Concentração! Carnaval carioca pronto para receber foliões do mundo todo
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A M A I O R M Í D I A D A C O M U N I D A D E Í T A L O - B R A S I L E I R A www.comunitaitaliana.com.br Rio de Janeiro, janeiro de 2006 Ano XIII – Nº 92 R$ 7,50 ISSN 1676-3220 Concentração! Carnaval carioca pronto para receber foliões do mundo todo Especial ‘Amazonas’: presença italiana que poucos conhecem
Janeiro de 2006 4 Editorial No calor dos fatos 7Parliamone 20Saúde Reprodução 5 Cose Nostre JK, um indefectível sedutor 22Notizie 8 Marco Lucchesi La vicenda di Kertész 24Opinione 36Moda 10 Entrevista Marília Ferreira Emmi 38Comportamento Historiadora realiza estudo pioneiro Reprodução sobre imigração italiana no Pará 12 Especial Elo perdido na floresta Amazonas recupera vice-consulado e atrai investidores da Bota para o Alto Solimões Calcio Reprodução I due ‘Palestra’ Palmeiras e Cruzeiro hanno in comune molto 26 di più dei successi sul campo: l’Italia Editoria de arte 30 Esporte Olimpíadas do frio Turim recebe milhares de adeptos dos jogos da neve História 32 Reprodução Pão de queijo com pizza Pesquisadores narram a trajetória dos italianos que ajudaram a construir a história de Minas Gerais 34 COPERTINA Viva il carnevale! Ernane D. Assumpção Roberto Moreira (O Fluminense) Italiani, muse, come Juliana Paes... è arrivato il momento di vibrare con le scuole di samba carioca
COSE NOSTRE Julio Vanni FUNDADO EM MARÇO DE 1994 FRENTE BRASIL-ITÁLIA NO RJ SEXO E TV NÃO COMBINAM B DIRETOR-PRESIDENTE / EDITOR: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) rasil 400. Esta é a época em que o país se transforma num caldeirão multicultural latente. Com a bola rolando pelos No calor F oi criada a Frente Parlamentar Brasil-Itália no estado do Rio de Janeiro. O projeto, cuja auto- ria é do deputado estadual, Adroaldo Peixoto Garani P esquisa italiana aponta que casais que não têm TV no quarto fazem sexo duas vezes por semana. Em média, oito vezes por mês. Para aqueles que têm TV no quarto, o índice cai para quatro relações mensais. Segundo a sexóloga Serenella Salomoni, res- DIRETOR: campeonatos estaduais, sol, praia e corpos à mostra, temos a (PSC), foi aprovado em dezembro de 2005 na Assem- ponsável pelo estudo, o efeito é ainda mais marcante entre casais com idade acima dos fatos Julio Cezar Vanni combinação perfeita para melhorar o humor deste povo. “Até o fim do carnaval” pouco (ou nada) se resolve por aqui. Não adianta bléia Legislativa. A Frente tem a meta de estreitar dos 50 anos, onde a média fica em torno de 1,5 relações por mês. O estudo descobriu VICE-DIRETOR EXECUTIVO: as cooperações política, econômica, educacional e ainda que filmes violentos e reality show são programas considerados “inibidores da falar de crise, pensar em democratização dos meios (da riqueza, da Adroaldo Garani cultural entre o Rio e o estado italiano. Os parlamen- libido”, já que diminuem a procura pelo parceiro. A pesquisa entrevistou 523 casais terra, da informação...), fazer análises econômicas, tentar construir ou PUBLICAÇÃO MENSAL E PRODUÇÃO: desconstruir qualquer coisa, pois todas as atenções estão voltadas para o “bem estar” geral. Essa utopia só tares já podem aderir à iniciativa. italianos para saber quais efeitos a televisão tem em suas vidas sexuais. Editora Comunità Ltda. termina com as águas de março. É quando começamos a nos dar conta de que somos cidadãos e temos um dever a cumprir. Lembremos que este é um ano de eleições, o que deve significar o evento mais impor- TIRAGEM: 30.000 exemplares tante de todos. Não vamos deixar de torcer pela seleção e fazer ecoar a alegria da pátria de chuteiras, mas MOTOR A EXPLOSÃO TURISMO EM ALTA temos um tortuoso quadro sócio-politico a reverter. Já é hora deste povo ter acesso à educação. Cerca de A A ESTA EDIÇÃO FOI CONCLUÍDA EM: cidade de Roma recebeu um 15% dos brasileiros com mais de 15 anos são analfabetos. Junto aos analfabetos funcionais – pessoas que Fondazione Barsanti e Matteucci, 20/01/2006 às 16:30h soletram, falam o próprio nome, mas não conseguem redigir uma carta ou ler um texto e compreendê-lo criada em Lucca em 2003, está número recorde de turistas DISTRIBUIÇÃO: difundindo por toda a Itália e no ex- no ano passado, com mais de 16 – chegamos, conforme pesquisa, a absurdos 75%. A inserção política e social só se dará através do apren- Brasil e Itália terior através das associazioni italia- milhões de visitantes. Roma está dizado. Karl Marx dizia que “não se pode esperar que os povos apáticos, os povos da miséria verdadeira REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO: e total, façam a revolução. A revolução quem a faz são aqueles que percebem que lhes cabe um quinhão, ne, a história da criação do motor a investindo em tecnologia e vai Rua Marquês de Caxias, 31 um pedaço do latifúndio e estão dispostos a brigar por isso”. A esse propósito, revirando alguns textos, explosão, uma conquista científica oferecer, a partir de março, servi- Centro – Niterói – RJ – Brasil italiana que o mundo tem atribuído ços de informação eletrônica nos deparei-me com um de Frei Betto – a quem muito admiro –, que data da posse do governo Lula, e que, CEP: 24030-050 ao francês Felipe Lebon, em 1801. melhores hotéis. Trata-se de um Tel/Fax: (21) 2722-0181 / inevitavelmente, também se deixou enganar, reconhecendo logo em seguida sua desilusão ao deixar em Maurizio Brambatti / Ansa poucos meses o Palácio do Planalto. Ele dizia: “Fizemos sim uma revolução, Segundo o presidente da Fondazio- tipo de agenda eletrônica, a cha- (21) 2719-1468 mas por outros métodos. O da organização popular, da conquista progressiva ne, Pierluigi Lazzerini, os cientistas mada “mini GPS”, disponível em E-MAIL: Eugênio Barsanti e Felice Matteucci quatro idiomas, que vem com um de espaço na política, tendo como mentor Paulo Freire; como arma, a ética; redacao@comunitaitaliana.com.br criaram o primeiro motor a explo- mapa da cidade, informa sobre como princípio, a fidelidade aos pobres; repensando e, agora, promovendo a SUBEDIÇÃO refundação do Brasil pela via da participação cidadã e do fortalecimento da são muitos antes de Lebon. O pri- itinerários e contém informação Luciana Bezerra dos Santos democracia”. Logicamente, estava tomado pela euforia. meiro modelo da invenção italiana histórica sobre os monumentos M jornalismo@comunitaitaliana.com.br encontra-se no Deustsches Museum ilhares de pessoas se concentraram, no dia 16 de janeiro, na e igrejas. Além disso, o aparelho REDAÇÃO: Giordano Iapalucci O s italianos no exterior irão votar pela primeira vez em abril. Enquanto que em outros lugares, como nos Estados Unidos, os candidatos mobili- zam eleitores e promovem debates, por aqui, até o fechamento desta edição, di Mônaco, com a devida referência científica enaltecendo o pionerismo praça Farnese de Roma para uma marcha convocada em favor da legalização das uniões não-oficializadas, inclusive as homos- explica o sistema das linhas de metrô e ônibus com seus respec- (repórter especial), de Barsanti e Matteucci. É a prova sexuais. Teve até benção simbólica do juiz Giovanni Palombarini. tivos horários para facilitar a es- e Nayra Garofle ainda não se sabia quem eram os candidatos. eloqüente de um feito italiano que tadia dos turistas na capital. A esquerda, porém, está dividida em relação ao movimento. REVISÃO / TRADUÇÃO Cristiana Cocco Tatiana Correia Ribeiro N a Itália, apesar do favoritismo da esquerda de Romano Prodi, o cenário para as eleições de abril continua indefinido. Para justificar sua perma- nência no poder, Silvio Berlusconi escreveu a “Oração eleitoral”. O primei- Pietro Petraglia na época empolgou o mundo. JK, UM INDEFECTÍVEL SEDUTOR ro ministro explica em 12 páginas quatro pontos que considera fundamen- Editor PONTE ITÁLIA-PINDA A PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: no novo, vida nova. Remexia os meus arquivos quando encontrei um bilhete, cujo original está ao Alberto Carvalho tal para a sua reeleição: “aquilo que fizemos, aquilo que não fizemos, aquilo que faremos e os riscos T da esquerda no governo”. Segundo o premiê, existe, na Itália, os comunistas, como Fausto Bertinotti, reze empresários italianos vieram ao lado desta nota, escrito por Juscelino Kubitschek e endereçado a mim no distante 9 de junho de FOTO DE CAPA “prontos a inchar o estado e a abolir a propriedade privada”, e os pós-comunistas, “que fingem que o 1972. Na época, o médico-político JK era presidente do conselho de Brasil de olho na região de Pindamo- Roberto Moreira administração do antigo Banco Denasa. Não sei se há algum valor (O Fluminense) comunismo com 100 milhões de mortes nunca existiu”. E parte para o ataque: nhangaba, no Vale do Paraíba. A vinda — O adversário político, para eles, é um inimigo a ser eliminado, se não fisicamente, moralmente e da missão é resultado da participação para historiadores. Creio que não. Mas o revival que se instalou na COLABORADORES: politicamente, talvez com o uso político da justiça. Seguindo o ensinamento teórico de Gramisci, ocu- do município paulista em uma feira in- mídia sobre a figura do ex-presidente do Brasil me induziu a publi- André Felipe Lima – Franco car esta carta na coluna. Afinal, muito vem sendo dito sobre JK. Vicenzotti – Braz Maiolino – Lan param todos os setores do poder. O resultado é que hoje, além de administrar 16 das 20 regiões italia- dustrial ocorrida em outubro passado, nas, 77 das 110 províncias, 6.500 cidades das oito mil, controlam quase tudo: a magistratura, a escola, em Parma. Segundo Álvaro Staut Neto, Alguns o definem como um “dos maiores políticos” da República; – Giuseppe D’Angelo (in memoriam) – Pietro Polizzo – Venceslao Soligo – a universidade, os sindicatos, os patronatos, as cooperativas, os principais bancos e a grande maioria da diretor de Indústria, Comércio e Servi- outros, como um “pé-de-valsa” incomparável; os mais sisudos Marco Lucchesi – Domenico De Masi mídia. Vamos também dar o Palazzo Chigi e a maioria no Parlamento e, assim, teremos um regime! ços do município, os italianos estariam e conservadores, como um “incorrigível mulherengo” responsá- – Franco Urani – Giovanni Meo Zilio dispostos a investir R$ 55 milhões em vel pelo que teria sido um dos períodos mais contundentes de – Fernanda Maranesi – Giuseppe Fusco – Beatriz Rassele C om a vitória de Michelle Bachelet, no Chile, e Evo Morales, na Bolívia, o novo continente está mais à esquerda do que nunca. Já o velho continente europeu, deposita, cada vez mais, suas fichas na política neoliberal. Pela primeira vez na história democrática de Portugal é eleito um presidente da condomínios empresariais. ilusionismo político (a criação de Brasília) da história do País. Não importa o que digam. O conheci pessoalmente na época CORRESPONDENTE: em que fui delegado do antigo Ministério da Educação e Cul- República de centro-direita. O ex-premiê, e atual presidente, Aníbal Cavaco Silva (apesar do nome de Guilherme Aquino (Milão) sambista) é responsável pela multiplicação de estradas e hospitais, pela diminuição do desemprego e MURALHA AMÉLIA tura, o “MEC”. E JK sempre foi um camarada preocupado com os outros. Às vezes, quase altruísta. Com aquela mineirice Comunità Italiana está aberto às da mortalidade infantil, que se deu no início dos anos 90. Cavaco, porém, é, sobretudo, conservador: V contribuições e pesquisas de estudiosos inte metros da muralha de Amelia, peculiar, pedia pelos outros. Como o caso da professora Hel- brasileiros, italianos e estrangeiros. em 1993 se recusou a assinar a portaria que concede o feriado de Carnaval. ga Almeida Cardoso, ex-auxiliar dele no Palácio do Catete, Os artigos assinados são de inteira que teve o início de sua construção responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da Revista. M as aqui, no paraíso tropical, respira-se o samba. E, mesmo assim, o que se faz para explorarmos a nossa indústria turística ainda é pouco... A Embratur acaba de fechar dois acordos com operadoras italianas, através de seu escritório em Milão. Em menos de dois anos, foram fechados 32 acordos para no século VII a.C., na região de Úm- bria, demoronaram no último dia 18. descrito aí do lado. O que foi retratado pela minissérie da TV Globo é aquilo mesmo: um JK para muitos e não para poucos. O “amigo de sempre”, como ele se despedia em su- Com 15 metros de altura é também co- La rivista Comunità Italiana è aperta ai que operadoras da bota “vendam” o Brasil como destino. Tomara que o Brasil, com seus 10 mil quilô- as cartas. Um indefectível sedutor nato. contributi e alle ricerche di studiosi ed nhecida como muralha ciclópica pelas metros de costa, suas cachoeiras e toda essa abundância natural que conhecemos, se espelhe na Itália EDITORIAL esperti brasiliani, italiani e estranieri. I para adotar as medidas de sucesso da condução de políticas para este setor. Só Roma recebe cerca de dimensões das pedras utilizadas para collaboratori esprimono, nella massima sua construção, sem utilização de ci- libertà, personali opinioni che non 15 milhões de turistas todos os anos. O triplo de todo o território verde-amarelo. riflettono necessariamente il pensiero mento. Segundo especialistas, a queda della direzione. Boa Leitura! representa uma notável perda do ponto ISSN 1676-3220 de vista arqueológico e histórico. Entretenimento com cultura e informação Filiato all’Associazione Stampa Italiana in Brasile 4 COMUNITÀ ITALIANA / JANEIRO 2006 JANEIRO 2006 / COMUNITÀ ITALIANA 5
PARLIAMONE ufficiolegale@terra.com.br con l’Avvocato Giuseppe Fusco ASSISTENZA, QUESTO MISTERO DOLOROSO L ’argomento di oggi riguardava i corsi di lingua e cultura italiana. Tuttavia non sarà cosi, perché una notizia mi ha turbato parecchio. Si tratta di questo: un cittadino italiano telefona al Comitato di Assis- pi in una comunità che si vanta di essere solidaria e patriottica e dove funziona un servizio di assistenza gestito dal consolato generale. Ecco, probabilmente l’esclusione del Coasit (se è vero) avrà una gius- tenza (il tradizionale Coasit di Rio de Janeiro) per chiedere se il suo ta spiegazione deve trattarsi di un problema di opportunità organizzati- nome c’è o non c’è nella lista dei cittadini bisognosi assistiti. Risposta: va e logistica, di controlli incrociati, di fondi scarseggianti da distribuire non lo sappiamo, deve sentire in consolato, perché noi non sappiamo con cura, parsimonia e quant’altro. più nulla. Sarà sicuramente così. Intanto, chi ha fame ha fame, poi, col tem- Cosi comincia il calvario di uno che non ha niente da mangiare e po, si vedrà. tantomeno comprarsi le medicine necessarie. Lo so, è un antico e complesso problema che gli enti preposti e Non ho avuto il tempo di controllare se questo è vero o no, anche competenti, tra cui il Comites (Comitato degli Italiani all’Estero), perché il Direttore aspetta il mio “pezzo” che era già pronto, ma io ho affrontano da sempre: quello di una rivoluzione concettuale in primo preferito rimandare e, in fretta e furia, l’ho sostituito con questa nota- luogo, perché la solidarietà di cui stiamo parlando non è una elargi- rella sconsolata e perplessa. zione benevole e paternalista del principe o del vescovo, o una pie- I cittadini italiani bisognosi che vivono nella Circoscrizione con- tosa elemosina del buon cristiano che vuole guadagnarsi il Paradiso, solare di Rio de Janeiro, a quel che mi dicono, sono molti, forse trop- ma um diritto garantito. na estante cartas CADÊ OS LOMBARDOS? Vozes Cidadãs: aspectos teóricos e análises de experiên- cias de comunicação popular e sindical na América Latina, Tive a grata satisfação de ganhar na sede do de Cicilia M. Krohling Peruzzo, tem como objetivo estimu- Consulado Italiano, no Rio de Janeiro, um lar ainda mais as pesquisas e os debates dos estudiosos da exemplar de sua esplêndida publicação, onde, Comunicação Social, em prol de uma cidadania ativa, com além de apurar todas as matérias, um assunto a participação consciente do cidadão. Editora Angellara, que mais me chamou a atenção: a nota que se 374 págs., R$ 45. refere ao encontro dos toscanos na Argentina. Por que não fazem o mesmo os lombardos resi- dentes em nossos estados brasileiros? WALDEMAR SOLDI, Alcoolismo, novas perspec- Rio de Janeiro (por carta) tivas, de Claudio Pierlorenzi e Alessandro Senni, enfoca o problema do alcoolismo ANALFABETISMO nos seus vários aspectos sociais, psicológicos e jurí- É impressionante que um País do G-8 apresente dicos. Editora Itália Nova, índice tão alarmante de analfabetismo. Sinal dos 176 págs., R$ 32. tempos, ou será falta de vergonha na cara das au- toridades italianas. Correta a observação do soci- ólogo Francesco Alberoni de que a linguagem, o vocabulário e a leitura fragmentada dos italianos são indícios claros do agravamento do problema. Em nome de São Francisco, de Grado Giovani Merlo, GIOVANNI CECCARINI contempla os três séculos São Paulo (por e-mail) mais importantes da histó- ria minorítica e da memória franciscana no início do IMIGRANTES século XIX. Editora Vozes, 344 págs., R$ 46. Meu avô é assinante da revista e sempre que posso dou uma olhadinha. Gostaria de parabe- nizá-los pelo excelente conteúdo. As matérias dos imigrantes italianos em Vitória e em São Paulo são fundamentais para preservarmos nos- O mistério das bolas de gude, de Gilberto Dimenstein, bus- sas origens. Que tal uma matéria sobre Bento ca personagens de diversas origens, com uma história em Gonçalves e Garibaldi? comum: o desejo de criar alternativas à desesperança vivida GABRIELLA TROTTA pelos que se encontram em situação de risco. Editora Papi- Porto Alegre (por e-mail) rus, 192 págs., R$ 28. JANEIRO 2006 / COMUNITÀ ITALIANA 7
Marco Lucchesi - Articolo La vicenda da una buona antologia della poesia ungherese ad altri e più frequenti sforzi, come la creazio- hanno molto di ciò che si era soliti chiamare Al- ta Modernità – una vasta tradizione del romanzo Considero Kadish polavoro di Kertész, uno dei libri più belli di cui abbia notizia, intenso e veloce, come se fosse ne di un corso di lingua e letteratura ungherese nelle nostre Università federali. del XIX secolo, in cui si riprendono quelle figure e intrecci che ora, in Márai, si dissolvono com- a un bambino mai stato scritto adesso, a partire dalla sua musica, dai suoi ostinati, crescendo e diminuendo, come Il primo (e forse ultimo) grande successo di pubblico fu I ragazzi di via Pal (A Pál utcai fiuk), pletamente. Ma il tutto senza clamore, senza as- sumere una teatralità vuota ed aggressiva. nato, il capolavoro un grido lancinante, percorso da una forte dispe- razione. Sprovvisto di effetti meramente retorici di Kertész, uno dei di Kertész di Ferenc Molnár, tradotto da Rónai. Questo libro Quasi come la chiesa di San Matteo a Bu- e sproporzionati, Kadish è un tempio greco con- ebbe un grande impatto sulla mia generazione da, e i suoi castelli e palazzi in rovina. Abbiamo sacrato ad un angelo duro e diffuso, tremendo e e su quella immediatamente precedente. Mi ri- cordo di tante pagine, e del terreno incolto, il quasi un’odissea mentale, sorta di rieducazione borghese dei sensi, ma di una borghesia liberale, libri più belli di cui lancinante, una specie di Ur-Schrei, dal grido pri- mordiale, lanciato con esuberanza e pieno domi- Grund, e del Club in cui sognavano i ragazzi, così come degli episodi penosi, come le ore che pre- contraddistinta da gesti di umanismo e dispe- razione. Tutto ciò che si può capire del giudice abbia notizia nio del discorso. Penserei a modelli diversi, come la Lettera al padre di Kafka, o a quando Leopardi cedono la morte di Nemecsek. Kristóf Kömives, cercando l’equilibrio classico, si dirige a Monaldo, e al libretto Erwartung, mu- Tutto questo emozionò la mia prima adole- la distanza quasi olimpica e oggettiva che si sicato da Schönberg. E tuttavia l’opera di Kertész scenza. Decisi di scrivere a Paulo Rónai, perché richiederebbe ad un alto magistrato. Le sotti- Passiamo per un’adolescenza difficile, quel- è solitaria e non conserva un indirizzo specifico, Dalle alte pianure dell’Ungheria e dal genio di due romanzieri c’erano degli echi fra quei ragazzi e ciò che io gliezze sono qui importanti, allusioni, remis- la di Kertész, che nasce da una famiglia ebrea mittente o destinatario. Somiglia di più ad un dell’Europa Centrale – parenti di Musil, Mann e Broch – sono avevo vissuto a Niterói, dagli otto ai dieci anni sioni, che raggiungono l’apice con la misteriosa di Budapest, nel 1929. Deportato ad Auschwitz, trattato sulla Dignità dell’uomo – come si faceva d’età. Il terreno incolto. La fondazione del Club. visita del dott. Greimer, terribile e meraviglioso Buchenwald e Zeitz, ad appena 15 anni, nel nel Quattrocento –, ma di una complessità nuo- appena giunti in Brasile Divorzio a Buda di Sándor Márai e Kadish E la guerra (di rosmarino e maggiorana) tra fa- avvenimento, di una narrativa notturna, emi- 1944. Passati poco più di dodici mesi, Kertész va, fatta di adesione e disincanto, elaborante per un bambino mai nato, di Imre Kertész zioni rivali. Lo stesso lirismo che avvicinava i nentemente notturna, fatta di ombre e silenzi ritorna a Budapest e vive come traduttore (di una ipermorale che parte da una data realtà, da- giovani del Brasile a quelli dell’Ungheria. – indimenticabile per il lettore più esigente. Hoffmansthal, Nietzsche, Canetti, Schnitzler), vanti ai cui orrori occorrerà formare un’altra e più Altro e grande autore: Sándor Márai. Nato nel Sándor Márai rappresenta oggi per me non esat- librettista e scrittore, riflettendo sulla sua dram- complessa immagine degli uomini. Ogni qualsiasi P 1900 a Kassa, sotto il dominio dell’antico Impe- tamente il dramma della lingua, della storia o matica esperienza dei campi di concentramento, spiegazione, più o meno determinista, più o me- er molti l’opacità della lingua ungherese hongrois, nonché a una serie di saggi lessicali e ro austro-ungarico, i suoi romanzi erano molto dell’autore. Ma il dramma di una letteratura in- a partire dalla quale elaborò i suoi romanzi, co- no classificabile, non risponde alla ricerca morale impedisce una conoscenza più ampia della etimologici. Non sono andato oltre una (dotta, letti negli anni ’30. Durante il regime fascista di giustamente emarginata e dei grandi valori di me in Senza destino. di Kertész. sua letteratura. C’è chi pensa che il magia- forse?) ignoranza, una certa pratica strumentale, Horthy, Márai visse periodi di esilio in Germania una certa perduta Modernità. Una drammatica percezione delle trasfor- Ecco il punto cruciale, quando le nuvole di ro sia tra le lingue più difficili, come Paulo riuscendo, tuttavia, a porre in relazione piani e e in Francia, per lasciare definitivamente il paese Questi stessi valori riappaiono in un roman- mazioni e del linguaggio praticato dal corpo, ferro si abbattono su di un campo di verde pri- Rónai – erudito, professore di latino a Budapest e contesti, a partire da un piccolo dizionario e mo- dopo l’avvento del regime comunista, nel 1948. zo che mi è caro: Verdetto a Canudos (Ítélet Ca- sottomesso ad un’infinità di prove. Il peso della mavera, quando il trionfo della barbarie sembra che è diventato, per così dire, brasiliano, tradut- di grammaticali. Andò in Canada e si stabilì poco dopo negli Stati nubosan), in cui Márai si ispira al capolavoro di Storia. I suoi fantasmi. E assurdi. Come interpre- l’ultimo di una serie, come e quando le figura- tore della Commédie humaine in portoghese e di Si tratta di una lingua di forza e bellezza, Uniti. La sua opera cominciò a cadere in un for- Euclides da Cunha Os sertões (come già aveva tarli? Come salvaguardarsi da questi mali? E tut- zioni del Pentateuco e del suo Tempo forte sem- antologie di racconti e novelle dell’Ungheria – è equilibrio e ragione. E se un idioma fosse ca- zato e assurdo dimenticatoio in Ungheria. Smarri- fatto Mario Vargas Llosa ne La guerra en el fin del tavia, lungi dal ridurre il fato a mera ideologia, brano gridare attraverso una distanza tremenda arrivato a dire in Come ho imparato il portoghese pace di impedire la conoscenza della sua lette- tosi in una grave solitudine, Márai decide di porre mundo, 1981). Márai segue la traduzione inglese Kertész rivela il vigore di questa esperienza al e solitaria, come lo splendore della stella soli- ed altre avventure che la grammatica ungherese ratura, sarebbe lecito immaginare Shakespeare fine alla sua vita nel 1989, nella città di San Die- di Samuel Putnam e rimane impressionato dal- centro del fenomeno letterario, evitando aporie taria della teologia giudaica. La condizione di conservava “un intrico di opachi labirinti”. Il fat- sconosciuto a Sumatra, Beijing o Helsinki, dal go. Fu l’editrice Adelphi in Italia che cominciò a l’opera di Euclides (“il libro è come la vegetazio- ulteriori, riduzioni e sequestri condannabili, in Kertész, in quelle pagine, conosce nelle nuvole to di non appartenere alla famiglia indoeuropea momento che l’inglese si mostrerebbe incompa- tradurne l’opera, oggi inserita nel catalogo delle ne del sertão: abbondanza e aridità allo stesso cui la letteratura scompare, lasciando al suo po- una forma di meraviglia dalla forma compatta e – essendo più vicina al finlandese, al turco e al tibile con quelle lingue e culture nelle quali sa- maggiori case editrici d’Europa e degli Stati Uniti. tempo”) e il genocidio che la giovane Repubbli- sto un’eredità extraletteraria di macerie, gesti, universale, distinta e pura, di paese e radice, di mongolo –, causa all’inizio un certo disorienta- rebbe tradotto? L’argomento dell’impenetrabilità Come possiamo ben vedere nel caso di Márai, le ca perpetrò ai danni dei seguaci del Conselheiro, parole. In questa cognizione del dolore, ciò che una stessa e molte lingue, come nei versi di Ese- mento, come di chi si senta perduto in una ter- dell’ungherese mi sembra insufficiente, buono ragioni politiche sono state largamente superiori nel 1896, nell’entroterra di Bahia. sorprende è la logica della sopravvivenza o della nin, quando egli si ritrova a meditare, solitario, ra di nessuno, senza riferimenti previ, in mezzo per mascherare – per inerzia ideologica – altre a quelle di ordine linguistico. Quando penso a Márai – in questo scenario sua pratica, che supera eroicamente limiti che sulla Bibbia dei Venti, mentre pascola il gregge a parole definitivamente lunghe, irriducibili (o e più complesse motivazioni di ordine politico e Il romanzo Divorzio a Buda (Válás Budán) diffuso, impreciso e capillare della letteratura prima sembravano invalicabili. di inesauribile, segreta e purissima ricerca: quasi) al Dizionario dell’Occidente, con una va- culturale, che si modificano a vista d’occhio dal- è un piccolo capolavoro. Libro di taglio clas- ungherese in Brasile – mi rivolgo d’acchito al In questo tono, in questa for- sta mobilità frastica e una delicata relazione tra la caduta del muro di Berlino. sico, mitteleuropeo, pieno di passaggi, mondi bellissimo libro di Imre Kertész, Senza desti- ma complessa di capire la Storia Ho letto e pensato sostantivi e aggettivi, oltre ai complementi In Brasile, la diffusione della letteratura un- interiori, grandi monologhi, geometricamente no, del 1975, nella versione di Paulo Schiller, a e il Soggetto, considero Kadish sulla bibbia dei venti (inessivo, ilativo, elativo, sublativo, supe- gherese è la risultante dello sforzo di un mani- perfetti, grande agilità narrativa, oltre ad una partire dal quale riprendiamo, secondo un’altra a un bambino mai nato, il ca- con Isaia ho pascolato resivo, delativo, alativo, terminativo, adesivo, polo di traduttori (Paulo Rónai, Paulo Schiller, strana e bella consistenza. In uno dei ritratti del chiave, ciò che in Molnár era un excursus lirico. i miei dorati armenti. ablativo e quant’altro!). Ho cominciato a studiare Ildikó Sütö, Ladislao Szabo), che non solo co- protagonista, Márai fonde il paesaggio di Buda meglio la lingua da circa un anno e mezzo, con noscono l’originale, ma anche il mestiere della con i valori morali del Magistrato, traslati in piccole interruzioni. Ora ottimista. Ora traduzione, dominando con maestria la lingua tempi altri e gravi: (trad. Andrea Santurbano) disperato. Mi sono dedicato alla gram- d’arrivo, così come la letteratura brasiliana e Tutte le sue ricerche e interpretazioni, ten- matica di Sauvageot, Premier livre de portoghese. Ma c’è tutto un mondo da costruire, tativi di domare il reale e superare gli istinti, Reprodução 8 COMUNITÀ ITALIANA / JANEIRO 2006 JANEIRO 2006 / COMUNITÀ ITALIANA 9
Entrevista constitui a primeira etapa de uma pesquisa que pretendo realizar em outros estados da Campânia e aqui se dedicaram ao comércio ou a atividades típicas das cidades: engraxates, jor- ‘Não se conhece um prédio da Unione Italiana, na rua Manoel Ba- rata, a festa de San Gennaro passou a ser rea- Amazônia. Um dos maiores estímulos para es- sa escolha encontra-se no fato dessa inserção naleiros, ferreiros, etc. O terceiro grupo seria formado por italianos que, no início do século estudo aprofundado lizada num espaço maior, uma praça localiza- da em frente à Acib, onde funcionou, durante regional ser pouco referenciada pela literatura que trata da imigração no Brasil. Aliás, essa XX, se instalaram na região do Baixo Amazonas, principalmente nos municípios de Óbidos, Ori- que realize a décadas, a Fábrica Palmeira. A programação da festa constitui em missa celebrada em italia- produção é espacialmente localizada. Os estu- dos concentram-se no Sul e no Sudeste, regi- ximiná, Santarém, Juruti e Faro. Originalmente camponeses da Basilicata, no sul da Itália, ao se construção de uma no, apresentação de música e dança italiana e um festival gastronômico do qual participam ões que receberam o maior número de imigran- tes. Poucos estudos referem-se sobre a pre- fixarem no Pará passaram a aliar suas atividades agrícolas ao comércio, chegando a se firmar no historiografia sobre os principais restaurantes locais especializa- dos em comida italiana. sença desses imigrantes na Amazônia, onde, apesar de pouca expressão quantitativa, esse setor mercantil e desenvolvendo suas atividades com uma organização de base familiar. a imigração italiana C.I. — A senhora menciona que há uma linha direta entre Brasil e Gênova no Pará. Como ela movimento migratório ocorreu com relativa in- C.I. — Há áreas de Belém consideradas uma es- no Pará’ se articulou e para que fins, especificamente? tensidade em um tempo que foge à periodiza- pécie de bairro “Bexiga”? Marília — A linha de navegação Belém-Gê- ção oficial. Em 1920, os italianos constituíram Marília — Aqui, em Belém, não identificamos nova-Belém funcionou nos fins do século XIX. quantitativamente a terceira nacionalidade es- bairros de tradição italiana como em São Pau- em todo Brasil, essa associação quase desapa- Em 1897, foi dada a concessão de uma linha trangeira no Pará, somente suplantada pelos lo. Entretanto, segundo a memória social, os receu, permanecendo apenas como um ponto de navegação ao político e armador genovês portugueses e pelos espanhóis. Apesar da im- italianos que aqui chegavam concentravam de encontro de velhos italianos que se reuniam Gustavo Gavotti, que passou a operar através Divulgação portância dessa participação, não se conhece suas residências em ruas próximas ao centro aos domingos para jogar baralho. Só na década da companhia Ligure Brasiliana. Os navios da um estudo aprofundado que realize a constru- comercial e também próximas aos prédios das de 1980, por iniciativa de alguns remanescen- empresa faziam linhas regulares Gênova-Be- ção de uma historiografia sobre a imigração associações de imigrantes italianos, como as tes da colônia italiana e de seus descendentes, lém-Manaus. Essa linha serviu para estimular Pará: imigração que italiana no Pará e reflita sobre o significado e a ruas Frei Gil de Vila Nova, Padre Eutíquio, Ma- a associação foi reestruturada e denominada a imigração na região. Seus navios trouxeram contribuição dessa corrente migratória no pro- noel Barata e O’ de Almeida, onde ainda resi- Associação Cultural Ítalo-Brasileira (Acib). Es- artistas, jornalistas e outros profissionais libe- cesso de construção da sociedade paraense, na dem descendentes das primeiras famílias ita- sa associação atualmente funciona no antigo rais à Amazônia. política e na economia regional, na introdução lianas que aqui se instalaram. prédio da extinta UIIMS, situada na rua Ma- C.I. — Em 1934, havia em Belém 54 casas co- poucos conhecem de novos padrões culturais, enfim uma inves- C.I. — Em Santarém, interior do estado, vá- noel Barata, no centro comercial. Iniciativas merciais de italianos. Estes empreedimentos tigação sobre os padrões de assimilação desse rios imigrantes consolidaram investimentos. da ACIB: criação do Centro de Língua e Cultura foram mantidos pelos descendentes? grupo. Esses pontos mencionados constituem Houve manutenção de costumes italianos, ou Italiana (Celci), que mantém até hoje um curso Marília — Até fins da década de 30 havia no objetivo da pesquisa Raízes italianas no de- perdeu-se identidade cultural? de língua italiana, e promoção, anualmente, da Pará, aproximadamente, 40 estabelecimentos senvolvimento da Amazônia (1870-1950), que Marília — Na realidade, no interior do esta- festa di San Gennaro. comerciais localizados em Belém e no Baixo ora estou desenvolvendo. Outro fator que pe- do, os italianos concentraram seus investimen- C.I. — Mais recentemente houve manifesta- Amazonas pertencentes a italianos. Eles se de- André Felipe Lima sou na escolha do tema é que ao investigar as tos nos municípios de Óbidos e Oriximiná. Até ções culturais? dicavam ao comércio de gêneros alimentícios, M raízes italianas na Amazônia também estou in- os anos 50, Óbidos foi considerado o principal Marília — Em 2003, a Universidade Federal do materiais de construção, calçados e confecções. anaus (AM) — Quem disse que ape- família. Tive pouco contato com ele, pois quan- vestigando as minhas raízes. centro comercial dos italianos no Baixo Amazo- Pará criou a Casa de Estudos Italianos (CEI), que Alguns desses italianos, sobretudo os do Baixo nas as lavouras de café seduziram os do morreu, eu era criança. Segundo minha mãe, C.I. — Qual, com exatidão, é a influência dessa nas. Mas a segunda geração desses comerciantes mantém um curso de língua italiana em parceria Amazonas, também eram fazendeiros, entretan- italianos que aportaram no Brasil no ele cultivava certas tradições italianas, como o colonização na economia e cultura do estado? transferiu-se em sua maioria para Belém onde, com instituições culturais e universidades ita- to, poucos descendentes continuaram a exercer final do século XIX? Em entrevista à hábito de comer macarrão caseiro às quintas e Marília — Segundo a literatura, a entrada de atualmente, são profissionais liberais: médicos, lianas. Com a criação dessa Casa, foi incluído o as atividades econômicas de seus pais. A maioria Comunità, a historiadora Marilia Ferreira Emmi domingos. Minha ligação familiar maior com a imigrantes italianos na Amazônia está relacio- advogados, dentistas, engenheiros etc. A cidade italiano como língua opcional no vestibular da veio para Belém, onde se tornaram funcionários afirma que há muita história a ser contada sobre Itália vem da parte de meu marido, Giovanni nada com o auge da borracha. A riqueza pro- que ainda hoje mantém descendentes de italia- Universidade Federal do Pará (Ufpa). Em agosto públicos e profissionais liberais. a imigração. Principalmente acima do sul e su- Emmi. Seu pai, que também se chamava Gio- porcionada pela produção da borracha no final nos em atividades comerciais é Oriximiná, aí os de 2005 foi realizada pela Prefeitu- deste do País, mas precisamente no Pará, onde vanni Emmi, natural de Língua Glossa, provín- do século XIX atrairia arquitetos e artistas ita- imigrantes deixaram as suas marcas. As princi- ra de Belém a exposição “Belém dos italianos — a maioria oriunda da Calábria, Cam- cia de Catânia, na Sicília, chegou ao Brasil em lianos para o exercício de atividades que se fa- pais ruas do centro ainda têm nome de comer- Imigrantes, história e memória”, mos- pânia e Basilicata — trocaram o trabalho nos ca- 1924. Depois de passar um curto período no Rio ziam necessárias no acelerado surto de urba- ciantes italianos. trando a multiculturalidade da Ama- fezais do sudeste, pelos seringais da Amazônia. O de Janeiro e em Manaus, veio residir no Pará a nização regional. Eles eram requisitados pelas C.I. — Em sua tese, a senhora comenta sobre zônia numa exposição fotográfica, em auge da borracha era o “pote de ouro”, que mui- convite de amigos, e instalou um hotel na cida- elites econômica e política locais. Mas a pre- a existência de duas associações de imigran- que sobressaía a imigração italiana. A tos nunca alcançaram. E o comércio foi o grande de de Santa Izabel do Pará, a 45 km de Belém. sença mais efetiva de grupos de italianos que tes na década de 1920. Estas associações ain- presença italiana na arquitetura de atrativo, principalmente no interior do estado. Em sua casa, cultivavam-se vários traços da cul- escolheram o Pará como região de destino do da existem? Se não, por quê? Belém, sobretudo da época da borra- “Até os anos 50, o município de Óbidos foi consi- tura e tradições italianas, desde a gastronomia, processo de emigração deu-se a partir da últi- Marília — Em Belém existiram várias associa- cha, é significativa. Theatro da Paz, derado o principal centro comercial dos italianos passando pela música, as festas cívicas e até a ma década do século XIX e, em maior número, ções que congregavam os imigrantes italianos: várias igrejas, palacetes, monumen- no Baixo Amazonas”, frisa a pesquisadora. lealdade aos governantes italianos. Lutou na a partir de 1920. Societá Italiana di Beneficenza, fundada em tos etc. Todo o esforço investigativo de Marília — Itália na Primeira Guerra Mundial, mas durante C.I. — Quem eram esses italianos? De que 1912. Em 1920, essa sociedade criou a Scuola C.I. — Sobre o aspecto religioso, a pesquisadora do Núcleo de Altos Estudos Ama- a Segunda Guerra, já no Brasil, como outros ita- regiões vieram? Dante Alighieri, destinada exclusivamente aos comunidade de Belém, mesmo sem zônicos, da Universidade Federal do Pará — está lianos, foi alvo de perseguições que lhe custou a Marília — No levantamento realizado verifiquei filhos de italianos; em 1923 foi criada a Asso- uma igreja de San Gennaro, pro- sendo focado na elaboração de uma tese de dou- perda do hotel e a maioria de seus bens. Morreu que esses imigrantes poderiam ser agrupados em ciazione Nazionale Combattenti; em 1924 foi move anualmente a festa do santo torado. Um pioneirismo que vai resgatar dados aos 80 anos, sempre falando da Itália com pro- três segmentos. O primeiro seria constituído por criado o Fascio Del Pará; em 1926 foi funda- italiano. Desde quando isso vem fundamentais sobre a presença dos italianos no funda nostalgia. famílias que vieram entre 1898 e 1900 subsidia- do o Itália Sport Club; em 1928 essas associa- acontecendo? estado do Pará e que abrirá portas para novos es- C.I. — O que, inicialmente, a despertou pa- das pelo estado do Pará para serem assentadas ções se uniram e criaram a Casa degli Italia- Marília — Como a maioria dos ita- tudos sobre a imigração no Brasil. ra a pesquisa sobre a colonização italiana em projetos de colonização ao longo da estrada ni, cujo presidente, o comerciante Francesco lianos que se fixaram em Belém é Comunita Italiana — Conte um pouco sobre a no Pará? de ferro Belém-Bragança. Refiro-me às colônias Falesi, ainda tem descendentes no comércio originária da Calábria, região onde trajetória de sua família no estado? Marília — A pesquisa sobre imigração italiana Anita Garibaldi (colonos lombardos e vênetos) e de Belém. Outra associação era a Unione Ita- o santo é venerado, os membros Marília Emmi — Sou descendente de italianos no Pará tem certas particularidades. Trata-se Ianetama (colonos sicilianos). A literatura regis- liana D’Istruzione e Mutuo Soccorso (UIIMS), da Acib decidiram promover anu- pelo lado materno. Meu avô Fidelis Pollaro, na- de estudar a vinda de italianos na época desig- tra que essas colônias não tiveram sucesso em foi criada em 1919 pelo comerciante Gaetano almente a festa em homenagem a tural de San Constantino de Rivello, região da nada como a da “grande imigração”, mas para termos de desenvolvimento da atividade agrícola Verbicaro, que também tem descendentes em San Gennaro com a finalidade de Basilicata, chegou ao Brasil com 18 anos acom- uma região muito distante daquela que con- e que poucas famílias permaneceram no local, al- Belém. Em 1933 houve a fusão da Casa Degli congregar os italianos e seus des- panhado de seu pai, Domenico Pollaro, em 1900. centrava “fatores de atração”. A reflexão sobre gumas migraram para Belém enquanto outras re- Italiani com a UIIMS, dando origem a Socie- cendentes. A festa realizou-se pela Depois de breve passagem por Belém, localizou- esse período é uma estratégia para tratar de tornaram à Itália. O segundo grupo seria forma- tà di Assistenza per gli italiani di Belém, que primeira vez em 1997 num quartei- se em Faro, na região do Baixo Amazonas [Pa- questões mais gerais da imigração e também do por imigrantes que desembarcaram nos portos a partir de 1938 passou a chamar-se Casa da rão da Avenida Serzedelo Corrêa em rá], onde instalou um pequeno comércio e cria- para abordar a dinâmica da imigração italiana de Santos ou no do Rio de Janeiro e teve Belém Itália Pará-Brasil. A partir da Segunda Guerra frente ao prédio em que funcionava va ovelhas. Em 1920, seu pai retornou à Itália, na Amazônia, tendo como referência o Pará. como destino final do processo migratório. Eles mundial, quando houve intensa perseguição a Acib. Em 2005, como a sede da mas ele ficou no Brasil, pois já havia constituído Essa pesquisa para minha tese de doutorado eram em sua maioria oriundos da Calábria e da aos imigrantes italianos, alemães e japoneses Acib passou a funcionar no antigo 10 COMUNITÀ ITALIANA / JANEIRO 2006 JANEIRO 2006 / COMUNITÀ ITALIANA
Especial ééEspecial Amazôniaéé ééEspecial Amazôniaéé Elo M anaus (AM) — Artesão dos calçados, recebeu um convite para revitalizar o vice-con- convidando os empresários italianos da região o italiano Giuseppe Russo chegou à sulado da Itália no Amazonas. para fazer parte de mais esse projeto — sinaliza Manaus em 1915. Seu pai aportou um Russo aceitou o desafio e transformou o Russo, que também pretende instalar em Manaus tempo antes seduzido pelo ciclo da que antes era apenas um escritório consular de um núcleo de assistência médica para italianos e perdido borracha no Amazonas. Sem o pai, Giuseppe ca- correspondência em um centro de apoio e orien- descendentes e implantar um patronato. sou-se com uma amazonense, que vive até hoje tação para a comunidade de italianos e oriundi Segundo o oftalmologista, os trabalhos con- em uma das belas casas no centro velho de Ma- em Manaus. Uma bem montada infra-estrutura sulares são realizados com “recursos próprios”. naus, onde está o majestoso Teatro Amazonas, em um andar de sua clínica médica. — Temos que ir a Recife discutir autonomia. obra cuja arquitetura foi desenhada também por — Em homenagem a meu pai, aceitei o Queremos fazer os serviços por aqui. É impres- italianos. Morreu com 75 anos, vítima de diabe- cargo — ressalta. Para ele, quem assumir um sionante a busca por cidadania, centenas de Arquivo Comunità tes. Era duro na queda. Não deixou nenhum dos vice-consulado deve ter uma família com “tra- pessoas nos procuram em busca de informações seus oito filhos o ajudarem na sapataria. Dizia dição viva”, “envolvimento” com a sociedade e, sobre seus direitos. O próprio Consulado de Re- que só se “aposentaria depois de formar” os fi- sobretudo, “orgulho” das origens. cife não colocou mais o Amazonas no circuito, lhos. O que cumpriu. Morreu sem retornar à terra Russo, Calderaro, Aronne, Cantisani, Cela- nem cultural, nem de autoridades importantes natal, Rotondo, na província de Potenza, região ni, Biondin, Pelosi, Conte, Limongi, Cardelli e italianas. Somente em 2004 é que veio a primei- Amazonenses recuperam vice-consulado da Itália em Manaus para de Basilicata, onde nasceu em 1885. Faraco são algumas das famílias que ajudam a ra atividade cultural aqui, com a orquestra ita- Um típico italiano “bem machista”, tanto contar a história do Amazonas, sem o folclore liana, onde 700 pessoas prestigiaram o evento fortalecer ponte com a imigração do início do século XX. O ano de 2006 é especial para o Amazonas. Investimentos da Bota começam que a esposa era quem, no almoço e jantar, servia a todos os filhos e somente quando aca- característico de que Manaus é “terra predomi- nantemente de floresta, onça e pirarucu”. Lá foi ‘Fizemos uma boa — avalia o vice-cônsul no Amazonas. a florescer no Alto Solimões e freis capuchinhos iniciam preparativos bavam de se alimentar, comia. — Isso é bem característico do sul da Itália escrita uma das histórias mais singulares da co- lonização italiana. Embora um grande número de sede consular e REDESCOBRINDO RAÍZES Médico oftalmologista há 30 anos, Arnaldo Rus- para o centenário, em 2009, da missão religiosa no estado — recorda o oftalmologista Arnaldo Russo, de descendentes desconheça a importância de sua começamos a reunir so é casado e tem dois filhos. Em 2002, visitou 54 anos, filho de Giuseppe, que há dois anos ancestralidade para o Amazonas. a Itália, especificamente a terra do pai, a rústica Luciana Bezerra dos Santos e André Felipe Lima Essa perda de identidade preocupa o vice- cônsul, Arnaldo Russo, que realiza mensalmente a comunidade Rotondo — a seis horas de Roma. — Foi bastante emocionante visitar a terra um encontro de representantes das principais para mostrar que dos meus antepassados. Infelizmente fiquei famílias de ítalo-brasileiros em Manaus. O vice- pouco tempo, apenas seis horas. A idéia é pegar consulado, explica ele, reporta-se diretamente temos condições a família e fazer uma viagem mais longa pela ao Consulado de Recife. Itália em busca de parentes. O que chamou a — Como ficou sem contato muito tempo, a de trabalhar com minha atenção foi que após as 13h, ninguém comunidade ficou dispersa e ninguém imagina faz nada, fecha tudo. Às cinco horas da tarde foi como é difícil esse retorno. Conseguimos mos- qualidade’ quando as pessoas começaram a chegar à praça, trar ao Consulado geral de Recife que tínhamos algumas mais idosas, com chapéus antigos, pas- condições. Fizemos uma boa sede consular e ARNALDO RUSSO, VICE-CÔNSUL seando pela praça. começamos a reunir a comunidade para mostrar DA ITÁLIA NO AMAZONAS O pouco que se sabe hoje sobre a presença que já tínhamos condições de trabalhar com dos italianos no Amazonas está registrado no qualidade — pondera Russo, que recebe, em livro “Gli italiani nel Nord del Brasile”, cuja pri- média, quarenta pessoas em cada encontro que de aproximação da comunidade na cidade é bem meira edição foi publicada em 1931, em Belém, promove — No jantar de fim de ano vieram 100 lento — acrescenta. no Pará, por Ermenegildo Aliprandi e Virgilio pessoas — completa. Ele critica também organizações de eventos Martini, uma obra rara, com pouquíssimos exem- Em cada encontro, um convidado fala um que envolvem italianos no Amazonas para as plares existentes. pouco da trajetória da família no estado, mos- quais o vice-consulado sequer é convidado. trando, inclusive, fotografias e filmes. A reunião — Acredito que essa distância se deva por- também propicia debates sobre as dificuldades que o consulado nunca teve expressividade na da comunidade e o serviço consular. O final é cidade — observa o vice-cônsul, que disse não sob a melhor medida italiana, regado à comidas ter sido informado sobre a recente visita de uma típicas da mamma e vinho. missão empresarial da Itália ao Alto Solimões Luciana Bezerra dos Santos Segundo o oftalmologista, a distância entre — Fiquei sabendo agora, por vocês [repórteres o escritório consular em Manaus e a comunidade da Comunità]. Em nossas reuniões, convidamos desmotivou os descendentes. Existe atualmente empresários, pessoas de opinião, para divulgar- em Manaus cerca de 400 oriundi e “muito pou- mos que estamos funcionando e, mesmo assim, cos” italianos. Um número, embora pequeno, ficamos sem saber o que está acontecendo entre “considerável” para o tamanho de Manaus, como o Amazonas e a Itália. aponta Russo. No início do século, a colonização foi promovida principalmente por pessoas do Sul PONTE MANAUS-ITÁLIA da Itália, especialmente da Basilicata e Nápoles. As eleições italianas também estão sendo acom- Reprodução Ainda inicial, o trabalho do vice-consulado panhadas por Arnaldo Russo. Ele frisa que os do Amazonas já obteve resultados positivos, ítalo-brasileiros do Amazonas cadastrados no como eventos culturais - em Consulado em Recife receberão todo o material 2004, uma orquestra de câma- necessário e votarão por meio do vice-consulado, ra italiana apresentou-se no em Manaus. Fortalecer o vice-consulado como Teatro Amazonas - e a busca centro de negócios e de cultura bilaterais é outra por cidadania italiana. importante meta de Russo este ano. — São centenas de pedi- — Estamos pleiteando implantar a Câmara dos para dupla cidadania que de Comércio Brasil-Itália e o Istituto Italiano di recebemos em nosso site [ht- Cultura no Amazonas. Ambos deverão ser fina- tp://vicitaliamanaus.com.br] lizados ainda no primeiro semestre desse ano. — destaca Russo, que ainda Assim, as missões vindas da Itália para o Ama- acha ser pouco o que vem zonas tomarão conhecimento de que no estado sendo feito: — O processo existe um consulado, com trabalhos. Estamos Pioneirismo: casal Domenico e Angela Maria Conte 12 COMUNITÀ ITALIANA / JANEIRO 2006 JANEIRO 2006 / COMUNITÀ ITALIANA 13
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