonces, era una rosa; y ya me lo acuerdo mal.        Voces de tres marionetas borrachas de cosas
                                                           (Recitado)
Analista primero                                           Desde que esta copa que el Duende,
(Cantado)                                                  por triste, se esta fajando,
Abrí los sueños, María,                                    tres Marionetas Borrachas
que así en tus sueños cabrán                               de Cosas, lo campaneamos.
un whisky y dos golpes rubios
que desde el fondo se oirán                                El Duende
                                                           (Hablado)
(Hablado)                                                  Aquí, donde mañana sabe a antaño, buscando a Dios
Es corazón que llama?                                      yo vi, de escalofrío, que estaba en lo
                                                           que quiero y en lo que extraño, cortado a esa sazón,
La sombra de María
                                                           como el tamaño del grano da el tamaño
(Hablado)
                                                           del estío.
Difícilmente. Mi corazón cortado en cuatro, está - dicen
- sepeliado en las cuatro troneras                         Aquí, en cada botella, cabe un río; y al fondo de ese río
de un billar robado. El que ahora llevo puesto se lo       hay otro estaño; y, en curda, en ese
compré a una encorazonadora que tenía                      estaño, un verso mío, y, en el, la plata triste de otro río
corazonería de viejo en un paisaje terraja, y vendía       que me hizo Duende, me hizo…
corazoncitos tristeros de baraja francesa                  ¡hace mil años!
y de conejo, de tatuaje de Marínero con Péreza, de rima
de canción de cuna y de alcaucil. A                        Voces de tres marionetas borrachas de cosas
mi, me puso uno que es de vista y no de lastima,           (Recitado)
recortado del mandil de un bandoneonista;                  Al Duende - que en la operita
y con agujita de estaño y de hilo de humo castaño, me      venía el cuento contando -
lo bordó en el vientre. Dijo que eso                       se le ha perdido una sombra
era lo que convenía para quien, como yo, soy una           y, en curda, la va llamando.
sombra María, y ya por sombra - sólo
sombra - seré sombra y seré virgen para siempre.           El Duende
Lo dijo mientras cosía ¡y ya me lo acuerdo mal!            (Hablado)
                                                           De mí, jugado a vos, te mando este retazo de tango con
Analista primero                                           ojeras, que allá en tu pena entero,
(Cantado)                                                  removerá en la amarga ceniza de tus pasos la bronca
Cubrí tu pecho, María,                                     enamorada de un canto compañero.
con un puñado de sal,
que adentro te mira un cero,                               De mí, y a donde me oigas, irán hasta tu cero, dos lucas
¡y el cero te va a llorar!                                 de rubionas, yironas y Melatos, a
                                                           echar sobre tu sombra un fato de luceros.
La sombra de María
(Cantado)                                                  (¡Los huesos de Olivari conocen este fato!)
Del numeroso gris
de anteayer                                                Voces de tres marionetas borrachas de cosas
ya no me acuerdo más                                       (Recitado)
que de aquel                                               ¡Pobre Duende! Anda por esa
misterio cruel que me gritó:                               sombrita, desesperado:
¡Nacé!                                                     y nos pide a los compinches
y cuando entre a vivir,                                    que a ella llevemos su llanto.
se sonrió…
                                                           El Duende
Y al fin al verme así,
                                                           (Hablado)
tan última y tan yo,
                                                           De mí, y en donde estés, con una fuerza de locos, como
mordiéndose, gritó:
                                                           un himno estrafalario, tan hondo
¡Morí!…
                                                           sonará el concierto mersa que un viejo ciego, a vos, te
                                                           hará en la terza morena de su reo
Cuadro 14: Romanza del Duende                              estradivario.

El Duende                                                  De mí, y en donde estés, pondré un plenario de dulces
duendecitos que retuerza la niebla de                           Flaco y en banda
tu piel; y un tabernario rumor de nazarenos carcelarios         - ¡tan cadenero! -
dirá tu Anunciación en parla                                    me anda un Jesús chapalenado, de cuarta, en la voz,
inversa.                                                        un canyenguito sobón
                                                                con un compás
Voces de tres marionetas borrachas de cosas                     de punto cruz;
(Recitado)                                                      y un dulce barro torcaz
Iremos todos, Don Duende,                                       de Cruz del Sur
los puntos de este curdato                                      que hoy me ha puesto a temblar.
a llevarle a la Pequeña
de parte suza, un milagro.                                      Y un angelito
                                                                de terracota,
El Duende                                                       tuerto del grito en la rota viudez de un pretil,
(Hablado)                                                       mascando un salmo en sanata, con un jazmín
Y así que vos renazcas, sabrás qué trampa tienen la             me ató un solcito de leche sobre el sutién,
yerba en su barrica, y el cielo del                             ¡qué dos espasmos de luz
agujero que mira del zapato; la lluvia que no viene y un        tengo atrás de la piel!
sorbo de esa lluvia, y el tiempo en
su tiempero…                                                    ¡Dale María!
                                                                Si nueve llantos
Decí, sombra María “¡Mi Duende, yo te quiero!” Y nueve          son todo el pardo misterio que había que ver,
lunas locas y en celo de tu                                     ¡qué loco intento de espiga que vas a hacer!,
infarto de luz, te harán - en torno - los guiños sensibleros    ¡qué dura rama celeste te va a crujir!
de un baile amanecido de risas y                                ¡Dale que esta al venir!
de partos…                                                      ¡Dale que duele bien!
                                                                ¡Ay!
Voces de tres marionetas borrachas de cosas
(Recitado)                                                      (Una estrofa igual a la segunda íntegramente
Ya vamos, Sombra María,                                         tarareada)
con el Diciembre y los cantos
que está amasándote El Duende                                   Tengo atorada
con el polen de este estaño.                                    tanta ternura
                                                                que de una sola ternura ¡a Dios puedo parir!
El Duende                                                       Y se es que nadie ya quiere de mí nacer,
(Hablado)                                                       en el rebozo robado de algún Chaplin,
Y así, por un silencio de corchea, vendrá - por fin - tu día:   ¡entre mis brazos daré
un alazano Domingo, que te hará                                 de mamar a un botín!
con las más feas hojitas de un laurel de olor, la rea y
angélica belleza de sus ramos.
                                                                Cuadro 17: Tangus Dei
Tu día, nacerá del meridiano cachuzo del umbral en
donde hornea su misa, algún poeta a                             Una voz de ese Domingo
contramano. Así sea, querida, de cristiano. Así, de tuyo y      (Cantado)
nuestro… ¡Que sea así!                                          Hoy es Domingo, y al día
                                                                los sacan del Domingario
                                                                una novela sin Domingo
Cuadro 15: Allegro Tangabile (Instrumental)                     y el penúltimo borracho.
(Las tres Marionetas Borrachas de Cosas salen junto
con sus compinches del mágico bar para llevarle de              El Duende
parte del Duende a la Sombra de María el milagro de             (Hablado)
la fecundidad. Una sinfonía de marionetas, angelitos            Hoy es Domingo: Laurel con leche. Desde el badajo. de
de barro cocido, chaplines, murguistas, discepolines            su cuchara da un capuchino tres
gana enloquecida la calle de Buenos Aires, buscando             campanadas: tras los misales, pican moteles las
el germen de un hijo para la Sombra de María)                   derrotadas y alegres nalgas de las matronas:
                                                                Laurel con ajo.
Cuadro 16: Milonga de la Anunciación                            Una voz de ese Domingo
                                                                (Cantado)
La sombra de María
                                                                Hoy es Domingo, y las brujas
(Cantado)
                                                                se espiran, porque asomados
Tres marionetas
                                                                del tuco les tiran soles
- chuecas y locas -
                                                                los chicos y los payasos.
que una violeta en la boca me hincaron ayer,
con un cuchillo en los dientes, por el revés                    El Duende
de mis caderas tordillas, zurciendo van                         (Hablado)
un gran remiendo en flor                                        Hoy es Domingo, laurel con fiaca. Domingamente
de hinojo y de sisal                                            rueda un bostezo. Y, en el bostezo, dan
¡Ay!…
las muchachas la buena nueva del buen mal paso que      (Hablado)
arde en la hilacha pródiga y tensa de                   Cuánta cosa, uno por uno, le retoña los ovarios fecundos
sus bluyines: Laurel caliente.                          de mil dolores en seducción de sopapo.

Una voz de ese Domingo                                  ¡Si parece que tuviera hasta el nombre embarazado!
(Cantado)                                               Que retemblor le sacude la entraña, como si echando
Hoy es Domingo; y un coro
de mil domingos muchachos                               setenta reencarnaciones de un jesusito nonato, se
desde el orsai dice un viejo                            arrancara del los huesos del vientre, setenta clavos…
romance en cuatro dos cuatro.
                                                        (La sombra de María, comienza a cantar un villancico
Voces de amasadoras de tallarines                       a los lejos)
A las amasadoras de tallarines algo nos pasa:
                                                        Dos angelotes parteros la trincan de bruces, cuando le
Por qué es que se nos retiemblan las manos
                                                        dan de fórceps los fierros del pesebre
duras entre la masa?
                                                        hormigonado.
Voces de tres albañiles magos
                                                        ¡Cómo alumbra para adentro! ¡Qué luz le chaira en el
Que gusto le han mezclado los copetines, que
                                                        tallo! Que clara lastimadura - cruza de muerte y de
tienen un apatota de estrellitas, en donde
                                                        orgasmo -
estaban las aceitunas?
                                                        le enciende por la cadera como un canyengue de
Una voz de ese Domingo
                                                        astros. Fuerza María: que nace y nace,
(Cantado)
                                                        naciendo tanto,
Hoy es Domingo y atorran
hasta los séptimos tangos;                              que te pare hasta el olvido, y te empuja entre las manos
será, sin embargo el día                                y en la raíz y en la rabia y te renace
del más antiguo trabajo.                                a pedazos,

El Duende                                               por las puntas de otras trenzas, por las grietas de los
(Hablado)                                               labios, por el gesto, ¡y por las ganas de
Hoy es Domingo: Laurel y azares. Qué Buenos Aires le    nacerte hasta el cansancio!
echó los naipes a este Domingo
que así, en la altura pampero arriba, tres profetitas   ¡Cuánta Navidad tenías atragantada en lo años! qué
locos laburan juntando ramos de un                      zafra brava, María, zafra de partos, tu
nuevo aroma: Laurel del aire?                           parto…

Una voz de ese Domingo                                  Voces de amasadoras de tallarines
(Cantado)                                               A quién recién ha nacido nada le sobra y no
Hoy es Domingo y me han dicho                           tiene cuna.
que esta el muñeco de trapo
que cuelga en los colectivos                            Voces de tres albañiles magos
viene a lo alto mirando.                                Su padre que es un carpintero de obra
                                                        ha de hacerle una.
El Duende
(Hablado)                                               Una voz ese Domingo
Hoy es Domingo: Laurel servido. Qué extraña siembra     (Cantado)
dio este Domingo, que allá en lo                        Desde lo alto del Domingo
alto de un piso treinta, sola en la sola cal de un      los Tres Albañiles Magos,
andamio, reparturienta de nueve asombros,               en la arena de esa cuna
hierve una sombra: ¡Laurel con hembra!                  un guiño rosa han dejado.

Una voz de ese Domingo                                  Voces de tres albañiles magos
(Cantado)                                               Porque es que los angelitos todos llorando
Hoy es Domingo; y a punta                               a encurdarse han ido?
de diente, como peleando
                                                        Voces de amasadoras de tallarines
allá esa sombra por dentro
                                                        Porque ese niño no es niño, ¡Jesús! Que es
sus lutos se esta lavando.
                                                        niña: ¡niña ha nacido!
Voces de amasadoras de tallarines
                                                        Una voz ese Domingo
Se le abisma la cintura
                                                        (Cantado)
la cincha de un nudo zaino.
                                                        La Niña tuvo otra niña
Voces de tres albañiles magos                           que es ella misma y no es tanto.
Y la marca de sus uñas                                  Quieren final y principio
se ve en el cemento armado.                             ser gotas del mismo llanto.

El Duende                                               Voces de espectadores
                                                        ¡Por Dios!: Los espectadores también queremos saber,
si la letras de este tango ya ha sido o esta por ser.

Una voz ese Domingo
(Cantado)
En los ojos de la niña
el tiempo está bien robado:
por ayer y por mañana
María la han bautizado.

El Duende
(Hablado)
Pero aquellos hombres, los rudos maestros de mi
tristería, que saben del mudo arremango
que cabe a ese nombre, cuando hay pena llena sobre el
aire overo de las curderías, lo
nombran, apenas, ladrando a su recuerdo la sombra de
los tangos que ya fueron y no existen
todavía.

Una voz ese Domingo
(Cantado)
Nuestra María
de Buenos Aires…

El Duende
(Hablado)
De olvido eres entre todas las mujeres…

Una voz ese Domingo
(Cantado)
Nuestra María
de Buenos Aires…

El Duende
(Hablado)
Presagio eres entre todas las mujeres…

Una voz ese Domingo
(Cantado)
Nuestra María…

El Duende
(Hablado)
De olvido eres entre todas las mujeres…

Una voz ese Domingo
(Cantado)
Nuestra María…

El Duende
(Hablado)
Presagio eres entre todas las mujeres…

Una voz ese Domingo
(Cantado)
María…

Una voz ese Domingo
(Cantado)
María…
También puede leer