La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se
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la fundación Revista da Fundación MAPFRE #56 Setembro 2021 www.fundacionmapfre.org Arte Cuide-se MORANDI. RESSONÂNCIA INFINITA A BATALHA DA CARNE Judith Joy Ross. O retrato da alma Comprometidos PAOLO GASPARINI UM FUTURO KBr Flama 21 MAIS HUMANO
VISITA NUESTRAS EXPOSICIONES VISIT OUR EXHIBITIONS Giorgio Morandi MORANDI. RESONANCIA INFINITA MORANDI. INFINITE RESONANCE Natura Morta [Naturaleza Lugar Location muerta], 1941 Istituzione Bologna Musei | Sala Fundación MAPFRE Recoletos Fundación MAPFRE Recoletos Exhibition Hall Museo Morandi Paseo de Recoletos 23, 28004 Madrid Paseo de Recoletos 23, 28004 Madrid © Giorgio Morandi, VEGAP, Fechas Dates Madrid, 2021 Del 24/09/2021 al 09/01/2022 From 24/09/2021 to 09/01/2022 Horario de visitas Visiting hours Lunes de 14:00 a 20:00 h. Monday from 2 pm to 8 pm. Martes a sábado de 11:00 a 20:00 h. Tuesday to Saturday from 11 am to 8 pm. Domingos y festivos de 11:00 a 19:00 h. Sunday/holidays from 11 am to 7 pm. Acceso gratuito los lunes Free entry on Mondays Judith Joy Ross JUDITH JOY ROSS JUDITH JOY ROSS Sin título, Eurana Park, Lugar Location Weatherly, Pensilvania, 1982 © Judith Joy Ross, courtesy Sala Fundación MAPFRE Recoletos Fundación MAPFRE Recoletos Exhibition Hall Galerie Thomas Zander, Paseo de Recoletos 23, 28004 Madrid Paseo de Recoletos 23, 28004 Madrid Cologn Fechas Dates Del 24/09/2021 al 09/01/2022 From 24/09/2021 to 09/01/2022 Horario de visitas Visiting hours Lunes de 14:00 a 20:00 h. Martes a sábado de 11:00 Monday from 2 pm to 8 pm. Tuesday to Saturday from a 20:00 h. Domingos y festivos de 11:00 a 19:00 h. 11 am to 8 pm. Sunday/holidays from 11 am to 7 pm. Acceso gratuito los lunes Free entry on Mondays Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir KBR FLAMA 21 KBR FLAMA 21 Serie Obscure Presence, Lugar Location 2018-2020 © Gunnlöð Jóna KBr Fundación MAPFRE KBr Fundación MAPFRE Rúnarsdóttir Ronda del Litoral 30, 08005 Barcelona Ronda del Litoral 30, 08005 Barcelona Fechas Dates Del 30/09/2021 al 16/01/2022 From 30/09/2021 to 16/01/2022 Horario de visitas Visiting hours Lunes cerrado Monday: closed Martes a domingo (y festivos) de 11:00 a 19:00 h. Tuesday to Sunday (and holidays) from 11 am to 7 pm. Paolo Gasparini PAOLO GASPARINI PAOLO GASPARINI Campaña electoral, avenida Lugar Location Urdaneta, Caracas, 1968 Colecciones Fundación KBr Fundación MAPFRE KBr Fundación MAPFRE MAPFRE Ronda del Litoral 30, 08005 Barcelona Ronda del Litoral 30, 08005 Barcelona © Paolo Gasparini Fechas Dates Del 30/09/2021 al 16/01/2022 From 30/09/2021 to 16/01/2022 Horario de visitas Visiting hours Lunes cerrado Monday: closed Martes a domingo (y festivos) de 11:00 a 19:00 h. Tuesday to Sunday (and holidays) from 11 am to 7 pm. EVITA COLAS COMPRANDO ONLINE TUS ENTRADAS ¡¡RESERVA TUS ENTRADAS!! BOOK YOUR TICKETS!! BEAT THE QUEUE, www.entradas.fundacionmapfre.org BUY YOUR TICKETS ONLINE
a imagem Nossa solidariedade com a ilha de La Palma 26.000 máscaras PFF2 e PFF3, 2.000 óculos de proteção exposição cutânea e ocular às cinzas e gases tóxicos das e 30.000 flaconetes de dose única de colírios fazem emissões vulcânicas causadas pela erupção do vulcão parte do primeiro pacote de medidas de emergência, Cumbre Vieja na ilha de La Palma (Canárias, Espanha). no valor de 65.000 euros, que a Fundación MAPFRE Trata-se da primeira ação de um plano de ajuda Guanarteme ativou para sua distribuição entre a destinado a contribuir para a recuperação pessoal, população e órgãos de segurança e emergência. O social e econômica das pessoas mais afetadas por esta objetivo é proteger os cidadãos contra a inalação e a catástrofe natural. la fundación Revista da Fundación MAPFRE Presidente do Conselho Editorial Ignacio Baeza Diretor Javier Fernández González Edição Direção de Comunicação da MAPFRE Redação Ctra. de Pozuelo 52. 28222 Majadahonda. Madrid. F 915 815 359. comunicacion@mapfre.com www.fundacionmapfre.org Distribuição Área de Marketing da Fundación MAPFRE. P° de Recoletos, 23. 28004 Madrid Produção editorial Moonbook SL_ Impressão Gráficas Monterreina. Depósito legal M-26870-2008 ISSN 1888-7813. A publicação desta revista não necessariamente supõe a concordância da Fundación MAPFRE com o conteúdo dos artigos e trabalhos nela contidos. A reprodução de artigos e notícias é autorizada desde que conte com prévia e expressa autorização dos editores, e sempre citando sua origem. Capa Giorgio Morandi, Natura morta [Naturaleza muerta], 1956, Collezione Augusto e Francesca Giovanardi, Milán, Photo © Alvise Aspesi, © Giorgio Morandi, VEGAP, Madrid, 2021 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — a imagem
sumário IGNACIO HERNANDO EM PRIMEIRA PESSOA 6 DE LARRAMENDI IGNACIO HERNANDO DE LARRAMENDI No centenário de seu nascimento nos aproximamos da figura deste empresário e grande humanista. ARTE 12 KBR FLAMA. NOVOS ARTISTAS EMERGENTES Descubra-os no Centro de Fotografia KBr Fundación MAPFRE em Barcelona de 30 de setembro de 2021 a 16 de janeiro de 2022. GIORGIO MORANDI. O «OFÍCIO DE PINTAR» 18 PAOLO GASPARINI. CAMPO DE IMAGENS De 30 de setembro de 2021 a 16 de janeiro de 2022 no Centro de Fotografia KBr Fundación MAPFRE em Barcelona. 26 JUDITH JOY ROSS. O RETRATO DA ALMA De 24 de setembro de 2021 a 9 de janeiro de 2022, na Sala Natura morta [Natureza morta], 1928 Óleo sobre tela, 34,5 × 46,5 cm Recoletos, em Madrid. Collezione Augusto e Francesca Giovanardi, Milão Photo © Alvise Aspesi 32 UM FUTURO MAIS HUMANO GIORGIO MORANDI. O «OFÍCIO DE PINTAR» A exposição sobre o grande mestre italiano pode ser visitada de 24 de setembro de 2021 a 9 de janeiro de 2022 em nossa Sala Recoletos em Madrid. COMPROMETIDOS 38 UM FUTURO MAIS HUMANO Te contamos os segredos de uma campanha publicitária que visa fazer com que nunca nos esqueçamos que não há nada maior que ajudar os outros. sumário — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
lf #56 42 PROFISSIONAIS E MAIS A BATALHA DA CARNE: Conversamos com Hugo Martínez Gutiérrez, Chefe de Grupo do UMA GUERRA DE NUANCES Corpo de Bombeiros de San Blas, Madrid, e presidente da ONG Bomberos Ayudan. CUIDE-SE 44 A BATALHA DA CARNE: UMA GUERRA DE NUANCES O consumo de carne é hoje o protagonista do debate alimentar. SEGURANÇA VIÁRIA 48 DO INFINITO AO ZERO. ASSIM O FIZEMOS. 25 ANOS SALVANDO VIDAS Nesta publicação revemos os últimos 25 anos de segurança viária na Espanha contados por seus protagonistas. 52 25 ANOS SALVANDO VIDAS Comemoramos os 25 anos de existência do Instituto MAPFRE de Segurança Viária, hoje Área de Prevenção e Segurança Viária de Fundación MAPFRE. 58 CULTURA DE SEGUROS EDUCAÇÃO FINANCEIRA COMO EMPREENDER DEPOIS DOS 50 PARA UMA SOCIEDADE MAIS PREPARADA AGEINGNOMICS 62 COMO EMPREENDER DEPOIS DOS 50 Um guia imprescindível para quem deseja empreender depois dos 50 anos de idade. 66 VISTO NA REDE REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — sumário
7 O arquiteto do seguro moderno TEXTO: RAMÓN OLIVER IMAGENS: FUNDACIÓN LARRAMENDI, MAPFRE É o centenário do nascimento de Ignacio Hernando de Larramendi, o homem que com sua visão inovadora e um humanismo inabalável revolucionou o mundo segurador e lançou as bases da atual MAPFRE. Grande humanista, Larramendi estava à frente de seu tempo, introduzindo elementos inovadores ao setor, como a informatização do trabalho, a medição do desempenho e a figura do defensor do segurado. Motivados pela celebração de seu centenário, valorizamos a dimensão cultural, empresarial e histórica do legado deste grande humanista e promotor da cultura. Em 1955, um jovem inspetor de seguros abandonou a 1990. Tempo durante o qual transformou completamente Administração Pública para embarcar numa aventura a empresa desde suas fundações, levando-a a um modelo empresarial que muitos (dizem que seus próprios colegas muito mais moderno e evoluído, inspirado em suas da Direção-geral de Seguros lhe deram os pêsames ao visitas ao Reino Unido e com algumas ideias importadas ouvir a notícia) consideraram insana: resgatar uma e adaptadas da icônica Lloyd Company. Incluído na lista pequena empresa à beira da insolvência. Mas Ignacio dos 100 grandes empresários espanhóis do século XX, Hernando de Larramendi (Madrid, 1921-Madrid, 2001), seu instinto empreendedor, sua audácia e sua capacidade então com 34 anos, não era do tipo que se esquivava do de gerenciar equipes e lidar com pessoas o levaram a ser impossível. Hoje esta pequena empresa é a multinacional considerado o grande arquiteto do seguro moderno na espanhola líder no setor, está presente em mais de 40 Espanha. países, com 12.500 escritórios, 34.000 funcionários, uma Sob sua batuta, a MAPFRE empreendeu uma rede de colaboração de 86.000 agentes e suas ações estão profunda reorganização interna que teve que começar listadas no IBEX-35 e no Dow Jones. retirando a empresa da iminente falência. No ano Mas, acima de todos esses números, a MAPFRE é anterior à sua entrada na companhia (foi contratado uma seguradora que entendeu que sua missão no mundo pelo histórico presidente da entidade, Dionisio Martín não é apenas oferecer soluções de proteção e seguro, mas Sanz, também nomeado para o cargo nesse mesmo que, além desse objetivo, sua razão de ser é contribuir ano), a Mutualidad de la Agrupación de Propietarios para fazer deste mundo um lugar melhor. E esse legado, de Fincas Rústicas de España, como a MAPFRE era essa forma de pensar e agir que a empresa leva em seu conhecida na época, apresentava perdas de entre 2 e 3,5 DNA, se deve em grande parte a Ignacio Larramendi. milhões de pesetas. Sistemas antiquados e ineficazes e uma aposta errônea nos seguros públicos de saúde, Uma MAPFRE moderna e operacional muito deficitários devido aos baixos salários e à alta Larramendi ocupou as responsabilidades máximas da mortalidade dos trabalhadores agrícolas, levaram a MAPFRE durante 35 anos, até sua aposentadoria em empresa a uma situação mais do que comprometida. REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — EM PRIMEIRA PESSOA
8 Primeiros anos compras de imóveis para montar Reduzir a dívida tornou-se sua Sob sua direção, a seus escritórios. Desta forma, as primeira prioridade. Para isso, passou por uma etapa de duros MAPFRE iniciou vendas diretas foram fortemente dinamizadas e o atendimento reajustes, com demissões e cortes uma trajetória de ao cliente também melhorou, de gastos, inclusive de seu próprio salário, que reduziu em 40%. Assim descentralização, elementos que tiveram um efeito imediato no crescimento da começou um tipo de liderança pelo modernização empresa. exemplo que se tornou um de seus e expansão A internacionalização, que grandes diferenciais ao longo de começou a se desenvolver com sua carreira. internacional força em meados da década Depois de muitas adversidades que lhe permitiu de 1980, coincidindo com a e «dribles» extremos com a suspensão de pagamentos, a crescer e se tornar conquista da liderança do Grupo em seu setor, foi outra das situação financeira da empresa se a líder do setor grandes apostas do empresário. estabilizou e chegou a uma nova fase de recuperação e reativação de seguros na Larramendi estava convencido de que, se quisesse continuar do negócio. Larramendi iniciou Espanha crescendo, a MAPFRE teria de então um processo de otimização cruzar as fronteiras da Espanha, de processos com o qual buscava já que esse desenvolvimento reduzir as ineficiências e aumentar pode ser mais certeira do que a de se baseava na otimização de a qualidade. Entre as medidas mais um inteligente a 500 quilômetros processos e no aproveitamento proeminentes desses primeiros de distância», como ele costumava de economias de escala. Ir anos está o redesenho de um dizer) da empresa apoiado para o exterior era, no entanto, portfólio diversificado de produtos pelas diretorias regionais e uma um movimento arriscado, para priorizar os seguros mais extensa rede territorial de filiais desnecessário na opinião de lucrativos. Um caminho que mais com equipes próprias e gestores muitos de seus colaboradores tarde levaria a MAPFRE a se firmar dotados de grande autonomia. próximos, mas ele achava que em setores nos quais carecia de Para isso, Larramendi refugiou- certo risco é inerente a qualquer experiência, como o de Automóvel, se na tradição rural da empresa, empreendimento comercial. e a modernizar outros até torná- abrindo escritórios em pequenas los lucrativos, como o setor de localidades que não chamavam Inovação como bandeira Vida. Posteriormente, Larramendi a atenção dos concorrentes e, a Outra forma à qual recorreu introduziu novidades muito partir daí, deu início a expansão às para reduzir custos e crescer foi marcantes, focadas no cliente, como grandes cidades. Uma estratégia aumentar a eficiência por meio um conceito de seguro-serviço que que ele imitou da rede de de uma rígida padronização de transcendia a mera indenização supermercados norte-americana processos e medição de resultados, financeira em caso de sinistro ou a Wal-Mart. para os quais utilizou todos os figura do defensor do segurado. Uma política até então sem tipos de indicadores. A tecnificação precedentes de aquisições para aumentar a qualidade do Expansão nacional e internacional imobiliárias foi outra das serviço e a rentabilidade foi outra Também neste período iniciou- contribuições deste visionário. constante durante sua direção. se um processo progressivo de Assim que a situação econômica Curioso incorrigível, Larramendi descentralização («a decisão de da companhia o permitiu, a era apaixonado por tecnologia um medíocre próximo de um fato MAPFRE iniciou uma série de e não hesitava em incorporar às EM PRIMEIRA PESSOA — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
Grande humanista, Larramendi foi um precursor da Responsabilidade Social Corporativa por meio de uma infinidade de atividades para promover a cultura, a história e a medicina 9 operações da empresa todas as muito nova na época e que rendeu ousar cometer erros. Grande inovações técnicas disponíveis no piadas de seus concorrentes, comunicador, exerceu enorme mercado, desde que acreditasse que rebatizaram essa MAPFRE influência sobre seus colaboradores que estas poderiam melhorar seus rejuvenescida como a «cidade dos e modernizou a gestão de pessoas processos. meninos». da MAPFRE com medidas que Mas a política de Larramendi priorizavam a meritocracia e a A cidade dos meninos não foi tão equivocada assim («cada promoção interna e que acabaram Uma das grandes características mensageiro tem em sua mochila com vícios ancestrais do setor como desse diretor icônico foi sua um bastão de marechal», era outra o nepotismo. capacidade de liderar equipes e de suas frases favoritas), já que lidar com pessoas. Carismático e muitos desses jovens imberbes são Precursor da RSC grande motivador, ele acreditava hoje altos executivos da MAPFRE Dotado de um profundo sentido firmemente no talento e na e de outras grandes empresas. de serviço público, Larramendi responsabilidade pessoal. Ele Larramendi jogou seus jovens rejeitava um capitalismo baseado revolucionou os sistemas de colaboradores no ringue, sim. exclusivamente no lucro puro, recrutamento e seleção da entidade Mas antes disso, os capacitou com convencido de que toda instituição ao incorporar um grande número uma sólida política de formação que administra um grande de jovens universitários sem contínua que lhes permitiu patrimônio tem a obrigação de experiência, mas com grande enfrentar qualquer desafio, além devolver parte dele à sociedade e, potencial, aos quais quase de uma confiança ilimitada que principalmente, aos seus clientes. que imediatamente confiou lhes motivava a sair do ataque Desta forma, e somente desta responsabilidades. Uma estratégia com louvor para se atrever e forma, a empresa pode cumprir REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — EM PRIMEIRA PESSOA
10 uma missão social contribuindo anualmente pela Fundación para o bem comum e para os Decálogo MAPFRE, sendo hoje uma interesses gerais da Espanha. Ele soube transferir essas de Larramendi referência internacional em seu campo. premissas para sua organização para o sucesso por meio de múltiplas atividades 100 anos desde seu nascimento de mecenato e ação social. Com ele, cultura, história, pesquisa médica 1. Carlista, católico, advogado, É essencial ser ético escritor, editor e amante da cultura, e uma infinidade de atividades para ser lucrativo. os que tiveram a sorte de colaborar alheias ao puro negócio dos seguros com ele o descrevem como um passaram a fazer parte da essência 2. humanista brilhante, humilde, da MAPFRE. Para desenvolver esta Deve-se ser austero nos gastos. empreendedor, tolerante, social, intensa atividade, criou ao longo honesto, com grande senso ético e do tempo uma série de Fundações, 3. capacidade infinita para o trabalho. duas das mais emblemáticas foram Deve-se sempre dizer a verdade. Uma figura essencial na história a Fundación MAPFRE (1975) e a empresarial da Espanha, cuja Fundación Ignacio Larramendi 4. influência transcendeu o âmbito (1986), à qual se dedicou de corpo e Não se deve trapacear na economia da MAPFRE, marcando até hoje a alma depois de se aposentar em 1990. nem com o Ministério da Fazenda. história de todo o setor. Para comemorar os 100 anos Dimensão cultural e histórica 5. do nascimento deste empresário e Nessa faceta humanística e de Deve-se ser sério no trabalho. pessoa excepcional, ao longo deste mecenato é possivelmente onde ano de 2021, vários eventos foram mais desfrutava de sua atividade. 6. e serão realizados em torno de sua Americanista convicto, Larramendi Deve-se manter a equidade figura e seus projetos, relacionados professou um amor reverente nas decisões. à recuperação e divulgação da pelo continente americano, a nossa história. cujas relações fraternas com a 7. Espanha dedicou grande parte Deve-se manter grande de sua obra desde as Fundações. transparência com os funcionários e clientes. Nela se destacam as «Coleções MAPFRE 1942» (alojadas nas Bibliotecas virtuais de Polígrafos), 8. Deve-se ser muito objetivo na hora a série de 245 volumes elaborada de julgar e avaliar uma situação. por especialistas de renome que se dedicaram a analisar em profundidade e sob todos os 9. Sempre se deve dar a cara a tapa ângulos o que supôs a descoberta diante das dificuldades, é preciso ser do novo mundo. Desde sua empresarialmente valente. dimensão fundacional, Larramendi também apoiou de forma decisiva a pesquisa médica por meio de 10. Deve-se ter um grande respeito, iniciativas como a criação das especialmente pela força Parte da documentação deste artigo foi extraída do livro Bolsas e Ajudas à Pesquisa Ignacio de trabalho. Larramendi. O arquiteto do seguro moderno: MAPFRE... e do humanismo nos negócios e na vida, uma obra dirigi- de Larramendi, que são outorgadas da por Javier Morillas. EM PRIMEIRA PESSOA — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
Uma figura essencial na história empresarial da Espanha, cuja influência transcendeu o âmbito da MAPFRE, marcando até hoje a história de todo o setor 11 Luis Hernando de Larramendi, atual presidente da Fundação Ignacio Larramendi, é o principal responsável por manter o espírito que move os valores desta instituição. «O principal legado do meu pai é o desejo de trabalhar para o bem comum» O que você absorveu do legado de seu pai? A aspiração inalienável de fazer as coisas não por simples egoísmo, mas pelo bem comum. Ele queria passar a vida fazendo coisas que reverteriam em benefício da sociedade no futuro e que permanecessem em pé quando ele partisse. Ele foi o grande arquiteto do seguro moderno na Espanha, quais foram suas principais contribuições para o setor? Na década de 1950, o seguro na Espanha era um mundo muito estruturado e organizado em torno do status quo das seguradoras, não do segurado, a tal ponto que muitas vezes parecia que ia contra os interesses do cliente. Meu pai rompeu com tudo isso. Ele concebe o seguro como um serviço público cujo verdadeiro sentido é servir a quem o contrata, com o menor custo possível, prestando assim um serviço à sociedade. É possível dizer que ele foi um homem à frente de seu tempo? ou essa capacidade de delegar, que era imprópria naquela Com certeza. Ele tinha uma grande capacidade de ver para época. Ele acreditava muito em dar a cada pessoa uma onde o futuro estava se movendo e antecipou muitos dos pequena parcela de responsabilidade, que cada funcionário elementos que estão totalmente estabelecidos no mundo respondesse a partir de sua própria demonstração de dos seguros hoje em dia. Por exemplo, nas décadas de 50 e resultados e não fosse um simples número que executa 60 poucos impostos eram pagos, as empresas tinham caixa ordens. dois. Ele previu o que veio a ser a auditoria, a autorregulação, a transparência, a necessidade de contar com um forte apoio O que o seguro espanhol deve à Ignacio Larramendi? financeiro bancário. Também introduziu a figura do defensor O mundo segurador espanhol não poderia ter completado o do segurado 30 anos antes de sua criação. processo de transformação que se seguiu sem a liderança da Como era seu estilo de liderança? MAPFRE, e a MAPFRE não seria o que é hoje sem o esforço, a tenacidade, a inteligência e o senso de antecipação de meu Ele não tinha medo de dizer que algo que sempre funcionou já pai. O que meu pai faria hoje? Impossível saber, mas o certo é não funcionava mais. Ele tomou decisões muito polêmicas e que seria algo inovador. arriscadas, como o processo de descentralização da empresa, REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — EM PRIMEIRA PESSOA
Laura Gálvez-Rhein Série Ex-Libris, 2018-2019 © Laura Gálvez-Rhein arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
Visite nossa edição digital 13 KBr Flama. Novas artistas emergentes TEXTO: ÁREA DE CULTURA DA FUNDACIÓN MAPFRE IMAGENS: LAURA GÁLVEZ-RHEIN, BLANCA MUNT, GAEL DEL RÍO Y GUNNLÖÐ JÓNA RÚNARSDÓTTIR De 30 de setembro de 2021 a 16 de janeiro de 2022 você poderá desfrutar da exposição KBr Flama 21, no Centro de Fotografia KBr Fundación MAPFRE (Barcelona). KBr Flama 21 é um projeto que nasceu com o objetivo de apoiar a criação emergente e as novas gerações de fotógrafos que iniciam a sua carreira profissional depois de terem estudado em escolas de fotografia em Barcelona. Nesta primeira edição, a Fundación MAPFRE e as suas próprias fotografias. Laura Gálvez-Rhein, no colaborou com quatro instituições de Barcelona seu encontro com o trauma do seu avô Wolfgang, liga empenhadas com o ensino e com os estudos de ao seu trabalho, num exercício de memória histórica, à fotografia: Grisart, Idep Barcelona, IEFC e Elisava, memória das crianças de guerra alemãs (Kriegskinder) Faculdade de Desenho e Engenharia de Barcelona. e à vida do seu parente. Como resultado do interesse mútuo em oferecer um No segundo caso, Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir ambiente de visibilidade e oportunidade para artistas e Blanca Munt olham para estas histórias coletivas emergentes, surgiu a ideia de organizar uma exposição que compõem uma realidade e identidades locais. anual com os alunos das diferentes escolas. A primeira mergulha na crença popular dos Laura Gálvez-Rhein (Frankfurt am Main, islandeses em fantasmas, duendes e huldufólk 1998), Blanca Munt (Barcelona, 1997), Gael del Río (pessoas escondidas), para compor um retrato (Barcelona, 1990) y Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir sonhador, multifacetado e contemporâneo do seu (Reikiavik, 1992) são os quatro fotógrafas selecionadas país. Por seu lado, Munt dirige o seu olhar para para esta exposição inaugural. Os seus projetos foram a realidade quotidiana do seu bairro, com um escolhidos através de um processo de visualização de interesse antropológico e não fotográfico e revela trabalhos por alunos das referidas escolas, realizadas alguns dos mecanismos que identificam a sociedade pelos seguintes profissionais de fotografia: Marta Gili, contemporânea, marcados pelo controle e pelo medo. Sergio Mah, Ramón Reverté e Arianna Rinaldo. Laura Gálvez-Rhein licenciou-se em fotografia no A exposição reúne quatro projetos que, de uma Institut d’Estudis Fotogràfics de Catalunya em 2019 forma muito pessoal, nos levam a diferentes realidades e especializou-se em Criação e Reflexão Fotográfica baseadas na memória do passado ou em aspetos no mesmo centro. Realizou também um curso de relacionados com a identidade coletiva. Documentário e Fotojornalismo na Universidade de No primeiro caso, Gael del Río e Laura Gálvez- Arte e Ciências Aplicadas Hannover (Hochschule Rhein encontram em figuras de família (pai e avô, Hannover). respectivamente) uma razão para desvendar as Atualmente explora temas focados no suas histórias pessoais. Gael del Río apresenta o seu autoconhecimento e na introdução de novas técnicas, processo de luto pela ausência do pai através de uma para os quais se baseia na mutação da perceção e do combinação subtil e subjetiva entre as gravuras do pai material, interesses que deram origem aos projetos REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
#KBrFlama21 14 Laura Gálvez-Rhein Série Ex-Libris, 2018-2019 © Laura Gálvez-Rhein Parasomnia (2017-2019) y Depois de abandonar a sua muito triste. Não parámos muito Metasomnia, those which were good formação como jesuíta, iniciou em casa, jogámos nas ruínas. failed too (2019). a sua carreira como professor Tinha um lugar onde estudava No campo do documentário, alemão em vários destinos.Agora um pouco, mas em casa não havia trabalha na questão social com aposentado, continua a ensinar lugar. Não tenho muitas memórias uma abordagem antropológica, refugiados como voluntário. desse tempo. Durante as férias fui com especial interesse pela Ex-Libris explora, através da trabalhar nos campos. Durante identidade e memórias individuais, collage fotográfica, a complexidade a guerra fomos enviados para a coletivas e históricas. Sua da memória, o esquecimento e o Polônia para viver com outras abordagem emocional de tudo encontro com o trauma. Durante famílias com crianças. Sempre a o que lida às vezes o afasta o processo criativo, a autora minha mãe com os quatro filhos. dos preceitos acadêmicos da trabalhou com o arquivo familiar O meu pai tinha um açougue, reportagem e da fotografia e com material do Bundesarchiv mas quando eu nasci, perdeu documental. Vive a imagem como (Arquivo Nacional Alemão), e tudo. Depois já não importava, uma ferramenta para se expressar fez um relato do dia-a-dia de porque a guerra teria destruído de livremente, de formas infinitas e Wolfgang, que representa a qualquer maneira. Logo trabalhou em combinações infinitas. geração dos Kriegskinder (filhos da na ferrovia. Tinha que ir de trem O trabalho que apresenta hoje, guerra), silenciados pela cultura até a Polônia para transportar as Ex-Libris, é uma série documental da memória alemã. Estas são parte pessoas. Era muito difícil, estava sobre a biografia de Wolfgang F. das suas memórias, expressas por sempre sozinho. Sempre tivemos O. Rhein (nascido em Berlim em si mesmo: o sonho de lhe comprar um carro, 1937), avô da fotógrafa. Wolfgang «Eu era pobre. Morava mas ele morreu muito jovem». mora em Steinbach (Taunus), numa cidade cuma cidade Blanca Munt (Barcelona, perto de Frankfurt am Main. completamente destruída, numa 1997) licenciou-se em Fotografia Teve uma infância e adolescência rua perto da grande Avenida na Idep Barcelona em 2020. praticamente inexistentes e uma Stalin (Stalinallee). Tudo foi Considera que a melhor forma de vida adulta focada no trabalho. completamente destruído. Foi transmitir a sua capacidade de arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
Como resultado do interesse mútuo em oferecer um ambiente de visibilidade e oportunidade para artistas emergentes, surgiu a ideia de organizar uma exposição anual com os alunos das 15 diferentes escolas criar e contar histórias é através absoluta da ideia de comunidade aos nossos próprios medos e da fusão de design, fotografia e quando o que está em jogo é a contradições. Nas suas próprias vídeo. Ela interessa-se por temas segurança individual: deixaria de palavras, Blanca Munt propõe em como residência, arquitetura, ser apenas suspeito aqueles que Alerta Mira-Sol uma «reflexão periferia, paisagem, retrato e fossem avistados nas imediações sobre a tensão entre o privilégio sociedade. A pesquisa sobre a pela sua aparência ou atitude, de viver num lugar pacífico e cultura do medo e da paranóia mas qualquer vizinho que não o constante sentido de ameaça levou a realizar o projeto Alerta cumprisse fielmente a missão do latente como parte da cultura Mira-Sol (2020), publicado como grupo. As fotografias de Alerta atual do medo». fotolivro na editora Dalpine, Mira-Sol estão entrelaçadas com Gael del Río (Barcelona, depois de ganhar o Prêmio Fiebre outras fontes de informações e 1990) obteve uma licenciatura Photobook Dummy (2020). O as imagens mentais que geramos em Arquitetura pela Escola seu projeto Sòl i Sostre (2021) foi à medida que conhecemos os Técnica Superior de Arquitetura exibido no 7º festival Mirades de pontos de vista interessados de de Barcelona em 2015. fotografia del Bajo Ampurdán. cada um dos protagonistas desta Descobriu a fotografia na reta Trabalhou como assistente da paisagem – vizinhos, suspeitos, final da faculdade, durante fotógrafa Tanit Plana, com quem polícias, administradores locais o seu ano de intercâmbio no participou no projeto deste último – e que apelam plenamente Royal Melbourne Institute Púber exposto no Centro de la Imagen La Virreina, Barcelona (2020). Atualmente trabalha como curadora em conjunto com Borja Ballbé na plataforma digital Panorama, onde publica projetos artísticos que abordam questões relacionadas com a paisagem e o território. Fosi Vegue escreve sobre a obra Alerta Mira-Sol: «Em 2019 a fotógrafa Blanca Munt participou num chat de bairro criado para monitorizar o seu bairro e alertar dos possíveis assaltos a casas ou outros eventos suspeitos. O que foi inicialmente apresentado como uma ferramenta de vizinhança eficaz logo se tornou uma fonte de conjetura, suspeita e paranoia. A convivência aparentemente tranquila dos moradores de um bairro de ruas brilhantes e casas padronizadas começou a desabar, não só pela Blanca Munt Série Alerta Mira- existência real de roubos, mas Sol, 2019 também pela desintegração © Blanca Munt REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
A exposição reúne quatro projetos que, de uma forma muito pessoal, nos levam a diferentes realidades baseadas na memória do passado ou em 16 aspetos relacionados com a identidade coletiva Carlos del Río Sem título, 1993-1996 © Gael del Río Gael del Río seu fotolivro Evocare foi finalista Com este trabalho, Gael del Série Evocare, 2017 © Gael del Río do DOCfield Dummy Award Río nos oferece um olhar íntimo e 2017. sensível sobre a dor. A revelação of Technology. Aí estudou a Como salienta Luca Bani, do vínculo familiar nos traz disciplina «Architecture After Evocare é a obra prima de Gael conforto e, de certa forma, nos Dark», ministrada pela fotógrafa del Río, « projeto autobiográfico oferece um significado à perda, de arquitetura e paisagem Erieta que nasceu com a morte de entendida como um momento Attali. A partir desse momento, Carlos del Río, pai da autora, crucial da transição geracional. a sua vida pessoal e profissional e pesquisa a relação entre a O seu desejo de traduzir o gira progressivamente de sua própria obra artística e a intangível em imagens a leva direção. Estuda esta disciplina obra gráfica do seu pai. Este, a transcrever emoções através no IInstitut d’Estudis Fotogràfics cirurgião de profissão e ao da câmara, dando origem de Catalunya (IEFC) e na mesmo tempo amante da arte, a fotografias sugestivas e escola Grisart. Hoje se dedica dedicou uma parte importante poéticas, cheias de elementos profissionalmente à fotografia da sua vida à pintura, escultura evocativos. São imagens que arquitetônica, desenvolvendo e gravura. Quando morre no falam de ausência e perda, projetos pessoais que foram final de 2015, a autora recorre à nas quais a centralidade do expostos no Mutuo (Barcelona), fotografia para enfrentar a dor e sujeito fotografado sublinha a no Festival Voies Off (Arles) e no transformar o que sente em algo individualidade e subjetividade Fotofever (Paris), entre outros. O tangível. do projeto. arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
17 Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir Série Obscure Presence, 2018-2020 © Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir A autora nos transporta para o seu mundo interior, composto por objetos dispersos, isolados e solitários, que dialogam com a arte plástica do pai, um compêndio de ideogramas cheios de significados ocultos. Uma conversa entre duas visões pessoais justapostas que sugerem uma ligação formal e conceptual entre duas gerações de artistas. No entanto, qual é a verdadeira essência desta ligação? Até onde vai a ligação que une as duas obras? Nestas questões reside a força do projeto, uma obra que deixa ao observador a tarefa estimulante de descobrir, ou melhor, imaginar as arte, tanto visual como cênica. duendes; na verdade, muitos estão múltiplas interpretações que cada A maioria dos seus projetos são totalmente convencidos de que peça admite, em si mesma ou em sobre o que é ser humano, sonhar, existem. relação aos outros, e que expõe viver, sentir e morrer. Além das O isolamento extremo das ligações que muitas vezes são suas séries pessoais e de projetos pessoas, que vivem em cabanas impalpáveis e difíceis de descrever a longo prazo, o seu trabalho se desde tempos imemoriais, pode num meio como a fotografia». centra no retrato. estar na base das suas experiências Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir A própria autora refere-se ao com o sobrenatural. (Reikiavik, Islândia, 1992) se se seu trabalho, Obscure Presence: Mas como podemos explicar formou na Escola de Fotografia «Vindo de uma pequena e isolada essas crenças hoje? (Ljósmyndaskólinn) em Reikiavik ilha, com clima extremo e Entrevistei islandeses que em 2018. Ali frequentou um curso paisagens que parecem de outro tinham histórias pessoais de Introdução à Fotografia e ficou mundo, nós islandeses temos uma relacionadas com experiências fascinada por esta disciplina. ligação única com o desconhecido. sobrenaturais e usei essas Com grande paixão e interesse Tendemos a acreditar em narrativas como base para as em aprender mais, se mudou fantasmas, duendes e huldufólk minhas imagens. Desde o início do para Barcelona para continuar a (pessoas escondidas), e muitos processo, ficou claro para mim que estudar. No verão de 2019 obteve de nós sentimos uma ligação com a maioria dessas histórias tinha um o mestrado em Fotografia e Design essas criaturas sobrenaturais. tema em comum e uma atmosfera de Elisava, Faculdade de Design De acordo com um estudo semelhante. No meu trabalho e Engenharia de Barcelona. de 2007 do professor de folclore Obscure Presence o meu objetivo é Atualmente vive em Reykjavik e Terry Gunnell, a maioria mostrar estas histórias e criar uma trabalha como fotógrafa. Sempre dos islandeses não descarta série de imagens que sublinhe esta sentiu uma grande paixão pela a existência de fantasmas e atmosfera». REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
Visite nossa edição digital 19 Paolo Gasparini, Campo de imagens TEXTO: ÁREA DE CULTURA DA FUNDACIÓN MAPFRE IMAGENS: © PAOLO GASPARINI De 30 de setembro de 2021 a 16 de janeiro de 2022 você poderá desfrutar da exposição Paolo Gasparini, Campo de Imagens no Centro de Fotografia KBr Fundación MAPFRE (Barcelona). Este artista italiano é o fotógrafo que melhor retratou as tensões e contradições culturais do continente sul-americano. Suas imagens transmitem a dura realidade social que enfrentou uma região cuja autenticidade cultural é inquestionável e onde a tradição passada e local dialogam com uma modernidade imposta desajeitada. Gasparini cria um trabalho com sua própria linguagem visual que sempre parece manifestar uma crítica à sociedade consumidora, ao mesmo tempo em que revela uma certa obsessão com a forma como marketing e publicidade nos seduzem. Suas obras nos permitem compreender não apenas outro, ao qual os diferentes populismos e nacionalismos as diferenças entre a Europa e o continente latino- que o continente sofreu contribuíram. americano, mas as diversidades oferecidas por este O fotógrafo nasceu em Gorizia, Itália, em 1934. último, do México ao sul dos Andes. Como aponta a A fim de fugir do serviço militar, mudou-se para curadora da exposição, María Wills: «As fotografias Caracas em 1954, com uma formação cultural que de Gasparini refletem sobre os efeitos de décadas de incluía um grande conhecimento do neorealismo migrações políticas nos séculos xx e xxi: dos europeus italiano. Na Venezuela já estava parte de sua família, à América, como causa da Segunda Guerra Mundial, que havia emigrado voluntariamente, e, em particular, de cubanos à Espanha e aos Estados Unidos, dos seu irmão Graziano, então já um renomado arquiteto equatorianos à Espanha e, mais recentemente, do êxodo que lhe deu sua primeira câmera aos dezessete anos. em massa dos venezuelanos à Colômbia. Gerações e Começou então uma intensa atividade como fotógrafo gerações marcadas por exilados voluntários e forçados de construções arquitetônicas, enquanto captava só podem nos fazer pensar sobre a ambivalência da imagens dos subúrbios da capital. Logo começou a identidade». trabalhar para projetos da UNESCO, paralelamente Como italiano de nascimento, mas venezuelano em ao seu trabalho mais pessoal, que desenvolveu na essência, o autor tem tentado eliminar com seu trabalho Venezuela e em Cuba. Como resultado deste trabalho, visões etnocêntricas e estereótipos que historicamente o livro Para te ver melhor, América Latina (1972) é definiram a América Latina, quase sempre em função do publicado no México, considerado um dos fotolivros mais emblemáticos da história. Em 1979 foi o primeiro Miliciano, Trinidad, Cuba, 1961 artista latino-americano presente no Les Rencontres Coleções Fundación MAPFRE Internationales de la Photographie de Arlés e, em 1984, © Paolo Gasparini REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
#KBrGasparini 20 Carnaval, La Habana, 1962 Coleções Fundación MAPFRE © Paolo Gasparini que ele revisa sua série ao longo do tempo e cria histórias em que a América Latina dialoga com outras latitudes e mostra como a sociedade de consumo atinge globalmente. A publicação é sobre Gorizia e Caracas, que é como dizer Itália e Venezuela ou o primeiro e terceiro mundo. É composta de setenta fotografias impressas em sangue que conectam realidades de dois mundos aparentemente opostos enfatizando as suas diferenças. om uma nova exposição em Arles, Andata e ritorno (1953-2016) Rostos da Venezuela e Bobare recebeu a medalha de prata de Andata e ritorno é, além da (1956-1960) Les Rencontres. Em 1993 ganhou primeira seção da exposição, Entre 1955 e 1960 Gasparini viaja o Prêmio Nacional de Fotografia o título do fotolivro de Paolo pela Venezuela, primeiro com seu da Venezuela e dois anos depois Gasparini publicado em Caracas irmão Graziano, depois com sua representou seu país na Bienal de pela La Cueva Casa Editorial em esposa, a técnica de laboratório Veneza. 2019. Alude, de forma metafórica, Franca Donda, com quem atravessa Nas últimas duas décadas à forma de trabalho do autor, que a fronteira da Colômbia, atravessa viajou intensamente pela Europa e quebra a temporalidade, uma vez as Cordilheira dos Andes e América Latina completando séries sobre temas previamente abertos e fez inúmeras exposições em torno de suas fotografias e em seus livros, cerca de vinte publicados até hoje. O percurso pela exposição é dividido em dezesseis seções que coletam alguns dos projetos mais relevantes do artista ao longo de mais de seis décadas de trabalho, e enfatiza seus fotolivros, que o artista reconhece como meio de expressão comparável, em importância, às suas fotografias. Companheiro Lenin, Havana, 1963 Coleções Fundación MAPFRE © Paolo Gasparini arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
Como italiano de nascimento, mas venezuelano em essência, o autor tem tentado eliminar com seu trabalho visões etnocêntricas e estereótipos que historicamente definiram 21 a América Latina Na rua, Santiago de Cuba, 1964 Coleções Fundación MAPFRE © Paolo Gasparini percorre as terras do estado de Lara. Documenta o modo de vida dos camponeses nas áreas rurais e na comunidade indígena Wayú. Publica Bobare em 1959, «a vila mais pobre, mais abandonada e miserável do estado de Lara», segundo suas próprias palavras, em suas próprias palavras, sob a influência de um de seus maestros indiscutíveis, Paul Strand, que conheceu na França em 1956. Este primeiro fotolivro de Gasparini é organizado tomando como referência a estrutura de Un paese (1955), pelo próprio Strand. dos habitantes ao presidente da Gasparini no Museu de Belas Artes Um relato de denúncia baseada em República Rómulo Betancourt para de Caracas. retratos individuais e familiares, atender a um povo que vive mal em Entre 1961 e 1965 o autor viaja espaços interiores e fachadas um lugar deserto. Na Venezuela, com Franca para Havana, convidado de casas, bem como textos que Bobare inaugura o tema do ensaio pelo arquiteto Ricardo Porro e descrevem a história da cidade, fotográfico que torna visível a pelo escritor Alejo Carpentier. contada por seus habitantes. pobreza. Em 1961, expôs Rostos da Eles percorrem a cidade e tiram A publicação resume o apelo Venezuela: 50 fotografias de Paolo fotografias da arquitetura colonial e o estilo barroco de Havana, de onde surge a série «Havana, a cidade das colunas» (1961-1963). Lá ele também começa a representar cenas de rua, comícios populares, carnaval e se interessa pelo projeto da escola de artes plásticas da cidade. Compartilha o entusiasmo revolucionário e contribui com o suplemento literário Segunda- feira de Revolução. Trabalha no Conselho Nacional de Cultura e em nome da UNESCO documenta o ambicioso projeto da campanha de Transparência, Cidade Universitária de Caracas, arquitetura de Carlos Raúl Villanueva, 1967-1970 Coleções Fundación MAPFRE © Paolo Gasparini REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
O percurso pela exposição é dividido em dezesseis seções que coletam alguns dos projetos mais relevantes do artista ao longo de mais de seis 22 décadas de trabalho, e enfatiza seus fotolivros, que o artista reconhece como meio de expressão comparável, em importância, às suas fotografias Campanha eleitoral de luxo, Caracas, 1968 Coleções Fundación MAPFRE © Paolo Gasparini diversas ocasiões, sua experiência é evidenciada nesta reflexão: «[…] a Revolução Cubana, em certo momento, significava a utopia, a alternativa, a possibilidade de criação do novo homem e foi fotografada nesse sentido. Foi tomado um rumo que não é o que pensávamos. E isso cria uma grande decepção, amargura e falta de credibilidade». Estudo Caracas (1967-1970) e Karakarakas, democracia e poder alfabetização cubana (1964-1965). como o uso de fades, varreduras de (1967-1970) Durantes esses anos, com o objetivo imagem e a inclusão de pinturas Em sua produção, Gasparini de difundir a Revolução, o cinema e com texto na história, com as articula no enquadramento de a fotografia vivem um momento de quais ele ordena boa parte de suas situações contraditórias, registra esplendor. Gasparini colabora com práxis fotográficas, especialmente imagens dentro das imagens. Às cineastas como Armand Gatti ou audiovisuais, a partir de 1980. vezes ele os monta no laboratório Agnès Varda, de quem extrai alguns Ao longo de sua carreira e os sobrepõe. Ele usa a montagem recursos expressivos e técnicos, Gasparini retorna a Cuba em e a edição como um sistema para produzir ideias, e suas narrativas tentam motivar a ação e atacar consciências. Entre 1968 e 1970, juntou- se à equipe editorial da revista Rocinante, publicada por intelectuais da esquerda venezuelana comprometidas com as causas revolucionárias do mundo. A revista chega em um momento em que a luta armada foi derrotada no país e alguns dos que anteriormente saíram às ruas para protestar começam a trabalhar em instituições estatais Campanha eleitoral, avenida Urdaneta, Caracas, 1968 Coleções Fundación MAPFRE © Paolo Gasparini arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
23 Quarto minguante contaminado, madrugada de 13 de dezembro em frente à Basílica da Virgem de Guadalupe, Cidade do México, 1994 Coleções Fundación MAPFRE © Paolo Gasparini e na universidade. A maioria das nos dois continentes», explica Série «O céu que vemos aqui», questões é ilustrada por Gasparini Gasparini sobre esse projeto. 1971-1992; «Brasília, dois em um», e satiriza políticos, escritores Retromundo (1986) é um 1972-1973 e 2013; «São Paulo, ou companhias petrolíferas. fotolivro no qual, auxiliado pela a morte da aura», 1997, 2013 e Envolvidos com a esquerda palavra poética, o autor estabelece 2015; «Maracaibo, La Guajira e o venezuelana, suas fotografias um diálogo entre o primeiro e petróleo», 1970-2017; «A rua», 1969- também ilustram livros de o terceiro mundo. O primeiro é 1999; e «O faquir da Torre Capriles, conteúdo revolucionário, sobre representado com imagens de Plaza Venezuela, Caracas», 1970 a luta de classes, denúncias anúncios, slogans, pedestres em Em 1978 Gasparini participou de de tortura no país, bem como cidades europeias e americanas Colóquios de Fotografia realizados questões de guerrilha, capitalismo que são refletidas e multiplicadas no México, e mais tarde em e subdesenvolvimento na América nas superfícies translúcidas das Cuba, em 1984. Essas reuniões Latina. vitrines. Na representação do foram o fórum mais importante terceiro mundo não há reflexos em para discussão nesse período. Retromundo (1974-1985) espelhos ou cristais, mas reproduz As palestras trataram de temas «[…] deixei a Europa com um baú cenas de rua, miséria e pobreza, como o papel que o fotógrafo cheio de imagens americanas. aspectos comuns em países deve assumir em relação ao Em uma segunda etapa, volto ao latino-americanos. Assim, opondo contexto em que trabalha, bem primeiro mundo carregado com imagens como se fosse um díptico, como a necessidade de criar um as imagens da realidade latino- Gasparini confirma uma forma projeto visual que mostrasse as americana. É assim Retromundo de fazer isso é frequente em sua contradições que a convivência surge, um fotolivro que não produção. A criação de um discurso da pobreza e da riqueza podem confronta realidades, visa sim ser que cobra sentido em relação a seu produzir, mas sem cair no drama evidência do que está acontecendo contrário. ou no exotismo. REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
24 O olhar sobre o mundo, Los Angeles, 1997 Coleções Fundación MAPFRE © Paolo Gasparini Nesse sentido, o trabalho urbanos construídos do México aos ideia de que a fotografia deve ser um de Gasparini é profundamente pampas argentinos e de Brasília a veículo para denunciar injustiças respeitoso e mostra os aspectos mais Machu Picchu. Além disso, como sociais, um dos objetivos éticos dos difíceis da sociedade, a vida dos o próprio Gasparini aponta: «eu Colóquios mencionados acima. mineiros e camponeses andinos em me esforço para fotografar a vida Uma de suas séries mais séries como «O céu que vemos aqui», dos marginalizados, daqueles reconhecidas é a baseada na Praça mas através de imagens dotadas de que não têm nada, e as grandes Venezuela, em Caracas, coroada pela grande dignidade, como as de mães diferenças que coexistem ao lado Torre Capriles, de 60 mil metros com chapéus que amarram seus desses grandes edifícios». Essas quadrados e uma fachada moderna, filhos com cobertores artesanais após contradições e os efeitos injustos projetada pelo artista Jesús Rafael longos dias de trabalho no Peru. da pós-colonização podem ser Soto. Esse elemento, que transforma Após sua experiência como vistos em séries como «Brasília, o espaço público em arte, torna-se fotógrafo de arquitetura em Caracas, dois em um» (1972-1973 e 2013); uma metáfora para a queda da utopia em 1970, a Unesco o contratou, «São Paulo, a morte da aura» (1997- do progresso. Um morador de rua juntamente com o crítico de arte 2015); «Maracaibo, La Guajira que colocou sua cama no meio da Damián Bayón, para fotografar os e o petróleo» (1970-2017) ou «A passagem daqueles que caminham edifícios pré-colombianos, coloniais rua» (1970-1999). Fotografias que é na verdade o protagonista, e não a e contemporâneos do continente, refletem um projeto visual sólido torre ou sua fachada. a fim de publicá-los junto com a que, como ressalta Sagrario Berti, pesquisa de Bayón (Panorâmica «está longe de ser vitimizado e, México-O Suplicante (1971-2015) da arquitetura latino-americana). pelo contrário, reflete um ambiente Desde 1971, as viagens de Como resultado desse pedido, o hostil, mas bonito em sua poderosa Gasparini ao México têm sido autor pôde fotografar os projetos capacidade de resistir», e apoia a tão frequentes que sua capital arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
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