La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se

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La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se
la fundación
 Revista da Fundación MAPFRE #56
 Setembro 2021
 www.fundacionmapfre.org

Arte Cuide-se

MORANDI. RESSONÂNCIA INFINITA A BATALHA
 DA CARNE
Judith Joy Ross. O retrato da alma
 Comprometidos
PAOLO GASPARINI UM FUTURO
KBr Flama 21 MAIS HUMANO
La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se
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Giorgio Morandi MORANDI. RESONANCIA INFINITA MORANDI. INFINITE RESONANCE
Natura Morta [Naturaleza
 Lugar Location
muerta], 1941
Istituzione Bologna Musei | Sala Fundación MAPFRE Recoletos Fundación MAPFRE Recoletos Exhibition Hall
Museo Morandi Paseo de Recoletos 23, 28004 Madrid Paseo de Recoletos 23, 28004 Madrid
© Giorgio Morandi, VEGAP, Fechas Dates
Madrid, 2021 Del 24/09/2021 al 09/01/2022 From 24/09/2021 to 09/01/2022
 Horario de visitas Visiting hours
 Lunes de 14:00 a 20:00 h. Monday from 2 pm to 8 pm.
 Martes a sábado de 11:00 a 20:00 h. Tuesday to Saturday from 11 am to 8 pm.
 Domingos y festivos de 11:00 a 19:00 h. Sunday/holidays from 11 am to 7 pm.
 Acceso gratuito los lunes Free entry on Mondays

Judith Joy Ross JUDITH JOY ROSS JUDITH JOY ROSS
Sin título, Eurana Park,
 Lugar Location
Weatherly, Pensilvania, 1982
© Judith Joy Ross, courtesy Sala Fundación MAPFRE Recoletos Fundación MAPFRE Recoletos Exhibition Hall
Galerie Thomas Zander, Paseo de Recoletos 23, 28004 Madrid Paseo de Recoletos 23, 28004 Madrid
Cologn Fechas Dates
 Del 24/09/2021 al 09/01/2022 From 24/09/2021 to 09/01/2022
 Horario de visitas Visiting hours
 Lunes de 14:00 a 20:00 h. Martes a sábado de 11:00 Monday from 2 pm to 8 pm. Tuesday to Saturday from
 a 20:00 h. Domingos y festivos de 11:00 a 19:00 h. 11 am to 8 pm. Sunday/holidays from 11 am to 7 pm.
 Acceso gratuito los lunes Free entry on Mondays

Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir KBR FLAMA 21 KBR FLAMA 21
Serie Obscure Presence,
 Lugar Location
2018-2020
© Gunnlöð Jóna KBr Fundación MAPFRE KBr Fundación MAPFRE
Rúnarsdóttir Ronda del Litoral 30, 08005 Barcelona Ronda del Litoral 30, 08005 Barcelona
 Fechas Dates
 Del 30/09/2021 al 16/01/2022 From 30/09/2021 to 16/01/2022
 Horario de visitas Visiting hours
 Lunes cerrado Monday: closed
 Martes a domingo (y festivos) de 11:00 a 19:00 h. Tuesday to Sunday (and holidays) from 11 am to 7 pm.

Paolo Gasparini PAOLO GASPARINI PAOLO GASPARINI
Campaña electoral, avenida
 Lugar Location
Urdaneta, Caracas, 1968
Colecciones Fundación KBr Fundación MAPFRE KBr Fundación MAPFRE
MAPFRE Ronda del Litoral 30, 08005 Barcelona Ronda del Litoral 30, 08005 Barcelona
© Paolo Gasparini Fechas Dates
 Del 30/09/2021 al 16/01/2022 From 30/09/2021 to 16/01/2022
 Horario de visitas Visiting hours
 Lunes cerrado Monday: closed
 Martes a domingo (y festivos) de 11:00 a 19:00 h. Tuesday to Sunday (and holidays) from 11 am to 7 pm.

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La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se
a imagem

Nossa solidariedade com a ilha de La Palma
26.000 máscaras PFF2 e PFF3, 2.000 óculos de proteção exposição cutânea e ocular às cinzas e gases tóxicos das
e 30.000 flaconetes de dose única de colírios fazem emissões vulcânicas causadas pela erupção do vulcão
parte do primeiro pacote de medidas de emergência, Cumbre Vieja na ilha de La Palma (Canárias, Espanha).
no valor de 65.000 euros, que a Fundación MAPFRE Trata-se da primeira ação de um plano de ajuda
Guanarteme ativou para sua distribuição entre a destinado a contribuir para a recuperação pessoal,
população e órgãos de segurança e emergência. O social e econômica das pessoas mais afetadas por esta
objetivo é proteger os cidadãos contra a inalação e a catástrofe natural.

la fundación Revista da Fundación MAPFRE Presidente do Conselho Editorial Ignacio Baeza Diretor Javier Fernández González Edição Direção de Comunicação da MAPFRE
Redação Ctra. de Pozuelo 52. 28222 Majadahonda. Madrid. F 915 815 359. comunicacion@mapfre.com www.fundacionmapfre.org Distribuição Área de Marketing da Fundación MAPFRE. P° de
Recoletos, 23. 28004 Madrid Produção editorial Moonbook SL_ Impressão Gráficas Monterreina. Depósito legal M-26870-2008 ISSN 1888-7813. A publicação desta revista não necessariamente
supõe a concordância da Fundación MAPFRE com o conteúdo dos artigos e trabalhos nela contidos. A reprodução de artigos e notícias é autorizada desde que conte com prévia e expressa autorização
dos editores, e sempre citando sua origem. Capa Giorgio Morandi, Natura morta [Naturaleza muerta], 1956, Collezione Augusto e Francesca Giovanardi, Milán, Photo © Alvise Aspesi, © Giorgio
Morandi, VEGAP, Madrid, 2021

 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — a imagem
La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se
sumário
 IGNACIO HERNANDO EM PRIMEIRA PESSOA

 6
 DE LARRAMENDI

 IGNACIO HERNANDO
 DE LARRAMENDI
 No centenário de seu nascimento nos aproximamos da figura
 deste empresário e grande humanista.

 ARTE

 12
 KBR FLAMA. NOVOS
 ARTISTAS EMERGENTES
 Descubra-os no Centro de Fotografia KBr Fundación
 MAPFRE em Barcelona de 30 de setembro de 2021 a 16 de
 janeiro de 2022.

 GIORGIO MORANDI. O «OFÍCIO DE PINTAR»
 18
 PAOLO GASPARINI.
 CAMPO DE IMAGENS
 De 30 de setembro de 2021 a 16 de janeiro de 2022 no Centro
 de Fotografia KBr Fundación MAPFRE em Barcelona.

 26
 JUDITH JOY ROSS.
 O RETRATO DA ALMA
 De 24 de setembro de 2021 a 9 de janeiro de 2022, na Sala
 Natura morta [Natureza morta], 1928
 Óleo sobre tela, 34,5 × 46,5 cm
 Recoletos, em Madrid.
 Collezione Augusto e Francesca Giovanardi, Milão
 Photo © Alvise Aspesi
 32
 UM FUTURO MAIS HUMANO GIORGIO MORANDI.
 O «OFÍCIO DE PINTAR»
 A exposição sobre o grande mestre italiano pode ser visitada
 de 24 de setembro de 2021 a 9 de janeiro de 2022 em nossa
 Sala Recoletos em Madrid.

 COMPROMETIDOS

 38
 UM FUTURO MAIS HUMANO
 Te contamos os segredos de uma campanha publicitária que visa
 fazer com que nunca nos esqueçamos que não há nada maior
 que ajudar os outros.

sumário — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se
lf #56
42 PROFISSIONAIS E MAIS A BATALHA DA CARNE:
Conversamos com Hugo Martínez Gutiérrez, Chefe de Grupo do UMA GUERRA DE NUANCES
Corpo de Bombeiros de San Blas, Madrid, e presidente da ONG
Bomberos Ayudan.

CUIDE-SE

44
A BATALHA DA CARNE:
UMA GUERRA DE NUANCES
O consumo de carne é hoje o protagonista do debate alimentar.

SEGURANÇA VIÁRIA

 48
 DO INFINITO AO ZERO.
 ASSIM O FIZEMOS. 25 ANOS SALVANDO VIDAS

 Nesta publicação revemos os últimos 25 anos de segurança
 viária na Espanha contados por seus protagonistas.

 52
 25 ANOS SALVANDO VIDAS
 Comemoramos os 25 anos de existência do Instituto
 MAPFRE de Segurança Viária, hoje Área de Prevenção e
 Segurança Viária de Fundación MAPFRE.

58 CULTURA DE SEGUROS

EDUCAÇÃO FINANCEIRA COMO EMPREENDER DEPOIS DOS 50

PARA UMA SOCIEDADE
MAIS PREPARADA
AGEINGNOMICS

62
COMO EMPREENDER
DEPOIS DOS 50
Um guia imprescindível para quem deseja empreender depois
dos 50 anos de idade.

66 VISTO NA REDE

 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — sumário
La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se
6

EM PRIMEIRA PESSOA — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se
7

 O arquiteto do seguro
 moderno
 TEXTO: RAMÓN OLIVER IMAGENS: FUNDACIÓN LARRAMENDI, MAPFRE

É o centenário do nascimento de Ignacio Hernando de Larramendi, o homem
que com sua visão inovadora e um humanismo inabalável revolucionou o mundo
segurador e lançou as bases da atual MAPFRE. Grande humanista, Larramendi
estava à frente de seu tempo, introduzindo elementos inovadores ao setor, como a
informatização do trabalho, a medição do desempenho e a figura do defensor do
segurado. Motivados pela celebração de seu centenário, valorizamos a dimensão
cultural, empresarial e histórica do legado deste grande humanista e promotor da
cultura.

Em 1955, um jovem inspetor de seguros abandonou a 1990. Tempo durante o qual transformou completamente
Administração Pública para embarcar numa aventura a empresa desde suas fundações, levando-a a um modelo
empresarial que muitos (dizem que seus próprios colegas muito mais moderno e evoluído, inspirado em suas
da Direção-geral de Seguros lhe deram os pêsames ao visitas ao Reino Unido e com algumas ideias importadas
ouvir a notícia) consideraram insana: resgatar uma e adaptadas da icônica Lloyd Company. Incluído na lista
pequena empresa à beira da insolvência. Mas Ignacio dos 100 grandes empresários espanhóis do século XX,
Hernando de Larramendi (Madrid, 1921-Madrid, 2001), seu instinto empreendedor, sua audácia e sua capacidade
então com 34 anos, não era do tipo que se esquivava do de gerenciar equipes e lidar com pessoas o levaram a ser
impossível. Hoje esta pequena empresa é a multinacional considerado o grande arquiteto do seguro moderno na
espanhola líder no setor, está presente em mais de 40 Espanha.
países, com 12.500 escritórios, 34.000 funcionários, uma Sob sua batuta, a MAPFRE empreendeu uma
rede de colaboração de 86.000 agentes e suas ações estão profunda reorganização interna que teve que começar
listadas no IBEX-35 e no Dow Jones. retirando a empresa da iminente falência. No ano
 Mas, acima de todos esses números, a MAPFRE é anterior à sua entrada na companhia (foi contratado
uma seguradora que entendeu que sua missão no mundo pelo histórico presidente da entidade, Dionisio Martín
não é apenas oferecer soluções de proteção e seguro, mas Sanz, também nomeado para o cargo nesse mesmo
que, além desse objetivo, sua razão de ser é contribuir ano), a Mutualidad de la Agrupación de Propietarios
para fazer deste mundo um lugar melhor. E esse legado, de Fincas Rústicas de España, como a MAPFRE era
essa forma de pensar e agir que a empresa leva em seu conhecida na época, apresentava perdas de entre 2 e 3,5
DNA, se deve em grande parte a Ignacio Larramendi. milhões de pesetas. Sistemas antiquados e ineficazes
 e uma aposta errônea nos seguros públicos de saúde,
Uma MAPFRE moderna e operacional muito deficitários devido aos baixos salários e à alta
Larramendi ocupou as responsabilidades máximas da mortalidade dos trabalhadores agrícolas, levaram a
MAPFRE durante 35 anos, até sua aposentadoria em empresa a uma situação mais do que comprometida.

 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — EM PRIMEIRA PESSOA
La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se
8

Primeiros anos compras de imóveis para montar
Reduzir a dívida tornou-se sua Sob sua direção, a seus escritórios. Desta forma, as
primeira prioridade. Para isso,
passou por uma etapa de duros
 MAPFRE iniciou vendas diretas foram fortemente
 dinamizadas e o atendimento
reajustes, com demissões e cortes uma trajetória de ao cliente também melhorou,
de gastos, inclusive de seu próprio
salário, que reduziu em 40%. Assim
 descentralização, elementos que tiveram um efeito
 imediato no crescimento da
começou um tipo de liderança pelo modernização empresa.
exemplo que se tornou um de seus e expansão A internacionalização, que
grandes diferenciais ao longo de começou a se desenvolver com
sua carreira. internacional força em meados da década
 Depois de muitas adversidades que lhe permitiu de 1980, coincidindo com a
e «dribles» extremos com a
suspensão de pagamentos, a
 crescer e se tornar conquista da liderança do Grupo
 em seu setor, foi outra das
situação financeira da empresa se a líder do setor grandes apostas do empresário.
estabilizou e chegou a uma nova
fase de recuperação e reativação
 de seguros na Larramendi estava convencido
 de que, se quisesse continuar
do negócio. Larramendi iniciou Espanha crescendo, a MAPFRE teria de
então um processo de otimização cruzar as fronteiras da Espanha,
de processos com o qual buscava já que esse desenvolvimento
reduzir as ineficiências e aumentar pode ser mais certeira do que a de se baseava na otimização de
a qualidade. Entre as medidas mais um inteligente a 500 quilômetros processos e no aproveitamento
proeminentes desses primeiros de distância», como ele costumava de economias de escala. Ir
anos está o redesenho de um dizer) da empresa apoiado para o exterior era, no entanto,
portfólio diversificado de produtos pelas diretorias regionais e uma um movimento arriscado,
para priorizar os seguros mais extensa rede territorial de filiais desnecessário na opinião de
lucrativos. Um caminho que mais com equipes próprias e gestores muitos de seus colaboradores
tarde levaria a MAPFRE a se firmar dotados de grande autonomia. próximos, mas ele achava que
em setores nos quais carecia de Para isso, Larramendi refugiou- certo risco é inerente a qualquer
experiência, como o de Automóvel, se na tradição rural da empresa, empreendimento comercial.
e a modernizar outros até torná- abrindo escritórios em pequenas
los lucrativos, como o setor de localidades que não chamavam Inovação como bandeira
Vida. Posteriormente, Larramendi a atenção dos concorrentes e, a Outra forma à qual recorreu
introduziu novidades muito partir daí, deu início a expansão às para reduzir custos e crescer foi
marcantes, focadas no cliente, como grandes cidades. Uma estratégia aumentar a eficiência por meio
um conceito de seguro-serviço que que ele imitou da rede de de uma rígida padronização de
transcendia a mera indenização supermercados norte-americana processos e medição de resultados,
financeira em caso de sinistro ou a Wal-Mart. para os quais utilizou todos os
figura do defensor do segurado. Uma política até então sem tipos de indicadores. A tecnificação
 precedentes de aquisições para aumentar a qualidade do
Expansão nacional e internacional imobiliárias foi outra das serviço e a rentabilidade foi outra
Também neste período iniciou- contribuições deste visionário. constante durante sua direção.
se um processo progressivo de Assim que a situação econômica Curioso incorrigível, Larramendi
descentralização («a decisão de da companhia o permitiu, a era apaixonado por tecnologia
um medíocre próximo de um fato MAPFRE iniciou uma série de e não hesitava em incorporar às

EM PRIMEIRA PESSOA — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se
Grande humanista, Larramendi foi um precursor da
Responsabilidade Social Corporativa por meio de uma infinidade
de atividades para promover a cultura, a história e a medicina 9

operações da empresa todas as muito nova na época e que rendeu ousar cometer erros. Grande
inovações técnicas disponíveis no piadas de seus concorrentes, comunicador, exerceu enorme
mercado, desde que acreditasse que rebatizaram essa MAPFRE influência sobre seus colaboradores
que estas poderiam melhorar seus rejuvenescida como a «cidade dos e modernizou a gestão de pessoas
processos. meninos». da MAPFRE com medidas que
 Mas a política de Larramendi priorizavam a meritocracia e a
A cidade dos meninos não foi tão equivocada assim («cada promoção interna e que acabaram
Uma das grandes características mensageiro tem em sua mochila com vícios ancestrais do setor como
desse diretor icônico foi sua um bastão de marechal», era outra o nepotismo.
capacidade de liderar equipes e de suas frases favoritas), já que
lidar com pessoas. Carismático e muitos desses jovens imberbes são Precursor da RSC
grande motivador, ele acreditava hoje altos executivos da MAPFRE Dotado de um profundo sentido
firmemente no talento e na e de outras grandes empresas. de serviço público, Larramendi
responsabilidade pessoal. Ele Larramendi jogou seus jovens rejeitava um capitalismo baseado
revolucionou os sistemas de colaboradores no ringue, sim. exclusivamente no lucro puro,
recrutamento e seleção da entidade Mas antes disso, os capacitou com convencido de que toda instituição
ao incorporar um grande número uma sólida política de formação que administra um grande
de jovens universitários sem contínua que lhes permitiu patrimônio tem a obrigação de
experiência, mas com grande enfrentar qualquer desafio, além devolver parte dele à sociedade e,
potencial, aos quais quase de uma confiança ilimitada que principalmente, aos seus clientes.
que imediatamente confiou lhes motivava a sair do ataque Desta forma, e somente desta
responsabilidades. Uma estratégia com louvor para se atrever e forma, a empresa pode cumprir

 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — EM PRIMEIRA PESSOA
La fundación - A BATALHA DA CARNE Cuide-se
10

uma missão social contribuindo anualmente pela Fundación
para o bem comum e para os Decálogo MAPFRE, sendo hoje uma
interesses gerais da Espanha.
 Ele soube transferir essas
 de Larramendi referência internacional em seu
 campo.
premissas para sua organização para o sucesso
por meio de múltiplas atividades 100 anos desde seu nascimento
de mecenato e ação social. Com ele,
cultura, história, pesquisa médica
 1. Carlista, católico, advogado,
 É essencial ser ético escritor, editor e amante da cultura,
e uma infinidade de atividades para ser lucrativo. os que tiveram a sorte de colaborar
alheias ao puro negócio dos seguros com ele o descrevem como um
passaram a fazer parte da essência 2. humanista brilhante, humilde,
da MAPFRE. Para desenvolver esta Deve-se ser austero nos gastos. empreendedor, tolerante, social,
intensa atividade, criou ao longo honesto, com grande senso ético e
do tempo uma série de Fundações, 3. capacidade infinita para o trabalho.
duas das mais emblemáticas foram Deve-se sempre dizer a verdade. Uma figura essencial na história
a Fundación MAPFRE (1975) e a empresarial da Espanha, cuja
Fundación Ignacio Larramendi 4. influência transcendeu o âmbito
(1986), à qual se dedicou de corpo e Não se deve trapacear na economia da MAPFRE, marcando até hoje a
alma depois de se aposentar em 1990. nem com o Ministério da Fazenda. história de todo o setor.
 Para comemorar os 100 anos
Dimensão cultural e histórica 5. do nascimento deste empresário e
Nessa faceta humanística e de Deve-se ser sério no trabalho. pessoa excepcional, ao longo deste
mecenato é possivelmente onde ano de 2021, vários eventos foram
mais desfrutava de sua atividade. 6. e serão realizados em torno de sua
Americanista convicto, Larramendi Deve-se manter a equidade figura e seus projetos, relacionados
professou um amor reverente nas decisões. à recuperação e divulgação da
pelo continente americano, a nossa história.
cujas relações fraternas com a 7.
Espanha dedicou grande parte Deve-se manter grande
de sua obra desde as Fundações. transparência com os funcionários
 e clientes.
Nela se destacam as «Coleções
MAPFRE 1942» (alojadas nas
Bibliotecas virtuais de Polígrafos), 8.
 Deve-se ser muito objetivo na hora
a série de 245 volumes elaborada
 de julgar e avaliar uma situação.
por especialistas de renome
que se dedicaram a analisar em
profundidade e sob todos os 9.
 Sempre se deve dar a cara a tapa
ângulos o que supôs a descoberta diante das dificuldades, é preciso ser
do novo mundo. Desde sua empresarialmente valente.
dimensão fundacional, Larramendi
também apoiou de forma decisiva
a pesquisa médica por meio de
 10.
 Deve-se ter um grande respeito,
iniciativas como a criação das especialmente pela força Parte da documentação deste artigo foi extraída do livro

Bolsas e Ajudas à Pesquisa Ignacio de trabalho. Larramendi. O arquiteto do seguro moderno: MAPFRE...
 e do humanismo nos negócios e na vida, uma obra dirigi-
de Larramendi, que são outorgadas da por Javier Morillas.

EM PRIMEIRA PESSOA — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
Uma figura essencial na história empresarial da Espanha, cuja
influência transcendeu o âmbito da MAPFRE, marcando até
hoje a história de todo o setor 11

Luis Hernando de Larramendi,
atual presidente da Fundação
Ignacio Larramendi, é o principal
responsável por manter o espírito
que move os valores desta
instituição.

«O principal legado do
meu pai é o desejo de
trabalhar para o bem
comum»
O que você absorveu do legado de seu pai?
A aspiração inalienável de fazer as coisas não por simples
egoísmo, mas pelo bem comum. Ele queria passar a vida
fazendo coisas que reverteriam em benefício da sociedade no
futuro e que permanecessem em pé quando ele partisse.
Ele foi o grande arquiteto do seguro moderno na Espanha,
quais foram suas principais contribuições para o setor?
Na década de 1950, o seguro na Espanha era um mundo
muito estruturado e organizado em torno do status quo
das seguradoras, não do segurado, a tal ponto que muitas
vezes parecia que ia contra os interesses do cliente. Meu pai
rompeu com tudo isso. Ele concebe o seguro como um serviço
público cujo verdadeiro sentido é servir a quem o contrata,
com o menor custo possível, prestando assim um serviço à
sociedade.
É possível dizer que ele foi um homem à frente de seu
tempo?
 ou essa capacidade de delegar, que era imprópria naquela
Com certeza. Ele tinha uma grande capacidade de ver para época. Ele acreditava muito em dar a cada pessoa uma
onde o futuro estava se movendo e antecipou muitos dos pequena parcela de responsabilidade, que cada funcionário
elementos que estão totalmente estabelecidos no mundo respondesse a partir de sua própria demonstração de
dos seguros hoje em dia. Por exemplo, nas décadas de 50 e resultados e não fosse um simples número que executa
60 poucos impostos eram pagos, as empresas tinham caixa ordens.
dois. Ele previu o que veio a ser a auditoria, a autorregulação,
a transparência, a necessidade de contar com um forte apoio O que o seguro espanhol deve à Ignacio Larramendi?
financeiro bancário. Também introduziu a figura do defensor O mundo segurador espanhol não poderia ter completado o
do segurado 30 anos antes de sua criação. processo de transformação que se seguiu sem a liderança da
Como era seu estilo de liderança? MAPFRE, e a MAPFRE não seria o que é hoje sem o esforço,
 a tenacidade, a inteligência e o senso de antecipação de meu
Ele não tinha medo de dizer que algo que sempre funcionou já pai. O que meu pai faria hoje? Impossível saber, mas o certo é
não funcionava mais. Ele tomou decisões muito polêmicas e que seria algo inovador.
arriscadas, como o processo de descentralização da empresa,

 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — EM PRIMEIRA PESSOA
Laura Gálvez-Rhein
Série Ex-Libris, 2018-2019
© Laura Gálvez-Rhein

arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
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 edição digital

 13

 KBr Flama.
 Novas artistas emergentes
 TEXTO: ÁREA DE CULTURA DA FUNDACIÓN MAPFRE
 IMAGENS: LAURA GÁLVEZ-RHEIN, BLANCA MUNT, GAEL DEL RÍO Y GUNNLÖÐ JÓNA RÚNARSDÓTTIR

De 30 de setembro de 2021 a 16 de janeiro de 2022 você poderá desfrutar da
exposição KBr Flama 21, no Centro de Fotografia KBr Fundación MAPFRE
(Barcelona). KBr Flama 21 é um projeto que nasceu com o objetivo de apoiar a criação
emergente e as novas gerações de fotógrafos que iniciam a sua carreira profissional
depois de terem estudado em escolas de fotografia em Barcelona.

Nesta primeira edição, a Fundación MAPFRE e as suas próprias fotografias. Laura Gálvez-Rhein, no
colaborou com quatro instituições de Barcelona seu encontro com o trauma do seu avô Wolfgang, liga
empenhadas com o ensino e com os estudos de ao seu trabalho, num exercício de memória histórica, à
fotografia: Grisart, Idep Barcelona, IEFC e Elisava, memória das crianças de guerra alemãs (Kriegskinder)
Faculdade de Desenho e Engenharia de Barcelona. e à vida do seu parente.
Como resultado do interesse mútuo em oferecer um No segundo caso, Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir
ambiente de visibilidade e oportunidade para artistas e Blanca Munt olham para estas histórias coletivas
emergentes, surgiu a ideia de organizar uma exposição que compõem uma realidade e identidades locais.
anual com os alunos das diferentes escolas. A primeira mergulha na crença popular dos
 Laura Gálvez-Rhein (Frankfurt am Main, islandeses em fantasmas, duendes e huldufólk
1998), Blanca Munt (Barcelona, 1997), Gael del Río (pessoas escondidas), para compor um retrato
(Barcelona, 1990) y Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir sonhador, multifacetado e contemporâneo do seu
(Reikiavik, 1992) são os quatro fotógrafas selecionadas país. Por seu lado, Munt dirige o seu olhar para
para esta exposição inaugural. Os seus projetos foram a realidade quotidiana do seu bairro, com um
escolhidos através de um processo de visualização de interesse antropológico e não fotográfico e revela
trabalhos por alunos das referidas escolas, realizadas alguns dos mecanismos que identificam a sociedade
pelos seguintes profissionais de fotografia: Marta Gili, contemporânea, marcados pelo controle e pelo medo.
Sergio Mah, Ramón Reverté e Arianna Rinaldo. Laura Gálvez-Rhein licenciou-se em fotografia no
 A exposição reúne quatro projetos que, de uma Institut d’Estudis Fotogràfics de Catalunya em 2019
forma muito pessoal, nos levam a diferentes realidades e especializou-se em Criação e Reflexão Fotográfica
baseadas na memória do passado ou em aspetos no mesmo centro. Realizou também um curso de
relacionados com a identidade coletiva. Documentário e Fotojornalismo na Universidade de
 No primeiro caso, Gael del Río e Laura Gálvez- Arte e Ciências Aplicadas Hannover (Hochschule
Rhein encontram em figuras de família (pai e avô, Hannover).
respectivamente) uma razão para desvendar as Atualmente explora temas focados no
suas histórias pessoais. Gael del Río apresenta o seu autoconhecimento e na introdução de novas técnicas,
processo de luto pela ausência do pai através de uma para os quais se baseia na mutação da perceção e do
combinação subtil e subjetiva entre as gravuras do pai material, interesses que deram origem aos projetos

 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
#KBrFlama21

 14

 Laura Gálvez-Rhein
 Série Ex-Libris, 2018-2019
 © Laura Gálvez-Rhein

Parasomnia (2017-2019) y Depois de abandonar a sua muito triste. Não parámos muito
Metasomnia, those which were good formação como jesuíta, iniciou em casa, jogámos nas ruínas.
failed too (2019). a sua carreira como professor Tinha um lugar onde estudava
 No campo do documentário, alemão em vários destinos.Agora um pouco, mas em casa não havia
trabalha na questão social com aposentado, continua a ensinar lugar. Não tenho muitas memórias
uma abordagem antropológica, refugiados como voluntário. desse tempo. Durante as férias fui
com especial interesse pela Ex-Libris explora, através da trabalhar nos campos. Durante
identidade e memórias individuais, collage fotográfica, a complexidade a guerra fomos enviados para a
coletivas e históricas. Sua da memória, o esquecimento e o Polônia para viver com outras
abordagem emocional de tudo encontro com o trauma. Durante famílias com crianças. Sempre a
o que lida às vezes o afasta o processo criativo, a autora minha mãe com os quatro filhos.
dos preceitos acadêmicos da trabalhou com o arquivo familiar O meu pai tinha um açougue,
reportagem e da fotografia e com material do Bundesarchiv mas quando eu nasci, perdeu
documental. Vive a imagem como (Arquivo Nacional Alemão), e tudo. Depois já não importava,
uma ferramenta para se expressar fez um relato do dia-a-dia de porque a guerra teria destruído de
livremente, de formas infinitas e Wolfgang, que representa a qualquer maneira. Logo trabalhou
em combinações infinitas. geração dos Kriegskinder (filhos da na ferrovia. Tinha que ir de trem
 O trabalho que apresenta hoje, guerra), silenciados pela cultura até a Polônia para transportar as
Ex-Libris, é uma série documental da memória alemã. Estas são parte pessoas. Era muito difícil, estava
sobre a biografia de Wolfgang F. das suas memórias, expressas por sempre sozinho. Sempre tivemos
O. Rhein (nascido em Berlim em si mesmo: o sonho de lhe comprar um carro,
1937), avô da fotógrafa. Wolfgang «Eu era pobre. Morava mas ele morreu muito jovem».
mora em Steinbach (Taunus), numa cidade cuma cidade Blanca Munt (Barcelona,
perto de Frankfurt am Main. completamente destruída, numa 1997) licenciou-se em Fotografia
Teve uma infância e adolescência rua perto da grande Avenida na Idep Barcelona em 2020.
praticamente inexistentes e uma Stalin (Stalinallee). Tudo foi Considera que a melhor forma de
vida adulta focada no trabalho. completamente destruído. Foi transmitir a sua capacidade de

arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
Como resultado do interesse mútuo em oferecer um ambiente
de visibilidade e oportunidade para artistas emergentes, surgiu
a ideia de organizar uma exposição anual com os alunos das 15
diferentes escolas

criar e contar histórias é através absoluta da ideia de comunidade aos nossos próprios medos e
da fusão de design, fotografia e quando o que está em jogo é a contradições. Nas suas próprias
vídeo. Ela interessa-se por temas segurança individual: deixaria de palavras, Blanca Munt propõe em
como residência, arquitetura, ser apenas suspeito aqueles que Alerta Mira-Sol uma «reflexão
periferia, paisagem, retrato e fossem avistados nas imediações sobre a tensão entre o privilégio
sociedade. A pesquisa sobre a pela sua aparência ou atitude, de viver num lugar pacífico e
cultura do medo e da paranóia mas qualquer vizinho que não o constante sentido de ameaça
levou a realizar o projeto Alerta cumprisse fielmente a missão do latente como parte da cultura
Mira-Sol (2020), publicado como grupo. As fotografias de Alerta atual do medo».
fotolivro na editora Dalpine, Mira-Sol estão entrelaçadas com Gael del Río (Barcelona,
depois de ganhar o Prêmio Fiebre outras fontes de informações e 1990) obteve uma licenciatura
Photobook Dummy (2020). O as imagens mentais que geramos em Arquitetura pela Escola
seu projeto Sòl i Sostre (2021) foi à medida que conhecemos os Técnica Superior de Arquitetura
exibido no 7º festival Mirades de pontos de vista interessados de de Barcelona em 2015.
fotografia del Bajo Ampurdán. cada um dos protagonistas desta Descobriu a fotografia na reta
Trabalhou como assistente da paisagem – vizinhos, suspeitos, final da faculdade, durante
fotógrafa Tanit Plana, com quem polícias, administradores locais o seu ano de intercâmbio no
participou no projeto deste último – e que apelam plenamente Royal Melbourne Institute
Púber exposto no Centro de la
Imagen La Virreina, Barcelona
(2020). Atualmente trabalha
como curadora em conjunto com
Borja Ballbé na plataforma digital
Panorama, onde publica projetos
artísticos que abordam questões
relacionadas com a paisagem e o
território.
 Fosi Vegue escreve sobre a
obra Alerta Mira-Sol: «Em 2019 a
fotógrafa Blanca Munt participou
num chat de bairro criado para
monitorizar o seu bairro e alertar
dos possíveis assaltos a casas ou
outros eventos suspeitos. O que
foi inicialmente apresentado
como uma ferramenta de
vizinhança eficaz logo se tornou
uma fonte de conjetura, suspeita
e paranoia. A convivência
aparentemente tranquila dos
moradores de um bairro de ruas
brilhantes e casas padronizadas
começou a desabar, não só pela Blanca Munt
 Série Alerta Mira-
existência real de roubos, mas Sol, 2019
também pela desintegração © Blanca Munt

 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
A exposição reúne quatro projetos que, de uma forma muito pessoal, nos
 levam a diferentes realidades baseadas na memória do passado ou em
 16 aspetos relacionados com a identidade coletiva

 Carlos del Río
 Sem título, 1993-1996
 © Gael del Río

Gael del Río seu fotolivro Evocare foi finalista Com este trabalho, Gael del
Série Evocare, 2017
© Gael del Río
 do DOCfield Dummy Award Río nos oferece um olhar íntimo e
 2017. sensível sobre a dor. A revelação
of Technology. Aí estudou a Como salienta Luca Bani, do vínculo familiar nos traz
disciplina «Architecture After Evocare é a obra prima de Gael conforto e, de certa forma, nos
Dark», ministrada pela fotógrafa del Río, « projeto autobiográfico oferece um significado à perda,
de arquitetura e paisagem Erieta que nasceu com a morte de entendida como um momento
Attali. A partir desse momento, Carlos del Río, pai da autora, crucial da transição geracional.
a sua vida pessoal e profissional e pesquisa a relação entre a O seu desejo de traduzir o
gira progressivamente de sua própria obra artística e a intangível em imagens a leva
direção. Estuda esta disciplina obra gráfica do seu pai. Este, a transcrever emoções através
no IInstitut d’Estudis Fotogràfics cirurgião de profissão e ao da câmara, dando origem
de Catalunya (IEFC) e na mesmo tempo amante da arte, a fotografias sugestivas e
escola Grisart. Hoje se dedica dedicou uma parte importante poéticas, cheias de elementos
profissionalmente à fotografia da sua vida à pintura, escultura evocativos. São imagens que
arquitetônica, desenvolvendo e gravura. Quando morre no falam de ausência e perda,
projetos pessoais que foram final de 2015, a autora recorre à nas quais a centralidade do
expostos no Mutuo (Barcelona), fotografia para enfrentar a dor e sujeito fotografado sublinha a
no Festival Voies Off (Arles) e no transformar o que sente em algo individualidade e subjetividade
Fotofever (Paris), entre outros. O tangível. do projeto.

arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
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 Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir
 Série Obscure Presence, 2018-2020
 © Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir

 A autora nos transporta para
o seu mundo interior, composto
por objetos dispersos, isolados e
solitários, que dialogam com a arte
plástica do pai, um compêndio de
ideogramas cheios de significados
ocultos. Uma conversa entre duas
visões pessoais justapostas que
sugerem uma ligação formal e
conceptual entre duas gerações de
artistas.
 No entanto, qual é a verdadeira
essência desta ligação? Até onde
vai a ligação que une as duas
obras?
 Nestas questões reside a força
do projeto, uma obra que deixa ao
observador a tarefa estimulante de
descobrir, ou melhor, imaginar as arte, tanto visual como cênica. duendes; na verdade, muitos estão
múltiplas interpretações que cada A maioria dos seus projetos são totalmente convencidos de que
peça admite, em si mesma ou em sobre o que é ser humano, sonhar, existem.
relação aos outros, e que expõe viver, sentir e morrer. Além das O isolamento extremo das
ligações que muitas vezes são suas séries pessoais e de projetos pessoas, que vivem em cabanas
impalpáveis e difíceis de descrever a longo prazo, o seu trabalho se desde tempos imemoriais, pode
num meio como a fotografia». centra no retrato. estar na base das suas experiências
 Gunnlöð Jóna Rúnarsdóttir A própria autora refere-se ao com o sobrenatural.
(Reikiavik, Islândia, 1992) se se seu trabalho, Obscure Presence: Mas como podemos explicar
formou na Escola de Fotografia «Vindo de uma pequena e isolada essas crenças hoje?
(Ljósmyndaskólinn) em Reikiavik ilha, com clima extremo e Entrevistei islandeses que
em 2018. Ali frequentou um curso paisagens que parecem de outro tinham histórias pessoais
de Introdução à Fotografia e ficou mundo, nós islandeses temos uma relacionadas com experiências
fascinada por esta disciplina. ligação única com o desconhecido. sobrenaturais e usei essas
Com grande paixão e interesse Tendemos a acreditar em narrativas como base para as
em aprender mais, se mudou fantasmas, duendes e huldufólk minhas imagens. Desde o início do
para Barcelona para continuar a (pessoas escondidas), e muitos processo, ficou claro para mim que
estudar. No verão de 2019 obteve de nós sentimos uma ligação com a maioria dessas histórias tinha um
o mestrado em Fotografia e Design essas criaturas sobrenaturais. tema em comum e uma atmosfera
de Elisava, Faculdade de Design De acordo com um estudo semelhante. No meu trabalho
e Engenharia de Barcelona. de 2007 do professor de folclore Obscure Presence o meu objetivo é
Atualmente vive em Reykjavik e Terry Gunnell, a maioria mostrar estas histórias e criar uma
trabalha como fotógrafa. Sempre dos islandeses não descarta série de imagens que sublinhe esta
sentiu uma grande paixão pela a existência de fantasmas e atmosfera».

 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
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 Paolo Gasparini,
 Campo de imagens
 TEXTO: ÁREA DE CULTURA DA FUNDACIÓN MAPFRE IMAGENS: © PAOLO GASPARINI

De 30 de setembro de 2021 a 16 de janeiro de 2022 você poderá desfrutar da
exposição Paolo Gasparini, Campo de Imagens no Centro de Fotografia KBr
Fundación MAPFRE (Barcelona). Este artista italiano é o fotógrafo que melhor
retratou as tensões e contradições culturais do continente sul-americano. Suas
imagens transmitem a dura realidade social que enfrentou uma região cuja
autenticidade cultural é inquestionável e onde a tradição passada e local dialogam
com uma modernidade imposta desajeitada. Gasparini cria um trabalho com sua
própria linguagem visual que sempre parece manifestar uma crítica à sociedade
consumidora, ao mesmo tempo em que revela uma certa obsessão com a forma como
marketing e publicidade nos seduzem.

Suas obras nos permitem compreender não apenas outro, ao qual os diferentes populismos e nacionalismos
as diferenças entre a Europa e o continente latino- que o continente sofreu contribuíram.
americano, mas as diversidades oferecidas por este O fotógrafo nasceu em Gorizia, Itália, em 1934.
último, do México ao sul dos Andes. Como aponta a A fim de fugir do serviço militar, mudou-se para
curadora da exposição, María Wills: «As fotografias Caracas em 1954, com uma formação cultural que
de Gasparini refletem sobre os efeitos de décadas de incluía um grande conhecimento do neorealismo
migrações políticas nos séculos xx e xxi: dos europeus italiano. Na Venezuela já estava parte de sua família,
à América, como causa da Segunda Guerra Mundial, que havia emigrado voluntariamente, e, em particular,
de cubanos à Espanha e aos Estados Unidos, dos seu irmão Graziano, então já um renomado arquiteto
equatorianos à Espanha e, mais recentemente, do êxodo que lhe deu sua primeira câmera aos dezessete anos.
em massa dos venezuelanos à Colômbia. Gerações e Começou então uma intensa atividade como fotógrafo
gerações marcadas por exilados voluntários e forçados de construções arquitetônicas, enquanto captava
só podem nos fazer pensar sobre a ambivalência da imagens dos subúrbios da capital. Logo começou a
identidade». trabalhar para projetos da UNESCO, paralelamente
 Como italiano de nascimento, mas venezuelano em ao seu trabalho mais pessoal, que desenvolveu na
essência, o autor tem tentado eliminar com seu trabalho Venezuela e em Cuba. Como resultado deste trabalho,
visões etnocêntricas e estereótipos que historicamente o livro Para te ver melhor, América Latina (1972) é
definiram a América Latina, quase sempre em função do publicado no México, considerado um dos fotolivros
 mais emblemáticos da história. Em 1979 foi o primeiro
Miliciano, Trinidad, Cuba, 1961
 artista latino-americano presente no Les Rencontres
Coleções Fundación MAPFRE Internationales de la Photographie de Arlés e, em 1984,
© Paolo Gasparini

 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
#KBrGasparini

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 Carnaval, La Habana, 1962
 Coleções Fundación MAPFRE
 © Paolo Gasparini

 que ele revisa sua série ao longo
 do tempo e cria histórias em que a
 América Latina dialoga com outras
 latitudes e mostra como a sociedade
 de consumo atinge globalmente.
 A publicação é sobre Gorizia e
 Caracas, que é como dizer Itália e
 Venezuela ou o primeiro e terceiro
 mundo. É composta de setenta
 fotografias impressas em sangue
 que conectam realidades de dois
 mundos aparentemente opostos
 enfatizando as suas diferenças.

om uma nova exposição em Arles, Andata e ritorno (1953-2016) Rostos da Venezuela e Bobare
recebeu a medalha de prata de Andata e ritorno é, além da (1956-1960)
Les Rencontres. Em 1993 ganhou primeira seção da exposição, Entre 1955 e 1960 Gasparini viaja
o Prêmio Nacional de Fotografia o título do fotolivro de Paolo pela Venezuela, primeiro com seu
da Venezuela e dois anos depois Gasparini publicado em Caracas irmão Graziano, depois com sua
representou seu país na Bienal de pela La Cueva Casa Editorial em esposa, a técnica de laboratório
Veneza. 2019. Alude, de forma metafórica, Franca Donda, com quem atravessa
 Nas últimas duas décadas à forma de trabalho do autor, que a fronteira da Colômbia, atravessa
viajou intensamente pela Europa e quebra a temporalidade, uma vez as Cordilheira dos Andes e
América Latina completando séries
sobre temas previamente abertos e
fez inúmeras exposições em torno
de suas fotografias e em seus livros,
cerca de vinte publicados até hoje.
 O percurso pela exposição é
dividido em dezesseis seções que
coletam alguns dos projetos mais
relevantes do artista ao longo de
mais de seis décadas de trabalho,
e enfatiza seus fotolivros, que
o artista reconhece como meio
de expressão comparável, em
importância, às suas fotografias.

 Companheiro Lenin, Havana, 1963
 Coleções Fundación MAPFRE
 © Paolo Gasparini

arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
Como italiano de nascimento, mas venezuelano em essência,
o autor tem tentado eliminar com seu trabalho visões
etnocêntricas e estereótipos que historicamente definiram 21
a América Latina

 Na rua, Santiago de Cuba, 1964
 Coleções Fundación MAPFRE
 © Paolo Gasparini

percorre as terras do estado de
Lara. Documenta o modo de vida
dos camponeses nas áreas rurais
e na comunidade indígena Wayú.
Publica Bobare em 1959, «a vila
mais pobre, mais abandonada e
miserável do estado de Lara»,
segundo suas próprias palavras,
em suas próprias palavras, sob a
influência de um de seus maestros
indiscutíveis, Paul Strand, que
conheceu na França em 1956.
 Este primeiro fotolivro de
Gasparini é organizado tomando
como referência a estrutura de Un
paese (1955), pelo próprio Strand. dos habitantes ao presidente da Gasparini no Museu de Belas Artes
Um relato de denúncia baseada em República Rómulo Betancourt para de Caracas.
retratos individuais e familiares, atender a um povo que vive mal em Entre 1961 e 1965 o autor viaja
espaços interiores e fachadas um lugar deserto. Na Venezuela, com Franca para Havana, convidado
de casas, bem como textos que Bobare inaugura o tema do ensaio pelo arquiteto Ricardo Porro e
descrevem a história da cidade, fotográfico que torna visível a pelo escritor Alejo Carpentier.
contada por seus habitantes. pobreza. Em 1961, expôs Rostos da Eles percorrem a cidade e tiram
A publicação resume o apelo Venezuela: 50 fotografias de Paolo fotografias da arquitetura colonial e
 o estilo barroco de Havana, de onde
 surge a série «Havana, a cidade das
 colunas» (1961-1963). Lá ele também
 começa a representar cenas de rua,
 comícios populares, carnaval e se
 interessa pelo projeto da escola de
 artes plásticas da cidade.
 Compartilha o entusiasmo
 revolucionário e contribui com
 o suplemento literário Segunda-
 feira de Revolução. Trabalha no
 Conselho Nacional de Cultura e em
 nome da UNESCO documenta o
 ambicioso projeto da campanha de

 Transparência, Cidade Universitária de Caracas,
 arquitetura de Carlos Raúl Villanueva, 1967-1970
 Coleções Fundación MAPFRE
 © Paolo Gasparini

 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
O percurso pela exposição é dividido em dezesseis seções que coletam
 alguns dos projetos mais relevantes do artista ao longo de mais de seis
22 décadas de trabalho, e enfatiza seus fotolivros, que o artista reconhece como
 meio de expressão comparável, em importância, às suas fotografias

 Campanha eleitoral de luxo, Caracas, 1968
 Coleções Fundación MAPFRE
 © Paolo Gasparini

 diversas ocasiões, sua experiência
 é evidenciada nesta reflexão: «[…]
 a Revolução Cubana, em certo
 momento, significava a utopia,
 a alternativa, a possibilidade de
 criação do novo homem e foi
 fotografada nesse sentido. Foi
 tomado um rumo que não é o que
 pensávamos. E isso cria uma grande
 decepção, amargura e falta de
 credibilidade».

 Estudo Caracas (1967-1970) e
 Karakarakas, democracia e poder
alfabetização cubana (1964-1965). como o uso de fades, varreduras de (1967-1970)
Durantes esses anos, com o objetivo imagem e a inclusão de pinturas Em sua produção, Gasparini
de difundir a Revolução, o cinema e com texto na história, com as articula no enquadramento de
a fotografia vivem um momento de quais ele ordena boa parte de suas situações contraditórias, registra
esplendor. Gasparini colabora com práxis fotográficas, especialmente imagens dentro das imagens. Às
cineastas como Armand Gatti ou audiovisuais, a partir de 1980. vezes ele os monta no laboratório
Agnès Varda, de quem extrai alguns Ao longo de sua carreira e os sobrepõe. Ele usa a montagem
recursos expressivos e técnicos, Gasparini retorna a Cuba em e a edição como um sistema para
 produzir ideias, e suas narrativas
 tentam motivar a ação e atacar
 consciências.
 Entre 1968 e 1970, juntou-
 se à equipe editorial da
 revista Rocinante, publicada
 por intelectuais da esquerda
 venezuelana comprometidas
 com as causas revolucionárias do
 mundo. A revista chega em um
 momento em que a luta armada
 foi derrotada no país e alguns
 dos que anteriormente saíram às
 ruas para protestar começam a
 trabalhar em instituições estatais

 Campanha eleitoral, avenida Urdaneta, Caracas, 1968
 Coleções Fundación MAPFRE
 © Paolo Gasparini

arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
23

 Quarto minguante contaminado,
 madrugada de 13 de dezembro
 em frente à Basílica da Virgem de
Guadalupe, Cidade do México, 1994
 Coleções Fundación MAPFRE
 © Paolo Gasparini

e na universidade. A maioria das nos dois continentes», explica Série «O céu que vemos aqui»,
questões é ilustrada por Gasparini Gasparini sobre esse projeto. 1971-1992; «Brasília, dois em um»,
e satiriza políticos, escritores Retromundo (1986) é um 1972-1973 e 2013; «São Paulo,
ou companhias petrolíferas. fotolivro no qual, auxiliado pela a morte da aura», 1997, 2013 e
Envolvidos com a esquerda palavra poética, o autor estabelece 2015; «Maracaibo, La Guajira e o
venezuelana, suas fotografias um diálogo entre o primeiro e petróleo», 1970-2017; «A rua», 1969-
também ilustram livros de o terceiro mundo. O primeiro é 1999; e «O faquir da Torre Capriles,
conteúdo revolucionário, sobre representado com imagens de Plaza Venezuela, Caracas», 1970
a luta de classes, denúncias anúncios, slogans, pedestres em Em 1978 Gasparini participou de
de tortura no país, bem como cidades europeias e americanas Colóquios de Fotografia realizados
questões de guerrilha, capitalismo que são refletidas e multiplicadas no México, e mais tarde em
e subdesenvolvimento na América nas superfícies translúcidas das Cuba, em 1984. Essas reuniões
Latina. vitrines. Na representação do foram o fórum mais importante
 terceiro mundo não há reflexos em para discussão nesse período.
Retromundo (1974-1985) espelhos ou cristais, mas reproduz As palestras trataram de temas
«[…] deixei a Europa com um baú cenas de rua, miséria e pobreza, como o papel que o fotógrafo
cheio de imagens americanas. aspectos comuns em países deve assumir em relação ao
Em uma segunda etapa, volto ao latino-americanos. Assim, opondo contexto em que trabalha, bem
primeiro mundo carregado com imagens como se fosse um díptico, como a necessidade de criar um
as imagens da realidade latino- Gasparini confirma uma forma projeto visual que mostrasse as
americana. É assim Retromundo de fazer isso é frequente em sua contradições que a convivência
surge, um fotolivro que não produção. A criação de um discurso da pobreza e da riqueza podem
confronta realidades, visa sim ser que cobra sentido em relação a seu produzir, mas sem cair no drama
evidência do que está acontecendo contrário. ou no exotismo.

 REVISTA LA FUNDACIÓN#56 — arte
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 O olhar sobre o mundo,
 Los Angeles, 1997
 Coleções Fundación MAPFRE
 © Paolo Gasparini

 Nesse sentido, o trabalho urbanos construídos do México aos ideia de que a fotografia deve ser um
de Gasparini é profundamente pampas argentinos e de Brasília a veículo para denunciar injustiças
respeitoso e mostra os aspectos mais Machu Picchu. Além disso, como sociais, um dos objetivos éticos dos
difíceis da sociedade, a vida dos o próprio Gasparini aponta: «eu Colóquios mencionados acima.
mineiros e camponeses andinos em me esforço para fotografar a vida Uma de suas séries mais
séries como «O céu que vemos aqui», dos marginalizados, daqueles reconhecidas é a baseada na Praça
mas através de imagens dotadas de que não têm nada, e as grandes Venezuela, em Caracas, coroada pela
grande dignidade, como as de mães diferenças que coexistem ao lado Torre Capriles, de 60 mil metros
com chapéus que amarram seus desses grandes edifícios». Essas quadrados e uma fachada moderna,
filhos com cobertores artesanais após contradições e os efeitos injustos projetada pelo artista Jesús Rafael
longos dias de trabalho no Peru. da pós-colonização podem ser Soto. Esse elemento, que transforma
 Após sua experiência como vistos em séries como «Brasília, o espaço público em arte, torna-se
fotógrafo de arquitetura em Caracas, dois em um» (1972-1973 e 2013); uma metáfora para a queda da utopia
em 1970, a Unesco o contratou, «São Paulo, a morte da aura» (1997- do progresso. Um morador de rua
juntamente com o crítico de arte 2015); «Maracaibo, La Guajira que colocou sua cama no meio da
Damián Bayón, para fotografar os e o petróleo» (1970-2017) ou «A passagem daqueles que caminham
edifícios pré-colombianos, coloniais rua» (1970-1999). Fotografias que é na verdade o protagonista, e não a
e contemporâneos do continente, refletem um projeto visual sólido torre ou sua fachada.
a fim de publicá-los junto com a que, como ressalta Sagrario Berti,
pesquisa de Bayón (Panorâmica «está longe de ser vitimizado e, México-O Suplicante (1971-2015)
da arquitetura latino-americana). pelo contrário, reflete um ambiente Desde 1971, as viagens de
Como resultado desse pedido, o hostil, mas bonito em sua poderosa Gasparini ao México têm sido
autor pôde fotografar os projetos capacidade de resistir», e apoia a tão frequentes que sua capital

arte — REVISTA LA FUNDACIÓN#56
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