EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS - Caderno Temático - Secretaria da ...

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EDUCAÇÃO E
TECNOLOGIAS

Caderno Temático
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             EDUCAÇÃO E
            TECNOLOGIAS

Estrutura Organizacional

    Governo do Estado do Paraná
    Secretaria de Estado da Educação do Paraná
    Núcleo Regional de Educação de Londrina
    Universidade Estadual de Londrina
    Programa de Desenvolvimento Educacional

Autoria e Orientação

José Carlos Rodrigues Pereira (autor e organizador)
Samira Fayez Kfouri da Silva (orientadora)

Área de Atuação

   Gestão Escolar
3

                                                                          Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................4
Introdução............................................................................................5
1- Educação e Tecnologias: Mudar para valer!...................................8
2- Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias....................12
  Introdução.......................................................................................12
  I - O educador e as novas mídias....................................................13
     a) Lista eletrônica/Fórum ...........................................................15
     b) Aulas-pesquisa.........................................................................15
     c) Construção colaborativa..........................................................18
  II - Mudanças na educação presencial com tecnologias.................19
  III - Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? ...............20
  IV - Equilibrar o presencial e o virtual............................................21
  V - Tecnologias na educação à distância........................................23
  Bibliografia.....................................................................................25
3- Os novos espaços de atuação do educador com as tecnologias....27
  Introdução.......................................................................................27
  A ampliação dos espaços de ensino-aprendizagem........................28
     1. Uma nova sala de aula.............................................................30
     2. O espaço do laboratório conectado.........................................33
      3. A utilização de ambientes virtuais de aprendizagem............35
     4. Inserção em ambientes experimentais e profissionais (prática /
     teoria / prática)............................................................................37
  Conclusão........................................................................................37
  Bibliografia.....................................................................................38
4- Novas tecnologias e o re-encantamento do mundo.......................39
  I - O fascínio pelas tecnologias.......................................................39
  II - Mudanças que as tecnologias de comunicação favorecem.......42
  III - Tecnologias na educação.........................................................45
  Bibliografia:....................................................................................46
5- Como utilizar as tecnologias na escola..........................................47
  1. Tecnologias para organizar a informação..................................47
  2. Tecnologias para ajudar na pesquisa.........................................48
6- Gestão inovadora da escola com tecnologias................................53
  Introdução.......................................................................................53
  I - Tecnologias na gestão escolar....................................................54
  II - Programas integrados de gestão administrativo-pedagógica...55
  III - Gestão administrativa..............................................................56
  IV - Gestão pedagógica...................................................................57
  V - Pedagogia da gestão pedagógica..............................................58
  Considerações Finais......................................................................60
  Bibliografia.....................................................................................61
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................67
4

APRESENTAÇÃO

Este caderno temático é resultado dos estudos realizados no
primeiro ano do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE
de 2008, da Secretaria de Estado da Educação – SEED em parceria
com a Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia - SETI do
Governo do Estado do Paraná, na área de Gestão Escolar, realizado
na Universidade Estadual de Londrina - UEL. O PDE constitui-se uma
importante             oportunidade               de      aprofundamento                   nos       estudos
acadêmicos a disposição do professores da rede estadual de
ensino, bem como possibilita a socialização de experiências
riquíssimas em prática no interior das escolas públicas do Paraná,
propiciando            uma         aproximação              entre        a     prática         pedagógica
desenvolvida nas escolas e a teoria presente na academia. Neste
trabalho apresentamos subsídios teóricos para discussão do uso
das tecnologias de informação e comunicação dentro das escolas
públicas do Paraná, no entanto não deve ser interpretado como um
manual, fechado em si mesmo, mas como um passo inicial, na
direção de um trabalho reflexivo de aprofundamento. Sua intenção
é possibilitar aos gestores referencial teórico para uma análise da
sua      própria        ação       no     uso      das       tecnologias           de     informação              e
comunicação e a implantação dessas tecnologias nas escolas
públicas da rede estadual do Paraná, no momento de consolidação
dos Laboratórios do Paraná Digital, das TV´s Pendrive e outros
instrumentos a disposição do professores.

                                                             José Carlos Rodrigues Pereira *

* Especialista em Formulação e Gestão de Políticas Públicas – UEL/Escola de Governo, Especialista em Gestão de
Sistema Estadual de Ensino – PUC-PR, Graduado em História - UEL. Professor da Rede Estadual de Educação do Paraná,
Professor PDE 2008. Experiência profissional em Gestão, Equipe Pedagógica e Docência em várias escolas do município
de Cambé, coordenação de História, Filosofia e Sociologia na Equipe de Ensino e Ouvidoria do Núcleo Regional de
5

Introdução

                 A escola é um espaço bastante complexo e onde se
efetiva formalmente a educação de uma sociedade. Dentre as mais
diversas funções desempenhadas na escola por profissionais de
várias   áreas     do    conhecimento      temos     a   figura      do   gestor,
especificamente, o diretor. Com este caderno temático pretende-se
disponibilizar ao gestor um referencial teórico básico para subsidiar
estudos futuros sobre o uso da tecnologia na escola, paralelamente
desenvolver-se-á        uma   pesquisa    visando     identificar,    nele,   as
características    apropriadas    para    o trabalho     na   implantação e
implementação      das    tecnologias    de   informação      e   comunicação
educacionais nas escolas estaduais do Paraná.

                 Vive-se um momento impar na história da educação
paranaense com a implantação e implementação das tecnologias de
informação e comunicação no interior dos estabelecimentos públicos
de ensino. É realidade que as escolas estaduais estão equipadas com
laboratórios de informática do Programa Paraná Digital, que estão
com televisores multimídia (TV Pendrive) de 29’ em cada sala de aula
e que os professores receberam pendrives para uso diário em suas
aulas. No entanto tudo isso precisa ser utilizado de maneira correta,
diária e intensa a fim de surtir os efeitos pedagógicos esperados.

                 Para fins deste estudo recorre-se a definição de
tecnologias de informação e comunicação educacionais. Para Moran:

                     Tecnologias são os meios, os apoios, as ferramentas que
                     utilizamos para que os alunos aprendam. A forma como os
                     organizamos em grupos, em salas, em outros espaços isso
                     também é tecnologia. O giz que escreve na lousa é
                     tecnologia de comunicação e uma boa organização da escrita
                     facilita e muito a aprendizagem. A forma de olhar, de
                     gesticular, de falar com os outros isso também é tecnologia.
                     O livro, a revista e o jornal são tecnologias fundamentais
                     para a gestão e para a aprendizagem e ainda não sabemos
                     utilizá-las adequadamente. O gravador, o retroprojetor, a
                     televisão, o vídeo também são tecnologias importantes e
6
                  também muito mal utilizadas, em geral. (VIEIRA, 2003, p.
                  151)

              Segundo esta visão mais importante do que tê-las na
escola é saber utilizar tecnologias em prol de uma transformação
pedagógica necessária e esperada em dias em que a sociedade
almeja melhores resultados da educação.

              Moran (1995) afirma que só as tecnologias não mudam
a relação pedagógica, mas podem ser capazes de permitir um novo
encantamento na escola, alunos e professores. Essa motivação pode
se desenvolver de forma contundente, com maior ou menor
intensidade, de acordo com a atuação do gestor escolar, dependendo
de suas características e de seu papel, enfim, de seu trabalho.

              Seguindo o mesmo raciocínio e ressaltando essa idéia,
Moran (2000) considera “... importante diversificar as formas de dar
aula, de realizar atividades, de avaliar” (MORAN, 2000, pág. 138),
afirmando:

                  Haverá uma integração maior das tecnologias e das
                  metodologias de trabalhar com o oral, a escrita e o
                  audiovisual. Não precisaremos abandonar as formas já
                  conhecidas pelas tecnologias telemáticas, só porque estão na
                  moda. Integraremos as tecnologias novas e as já conhecidas.
                  As utilizaremos como mediação facilitadora do processo de
                  ensinar e aprender participativamente. (MORAN, 2000, p.
                  137-144)

              Então, com foco na melhoria da qualidade de ensino
ofertado nas escolas estaduais, as tecnologias de informação e
comunicação estão à disposição dos professores e caberá a cada
unidade escolar fazer uso dessas ferramentas de forma efetiva. Nesse
cenário o papel desempenhado pelo gestor será fundamental.

              Porém, como afirma o próprio Moran (2007) “O domínio
pedagógico das tecnologias na escola é complexo e demorado. (...)
Há um tempo grande entre conhecer, utilizar e modificar processos”.
(MORAN, 2007, p. 90). Portanto necessita-se iniciar, urgentemente, o
7
seu uso pelos professores para desencadear ações práticas no intuito
de ir se apropriando e dominando a tecnologia a fim de adquirir
confiança e dominar, pedagogicamente, tais ferramentas.

               É, portanto, nesse sentido que busca-se encontrar boas
práticas de utilização do laboratório Paraná Digital, dos televisores
multimídia (Tv Pendrive) e dos pendrives e socializá-las entre os
gestores das escolas estaduais do Paraná neste estudo do Programa
de Desenvolvimento Educacional.

               Desta forma apresenta-se neste trabalho uma pequena
amostra da farta bibliografia sobre tecnologias de informação e
comunicação disponíveis, buscando-se introduzir o estudo do uso das
tecnologias de informação e comunicação no âmbito da gestão das
escolas públicas paranaenses.

               Sem pretensão de discutir densamente o assunto, mas
de suscitar o desejo de aprofundamento, apresenta-se uma coletânea
de textos do professor doutor José Manuel Moran servindo de
referência para a discussão necessária dentro das escolas de como
utilizar   adequadamente   as   ferramentas   que   se   encontram   à
disposição de professores, alunos e funcionários da rede estadual de
educação no Paraná.
8

1- Educação e Tecnologias:
Mudar para valer!
                                                                       José Manuel Moran1

                      A internet, as redes, o celular, a multimídia estão
revolucionando nossa vida no cotidiano. Cada vez resolvemos mais
problemas conectados, à distância. Na educação, porém, sempre
colocamos            dificuldades         para      a     mudança,          sempre        achamos
justificativas para a inércia ou vamos mudando mais os equipamentos
do que os procedimentos. A educação de milhões de pessoas não
pode ser mantida na prisão, na asfixia e na monotonia em que se
encontra. Está muito engessada, previsível, cansativa.

                      As tecnologias são só apoio, meios. Mas elas nos
permitem realizar atividades de aprendizagem de formas diferentes
às de antes. Podemos aprender estando juntos em lugares distantes,
sem precisarmos estar sempre juntos numa sala para que isso
aconteça.

                      Muitos expressam seu receio de que o virtual e as
atividades à distância sejam um pretexto para baixar o nível de
ensino, para aligeirar a aprendizagem. Tudo depende de como for
feito. A qualidade não acontece só por estarmos juntos num mesmo
lugar, mas por estabelecermos ações que facilitem a aprendizagem. A

1
    Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância. jmmoran@usp.br
9
escola continua sendo uma referência importante. Ir até ela ajuda a
definir uma situação oficial de aprendiz, a conhecer outros colegas, a
aprender a conviver. Mas, pela inércia diante de tantas mudanças
sociais, ela está se convertendo em um lugar de confinamento,
retrógrado e pouco estimulante.

               O conviver virtual vai tornar-se quase tão importante
como o conviver presencial. A escola precisa de uma sacudida, de um
choque,   de   arejamento.     Isso   se   consegue   com   uma   gestão
administrativa e pedagógica mais flexível, com tempos e espaços
menos predeterminados, com modos de acesso à pesquisa e de
desenvolvimento de atividades mais dinâmicas.

               Passando pelos corredores das salas das universidades,
o que se vê é quase sempre uma pessoa falando e uma classe cheia
de alunos semi-atentos (na melhor das hipóteses). A infra-estrutura é
deprimente. Salas barulhentas, a voz do professor mau chega aos
que estão mais distantes. Conseguir um datashow na maioria delas é
uma tarefa inglória. Muitas vezes existe um único equipamento para
um prédio inteiro.

               É hora de partir para soluções mais adequadas para o
aluno de hoje. Os adultos mantêm o status quo, em nome da
qualidade, mas na verdade nos apavoram-se diante da mudança, do
risco do fracasso. Mas o fracasso não está bem na nossa frente?
Quantos alunos iriam a nossas aulas se não fossem obrigados? Há
maior fracasso do que este?

               A escola pode      ser um espaço de inovação, de
experimentação saudável de novos caminhos. Não precisamos
romper com tudo, mas implementar mudanças e supervisioná-las
com equilíbrio e maturidade.
10
              Manter o currículo e as normas, tal como estão, na
prática é insustentável. As secretarias de educação precisam ser mais
proativas e incentivar mudanças, flexibilização, criatividade.

              Professores, alunos e administradores podem avançar
muito mais em organizar currículos mais flexíveis, aulas diferentes. A
rotina, a repetição, a previsibilidade é uma arma letal para a
aprendizagem. A monotonia da repetição esteriliza a motivação dos
alunos.

              São muitos os recursos a nossa disposição para
aprender e para ensinar. A chegada da internet, dos programas que
gerenciam grupos e possibilitam a publicação de materiais estão
trazendo possibilidades inimagináveis vinte anos atrás. A resposta
dada até agora ainda é muito tímida, deixada a critério de cada
professor, sem uma política institucional mais ousada, corajosa,
incentivadora de mudanças. Está mais do que na hora de evoluir,
modificar nossas propostas, aprender fazendo.

              O sistema bimodal – parte presencial e parte a distância
- se mostra o mais promissor para os alunos da quinta série em
diante. Reunir-nos em uma sala e reunir-nos através de uma rede são
os caminhos da educação em todos os níveis, com diferentes ênfases.
As crianças precisam ficar muito mais tempo juntas do que
conectadas. Mas à medida que vão crescendo, o nível de interação a
distância deve aumentar progressivamente.

              Hoje obrigamos os alunos a ir a um local para aprender.
Em determinados momentos isso é um contra-senso. O importante é
que gostem de aprendem de várias formas, motivados, utilizando as
potencialidades de estar juntos e de estar em rede. Os alunos gostam
da comunicação online, da pesquisa instantânea, de tudo o que
acontece just in time, naquele momento. As salas de aula precisam
estar equipadas com acesso a Internet para mostrar rapidamente o
resultado de uma pesquisa em tempo real na sala. Os alunos
11
necessitam de mais laboratórios conectados, principalmente os mais
carentes, sem esse acesso em casa. Para alunos com acesso a
Internet é possível realizar uma parte do processo de aprendizagem à
distância / conectados. E os alunos sem esse acesso poderiam fazer
essas mesmas atividades nos laboratórios.

              Todos      os     que   estamos   envolvidos      em   educação
precisam    conversar,        planejar   e   executar   ações    pedagógicas
inovadoras, com a devida cautela, aos poucos, mas firmes e
sinalizando mudanças. Sempre haverá professores que não querem
mudar, mas uma grande parte deles está esperando novos caminhos,
o que vale a pena fazer. Se não os experimentamos, como vamos a
aprender?

              Não basta tentar remendos com as atuais tecnologias.
Temos quer fazer muitas coisas diferentemente. É hora de mudar de
verdade e vale a pena fazê-lo logo, chamando os que estão dispostos,
incentivando-os de todas as formas – entre elas a financeira – dando
tempo para que as experiências se consolidem e avaliando com
equilíbrio o que está dando certo. Precisamos trocar experiências,
propostas, resultados.
12

2- Ensino e aprendizagem
inovadores com tecnologias2
                                                                         José Manuel Moran3

Introdução

                      Educar é colaborar para que professores e alunos - nas
escolas e organizações - transformem suas vidas em processos
permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da
sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto
de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão,
emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços
2
  Artigo publicado na revista Informática na Educação: Teoria & Prática. Porto Alegre, vol. 3, n.1
(set. 2000) UFRGS. Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação, pág. 137-144.

3
    Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância.
13
pessoais, sociais e profissionais e tornarem-se cidadãos realizados e
produtivos.

              Na    sociedade      da       informação         todos       estamos
reaprendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar e a aprender; a
integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e
o social.

              Uma      mudança           qualitativa    no         processo    de
ensino/aprendizagem acontece quando conseguimos integrar dentro
de uma visão inovadora todas as tecnologias: as telemáticas, as
audiovisuais, as textuais, as orais, musicais, lúdicas e corporais.

              Passamos muito rapidamente do livro para a televisão e
vídeo e destes para o computador e a Internet, sem aprender e
explorar todas as possibilidades de cada meio.

I - O educador e as novas mídias

              O    professor   tem       um    grande        leque    de    opções
metodológicas, de possibilidades de organizar sua comunicação com
os alunos, de introduzir um tema, de trabalhar com os alunos
presencial e virtualmente, de avaliá-los.

              Cada docente pode encontrar sua forma mais adequada
de integrar as várias tecnologias e procedimentos metodológicos. Mas
também é importante que amplie, que aprenda a dominar as formas
de   comunicação    interpessoal     /    grupal   e    as    de     comunicação
audiovisual / telemática.

              Não se trata de dar receitas, porque as situações são
muito diversificadas. É importante que cada docente encontre o que
lhe ajuda mais a sentir-se bem, a comunicar-se bem, ensinar bem,
14
ajudar os alunos a que aprendam melhor. É importante diversificar as
formas de dar aula, de realizar atividades, de avaliar.

              Com a internet podemos modificar mais facilmente a
forma de ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos à
distância. São muitos os caminhos, que dependerão da situação
concreta em que o professor se encontrar: número de alunos,
tecnologias disponíveis, duração das aulas, quantidade total de aulas
que o professor dá por semana, apoio institucional. Alguns parecem
ser, atualmente, mais viáveis e produtivos.

              No começo procurar estabelecer uma relação empática
com os alunos, procurando conhecê-los, fazendo um mapeamento
dos seus interesses, formação e perspectivas futuras. A preocupação
com os alunos, a forma de relacionar-nos com eles é fundamental
para o sucesso pedagógico. Os alunos captam se o professor gosta de
ensinar e principalmente se gosta deles e isso facilita a sua prontidão
para aprender.

              Vale a pena descobrir as competências dos alunos que
temos em cada classe, que contribuições podem dar ao nosso curso.
Não vamos impor um projeto fechado de curso, mas um programa
com as grandes diretrizes delineadas e aonde vamos construindo
caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos -
professor e alunos - para avançar da forma mais rica possível em
cada momento.

              É importante mostrar aos alunos o que vamos ganhar
ao longo do semestre, por que vale a pena estarmos juntos. Procurar
motivá-los para aprender, para avançar, para a importância da sua
participação, para o processo de aula-pesquisa e para as tecnologias
que iremos utilizar, entre elas a Internet.

              O professor pode criar uma página pessoal na internet,
como espaço virtual de encontro e divulgação, um lugar de referência
15
para cada matéria e para cada aluno. Essa página pode ampliar o
alcance do trabalho do professor, de divulgação de suas idéias e
propostas, de contato com pessoas fora da universidade ou escola.
Num primeiro momento a página pessoal é importante como
referência virtual, como ponto de encontro permanente entre ele e os
alunos. A página pode ser aberta a qualquer pessoa ou só para os
alunos, dependerá de cada situação. O importante é que professor e
alunos tenham um espaço, além do presencial, de encontro e
visibilização virtual.

               Hoje começamos a ter acesso a programas que
facilitam a criação de ambientes virtuais, que colocam alunos e
professores juntos na Internet. Programas como o Eureka da PUC de
Curitiba, o LearningSpace da Lotus-IBM, o WEBCT, o Aulanet da PUC
do Rio de Janeiro, o FirstClass, o Blackboard e outros semelhantes
permitem que o Professor disponibilize o seu curso, oriente as
atividades dos alunos, e que estes criem suas páginas, participem de
pesquisa em grupos, discutam assuntos em fóruns ou chats. O curso
pode ser construído aos poucos, as interações ficam registradas, as
entradas e saídas dos alunos monitoradas. O papel do professor se
amplia significativamente. Do informador, que dita conteúdo, se
transforma em orientador de aprendizagem, em gerenciador de
pesquisa e comunicação, dentro e fora da sala de aula, de um
processo que caminha para ser semi-presencial, aproveitando o
melhor do que podemos fazer na sala de aula e no ambiente virtual.

               O professor, tendo uma visão pedagógica inovadora,
aberta, que pressupõe a participação dos alunos, pode utilizar
algumas ferramentas simples da Internet para melhorar a interação
presencial-virtual entre todos.

               a) Lista eletrônica/Fórum
16
              Em relação à internet, procurar que os alunos dominem
as ferramentas da WEB, que aprendam a navegar e que todos
tenham seu endereço eletrônico (e-mail). Com os e-mails de todos
criar uma lista interna de cada turma ou um fórum.

              A lista eletrônica interna ajuda a criar uma conexão
virtual permanente entre o professor e os alunos, a levar informações
importantes para o grupo, orientação bibliográfica, de pesquisa, a
dirimir dúvidas, a trocarmos sugestões, envio de textos, de trabalhos.

              A lista eletrônica é um novo campo de interação que se
acrescenta ao que começa na sala de aula, no contato físico e que
depende dele. Se houver interação real na sala, a lista acrescenta
uma nova dimensão, mais rica. Se no presencial houver pouca
interação, provavelmente também não a haverá no virtual.

              b) Aulas-pesquisa

              Podemos      transformar   uma    parte     das   aulas   em
processos contínuos de informação, comunicação e de pesquisa, onde
vamos construindo o conhecimento equilibrando o individual e o
grupal,   entre   o   professor-coordenador-facilitador    e    os   alunos-
participantes ativos. Aulas-informação, onde o professor mostra
alguns cenários, algumas sínteses, o estado da arte, as coordenadas
de uma questão ou tema. Aulas-pesquisa, onde professores e alunos
procuram novas informações, cercar um problema, desenvolver uma
experiência, avançar em um campo que não conhecemos. O
professor motiva, incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o
aluno para o valor do que vamos fazer, para a importância da
participação do aluno neste processo. Aluno motivado e com
participação ativa avança mais, facilita todo o nosso trabalho. O papel
do professor agora é o de gerenciador do processo de aprendizagem,
é o coordenador de todo o andamento, do ritmo adequado, o gestor
das diferenças e das convergências.
17

               Uma proposta viável é escolher os temas fundamentais
do curso e trabalhá-los mais coletivamente e os secundários ou
pontuais pesquisá-los mais individualmente ou em pequenos grupos.

               Os grandes temas da matéria são coordenados pelo
professor, iniciados pelo professor, motivados pelo professor, mas
pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente; às vezes,
em grupos; às vezes, individualmente. A pesquisa grupal na Internet
pode começar de forma aberta, dando somente o tema sem
referências a sites específicos, para que os alunos procurem de
acordo com a sua experiência e conhecimento prévio. Isso permite
ampliar o leque de opções de busca, a variedade de resultados, a
descoberta de lugares desconhecidos pelo professor. Eles vão
gravando os endereços, artigos e imagens mais interessantes em
disquete   e   também    fazem   anotações   escritas,   com   rápidos
comentários sobre o que estão salvando O professor incentiva a troca
constante de informações, a comunicação, mesmo parcial, dos
resultados que vão sendo obtidos, para que todos possam se
beneficiar dos achados dos colegas. É mais importante aprender
através da colaboração, da cooperação do que da competição. O
professor estará atento aos vários ritmos, às descobertas, servirá de
elo entre todos, será o divulgador de achados, o problematizador e
principalmente o incentivador. Depois de um tempo, ele coordena a
síntese das buscas feitas, organiza os resultados, os caminhos que
parecem mais promissores.

               Passa-se, num segundo momento, à pesquisa mais
focada, mais específica, a partir dos resultados anteriores. O mesmo
tema vai ser pesquisado no mesmo endereço, de forma semelhante
por todos. É uma forma de aprofundar os dados conseguidos
anteriormente e evitar o alto grau de entropia e dispersão que pode
acontecer na etapa anterior da pesquisa aberta. Como na etapa
anterior é importante a troca de informações, a divulgação dos
principais achados. Há vários caminhos para aprofundar as pesquisas:
18
Do simples ao complexo, do geral ao específico, do aberto ao dirigido,
focado. Os temas podem ser aprofundados como em ondas, cada vez
mais   ricas,   abertas,   aprofundadas.   Os    alunos   comunicam    os
resultados da pesquisa. O professor os ajuda a fazer a síntese do que
encontraram.

                O professor atua como coordenador, motivador, elo de
união do grupo. Os textos e materiais que parecem mais promissores
são salvos, impressos ou enviados por e-mail para cada aluno. Faz-se
uma síntese dos materiais coletados, das idéias percebidas, das
questões levantadas e se pede que todos leiam esses materiais que
parecem mais importantes para a próxima aula, numa leitura mais
aprofundada e que sirva como elo com a próxima etapa de uma
discussão mais rica, com conhecimento de causa. Os melhores textos
e materiais podem ser incorporados à bibliografia do curso. O
professor utilizou uma parte do material preparado de antemão
(planejamento) e o enriqueceu com as novas contribuições da
pesquisa grupal (construção cooperativa). Assim o papel do aluno não
é o de "tarefeiro", o de executar atividades, mas o de co-pesquisador,
responsável pela riqueza, qualidade e tratamento das informações
coletadas. O professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao
intercâmbio das informações (os alunos pesquisam, escolhem,
imprimem), ao tratamento das informações. O professor ajuda,
problematiza, incentiva, relaciona.

                Ao mesmo tempo, o professor coordena a escolha de
temas ou questões mais específicos, que são selecionados ou
propostos pelos alunos, dentro dos parâmetros propostos pelo
professor   e   que   serão   desenvolvidos     individualmente   ou   em
pequenos grupos. É interessante que os alunos escolham algum
assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles
valorizam mais. Quanto mais jovens são os alunos, mais curto deve
ser o tempo entre o planejamento e a execução das pesquisas. Nas
datas combinadas, as pesquisas são apresentadas verbalmente para
a classe, trazem um resumo escrito para a aula ou o enviam pela lista
19
interna para todos os participantes. Alunos e professor perguntam,
complementam, participam.

                O professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o
universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos
significados no conjunto das informações trazidas. Esse caminho de
ida e volta, onde todos se envolvem, participam - na sala de aula, na
lista eletrônica e na home page - é fascinante, criativo, cheio de
novidades e de avanços. O conhecimento que é elaborado a partir da
própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós.

                c) Construção colaborativa

                A   Internet   favorece   a   construção   cooperativa    e
colaborativa,   o   trabalho   conjunto   entre   professores   e   alunos,
próximos física ou virtualmente. Podemos participar de uma pesquisa
em tempo real, de um projeto entre vários grupos, de uma
investigação sobre um problema de atualidade.

                Uma das formas mais interessantes de trabalhar hoje
colaborativamente é criar uma página dos alunos, como um espaço
virtual de referência, onde vamos construindo e colocando o que
acontece de mais importante no curso, os textos, os endereços, as
análises, as pesquisas. Pode ser um site provisório, interno, sem
divulgação, que eventualmente poderá ser colocado a disposição do
público externo. Pode ser também um conjunto de sites individuais ou
de pequenos grupos que se visibilizam quando os alunos acharem
conveniente. Não deve ser obrigatória a criação da página, mas
incentivar a que todos participem e a construam. O formato,
colocação e atualização pode ficar a cargo de um pequeno grupo de
alunos.

                O importante é combinar o que podemos fazer melhor
em sala de aula: conhecer-nos, motivar-nos, reencontrar-nos, com o
20
que podemos fazer a distância pela lista - comunicar-nos quando for
necessário e também acessar aos materiais construídos em conjunto
na home-page, na hora em que cada um achar conveniente.

                  É importante neste processo dinâmico de aprender
pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis
por cada professor, por cada instituição, por cada classe: integrar as
dinâmicas     tradicionais        com     as   inovadoras,   a   escrita   com    o
audiovisual, o texto seqüencial com o hipertexto, o encontro
presencial com o virtual.

                  O que muda no papel do professor? Muda a relação de
espaço, tempo e comunicação com os alunos. O espaço de trocas
aumenta da sala de aula para o virtual. O tempo de enviar ou receber
informações se amplia para qualquer dia da semana. O processo de
comunicação se dá na sala de aula, na internet, no e-mail, no chat. É
um papel que combina alguns momentos do professor convencional -
às vezes é importante dar uma bela aula expositiva - com mais
momentos de gerente de pesquisa, de estimulador de busca, de
coordenador dos resultados. É um papel de animação e coordenação
muito      mais   flexível    e    constante,     que    exige   muita     atenção,
sensibilidade, intuição (radar ligado) e domínio tecnológico.

II - Mudanças na educação presencial
com tecnologias

                  Caminhamos            para    formas    de     gestão       menos
centralizadas,     mais      flexíveis,    integradas.   Para    estruturas    mais
enxutas. Menos pessoas, trabalhando mais sinergicamente. Haverá
maior participação dos professores, alunos, pais, da comunidade na
organização, gerenciamento, atividades, rumos de cada instituição
escolar.
21
              Está em curso uma reorganização física dos prédios.
Menos quantidade de salas de aula e mais funcionais. Todas elas com
acesso à Internet. Os alunos começam a utilizar o notebook para
pesquisa, busca de novos materiais, para solução de problemas. O
professor também está mais conectado em casa e na sala de aula e
com recursos tecnológicos para exibição de materiais de apoio para
motivar os alunos e ilustrar as suas idéias. Teremos mais ambientes
de pesquisa grupal e individual em cada escola; as bibliotecas se
convertem em espaços de integração de mídias, software e bancos
de dados.

              Os processos de comunicação tendem a ser mais
participativos. A relação professor-aluno mais aberta, interativa.
Haverá uma integração profunda entre a sociedade e a escola, entre
a aprendizagem e a vida. A aula não é um espaço de inado; mas
tempo e espaço contínuos de aprendizagem. Os cursos serão híbridos
no estilo, presença, tecnologias, requisitos. Haverá muito mais
flexibilidade em todos os sentidos. Uma parte das matérias será
predominantemente presencial e outra predominantemente virtual. O
importante é aprender e não impor um padrão único de ensinar.

              Com o aumento da velocidade e de largura de banda,
ver-se e ouvir-se a distância será corriqueiro. O professor poderá dar
uma parte das aulas da sua sala e será visto pelos alunos onde eles
estiverem. Em uma parte da tela do aluno aparecerá a imagem do
professor, ao lado um resumo do que está falando. O aluno poderá
fazer perguntas no modo chat ou sendo visto, com autorização do
professor, por este e pelos colegas. Essas aulas ficarão gravadas e os
alunos poderão acessá-las off-line, quando acharem conveniente.

              Haverá uma integração maior das tecnologias e das
metodologias de trabalhar com o oral, a escrita e o audiovisual. Não
precisaremos abandonar as formas já conhecidas pelas tecnologias
telemáticas, só porque estão na moda. Integraremos as tecnologias
22
novas e as já conhecidas. As utilizaremos como mediação facilitadora
do processo de ensinar e aprender participativamente.

              Haverá   uma   mobilidade   constante   de   grupos   de
pesquisa, de professores participantes em determinados momentos,
professores da mesma instituição e de outras.

III - Quando vale a pena encontrar-nos na
sala de aula?

              Podemos ensinar e aprender com programas que
incluam o melhor da educação presencial com as novas formas de
comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos
fisicamente, - no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há
outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço
habitual, mas conectados com os demais colegas e professores, para
intercâmbio constante, tornando real o conceito de educação
permanente.

              Como regra geral, podemos encontrar-nos fisicamente
no começo e no final de um novo tema, de um assunto importante.
No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para
motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para
organizar como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema
e motivados, o pesquisam, sob a supervisão do professor e voltam a
aula depois de um tempo para trazer os resultados da pesquisa, para
colocá-los em comum.

              É o momento final do processo, de trabalhar em cima
do que os alunos apresentaram, de complementar, questionar,
relacionar o tema com os demais.

              Vale a pena encontrar-nos no início de um processo
específico de aprendizagem e no final, na hora da troca, da
23
contextualização. Iniciar o processo presencialmente. O professor
estimula, motiva. Coloca uma questão, um problema, uma situação
real. Os alunos pesquisam com a supervisão dele. Uma parte das
aulas pode ser substituída por acompanhamento, monitoramento de
pesquisa, onde o professor dá subsídios para os alunos irem além das
primeiras descobertas, para ajudá-los nas suas dúvidas. Isso pode ser
feito pela internet, por telefone ou pelo contato pessoal com o
professor.

IV - Equilibrar o presencial e o virtual

              Têm-se dificuldades no ensino presencial, não as
resolveremos com o virtual. Se olhando-nos, estando juntos temos
problemas    sérios    não   resolvidos     no      processo      de    ensino-
aprendizagem, não será "espalhando-nos" e "conectando-nos" que
vamos solucioná-los automaticamente.

              Podemos     tentar   a     síntese    dos    dois   modos     de
comunicação: o presencial e o virtual, valorizando o melhor de cada
um deles. Aproveitar o melhor dos dois modos de estar.

              Estar juntos fisicamente é importante em determinados
momentos     fortes:   conhecer-nos,     criar     elos,   confiança,    afeto.
Conectados, para realizar trocas mais rápidas, cômodas e práticas.

              Realizar atividades que fazemos melhor no presencial:
comunidades, criar grupos afins (por algum critério específico).

              Definir objetivos, conteúdos, formas de pesquisa de
temas   novos,   de    cursos   novos.     Traçar     cenários,    passar   as
informações iniciais necessárias para situar-nos diante de um novo
assunto ou questão a ser pesquisada.
24
                A comunicação virtual permite: interações espaço-
temporais mais livres; a adaptação a ritmos diferentes dos alunos;
novos contatos com pessoas semelhantes, fisicamente distantes;
maior liberdade de expressão a distancia.

                Certas formas de comunicação as conseguirmos fazer
melhor a distância, por dificuldades culturais e educacionais de abrir-
nos no presencial.

                Na   medida    em   que    avançam      as    tecnologias   de
comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera.
Podemos ter professores externos compartilhando determinadas
aulas, um professor de fora "entrando" por videoconferência na
minha aula. Haverá um intercâmbio muito maior de professores, onde
cada um colabora em algum ponto específico, muitas vezes à
distância.

                O conceito de curso, de aula também muda. Hoje
entendemos por aula um espaço e tempo determinados. Esse tempo
e espaço cada vez serão mais flexíveis. O professor continua "dando
aula" quando está disponível para receber e responder mensagens
dos    alunos, quando cria     uma lista       de discussão e       alimenta
continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do
horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais
acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços
diferentes,   quando   tanto   professores     quanto    os    alunos   estão
motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio,
supervisionados, animados, incentivados pelo professor.

                As crianças terão muito mais contato físico, pela
necessidade de socialização, de interação. Mas nos cursos médios e
superiores, o virtual superará o presencial. Haverá uma grande
reorganização das escolas. Edifícios menores. Menos salas de aula e
mais    salas    ambiente,     salas      de   pesquisa,      de    encontro,
interconectadas. A casa, o escritório será o lugar de aprendizagem.
25

              Poderemos              também            oferecer        cursos
predominantemente        presenciais    e     outros    predominantemente
virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades
concretas de cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de
aproveitar melhor especialistas de outras instituições que seria difícil
contratar.

              Caminhamos rapidamente para processos de ensino-
aprendizagem totalmente audiovisuais e interativos. Nos veremos,
ouviremos, escreveremos simultaneamente, com facilidade, a um
custo baixo, às vezes em grupos grandes, em outros em grupos
pequenos ou de dois em dois.

V - Tecnologias na educação à distância

              Estamos numa fase de transição na educação a
distância. Muitas organizações estão limitando-se a transpor para o
virtual adaptações do ensino presencial (aula multiplicada ou
disponibilizada).   Há   um    predomínio      de   interação     virtual   fria
(formulários, rotinas, provas, e-mail) e alguma interação on-line.
Começamos a passar dos modelos predominantemente individuais
para os grupais. A educação a distância mudará radicalmente de
concepção,    de    individualista   para   mais    grupal,    de   utilização
predominantemente isolada para utilização participativa, em grupos.
Das mídias unidirecionais, como o jornal, a televisão e o rádio,
caminhamos para mídias mais interativas. Da comunicação off-line
evoluímos para um mix de comunicação off e on-line (em tempo real).

              Educação a distância não é só um "fast-food" onde o
aluno vai lá e se serve de algo pronto. Educação a distância é ajudar
os participantes a que equilibrem as necessidades e habilidades
pessoais com a participação em grupos - presenciais e virtuais - onde
avançamos     rapidamente,      trocamos       experiências,      dúvidas     e
26
resultados. Iremos combinando daqui em diante cursos presenciais
com     virtuais,    uma    parte     dos          cursos     presenciais       será     feita
virtualmente. Uma parte dos cursos a distância será feita de forma
presencial ou virtual-presencial, vendo-nos e ouvindo-nos, períodos
de pesquisa mais individual com outros de pesquisa e comunicação
conjunta.    Alguns    cursos      poderemos            fazê-los        sozinhos   com      a
orientação virtual de um tutor e em outros será importante
compartilhar vivências, experiências, idéias.

                  A internet está caminhando para ser audiovisual, para
transmissão       em   tempo       real       de    som       e    imagem      (tecnologias
streaming). Cada vez será mais fácil fazer integrações mais profundas
entre   TV    e     WEB.   Enquanto           assiste     a       de inado   programa,      o
telespectador       começa     a     poder          acessar        simultaneamente         as
informações que achar interessantes sobre o programa, acessando o
site da programadora na Internet ou outros bancos de dados.

                  As possibilidades educacionais que se abrem são
fantásticas. Com o alargamento da banca de transmissão como
acontece na TV a cabo torna-se mais fácil poder ver-nos e ouvir-nos a
distância. Muitos cursos poderão ser realizados a distância com som e
imagem,      principalmente        cursos          de   atualização,         extensão.     As
possibilidades de interação serão diretamente proporcionais ao
número de pessoas envolvidas.

                  Teremos    aulas        à    distância          com   possibilidade      de
interação on-line e aulas presenciais com interação à distância.

                  Algumas organizações e cursos oferecerão tecnologias
avançadas dentro de uma visão conservadora (lucro, multiplicação).

                  O ensino será um mix de tecnologias com momentos
presenciais, outros de ensino on-line, adaptação ao ritmo pessoal,
mais interação grupal, avaliação mais personalizada (com níveis
diferenciados de visão pedagógica).
27

              Outras organizações oferecerão tecnologias de ponta
com visão pedagógica avançada (cursos de elite, subsidiados).

              O processo mais lento do que se espera. Iremos
mudando aos poucos, tanto no presencial como na educação à
distância. Há uma grande desigualdade econômica, de acesso, de
maturidade, de motivação das pessoas. Alguns estão prontos para a
mudança, outros muitos não. É difícil mudar padrões adquiridos
(gerenciais, atitudinais) das organizações, governos, dos profissionais
e da sociedade.

              Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se
mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino,
que   mantêm      distantes   professores   e   alunos.   Caso   contrário
conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no
essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda
incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar
muitas das formas atuais de ensinar e de aprender.

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29

3- Os novos espaços de
atuação do educador com as
tecnologias4
                                                                      José Manuel Moran5

Introdução

                    Uma das reclamações generalizadas de escolas e
universidades é de que os alunos não agüentam mais nossa forma de
dar aula. Os alunos reclamam do tédio de ficar ouvindo um professor
falando na frente por horas, da rigidez dos horários, da distância
entre o conteúdo das aulas e a vida.

                    Colocamos tecnologias na universidade e nas escolas,
mas, em geral, para continuar fazendo o de sempre – o professor
falando e o aluno ouvindo – com um verniz de modernidade. As
tecnologias são utilizadas mais para ilustrar o conteúdo do professor
do que para criar novos desafios didáticos.

                    O cinema, o rádio, a televisão trouxeram desafios,
novos       conteúdos,         histórias,       linguagens.         Esperavam-se             muitas
mudanças na educação, mas as mídias sempre foram incorporadas
marginalmente. A aula continuou predominantemente oral e escrita,
4
  Texto publicado nos anais do 12º Endipe – Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, in
ROMANOWSKI, Joana Paulin et al (Orgs). Conhecimento local e conhecimento universal:
Diversidade, mídias e tecnologias na educação. vol 2, Curitiba, Champagnat, 2004, páginas
245-253

5
   Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância. - jmmoran@usp.br. Autor do
livro: A educação que desejamos novos desafios e como chegar lá. Campinas: Papirus, 2007.
30
com pitadas de audiovisual, como ilustração. Alguns professores
utilizavam vídeos, filmes, em geral como ilustração do conteúdo,
como complemento. Eles não modificavam substancialmente o
ensinar e o aprender, davam um verniz de novidade, de mudança,
mas era mais na embalagem.

                 O computador trouxe uma série de novidades, de fazer
mais rápido, mais fácil. Mas durante anos continua sendo utilizado
mais como uma ferramenta de apoio ao professor e ao aluno. As
atividades principais ainda estavam focadas na fala do professor e na
relação com os textos escritos.

                 Hoje,    com   a     internet     e    a    fantástica   evolução
tecnológica, podemos aprender de muitas formas, em lugares
diferentes, de formas diferentes. A sociedade como um todo é um
espaço privilegiado de aprendizagem. Mas ainda é a escola a
organizadora     e    certificadora    principal       do   processo de    ensino-
aprendizagem.

                 Ensinar e aprender estão sendo desafiados como nunca
antes. Há informações demais, múltiplas fontes, visões diferentes de
mundo. Educar hoje é mais complexo porque a sociedade também é
mais complexa e também o são as competências necessárias. As
tecnologias começam a estar um pouco mais ao alcance do estudante
e do professor. Precisamos repensar todo o processo, reaprender a
ensinar, a estar com os alunos, a orientar atividades, a definir o que
vale a pena fazer para aprender, juntos ou separados.

                 Com a internet e outras tecnologias surgem novas
possibilidades       de   organização     das      aulas     dentro   e   fora   da
Universidade. Podemos ter uma parte das aulas de forma virtual ou
freqüentar cursos a distância. Como uma universidade e seus
professores podem se organizar para estas mudanças inevitáveis, da
forma mais adequada, equilibrada e coerente? Por onde começar e
continuar?
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