DC DANTECultural - Colégio Dante Alighieri

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DC DANTECultural - Colégio Dante Alighieri
DC
    DANTECultural
   Publicação do
  Colégio Dante Alighieri
  Ano XVI - Número 42 - maio de 2020
ISSN 1980-637X

    CADA OLHAR,
    UMA HISTÓRIA
     OGNI SGUARDO, UNA STORIA
     Os registros de fotógrafos ítalo-brasileiros
     (como Emidio Luisi, que hoje se debruça
     sobre o tema da imigração italiana)
     enriquecem a nossa memória iconográfica
     há mais de um século
     Gli scatti di fotografi italo-brasiliani
     (come Emidio Luisi, che oggi si
     concentra sul tema dell’immigrazione
     italiana) arricchiscono la nostra memoria
     iconografica da oltre un secolo
DC DANTECultural - Colégio Dante Alighieri
{EDITORIAL}

DC
DANTECultural
                                                                  CARTA AO
                                                                   LEITOR
(ISSN 1980-637X)
               é uma publicação do
               C olégio D ante Alighieri
               Alameda Jaú , 1061 S ão P aulo-SP
               Fone: (11) 3179-4400
               www . colegiodante . com . br

JOSÉ LUIZ FARINA                                                          Traduzione della lettera al lettore a pagina 65
Presidente
MÁRIO EDUARDO BARRA
Vice-Presidente                                           Há muitas formas de contar histórias. Capturar imagens é uma delas e, nesta
FRANCISCO PARENTE JÚNIOR                                  edição, dedicamos a nossa matéria de Capa à fotografia produzida por italianos
Diretor Secretário
                                                          e descendentes que vieram viver no Brasil. Emidio Luisi é uma referência da
PAULO FRANCISCO SAVOLDI
2º Diretor Secretário                                     fotografia de imigração, temática que o levou a investigar sua própria história
JOÃO RANIERI NETO                                         – ele nasceu na região da Campanha e se mudou para o Brasil aos 7 anos.
Diretor Financeiro                                        Emidio clicou imigrantes italianos de bairros como o Bixiga, Barra Funda,
MILENA MONTINI                                            Brás, Mooca e Lapa, e sua obra rendeu livros e exposições que, explorando
2º Diretor Financeiro                                     conceitos como partida, regresso, memória e reencontro, integram Brasil e
FLÁVIA GOMES RIBEIRO PIOVACARI                            Itália. A reportagem traz, ainda, outros nomes da fotografia ítalo-brasileira,
2ª Diretora Adjunta
                                                          como o de Gioconda Rizzo, mulher pioneira que no início do século XX
SALVADOR PASTORE NETO
Diretor Adjunto                                           já produzia retratos; e Vincenzo Pastore, que deixou como principal legado
SÉRGIO FAMÁ D’ANTINO                                      cenas de uma São Paulo das ruas, com feirantes, quituteiras, engraxates e
Diretor Adjunto                                           desvalidos invisibilizados pela sociedade.
SILVIO MARIA CRESPI
Diretor Adjunto                                           A temática da fotografia e da italianidade reaparece algumas páginas adiante,
                                                          no Ensaio Fotográfico: nosso colaborador Arthur Fujii retratou rostos de
Valdenice Minatel Melo de Cerqueira
Diretora-Geral Educacional                                pessoas que têm em suas origens as raízes italianas misturadas às japonesas,
Angela de Cillo Martins                                   alemãs, libanesas, africanas, indígenas.
D iretora P edagógica
E ducação Infantil e Ensino F undamental 1                Na seção Gastronomia, uma casa de pratos italianos descomplicados,
S andra M aria Rudella T onidandel                        executados pelo chef Benny Novak: a Tappo Trattoria — que segue atendendo
D iretora P edagógica                                     pelo delivery neste momento de isolamento social. A Vinheria Percussi, da
E nsino Fundamental 2 e E nsino Médio
E lenice Maria Boniolo Ziziotti                           chef e ex-aluna Silvia Percussi, também vem entregando seus pratos em casa.
D iretora de Relações H umanas e Convivência              Nossa colaboradora da seção Mesa Consciente traz, nesta edição, um tema
Publisher: F ernando Homem de Montes                      importante: a menopausa. Silvia reúne dicas para amenizar os desconfortos
Editora: Marcella Chartier                                dessa fase que, claro, passam pela comida.
( jornalista responsável - MTb: 50.858)
                                                          Na seção Medicina, especial desta edição, aproveitamos a visita do
Projeto Gráfico:
G rappa Marketing Editorial                               cardiologista Marco Bobbio, secretário-geral da Slow Medicine, para uma
Revisão: C amilla de Rezende                              entrevista sobre a organização e seus princípios. Outra boa conversa, publicada
Diagramação: Simone Alves Machado                         na seção Entrevista, foi com a ex-aluna, cicloativista e comunicadora Renata
Versão em italiano: Mayara N eto/Bruno V ianello          Falzoni, que estudou no Dante durante 13 anos e compartilhou conosco
Revisão do italiano : L uciana Duarte Baraldi             lembranças divertidas desse período. A DC 42 traz, ainda, o Per l do spalla
Comercial: G rappa Marketing Editorial /                  da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Emmanuele Baldini,
juliano @ grappa . com . br / tel .: (11) 4837-5788       italiano radicado no Brasil apaixonado pela música desde menino.
COLABORADORES:
Arthur F ujii , Bárbara Monteiro, Camila R olli           No Papo Aberto, a professora Valdenice Minatel M. de Cerqueira, diretora-
C onti , Debora P ivotto, Fred Di Giacomo, J oão          geral educacional do Dante, entrevista Maria Elizabeth Bianconcini de
M ontenegro, Laura F olgueira, Luisa A lcantara e         Almeida, especialista em educação e tecnologias, formação de professores,
Silva, L uisa Destri, S érgio Zacchi, Silvia P ercussi,
Valdenice Minatel Melo de Cerqueira.                      web currículo, cultura digital e educação, e narrativa digital.
Tiragem: E dição digital                                  Boa leitura a todos!
E nvie suas sugestões e críticas para
dantecultural @ cda . colegiodante . com . br                                                        FERNANDO HOMEM DE MONTES
Capa: S érgio Zacchi                                                                                                          PUBLISHER
As declarações de nossos entrevistados não
refletem , necessariamente , a opinião do C olégio .

                                                                                                                       MAIO 2020   •   3
DC DANTECultural - Colégio Dante Alighieri
PERFIL
                                                                      CAPA                                O músico italiano radicado no
                                                         O legado e a trajetória                         Brasil Emmanuele Baldini, spalla
                                                       de fotógrafos e fotógrafas                        da Orquestra Sinfônica do Estado
                                                          ítalo-brasileiros que                                de São Paulo (Osesp)
                                                         eternizaram cenas de                                           24
                                                        ruas paulistanas e casas
                                                                                                                                   PROFILO
                                                           cearenses, retratos                                Emmanuele Baldini, musicista italiano radicato in
                                                         femininos e a própria                             Brasile e spalla dell’Orquestra Sinfônica do Estado de
                                                                                                                             São Paulo (Osesp)
                                                         história da imigração                                                         24
                                                                 italiana
                                                                    08
                                                                     COPERTINA
                                                            L’eredità e la storia dei fotografi e
                                                           fotografe italo-brasiliani che hanno                                                                                            Capa/08
                                                        eternato scene delle vie di San Paolo e                                                                                            Copertina/08
                                                        delle case di Ceará, ritratti femminili e la
                                                         storia stessa dell’immigrazione italiana                                                                                          Perfil/24
                                                                             08                                                                                                                Profilo/24
                                                                                                                                                                                       Cultura/26
                                                                                                       ENSAIO FOTOGRÁFICO                                                                     Cultura/26
                                                                                                        A diversidade de raízes nos rostos de                              Ensaio Fotográfico/32
     ARTE(6), COMIDA(38) e HISTÓRIAS(46)                                                               brasileiros e brasileiras descendentes de
                                                                                                                  imigrantes italianos
                                                                                                                                                                                  Servizio fotografico/32

                            ARTE(6), CIBO(38) e STORIE(46)                                                                 32
                                                                                                                     SERVIZIO FOTOGRAFICO
                                                                                                                                                                                Gastronomia/40
                                                                                                                                                                                        Gastronomia/40
                                                                                                        La diversità delle radici sui volti dei brasiliani e brasiliane
                                                                                                                    discendenti degli immigrati italiani                    Mesa Consciente/44
                                                                                                                                     32                                         Tavola Consapevole/44

                                                                                                                                                                                    Entrevista/48
                                                                                                                                                                                            Intervista/48
                                                                                                                                                                              Espaço Aberto/56
                                                                                                                                                                                      Spazio Aperto/56
                                                                                                                                                                                     Medicina/58
                                                                                                                                                                                            Medicina/58
                                                                                                                                                                          Centro de Memória/61
                                                                                                                                                                                Centro della Memoria/61

                                                                                                                                                                                Papo Aberto/62
                                                                                                                                                                                   Parliamoci chiaro/62

4 • Revista DANTECultural                                                                                                                                                             MAIO 2020    •   5
DC DANTECultural - Colégio Dante Alighieri
Emidio Luisi

                                     ARTE

                                                   Capa/08
                                                    Perfil/24
                                                  Cultura/26
Imagem do livro Ballet Stagium,
                                       Ensaio Fotográfico/32
do fotógrafo Emidio Luisi
Immagine del libro Ballet Stagium,
del fotografo Emidio Luisi

                                                  Copertina/08
                                                      Profilo/24
                                                     Cultura/26
                                        Servizio Fotografico/32
6 • Revista DANTECultural                             MAIO 2020   •   7
DC DANTECultural - Colégio Dante Alighieri
{CAPA/COPERTINA}

                                                         RETRATOS
                                                         ÍTALO-BRASILEIROS
                                                                      Por Luisa Alcantara e Silva
                                                             Olhares de fotógrafos de origem italiana que
                                                            compõem os registros de nossa história desde o
                                                                         início do século XX

                                                                   RITRATTI ITALO-BRASILIANI
                                                                  Sguardi di fotografi di origine italiana che
                                                                 compongono i registri della nostra storia sin
                                                                          dall’inizio del XX secolo
                                                                     Traduzione dell’articolo a pagina 66
Emidio Luisi

  Capa do livro Italia Mia!, a ex-freira italiana
  chamada Dorina foi clicada no momento
  em que Emidio perguntou se ela acreditava
  em Deus
  Copertina del libro Italia mia!, l’ex-suora italiana
  Dorina fu cliccata nel momento in cui Emidio le
  chiese se credeva in Dio

  8 • Revista DANTECultural                                                                                      MAIO 2020   •   9
DC DANTECultural - Colégio Dante Alighieri
{CAPA}

                                                          Emidio Luisi
             A fotografia provoca diversas sensações.                    e modesto das ruas paulistanas naquele
           Pode comover, arrebatar, incomodar,                           tempo em que isso não era preocupação
           enternecer. Mas, para além de tudo isso, ela                  de ninguém?”. A resposta, ele dá logo a
           conta uma história, a partir de um ponto de                   seguir: “Na verdade, não nos interessam os
           vista: o de quem está por trás da câmera                      reais motivos que levaram Pastore a fazer
           em um determinado espaço e tempo. E esse                      seus instantâneos; o que nos importa é que
           olhar é guiado por um conjunto de fatores                     estas fotos nos mostram São Paulo sendo
           e motivações. “Quando você está em outro                      vivida e nos levam a pensar que, sem elas,
           lugar, com pessoas de uma cultura diferente                   continuaríamos sabendo do dia a dia das
           da sua, seus sentidos ficam mais aguçados,                    ruas somente por ouvir dizer... Só uma das
           você tem mais curiosidade”, afirma João                       fotos dele vale por várias páginas de velhos
           Kulcsar, professor do curso de graduação                      cronistas de nosso cotidiano”.
           em fotografia do Centro Universitário                           No caso dos fotógrafos italianos ou ítalo-
           Senac, sobre o olhar de quem chega de                         brasileiros que trabalharam no Brasil, houve
           outra realidade. “Os fotógrafos de fora do                    quem mostrasse essa São Paulo cotidiana
           Brasil vinham, e vêm, com outro olhar. Eles                   desconhecida das classes mais abastadas,
           enriquecem os registros do nosso país.”                       a cidade fora dos casarões e longe da
             Em 1997, o Instituto Moreira Salles (IMS)                   riqueza, como fez Pastore. Houve também
           organizou a mostra São Paulo de Vincenzo                      quem inovasse no enquadramento para
           Pastore, sobre um dos mais importantes                        a sua época, quem registrasse problemas
           fotógrafos da capital paulista no início do                   sociais de outras regiões do país, e há
           século XX, que era italiano, vindo da região                  ainda quem faça, como imigrante italiano,
           da Puglia. No livro de apresentação da                        um retrato da própria imigração. A seguir,
           exposição, o arquiteto e historiador Carlos                   conheça o trabalho de quatro profissionais
           A. C. Lemos questiona: “Por que Pastore                       de origem italiana que fizeram de seus
           obstinou-se em fotografar o povo simples                      cliques registros de épocas e culturas.

                                                                         Do início da carreira, quando
                                                                         Emidio Luisi retratava cenas do
                                                                         teatro paulistano (imagem de uma
                                                                         peça dirigida por Antunes Filho)
                                                                         Scatto dell’inizio della carriera, quando
                                                                         Emidio Luisi ritraeva scene del teatro
                                                                         di San Paolo (immagine di un’opera
                                                                         teatrale diretta da Antunes Filho)

10 • Revista DANTECultural                                                                                           MAIO 2020   •   11
DC DANTECultural - Colégio Dante Alighieri
{CAPA}

 UMA PÁTRIA SÓ
 Vivendo em São Paulo desde os 7 anos,
 o fotógrafo ítalo-brasileiro Emidio Luisi se
 debruça sobre o tema da imigração                                                                                     Emidio Luisi
    Quando tinha cerca de 10 anos, o então          um trabalho muito legal com ele no bairro do
 garoto Emidio Luisi recebeu uma carta de uma       Bixiga e, depois que ele foi embora, continuei
 tia da Itália perguntando o que ele gostaria de    interessado no tema”, conta Emidio. Em cada
 ganhar de presente. Sem saber por quê, ele         casa em que entrava, ele se lembrava de sua
 respondeu: “uma câmera fotográfica”. Era o         infância em Sacco, pequena comuna italiana na
 final da década de 1950 e as encomendas            região da Campanha, em Salerno. “Então, minhas
 demoravam para vir da Itália ao Brasil, mas,       lembranças começaram a ser despertadas ali, ao
 alguns meses depois, o pacote chegou. Emidio       ver o semelhante, e percebi que nunca tinha me
 abriu aquela caixa impressionado com a             interessado muito pela minha história”, afirma.
 máquina, que tinha até flash. “Aquele presente        A parceria com Spini teve uma boa repercussão
 me acompanhou por muitos anos”, lembra-se          e Emidio começou, sem nenhum compromisso,
 o fotógrafo ítalo-brasileiro, hoje com 71 anos.    a fotografar outros bairros de imigrantes na
 Durante sua adolescência, usou a câmera para       cidade de São Paulo. Partiu para os outros mais
 registrar eventos como os desfiles de fanfarra e   tradicionais: Barra Funda, Brás e Mooca. Clicou,
 os campeonatos esportivos em sua escola, em        ainda, os imigrantes da Lapa, mais especificamente
 São Paulo.                                         da região da Vila Romana, onde seu trabalho de
    Na hora de prestar vestibular, também sem       pesquisa o levou a uma conclusão: “O bairro não
 saber muito por quê, Emidio escolheu o curso de    é tão conhecido pela questão da imigração quanto
 arquitetura. Mas o cursinho era no Bixiga, mesmo   os outros porque os italianos que foram para lá
 bairro em que seu irmão mais velho vivia e         não trouxeram uma santa para a comunidade,
 mantinha um ateliê, e isso atrapalhou um pouco     o que agregava muito os imigrantes, que se
 os planos da faculdade. “Eu ficava mais vendo      reuniam em torno da santa”, explica. É o caso
 ele trabalhar do que nas aulas, e acabei não       de festas como a Nossa Senhora Achiropita, no
 entrando na faculdade de arquitetura.” Escolheu    Bixiga, e a de San Gennaro, na Mooca. “Não é
 seu plano B: como sempre gostou de números,        que os imigrantes da Vila Romana fossem menos
 prestou matemática. E entrou. Durante quase 15     religiosos. Acho apenas que não conseguiram ter
 anos após formado, lecionou a disciplina, mas o    uma unidade… O Bixiga, por exemplo, começou
 contato com o trabalho do irmão lhe interessava    com os calabreses; a Mooca, com napolitanos; já
 cada vez mais. No fim dos anos 1960, Pietro        na Vila Romana tudo era mais misturado.”
 Luisi estava produzindo cenários e figurinos          Emidio foi fotografando os bairros italianos de
 de peças apresentadas nos teatros paulistanos,     São Paulo e, depois de 15 anos de pesquisa (alguns
 e Emidio acabava o acompanhando, com sua           tendo trabalhado como fotojornalista de revistas
 câmera nas mãos – já não era mais aquela dada      como Veja), em 1997, lançou seu primeiro livro,
 pela tia. Foi assim que ele começou sua carreira   Ue’Paesà. “O título, que em português significa
 como fotógrafo e, hoje, tem cliques publicados     ‘Oi, conterrâneo’, faz referência à forma como os
 em importantes livros como Ballet Stagium,         imigrantes se cumprimentavam”, diz o fotógrafo.
 Imagens do Teatro Paulista e Imagens da Dança         Mais tarde, em 2010, ele publicou outro livro,
 em São Paulo.                                      Paesani, com imagens de imigrantes não só de São
    Mas foi como assistente do fotógrafo Sandro     Paulo, mas de outros estados em que os imigrantes
 Spini que ele entrou em contato com outra          italianos se fixaram, como Paraná, Santa Catarina    Kazuo Ohno, dançarino
 temática: a fotografia de imigração. “Até pela     e Rio Grande do Sul. Dois anos depois, o livro,          e fotógrafo japonês
                                                    que além de fotos de Emidio tem textos de              Kazuo Ohno, ballerino e
 facilidade do idioma, acabei desenvolvendo                                                                   fotografo giapponese

12 • Revista DANTECultural                                                                                  MAIO 2020     •   13
DC DANTECultural - Colégio Dante Alighieri
{CAPA}

                  Do livro Ballet Stagium,
Emidio Luisi

                    também do início da
                        carreira de Emidio
                     Dal libro Ballet Stagium,
               un’altro scatto dall’inizio della
                            carriera di Emidio
DC DANTECultural - Colégio Dante Alighieri
{CAPA}

            A fotografia de

                                                                                          Sergio Zacchi
   imigração é destaque
       na obra de Emidio.
                                                                                                          imóvel, por exemplo, era um espaço de 25 metros
                                                                                                          quadrados, e não do tamanho de um quarteirão,
                                                                                                                                                                           Cronista das ruas
                                                                                                                                                                           Vincenzo Pastore deixou importantes registros
         Em cada casa em                                                                                  como se lembrava.                                                da São Paulo do começo do século XX
     que entrava quando                                                                                      Outro momento marcante daquele primeiro
          começou a fazer                                                                                                                                                    Nascido na comuna de Casamassima, no sul              tipos e costumes das ruas de uma cidade ainda
  imagens de imigrantes                                                                                   retorno foi quando um primo lhe contou que havia                 da Itália, Vincenzo Pastore veio ao Brasil pela         pacata que pouco tempo depois seria desfigurada
      no bairro do Bixiga,                                                                                uma senhora que era a única moradora de uma                      primeira vez em 1884. Viveu por um ano em São           pelo desenvolvimento econômico, com flagrantes
  ele se lembrava de sua                                                                                  cidadezinha mais acima da montanha – Sacco
       infância em Sacco,
                                                                                                                                                                           Paulo, voltou à Itália e, em 1899, retornou à capital   de personagens marginais e trabalhadores de rua
                                                                                                          fica no sopé dela. No primeiro dia, Emidio subiu                 paulista. Montou seu estúdio fotográfico na rua da
         pequena comuna                                                                                                                                                                                                            como jornaleiros, feirantes e engraxates”.
     italiana na região da                                                                                até a comuna de Roscigno Vecchia sem a câmera,                   Assembleia, na região central. Nele, trabalhava            “Pouco lhe importava o espetáculo da elite
 Campanha, em Salerno                                                                                     pois sabia que não poderia espantar a moradora                   com sua mulher, Elvira Pastore, responsável             reunida na confeitaria Castelões ou nos salões do
                 La fotografia                                                                            daquele local quase fantasma. No segundo dia, ele                pelo laboratório. Ficou conhecido por fazer os
       sull’immigrazione è un                                                                                                                                                                                                      café O Ponto, tão frequentados pelos homens de
   punto centrale nell’opera
                                                                                                          trocou um olhar com a senhora. “Isso fez com que                 chamados “retratos mimosos”, com moldura                posse e pelas pessoas importantes”, escreveu o
      di Emidio. Ogni casa in                                                                             eu fosse me aproximando dela, mas sem assustá-                   especial e detalhes como flores e arabescos.
   cui entrava quando iniziò                                                                                                                                                                                                       professor e crítico literário Antonio Arnoni Prado   Largo da Sé, atualmente
                                                                                                          la”, conta Emidio. No terceiro dia, sua última                     Mas sua importância se dá especialmente pelos
      a fare foto di immigrati                                                                                                                                                                                                     no livro Na rua – Vincenzo Pastore, do IMS.          ocupado pela praça da
    nel quartiere di Bixiga gli                                                                           oportunidade, pois iria voltar ao Brasil, o fotógrafo            ensaios do cotidiano que fez de São Paulo no início                                                          Sé (1912)
  ricordava la sua infanzia a
                                                                                                                                                                                                                                      Segundo Prado, Pastore conseguia flanar pela
                                                                                                          pegou sua máquina digital e foi até ela. “Queria                 do século XX. O Instituto Moreira Salles descreve                                                            Largo da Sé, dove
 Sacco, un piccolo comune                                                                                                                                                                                                          cidade por ter uma câmera mais leve. “Italiano       attualmente si trova la
 italiano della Campania, in                                                                              trazer a coisa do encantamento quando a pessoa                   sua obra como “um valioso painel documental de          anônimo perdido na Pauliceia, as agruras da vida     Praça da Sé (1912)
          provincia di Salerno                                                                            se vê na imagem.” A estratégia deu certo e Emidio
                                                                                                          conseguiu ganhar a credibilidade de Dorina, uma

                                                                                                                                                                  Vincenzo Pastore /Acervo Instituto Moreira Salles
                                                                                                          ex-freira que abandonou o hábito e decidiu ir
                                                                                                          morar com os cachorros. O clique, escolhido como
                                                                                                          capa do livro Italia Mia!, foi feito no momento em
                                  Wladimir Catanzaro, ganhou uma exposição no                             que ele pergunta se ela acreditava em Deus – uma
                                  Sesc Pinheiros.                                                         imagem de Dorina olhando para cima, reflexiva.
                                     O próximo livro veio em 2018, após Emidio “ter                       “Eu achei que ela se abriu para mim, mas, depois
                                  uma luz”. “Eu estava escaneando fotos que havia                         percebi, ela que me abriu. Abriu meu olhar”,
                                  feito da Itália desde que voltei para lá, e percebi                     revela Emidio, que, com Dorina, aprendeu uma
                                  que fazia 30 anos”, recorda-se. Foi em 1988 que                         importante lição: as pessoas entregam a alma
                                  Emidio revisitou sua terra natal pela primeira vez –                    ao fotógrafo quando passam a acreditar nele.
                                  sua mulher ia visitar a família e ele, que estava em                    “Essa foto me ensinou sobre ter um controle da
                                  uma viagem a trabalho na Holanda, foi encontrá-                         ansiedade, não querer que as coisas aconteçam
                                  la em Milão. Depois, Emidio desceu para a região                        muito rapidamente, ter uma credibilidade das
                                  Sul, para visitar seus parentes. Logo ao chegar a                       duas partes. A pessoa tem que acreditar em você,
                                  Sacco, as memórias foram reativadas. “Foi uma                           principalmente personagens como a Dorina, de
                                  sensação incrível. Eu iria ficar lá três dias e senti                   quem preciso captar a essência.”
                                  que tinha que fotografar tudo, se não, as imagens                          De Dorina fez poucas fotos – sete ou oito –, mas
                                  iriam desaparecer.”                                                     os três dias de viagem renderam filmes e filmes
                                     Como bons italianos, os moradores convidavam                         inteiros. E também a vontade de voltar com mais
                                  Emidio para tomar vinho e comer queijo e salame                         frequência. Assim, há oito anos, Emidio criou o
                                  em suas casas, e Emidio, 33 anos após deixar o                          projeto Luzes da Toscana, em que organiza um
                                  local, ia, munido com sua câmera. Mas um dos                            workshop com alunos em viagem pela Itália.
                                  momentos mais impressionantes foi quando voltou                            E foi em 2018 que teve a ideia de juntar esse
                                  à casa em que nasceu. “Ela havia sido vendida                           material, produzido durante três décadas, no livro
                                  para um homem que vivia nos Estados Unidos,                             Italia Mia!. Emidio define sua publicação mais
                                  mas um amigo de Sacco tinha a chave e deixou                            recente como “uma viagem no tempo”. “É a minha
                                  que eu entrasse”, recorda-se, com emoção. “A                            história ali, do menino que deixou a Itália e depois
                                  casa estava intacta, parecia que eu tinha parado                        a reencontrou”, emociona-se. “A Itália é onde eu
                                  no tempo.” Emidio impressionou-se com a relação                         nasci, mas o Brasil é onde eu cresci. Sempre digo,
                                  de espaço e tempo ao perceber que o quintal do                          para mim, Itália e Brasil são uma pátria só.”

16 • Revista DANTECultural
DC DANTECultural - Colégio Dante Alighieri
{CAPA}

                                                                                                Vincenzo Pastore /Acervo Instituto Moreira Salles

                                            Vincenzo Pastore /Acervo Instituto Moreira Salles
                Vendedores no Mercado dos
                Caipiras (1910)
                Venditori nel Mercado dos
                Caipiras (1910)

                                                                                                difícil e cheia de incertezas levaram o fotógrafo                                                        Engraxates jogando bola
                                                                                                a alternar o ofício de retratista com as incursões                                                       de gude (1910)
                                                                                                                                                                                                         Lustrascarpe che giocano a
                                                                                                constantes pelas áreas mais pobres da cidade.
                                                                                                                                                                                                         biglie (1910)
                                                                                                Nelas, gostava de circular por entre os engraxates
                                                                                                e as quituteiras, misturando-se ao cotidiano de
                                                                                                outros imigrantes, aos caboclos vindos da roça,

                                                                                                                                                     Vincenzo Pastore /Acervo Instituto Moreira Salles
                                                                                                aos negros e demais malungos da miséria e do
                                                                                                ostracismo social, despercebidos nas calçadas ou
                                                                                                no trabalho humilde. Misturando-se, enfim, aos
                                                                                                desocupados e desvalidos”, escreveu.
                                                                                                   Por muitos anos, as fotos feitas por Pastore
                                                                                                ficaram guardadas, até que em 1997 seu neto,                                                             O fotógrafo Vincenzo
                                                                                                                                                                                                         Pastore fez ensaios
                                                                                                o pianista Flávio Varani, doou 137 cliques ao
                                                                                                                                                                                                         cotidianos da São Paulo
                                                                                                Instituto Moreira Salles. É como Prado escreveu:                                                         do início do século XX
                                                                                                “Mais que um espetáculo, a arte do fotógrafo é                                                           Il fotografo Vincenzo
                                                                                                uma decisão empenhada e quase solidária aos                                                              Pastore fece servizi
                                                                                                                                                                                                         fotografici sulla vita
                                                                                                outros imigrantes que, como ele, para cá vieram                                                          quotidiana della San Paolo
                                                                                                acalentando o sonho de fazer a América”.                                                                 dell’inizio del XX secolo

18 • Revista DANTECultural                                                                                                                                                                                       MAIO 2020      •     19
{CAPA}

      Pioneira impedida                                                                                                                           Um tema sensível
      De família italiana, Gioconda Rizzo inovou                                                                                                  Francesca Nocivelli morou por 12 anos em Fortaleza e
      como uma das primeiras mulheres a ter a                                                                                                     escolheu ensinar fotografia para crianças e jovens de
      autoria sobre suas fotos reconhecida                                                                                                        uma comunidade, trabalho que também lhe rendeu o
                                                                                                                                                  livro Maravilha
        Em uma época em que o tradicional eram
                                                                                                                                                    De Bréscia, na região da Lombardia,        uma amiga. “Levei-a em pontos turísticos
      retratos de pessoas de corpo inteiro, a jovem                                                                                                                                            de Fortaleza e acabou funcionando”,
                                                                                                                                                  Francesca Nocivelli tinha 25 anos
      Gioconda     Rizzo,    paulistana   de   origem                                                                                             quando veio ao Brasil pela primeira vez.     lembra-se Francesca. A amiga, que queria    Do livro Maravilha, de Francesca
      italiana nascida em 1897, inovou com fotos                                                                                                                                                                                            Nocivelli, publicado em 2008 - a
                                                                                                                                                  Era 1988 quando seu então marido fora        ser modelo, levou, então, o ensaio ao
                                                                                                                                                                                                                                              obra recebeu o nome de uma
      mais fechadas, enquadrando os ombros e                                                                                                      chamado para trabalhar em Fortaleza,         jornal Diário do Nordeste, mas, quando          comunidade de Fortaleza, no
      o rosto de seus fotografados. Mas ela quase                                                                                                 em um projeto na área de agricultura. Ela    o diretor viu as imagens, logo quis saber   Ceará, e contém fotos de pratos e
      não conseguiu se tornar fotógrafa. Isso porque                                                                                              ainda não era fotógrafa, mas, como se        quem era a pessoa responsável por              geladeiras de famílias do lugar
                                                                                                                                                                                                                                               Dal libro Maravilha, di Francesca
      começou aos 14 anos, sem que seu pai,                                                                                                       interessava muito pela área – seu trabalho   aqueles cliques. Dessa forma, Francesca
                                                                                                                                                                                                                                                  Nocivelli, pubblicato nel 2008
      Michele Rizzo, que se apresentava como o                                                                        Miss Universo Yolanda       de conclusão do curso de arquitetura em      começou a trabalhar no veículo. Mas,            — l’opera prende il nome di una
                                                                                                                                                  uma universidade de Veneza foi sobre         cerca de oito meses depois, o casal          comunità di Fortaleza, nello stato di
      primeiro fotógrafo italiano radicado em São                                                                     Pereira retratada em
                                                                                                                                                                                                                                           Ceará, e contiene immagini di piatti e
                                                                                                                      1933 por Gioconda           fotografia –, aceitou fazer um book para     resolveu ir morar na França. Animada            frigoriferi delle famiglie del luogo
      Paulo, soubesse. Quando descobriu, ele ficou                                                                    Rizzo, que começou
      contrariado. Com o tempo, acabou permitindo                                                                     a fotografar aos 14
      que a filha trabalhasse em seu estúdio —                                                                        anos
                                                         Gioconda Rizzo

                                                                                                                      La Miss Universo Yolanda
      porém, havia uma condição: Gioconda só                                                                          Pereira ritratta nel 1933
      poderia fotografar mulheres e crianças. Ela                                                                     da Gioconda Rizzo, che
                                                                                                                      iniziò a fotografare a 14
      chegou a abrir um estúdio próprio, o Photo                                                                      anni
      Femina, mas o espaço durou pouco tempo. Ao
                                                         Kimi Nii

      descobrir que algumas de suas clientes eram
      prostitutas francesas e polonesas, seu irmão
      mais velho fez com que ela fechasse o espaço.
      Ela, então, voltou a trabalhar no estúdio do
      pai. Continuou inovando, ainda assim, ao
      aprender novas técnicas de aplicação de
      fotografias sobre porcelanas e objetos como
      joias e enfeites. “Ela foi pioneira, quebrou
      tabus ao trabalhar em uma profissão que
      não contava com mulheres e em uma época
      em que não era comum elas trabalharem”,
      diz a neta de Gioconda, a escritora e arte-
      educadora Silvana Salerno.
        Seu trabalho fez tanto sucesso que ela
      chegou a fotografar personalidades como
      Zezé Leone, a primeira Miss Brasil, e Yolanda
      Pereira, Miss Universo. Aos 81 anos, ganhou
      uma mostra na Fotogaleria Fotótica, em São
      Paulo, onde expôs seu importante trabalho. “A
      mostra foi um sucesso, ela ficou muito feliz por
      ter seu trabalho em destaque”, lembra Silvana.                  Gioconda Rizzo ao centro, a filha Wanda,
                                                                      a neta Silvana e o bisneto Bruno
      Gioconda morreu em meados dos anos 2000,
                                                                      Gioconda Rizzo al centro, la figlia Wanda, la
                                                                                                                                                                                                                                                              Francesca Nocivelli
      pouco antes de completar 107 anos.                              nipote Silvana e il pronipote Bruno
                                                                                                                                                  Francesca Nocivelli

20 • Revista DANTECultural                                                                                                                                                                                                                                MAIO 2020       •   21
{CAPA}

                                                                                                     Francesca Nocivelli

                             com a fotografia, Francesca resolveu          A obra Maravilha traz cliques de pratos,
                             estudar e se profissionalizou. Ela e o        famílias e geladeiras. “A geladeira é um
                             marido viveram na França por dez anos,        item importante em qualquer casa. Além
                             período em que nasceu seu filho, até que      de conservar alimentos, ela representa o
                             voltaram a Fortaleza.                         poder aquisitivo daqueles moradores”, diz
                               Nessa segunda temporada cearense, ela       a profissional. “Em algumas casas, havia
                             conheceu um projeto social na comunidade      apenas água na geladeira. É um retrato de
                             Maravilha, no bairro de Fátima. Como          todo o contexto.”
                             fotógrafa, começou a ensinar a crianças e        Um ano depois do lançamento, Francesca
                             jovens da favela a técnica da fotografia em   deixou o Brasil, país que visita com
                             lata que usa uma câmera caseira, feita com    frequência, mas do qual sente muita falta.
                             uma latinha. Assim, criou o Projeto Clica     “Foi muito bom trabalhar na comunidade.
                             Maravilha, que rendeu exposições e livros     Eu dava aula com poucos recursos, mas
                             com imagens feitas pelos alunos.              era gostoso”, lembra-se a fotógrafa, que
                               Mas, em 2008, intrigada com o tema          até hoje mantém contato com ex-alunos.
                             da fome, Francesca lançou um livro            “Um deles se tornou psicólogo e usa a
  OU ACESSE / O ACCEDI SU:   com imagens que fez da comunidade.            fotografia para desestressar. Acho ótimo.”
  http://dante.pro/b5q4rsj

22 • Revista DANTECultural
{PERFIL/PROFILO}
                                                                                                                                  A relação do italiano Emmanuele Baldini, spalla da              sem que eu descubra algumas joias escondidas. Acabamos de
                                                                                                                                Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), com o         tocar, na Osesp, a surpreendente ‘Sinfonia nº 7’ de Cláudio
                                                                                                                                violino começou como uma paixão arrebatadora, ainda na            Santoro, e estou gravando na íntegra as obras para piano e
                                                                                                                                infância. “Eu comecei no piano. Voltava da escola e ficava        violino dele. Também indico as obras de André Mehmari, um
                                                                                                                                horas improvisando. Mas, aos 6 anos, escutei o som de um          gênio do nosso tempo!”, entusiasma-se.
                                                                                                                                violino na televisão e imediatamente pedi para trocar de            Emmanuele não cogita parar de ensinar ou de estudar. Além
                                                                                                                                instrumento”, conta ele, que é filho de um casal de músicos       de regente e diretor musical, ele publica vídeos educativos na
                                                                                                                                e professores, ambos pianistas. Hoje ele leva seu violino         internet e mantém uma rotina puxada de exercícios técnicos.
                                                                                                                                em turnês por diversos países — foram, até aqui, cinco no         “A vida é uma aprendizagem contínua. Na arte, então, esse
                                                                                                                                Japão, quatro nos Estados Unidos e uma na Austrália, além de      discurso vale ainda mais. Não há limites para o ideal artístico
                                                                                                                                concertos em toda a Europa e na América do Sul.                   e, cada vez que parece que estamos chegando perto do topo
                                                                                                                                  Nascido em Trieste, cidade costeira localizada perto da         da montanha, novas subidas aparecem, com o topo cada vez
                                                                                                                                fronteira com a Eslovênia, Emmanuele estudou na Itália, Suíça     mais longe. É uma montanha que não tem cume”, comenta.
                                                                                                                                e Alemanha e gravou, como violinista, mais de 20 discos.            Com 15 mil fãs no Facebook, 11 mil seguidores no
                                                                                                                                Venceu vários concursos internacionais (conquistando seu          Instagram e quase 6 mil inscritos em seu canal do YouTube,
                                                                                                                                primeiro prêmio aos 12 anos), foi spalla (o que significa ser     além de protagonizar vídeos no canal oficial da Osesp,
                                                                                                                                o primeiro violino) em três orquestras italianas (Bolonha,        Emmanuele compartilha sua rotina de turnês e apresentações
                                                                                                                                Milão e sua cidade natal) e atuou como regente na Argentina       ao mesmo tempo em que oferece um conteúdo de qualidade
                                                                                                                                e no Uruguai. Entre os                                                                           sobre música, ensinando desde
                                                                                                                                prêmios mais recentes está                                                                       cuidados com o instrumento
                                                                                                                                o de melhor instrumentista                “Comecei no piano. Voltava da                          a técnicas, como o vibrato.
                                                                                                                                da Associação Paulista dos             escola e ficava horas improvisando.                       Ele ainda publicou covers
                                                                                                                                Críticos de Arte (APCA) em           Mas, aos 6 anos, escutei o som de um                        inusitados de Metallica e Led
                                                                                                                                2017.                                 violino na televisão e imediatamente                       Zeppelin com a Orquestra de
                                                                                                                                  Mas foi no Brasil que ele               pedi para trocar de instrumento”,                      Câmara de Valdivia (Chile), da
                                                                                                                                decidiu fixar residência em                    conta o spalla da Osesp                           qual é diretor musical desde
                                                                                                                                2005, ano em que recebeu                                                                         2017.
                                                                                                                                um convite especial de John           “Iniziai con il pianoforte. Tornavo da scuola                No entanto, sua intenção

                                                                                                                 Fernando Ruz
                                                                                                                                Neschling, o então diretor            e  passavo    ore a improvvisare.   Ma  a  6  anni,        não é popularizar a música
                                                                                                                                                                         sentì il suono di un violino in TV e chiesi             clássica. “Não é necessário. É
                                                                                                                                artístico e regente da Osesp.
                                                                                                                                                                        immediatamente di cambiare strumento”,
                                                                                                                                Emmanuele mudou-se para               racconta lo spalla dell’Orquestra Sinfônica                necessário, sim, ser acessível
                                                                                                                                São Paulo e assumiu a posição               do Estado de São Paulo (Osesp)                       a todos, sem distinções. Mas

         UM ETERNO VIAJANTE,
                                                                                                                                de spalla — na hierarquia da                                                                     nunca será um fenômeno de
                                                                                                                                orquestra, depois do maestro,                                                                    massa.” Seu intuito é mesmo
                                                                                                                                é ele quem comanda. O spalla é responsável pela afinação da       ajudar, principalmente os jovens: “Tento usar essa ferramenta

          APRENDIZ E PROFESSOR                                                                                                  orquestra antes da entrada do maestro.
                                                                                                                                  “Eu me apaixonei pela Osesp, pelo país, pelas pessoas, e
                                                                                                                                enxerguei uma possibilidade real de construir algo”, conta
                                                                                                                                                                                                  poderosa para isso, compartilhando um pouco das minhas
                                                                                                                                                                                                  experiências, passando conselhos, respondendo perguntas,
                                                                                                                                                                                                  mostrando um exercício que estou fazendo. De repente
               Mesmo durante suas extensas turnês pelo mundo, o músico italiano radicado no                                     o músico, que em 2008 também criou o “Quarteto Osesp”,            surge a ideia de algum assunto que possa interessar e pronto!
               Brasil Emmanuele Baldini nunca para de praticar e compartilhar conhecimento                                      aperfeiçoando-se como regente. “Temos uma vida musical            Ligo a câmera e está feito, sem edição nem nada. Não há
                                                                                                                                orquestral de um certo nível, mas não se pode dizer o mesmo       planejamento ou qualidade técnica, mas uma simplicidade
                                                                                                                                em relação à música de câmara. A oferta é menor, ainda            e uma familiaridade que, acredito, fazem com que me
                                                 Por Bárbara Monteiro
                                                                                                                                falta algum nível artístico. Meu sonho é uma presença muito       considerem um amigo”.
                                                                                                                                mais expressiva da música de câmara em nosso país”, afirma          Tudo isso para deixar um legado positivo. “Hoje, depois de
                                UN ETERNO VIAGGIATORE, APPRENDENTE E INSEGNANTE                                                 ele, referindo-se aos grupos menores de instrumentistas           15 anos, posso dizer que certamente a vida musical e artística
                                                                                                                                eruditos. Desde então, ele intensificou sua atividade didática    do Brasil melhorou e, embora eu não saiba se tenho alguma
                    Anche durante i lunghissimi tour per il mondo, il musicista italiano radicatosi in Brasile
                     Emmanuele Baldini non smette mai di praticare e condividere le sue conoscenze                              e fez questão de explorar melhor o repertório brasileiro, que     participação nisso, espero que meu trabalho de formiguinha
                                                                                                                                continua em grande parte desconhecido. “Não passa um mês          tenha contribuído”, conclui.
                                              Traduzione dell’articolo a pagina 69

24 • Revista DANTECultural                                                                                                                                                                                                                      MAIO 2020     •     25
{CULTURA/CULTURA}
 Por Luisa Destri e Marcella Chartier

                                                      REFEIÇÕES                                                                                                                          PÉS LONGE
                                                    PARTILHADAS                                                                                                                          DO CHÃO
                                                                                                                                                                             PIEDI LONTANI DA TERRA / Traduzione dell’articolo a pagina 70
                                                PASTI CONDIVISI / Traduzione dell’articolo a pagina 69

                                                                                                                                                                                                                                                                             Reprodução
                            La Percussi faz muito mais do que apoiar           nossos sentidos. Há indicações de rendimento,
                         quem deseja cozinhar: além de reunir receitas         tempo de preparo e proveniência: a caponata, por
                         desenvolvidas e acumuladas ao longo de mais           exemplo, é uma delícia siciliana; a carbonara tem
                         de trinta anos de carreira por Silvia Percussi, o     o preparo descrito conforme tradição do Lácio.
                         site traz conteúdos que compõem uma espécie           Trata-se de receitas verdadeiramente italianas, que
                         de mapa afetivo da chef, que está à frente da         revelam a diversidade da gastronomia do país.
                         Vinheria Percussi e é responsável pela seção            “Ao elaborar o site, eu tinha em mente todos os
                         Mesa Consciente da Dante Cultural. Em ensaios         possíveis usuários, como alunos de gastronomia,
                         fotográficos e textos autorais, há recomendações      donas de casa que cozinham, homens que gostam
                         relacionadas a viagens, design, arte e gastronomia;   de cozinha e de cultura também. Pessoas de 18
                         a seção “Ingredientes” traz breves reflexões a        a 80 anos”, afirma Percussi, que confessa seu
                         respeito de elementos como o sal e o queijo           objetivo ao criar a página: evitar que o trabalho
                         parmesão.                                             de sua carreira se perdesse, ficando confinado a
                            Mas se trata de um verdadeiro presente para        seu computador, sem chegar ao público. Viva a
                         quem procura inspiração e conhecimento.               partilha! (Luisa Destri)
                         Organizadas em “delizie”, “primo”, “secondo” e
                         “dolce”, as receitas instruem sobre a preparação       http://www.lapercussi.com/
                         de pratos italianos e da culinária mundial,            Por Silvia Percussi
                         ilustradas por imagens que convocam todos os

                                                                                                                                                 Um filme que encerra muitos filmes. Assim          Oscar nem se deixa corromper pelas solicitações
                                                                                                                                              pode ser descrito “O homem sem gravidade”,            nem as vence heroicamente – soluções frequentes
                                                                                                                                              produção italiana da Netflix dirigida por Marco       quando se trata desse gênero cinematográfico. Sua
                                                                                                                                              Bonfanti e estrelado por Elio Germano. Para           saída é muito mais humilde do que sua habilidade
                                                                                                                                              retratar a fantástica história de Oscar, um menino    de super-herói poderia fazer prever, acenando
                                                                                                                                              incapaz de, sozinho, manter os pés no chão, a         para um tipo de aprendizado que raras vezes
                                                                                                                                              trama conta diversas outras histórias: a da família   comparece no cinema comercial.
                                                                                                                                              que superprotege a criança considerada especial,        Ao final, o filme surpreendentemente se revela
                                                                                                                                              a do inocente que tenta resistir às tentações da      uma delicada narrativa sobre como é possível
                                                                                                                                              sociedade comercial, a do amor capaz de vencer        encontrar o próprio caminho sem abrir mão do
                                                                                                                                              as dificuldades da vida e do tempo.                   que se tem de mais único, preservando-se a si
                                                                                                                                                 Embora algumas vezes se tenha a impressão de       mesmo apesar de tentações e adversidades. (Luisa
                                                                                                                                              quebra narrativa justamente porque esse único         Destri)
                                                                                                                                              filme procura dar conta de múltiplas narrativas, o
                                                                                                                                              longa sustenta a atenção e a simpatia do espectador    O homem sem gravidade (L’uomo senza
                                                                                                                                              – muito, talvez, pela força de encantamento            gravità), direção de Marco Bonfanti,
                                                                                                                                 Divulgação

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                                                                                                                                              do argumento: quem jamais foi fascinado pela           Disponível para assinantes da plataforma
                                                                                                                                              possibilidade de voar? O encaminhamento, além          netflix.com
                                                                                                                                              disso, aos poucos se revela longe do banal, já que

26 • Revista DANTECultural                                                                                                                                                                                                                              MAIO 2020   •   27
{CULTURA}

                                                                                                 REENCONTRO COM MACHADO
                                   COMIDA AFETIVA                                                                  RITROVANDO MACHADO / Traduzione dell’articolo a pagina 70

                                         DA LIGÚRIA

                                                                                                                                                                                                                                      Divulgação
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                                                                                                Memórias póstumas de Brás Cubas é agora                durante seus estudos, como o sagaz intérprete de
                             COMFORT FOOD DELLA LIGURIA/ Traduzione dell’articolo a pagina 70   relançado pela Antofágica – editora recém-             nossas contradições sociais.
                                                                                                chegada ao mercado, cujo objetivo é reeditar              Oferecer a possibilidade desse reencontro é
    Logo na entrada, o bar, à direita, a mesa                                                   grandes clássicos. Publicado inicialmente em           uma das prováveis intenções da nova edição,
 comunitária no centro e a cozinha aberta logo à                                                1881, o romance apresenta, como mesmo o menos          que, vistosa, em capa dura, é potencial objeto do
 frente sugerem que o Lido é um restaurante para                                                avisado dos leitores deve saber, as recordações de     desejo para o amante dos livros. Não por acaso,
 a partilha, o encontro – e, de fato, é. Um barco                                               um defunto – um sujeito, digamos, reprovável,          traz ilustrações de Candido Portinari, preparadas
 branco suspenso no teto com a parte interna virada                                             cuja narrativa não poderia ser, no entanto, mais       em 1942 sob encomenda de uma sociedade
 para baixo abriga a iluminação e dá a entender                                                 saborosa.                                              que buscava justamente fomentar a bibliofilia.
 que se trata de uma casa de sabores marítimos –                                                  A publicação é uma oportunidade para aqueles         Há também notas esclarecendo termos datados
 o que também é verdade, ainda que o cardápio                                                   que não puderam reconhecer em um primeiro              e referências históricas e literárias, além de um    Memórias póstumas de
 enxuto traga várias opções de entradas e massas                                                                                                                                                            Brás Cubas,
                                                                                                encontro com o livro de Machado de Assis uma           perfil do autor, preparado, a título de posfácio,
                                                                                                                                                                                                            Machado de Assis,
 sem a presença do mar.                                                                         das mais brilhantes mentes brasileiras. Entre os       por Rogério Fernandes dos Santos, um dos jovens      Antofágica, 456 páginas,
    A porção de manjubinha, camarão e lula                                                      mais jovens, a obrigatoriedade da leitura para o       críticos machadianos. Um legado sem miséria.         69,90 reais
 empanados e fritos (Fritto misto, R$ 46), saborosa                                             vestibular muitas vezes participa dessa história.      (Luisa Destri)
 e bem servida, divide o menu de entradas, tão
 cheio de opções quanto o de pratos principais,
 com receitas exclusivas da região da Ligúria, de
 onde vem o chef Roberto Rebaudengo. A farinata
 (R$ 28), por exemplo, é uma massa assada feita de
 farinha de grão-de-bico, água e sal, supermacia,
 que pode vir à mesa com queijo (stracchino ou
                                                                                                             ATENÇÃO, CARO LEITOR
 gorgonzola). Se pura, o valor cai para R$ 22.
                                                                                                                ATTENZIONE, CARO LETTORE / Traduzione dell’articolo a pagina 71
    Os preços justos se estendem por quase todo                                                                                                           O esforço de autoconhecimento determina a

                                                                                                                                                                                                                                      Divulgação
                                                                                                   A consciência de Zeno é não apenas um dos
 o cardápio, e são várias as opções sem carne –                                                 mais aclamados romances da literatura italiana –       estrutura do livro, que tem capítulos dedicados às
 como o minestrone alla genovese, que sai por R$                                                mas também leitura das mais saborosas. Terceiro        diferentes questões investigadas pelo analisando,
 42, e o pansoti recheado com PANCs e ricota de                                                 romance de Italo Svevo, pseudônimo do triestino        como o casamento, a relação com a amante, o
 búfala, por R$ 52. Servem água da casa, tocam                                                  Ettore Schmitz, o livro teve o reconhecimento de       trabalho. As questões que os organizam variam
 música italiana e, a cada noite, um dos drinks                                                 grandes nomes da literatura, como o poeta italiano     do patético ao hilariante: no capítulo dedicado ao
 do menu sai por R$ 20, para a alegria dos mais                                                 Eugenio Montale e o romancista irlandês James          pai, por exemplo, Zeno procura elucidar, a partir
 animados – na noite em que estive lá, um grupo                                                 Joyce. Em primeira pessoa, a personagem que lhe        da revisão de toda uma vida, uma bizarra situação
 de italianos jovens divididos em duas mesinhas                                                 dá título esmiúça suas lembranças buscando se
                                                                                                                                                       ocorrida em seu leito de morte.
 colocadas na calçada cumpria o propósito que                                                   tratar do que identifica como uma doença: o fato
                                                                                                                                                          Sarcástico e autocomplacente, o narrador exige
 aparece no nome da casa – amici di amici.                                                      de durante muitos anos fumar cada cigarro como
                                                                                                                                                       leitores que o acompanhem com desconfiança,
    Para quem quiser um pouco mais de privacidade,                                              se fosse o último, sem, entretanto, conseguir de
                                                                                                                                                       traço em que reside uma das grandes qualidades
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                                                                                                fato deixar o vício.                                                                                        A consciência de Zeno,
 há mesas no andar de cima. De qualquer forma,                                                                                                         do livro. Conhecendo suas relações por meio de
                                                                                                   Publicado inicialmente em 1923, quando a                                                                 Italo Svevo, tradução
 não vá embora sem pedir o tiramisù (R$ 24),                                                                                                           seus olhos, aos poucos vamos aprendendo a nos
                                                                                                psicanálise era ainda pouco difundida na Itália,                                                            de Federico Carotti,
 levíssimo, doce na medida. (Marcella Chartier)                                                                                                        distanciar de seu ponto de vista e a criar novas     L&PM, 448 páginas,
                                                                                                o livro traz a marca da ciência então postulada
                                                                                                                                                                                                            38,90 reais
                                                                                                por Freud. Zeno escreve por sugestão de seu            hipóteses para os eventos narrados. Verdade
  Lido Amici di Amici
  Rua Fradique Coutinho, 282, Pinheiros                                                         analista, que, aliás, é quem publica e apresenta       e mentira, intenções expressas e motivações
  Tel. (11) 2384-9839                                                                           o livro. Abandonado por seu paciente, ele o faz        veladas, realizações e afetos frustrados: na prosa
  Horário de funcionamento: de terça a sexta,                                                                                                          aparentemente límpida de Zeno, cabe ao leitor
                                                                                                por vingança, mas promete dividir os lucros com
  das 17h à 0h. Sábado, das 13h às 23h.
                                                                                                o autor da autobiografia caso o tratamento seja        identificar diferentes camadas e tirar as próprias
                                                                                                retomado.                                              conclusões. (Luisa Destri)

28 • Revista DANTECultural                                                                                                                                                                                     MAIO 2020     •   29
{CULTURA}

       APENAS UM BONECO DE MADEIRA?
                           SOLO UN BURATTINO DI LEGNO? / Traduzione dell’articolo a pagina 71

   Descobrir o que não se é: tarefa tão fundamental   mesmo. O desenlace da autodescoberta se dá por

                                                                                                           Divulgação
 ao autoconhecimento quanto o esforço para            meio da imagem: é numa página do livro que se
 compreender os próprios contornos. A essa tarefa     desdobra em outras quatro que o menino encontra
 se dedica o protagonista de Pinóquio: o livro das    as semelhanças e as diferenças mais capazes de
 pequenas verdades, de Alexandre Rampazo. O           caracterizá-lo. Paradoxalmente, Pinóquio está
 personagem de Carlo Collodi (1826-1890), aqui        longe do espelho.
 recriado, confronta diversos seres da narrativa
                                                         Como sugere Nelson Cruz em texto que
 original, como Gepeto, o Grilo Falante, a Fada
                                                      acompanha o volume, é como “conto visual” que
 Azul – sempre imaginando como seria não ser um
                                                      o livro atinge o seu melhor. Belas e delicadas, as
 boneco de madeira.
                                                      ilustrações permitem que o leitor caminhe por essa
   Vendo-se diante de tantas e diversas figuras,
 ele observa a própria imagem: “Ao olhar para o       jornada de descoberta prescindindo das palavras.
 espelho, pensou que, talvez, se ele fosse Gepeto,    Perceber-se, sonhar, reconhecer parecenças e
                                                                                                                        Pinóquio: o livro das
 seria bondoso, amável, paternal e justo”, conta      legitimar singularidades são temas a trabalhar com                 pequenas verdades,
                                                      os pequenos a partir do livro. Em certo sentido,                  Alexandre Rampazo,
 o narrador, em uma estrutura espelhada que se
                                                                                                                         Boitatá, 32 páginas,
 repetirá ao longo de todo o livro. Reiterativo, o    também o autor é o que pode ser: trata-se do                                   44 reais
 texto assinala a persistência do esforço e a forte   primeiro projeto autoral de Rampazo, premiado
 inquietação com que Pinóquio olha para si            ilustrador de livros infantis. (Luisa Destri)

30 • Revista DANTECultural
{ENSAIO FOTOGRÁFICO/SERVIZIO FOTOGRAFICO}

                                                                                            Roberta Votto
                              Por Arthur Fujii             Texto: Marcella Chartier              Melkan
                                                                                               vem de uma família com
                                            Traduzione dell’articolo a pagina 71               origens italianas do lado
                                                                                                materno, e libanesas do
                                                                                            lado paterno. Seus bisavós,
                                                                                              de ambos os lados, foram
                                                                                              imigrantes que vieram ao
                                                                                              Brasil na década de 1920
                                                                                                  em busca de melhores
                                                                                                 condições de trabalho.
                                                                                            “No Natal, nossa ceia é de
                                                                                             comida árabe. Mas no dia
                                                                                                a dia a culinária italiana
                                                                                                             prevalece.”

               Bruno Chenque
               é de família grande, com laços fortes e almoços longos em volta da mesa da
               cozinha. “Todo mundo dando pitaco sobre a vida de todo mundo. Minha
               avó, quando já estava bem velhinha e com Alzheimer, desembestava a falar
               italiano, como se alguém entendesse alguma coisa.” Ermínia Esperança
               Chenque era filha de italianos. Bruno também tem origens alemãs.

32 • Revista DANTECultural                                                                                 MAIO 2020     •   33
Giuliana Eliza Ricciardi de Luca
 é filha de pai napolitano, vindo da Itália depois da Segunda Guerra,
 e mãe carioca, negra. “Tenho o rosto fino, típico da família dele.
 Lábios carnudos e nariz largo são herança de mamãe.” Ela também
 destaca a cozinha como um lugar de vivências familiares marcantes.

34 • Revista DANTECultural                                              MAIO 2020   •   35
Gessica
                                                                                                       Torres
                                                                                                       Rozante
                                                                                                       vê em sua cor de pele,
                                                                                                       estrutura do rosto e
                                                                                                       altura heranças da
                                                                                                       família paterna, de
                                                                                                       origens italianas. “Mas
                                                                                                       os cabelos, os lábios
                                                                                                       e o corpo são da
                                                                                                       família da minha mãe.”
                                                                                                       Os avós maternos,
                                                                                                       alagoanos, tinham
                                                                                                       traços indígenas.
                                                                                                       “Meu avô era do
                                                                                                       rio, amava nadar e
                                                                                                       sempre preparava
                                                                                                       manjubinhas.” Desse
                                                                                                       lado da família,
                                                                                                       Gessica tem primos
                                                                                                       e tios com traços
                                                                                                       indígenas, afro-
                                                                                                       brasileiros e brancos,
                                                                                                       diversos também
                                                                                                       nas religiões: há
                                                                                                       cristãos católicos e
                                                                                                       umbandistas.

                                    Érika Beraldo Takahashi
                     não sabe por que motivos o avô materno veio da Itália: ele faleceu quando sua
                       mãe ainda era menina. Os avós paternos eram japoneses. Ela cresceu entre
                        familiares expansivos e festeiros (os primeiros) e reservados e regrados (os
                     orientais); entre conservas de pepino, nabo, arroz japonês, e caponatas, pizzas
                       feitas em casa. “Um mix culinário muito louco”, ri. “Meus olhos, apesar de
                          serem puxados, não são pequenos. Lembram mais os da minha mãe.”

36 • Revista DANTECultural                                                                                  MAIO 2020   •   37
Bruno Geraldi

                Insalatina di polpo, prato do Tappo Trattoria,
                restaurante da seção Gastronomia
                Insalatina di polpo, piatto del Tappo Trattoria,
                ristorante di cui parliamo nella sezione
                Gastronomia

                                                               COMIDA
                                                                   CIBO

                                                                              Gastronomia/40
                                                                           Mesa consciente/44

                                                                                 Gastronomia/40
                                                                          Tavola Consapevole/44

38 • Revista DANTECultural                                                             MAIO 2020   •   39
{GASTRONOMIA/GASTRONOMIA}

                                                                                                                   Um império da gastronomia: é assim que muitas       presente lá todos os dias. Entre esses chefs, dois
                                                                                                                vezes é feita a referência às casas pertencentes ao    ganharam fama: os italianos Rodolfo de Santis,
                                                                                                                chef Benny Novak e seus sócios restauranteurs. E       hoje dono de casas no bairro do Itaim Bibi (como
                                                                                                                não à toa: Novak é hoje responsável pelo cardápio      o Nino Cucina e a Cantina Peppino), e Antonio
                                                                                                                de dezenas de estabelecimentos (a maioria, em          Maiolica, atual chef do Antonietta Cucina.
                                                                                                                parceria com a Cia. Tradicional de Comércio —          Maiolica, que ficou no Tappo de 2017 a 2018,
                                                                                                                grupo ao qual pertencem a pizzaria Bráz, o bar         foi responsável pela recriação contemporânea
                                                                                                                Pirajá, a Lanchonete da Cidade, entre outros) que      mais famosa da casa, até hoje no menu: o crème       O Tappo surgiu a
                                                                                                                                                                                                                            partir de um desejo
                                                                                                                vão da culinária francesa à italiana, passando por     brûlée de queijo pecorino. “Nós mantivemos no
                                                                                                                                                                                                                            simples do chef
                                                                                                                hambúrgueres e pizzas; há restaurantes dos mais        cardápio porque é uma coisa muito interessante:      Benny Novak: o
                                                                                                                sofisticados aos mais despojados, mas todos têm        apesar de não ser clássico, é uma receita francesa   de servir pratos da
                                                                                                                                                                       com uma cara e um gosto italiano, que se pode        gastronomia italiana
                                                                                                                algo em comum: a visão de Benny como amante
                                                                                                                                                                                                                            que ele gosta de
                                                                                                                da gastronomia tradicional.                            comer como entrada ou como prato de queijo”,         comer. Na foto,
                                                                                                                   Dentre todas as casas, o Tappo Trattoria (que não   explica Novak. “As inovações, então, têm a ver       cozze alla tarantina
                                                                                                                faz parte do grupo empresarial da Cia. Tradicional     com ideias pessoais, pontuais, alguma referência     Il Tappo è nato da un
                                                                                                                                                                                                                            semplice desiderio dello
                                                                                                                de Comércio), localizado no badalado bairro dos        vista em algum lugar... Elas acontecem não só na     chef Benny Novak:
                                                                                                                Jardins, está entre as mais antigas – e também as      receita, mas muitas vezes na montagem do prato;      servire piatti della
                                                                                                                                                                                                                            cucina italiana che gli
                                                                                                                mais queridinhas, tanto para o chef como para seus     você não precisa mudar a receita, mas muda a         piacciono. Nella foto,
                                                                                                                clientes. Foi inaugurado em 2007, quando Novak         cara.”                                               cozze alla tarantina
                                                                                                                já era proprietário e chef do clássico francês Ici
                                                                                                                Bistrô.
                                                                                                                   O motivo para abrir um restaurante italiano?
                                                                                                                Simples, segundo ele. “O meu grande motivo para
                                                                                                                abrir o Tappo foi um só: o prazer em comer comida
                                                                                                                italiana. Ponto”, conta. “Surgiu a oportunidade de
                                                                                                                abrir um ponto e, pensando no que fazer – um
                                                                                                                outro bistrô? Uma hamburgueria? –, eu falei para
                                                                                                                meu sócio: vamos fazer o que gostamos de comer.”
                                                                                                                   Pode parecer simples demais, mas a ideia de
                                                                                                                um restaurante italiano com a comida que Benny
                                                                                                                Novak gosta de comer significa um norte essencial

       EM MEIO A UM IMPÉRIO
                                                                                                                para o cardápio até hoje: o Tappo não se dedica a
                                                                                                                nenhuma região específica da Itália, mas a pratos
                                                                                                                clássicos. “Nestes doze anos, mudamos muito
                                                                                                                pouco o menu, nós nos mantemos sempre com

     GASTRONÔMICO, UM CLÁSSICO                                                                                  os pratos clássicos, com eventualmente uma ou
                                                                                                                outra coisa contemporânea”, explica ele. “Minha
                                                                                                                característica como chef é essa. Não sou um
           O Tappo Trattoria é onde o chef paulistano Benny Novak serve pratos descomplicados                   criador, um chef autoral, e sim alguém que faz
                                de uma de suas culinárias favoritas, a italiana                                 execuções de pratos clássicos. Meu grande prazer
                                                                                                                é poder fazer um bolonhesa benfeito, um bom
                                 Por Laura Folgueira Fotos: Bruno Geraldi                                       carbonara, um brasato executado de maneira
                                                                                                                original.”
                                IN MEZZO A UN IMPERO GASTRONOMICO, UN CLASSICO                                     As poucas “invenções” que aparecem no menu
                 Il Tappo Trattoria è il luogo dove lo chef di San Paolo Benny Novak serve piatti semplici di   do Tappo, interessantemente, costumam ser
                                           una delle sue cucine preferite, quella italiana                      criadas por chefs que Novak leva para trabalhar a
                                               Traduzione dell’articolo a pagina 72                             seu lado e comandar a casa – já que ele não fica

40 • Revista DANTECultural                                                                                                                                                                                                      MAIO 2020       •   41
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