Christian Gerhaher Gerold Huber - 26 nov 2018 - Fundação Calouste Gulbenkian

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Christian Gerhaher Gerold Huber - 26 nov 2018 - Fundação Calouste Gulbenkian
26 nov 2018
                                                   Gerold Huber
                                                                  Christian
                                                                  Gerhaher

christian gerhaher © jim rakete - sony classical
Christian Gerhaher Gerold Huber - 26 nov 2018 - Fundação Calouste Gulbenkian
Grandes Intérpretes                                                          26 NOVEMBRO
                                                                                                                                                                                                                 SEGUNDA
                                                                                                                                                                                                                 20:00 — Grande Auditório

                                                                                                                                    Christian Gerhaher                            Barítono

                                                                                                                                    Gerold Huber Piano

                                                                                                                                    Franz Schubert                                           Hugo Wolf
                                                                                                                                    Sei mir gegrüßt, D. 741                                  Gesänge des Harfners
                                                                                                                                    Daß sie hier gewesen, D. 775                             Wer sich der Einsamkeit ergibt
                                                                                                                                    Lachen und Weinen, D. 777                                An die Türen will ich schleichen
                                                                                                                                    Du bist die Ruh, D. 776                                  Wer nie sein Brot mit Tränen aß
                                                                                                                                    Greisengesang, D. 778
                                                                                                                                                                                             Alban Berg
                                                                                                                                    Wolfgang Rihm                                            Vier Gesänge, op. 2
                                                                                                                                    Tasso-Gedanken – Monolog-Stücke                          I. Aus “Dem Schmerz sein Recht
                                                                                                                                    aus “Torquato Tasso” *                                   II. Drei Lieder aus “Der Glühende”
                                                                                                                                                                                                 Schlafend trägt man mich
                                                                                                                                    1. Bist du aus einem Traum erwacht                           Nun ich der Riesen Stärksten überwnad
                                                                                                                                    2. Ganz ruht mein Gemüt auf diesem Werke nun                 Warm die Lüfte
                                                                                                                                    3. Gedanken ohne Maß und Ordnung
                                                                                                                                    4. Die Träne hat uns die Natur verliehen                 Hugo Wolf
                                                                                                                                                                                             Begegnung
                                                                                                                                    Franz Schubert
                                                                                                                                                                                             Lied eines Verliebten
                                                                                                                                    Abendbilder, D. 650
                                                                                                                                                                                             Auf ein altes Bild
                                                                                                                                    Himmelsfunken, D. 651
                                                                                                                                                                                             Auf eine Christblume II
                                                                                                                                    intervalo                                                Schlafendes Jesuskind
                                                                                                                                                                                             Grenzen der Menschheit

mecenas
música e natureza
                    mecenas
                    estágios gulbenkian para orquestra
                                                         mecenas
                                                         concertos de domingo
                                                                                mecenas
                                                                                ciclo piano
                                                                                              mecenas
                                                                                              coro gulbenkian
                                                                                                                mecenas principal
                                                                                                                gulbenkian música
                                                                                                                                    *
                                                                                                                                      Estreia em Portugal                                                        Duração total prevista: c. 2h
                                                                                                                                    Este concerto é gravado pela RTP – Antena 2                                  Intervalo de 20 min.

                                                                                                                                                                                                                                                 03
Christian Gerhaher Gerold Huber - 26 nov 2018 - Fundação Calouste Gulbenkian
Dois séculos de Lied
De Franz Schubert a Wolfgang Rihm

Franz Schubert (1797-1828), um dos poucos           No final de 1822, Schubert teve um auge de

                                                                                                                                                                                                                  johann wolfgang von goethe, por johann tischbein, 1787 © dr
compositores do século XIX naturais de              criatividade com a descoberta de novos poetas,
Viena, filho de um professor dos subúrbios da       entre os quais Friedrich Rückert (1788-1866),
capital austríaca com antepassados morávios,        que viria a tornar-se no predileto de Schumann,
revelou desde cedo grandes aptidões musicais,       Lowe ou Mahler. Desta união poético-musical
estudando composição com Antonio Salieri.           nasceram seis inspiradas canções. A Sei mir
Considerado o pai do Lied romântico, foi um         gegrüßt, escrita como se fosse para harpa,
compositor extremamente prolífico com mais          segue-se Dass sie hier gewesen, que alterna um
de seiscentas canções. Como a maioria dos           ambiente quase atonal com acordes de sétima
compositores românticos, explorou outros            diminuta, retardos e apogiaturas com um refrão
géneros como a música orquestral, de câmara,        simples e despojado. Lachen und Weinen é como
para piano, mas foi no Lied que encontrou a         uma canção popular, alegre e melancólica ao
expressão do seu âmago romântico. Nasceu            mesmo tempo. O canto do ancião (Greisengesang)
na idade de ouro da literatura germânica e          é construído como um hino com uma gravidade
teve ainda acesso a muitos textos de poetas         quase austera, e a obra-prima Du bist die Ruh, com
e escritores mais antigos, traduzidos graças        o seu ambiente estático e encantatório, é um         cada canção. Wolf ambicionava desde cedo            é inspirada no quadro do Menino Jesus de
ao ímpeto romântico de recuperação de épocas        poema de adoração amorosa.                           tornar-se num compositor de ópera e tinha           Francesco Albani. A canção Auf eine Christblume
distantes. Recorria aos grandes nomes, como         Antes do ano inspirador de 1822, Schubert e os       Wagner como grande modelo. Começou a                II é construída sobre um acompanhamento que
Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), mas         seus amigos procuravam assiduamente novas            compor relativamente cedo e desde logo o            ilustra o desabrochar da flor de Natal. Lied eines
também a poetas mais modestos, ou escritores        fontes poéticas a partir das quais pudessem criar    Lied ocupou um papel importante na sua              Verliebten é uma bela melodia de amor numa
nas horas vagas. Muitas vezes usava poemas          Lieder. As escolhas de Schubert foram muitas         produção. O seu espaço no âmbito operático é        página breve, viva e clara, e Auf eine altes Bild
do seu círculo de amigos, contexto onde foi         vezes consideradas duvidosas, mas graças a           contudo quase insignificante. Preferiu poetas de    é um hino cantado ao estilo de um coral.
estreada a maioria das suas obras.                  ele muitos poetas tiveram o seu momento de           gerações anteriores e afirmou, com uma certa        Dois anos depois, Wolf dedicou-se ao
Schubert vivia como músico independente,            notoriedade. Em 1819 conheceu a antologia            provocação, que alguns poemas precisavam de         incontornável Goethe, criando o hábito de
tendo como único emprego na idade adulta o de       poética Die heilige Lyra de Johann Peter Silbert     uma linguagem musical pós-wagneriana para           imergir na poesia de um poeta de cada vez.
professor de piano das filhas do conde Johann       (1777-1844), professor de francês no Instituto       poderem encontrar uma completa realização na        Fascinado pelo romance de formação Os anos
Esterházy. Vivia para a sua necessidade de          Politécnico de Viena. Em Abendbilder, sobre          música. Foi em 1888 que descobriu, e de algum       de aprendizagem de Wilhelm Meister, com as suas
criar, com pouco ou nenhum apoio financeiro         um rumor de tercinas ouvem-se sinos e o canto        modo recuperou, Eduard Mörike (1804-1875),          personagens densas e ricas que têm o canto
a não ser de amigos, e encomendas escassas,         dos pássaros noturnos. Himmelsfunken é uma           o pastor luterano incompreendido no seu tempo       como principal forma de expressão, pôs em
o que lhe deu instabilidade económica, mas          contemplação estática onde a única alteração         e considerado hoje em dia um dos grandes            música, entre outras, as Canções do Harpista
liberdade para compor. Embora com influência        são as modulações dos acordes do piano.              nomes da poesia germânica do século XIX.            (“Gesänge des Harfners”). Na primeira, um hino
das baladas de Zumsteeg (1760-1802), os Lieder de                                                        Os 53 Gedichte von Eduard Mörike, com uma piedade   à solidão, o piano imita a harpa e a escrita
Schubert são realmente originais e responsáveis     No domínio do Lied, o maior herdeiro da tradição     e devoção fervorosas, fantasmas eróticos,           vocal é em recitativo. Em An die Türen will ich
pela criação de um novo género erudito,             de Schubert e de Schumann foi Hugo Wolf              ironia e humor negro, reuniram o consenso           schleichen, a última Canção do Harpista no
romântico por excelência. Mantêm o equilíbrio       (1860-1903). Intensificou o seu vocabulário          do público em relação a Wolf e tornaram-se          romance, a personagem perdeu tudo, inclusive
clássico entre música e palavra e tanto a linha     expressivo integrando-lhe a declamação e             na sua compilação mais popular. Begegnung é         a razão e até o seu instrumento. Wolf ilustra-o
melódica como o acompanhamento de piano,            a tonalidade expandida pós-wagnerianas e             um reencontro entre um rapaz e uma rapariga         suprimindo os acordes arejados e criando uma
que ilustra o sentimento, a paisagem e o            tornou a poesia ainda mais central, fazendo-a        onde o vento tem uma conotação erótica.             instabilidade rítmica e tonal, mas o último
ambiente, são subordinados ao poema.                determinar todos os aspetos musicais de              Em pianissimo, a oração Schlafendes Jesuskind       acorde é perfeito e de algum modo, consolador.

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Christian Gerhaher Gerold Huber - 26 nov 2018 - Fundação Calouste Gulbenkian
FRANZ SCHUBERT

                                                                                                         Sei mir gegrüßt                                    Eu te saúdo
                                                                                                         Friedrich Rückert

Uma voz quebrada de choro recita os versos           Referia como aspeto menos positivo “a sua           O du Entrißne mir und meinem Kusse,                Ó tu que me arrebatas e aos meus beijos,
de Wer nie sein Brot mit Tränen aß. Expressão        imaginação aparentemente não conseguir              Sei mir gegrüßt, sei mir geküßt!                   Eu te saúdo, eu te beijo!
de remorsos, o canto do harpista apela aos           trabalhar em nada exceto em Lieder”. O seu          Erreichbar nur meinem Sehnsuchtgruße,              Acessível apenas às minhas saudações ansiosas,
poderes divinos.                                     primeiro amor era a literatura, pelo que            Sei mir gegrüßt, sei mir geküßt!                   Eu te saúdo, eu te beijo!
                                                     ilustrar musicalmente imagens poéticas foi
Alban Berg (1885-1935) foi um dos três grandes       o seu primeiro foco. Uma das obras que Berg         Du von der Hand der Liebe diesem Herzen            Tu que foste oferecida pela mão do amor
nomes da Segunda Escola de Viena, combinando         escreveu durante o período em que estudou com       Gegebne, du von dieser                             A este coração, que me foste arrancada
modernismo e romantismo, tonalidade e                Schönberg e onde fez a ponte para a atonalidade     Brust Genommne mir! Mit diesem Tränengusse         Do peito! Com estas lágrimas,
atonalidade. Pouco motivado para uma carreira        foram as Quatro Canções, op. 2. Compostas entre     Sei mir gegrüßt, sei mir geküßt!                   Eu te saúdo, eu te beijo!
académica, mas interessado pela literatura           1908 e 1910, serão as suas primeiras obras como
e pela música desde muito jovem, parece ter          compositor plenamente formado. Os poemas            Zum Trotz der Ferne, die sich feindlich trennend   A despeito da distância, que separando
encontrado um rumo quando, graças aos seus           são de Friedrich Hebbel (1813-1863) e Alfred        Hat zwischen mich und dich gestellt;               perfidamente
irmãos, a resposta a um anúncio no jornal lhe        Mombert (1872-1942), poetas de épocas distintas,    Dem Neid der Schicksalmächte zum Verdrusse         Se colocou entre mim e ti;
permitiu ter aulas com Arnold Schönberg.             mas partilham um mesmo tema: a morte, que se        Sei mir gegrüßt, sei mir geküßt!                   Em oposição à inveja das forças do destino
Uma herança recebida entretanto deu-lhe              revela através do sono (Schlafend trägt man mich)                                                      Eu te saúdo, eu te beijo!
a possibilidade de deixar o trabalho como            ou de uma brisa quente (Warm die Lüfte).
funcionário público e dedicar-se inteiramente à                                                          Wie du mir je im schönsten Lenz der Liebe          Como tu vieste ao meu encontro com beijos e
música. Os estudos e o convívio com Schönberg        Wolfgang Rihm (n. 1952) é professor de              Mit Gruß und Kuß entgegenkamst,                    abraços
fizeram alargar os seus horizontes e receber         composição na Universidade de Música de             Mit meiner Seele glühendstem Ergusse,              Na mais bela primavera da vida,
uma educação musical formal, mas antes de o          Karlsruhe, de onde é natural, e um compositor       Sei mir gegrüßt, sei mir geküßt!                   Com a mais ardente efusão da minha alma,
conhecer já Berg e os seus irmãos cultivavam         extremamente prolífico. Verdadeiro “homem do                                                           Eu te saúdo, eu te beijo!
um grande interesse por tudo o que era novo          renascimento” revela um vasto conhecimento
nas artes e na literatura, assistindo a estreias e   no domínio da literatura, pintura, arquitetura,     Ein Hauch der Liebe tilget Raum und Zeiten,        Um sopro de amor anula o tempo e o espaço,
lendo os mais recentes escritores. Os seus anos      filosofia, usando-as como fonte de inspiração.      Ich bin bei dir, du bist bei mir,                  Eu estou a teu lado, tu estás perto de mim,
formativos coincidiram com uma das mais              Estudou com Boulez e Stockhausen entre 1972         Ich halte dich in dieses Arms Umschlusse,          Mantenho-te envolvida nos meus braços,
efervescentes épocas da vida cultural vienense e     e 1973, mas usou técnicas expressionistas           Sei mir gegrüßt, sei mir geküßt!                   Eu te saúdo, eu te beijo!
Berg contactou com diversas figuras de proa dos      de Mahler e Schönberg, o que foi visto como
círculos artísticos e literários da capital como     uma espécie de revolta contras as correntes
Peter Altenberg ou Gustav Klimt. Combinou            mais vanguardistas e lhe proporcionou               Daß sie hier gewesen                               Que aqui estiveram
estas vivências com um conhecimento do               várias encomendas. Foi também associado ao          Friedrich Rückert
romantismo germânico tardio, nomeadamente            movimento Nova Simplicidade do início dos
das obras de Wolf e de Wagner.                       anos oitenta. As suas obras revelam ainda um        Daß der Ostwind Düfte                              Que as fragrâncias do oriente
Segundo a descrição de Schönberg, Berg era           ecletismo com influências de Bach, Schumann         Hauchet in die Lüfte,                              Pairem nos ares,
“recetivo ao belo, novo ou velho, fosse música,      ou Brahms. Nas composições vocais usa textos        Dadurch tut er kund,                               Dão a conhecer,
literatura, pintura, escultura, teatro ou ópera”.    desde Homero a Hölderin, Goethe ou Rilke.           Daß du hier gewesen!                               Que aqui estiveste!

                                                     susana duarte                                       Daß hier Tränen rinnen,                            Que aqui corram lágrimas,
                                                                                                         Dadurch wirst du innen,                            Fazem com que saibas
                                                                                                         Wär’s dir sonst nicht kund,                        Se não o conhecesses já
                                                                                                         Daß ich hier gewesen!                              Que eu aqui estive!

06                                                                                                                                                                                                        07
Schönheit oder Liebe,                         A beleza e o amor,                         Dies Augenzelt                                      O que os meus olhos vêm
Ob versteckt sie bliebe,                      Mesmo que se conservem ocultos,            Von deinem Glanz                                    Seja só iluminado
Düfte tun es und Tränen kund,                 Dão a conhecer pelas fragrâncias e pelas   Allein erhellt,                                     Pelo teu clarão,
Daß sie hier gewesen!                         lágrimas,                                  O füll es ganz!                                     Oh, preenche-o totalmente!
                                              Que aqui estiveram!

Lachen und Weinen                             Rir e chorar                               Greisengesang                                       Canto do ancião
Friedrich Rückert                                                                        Friedrich Rückert

Lachen und Weinen zu jeglicher Stunde         Rir e chorar a toda a hora                 Der Frost hat mir bereifet des Hauses Dach;         A geada embranqueceu-me o telhado;
Ruht bei der Lieb auf so mancherlei Grunde.   Acompanha o amor por tantas                doch warm ist mir’s geblieben im Wohngemach.        contudo, quente permaneceu a minha casa.
Morgens lacht ich vor Lust,                   e tão variadas razões.                     Der Winter hat die Scheitel mir weiß gedeckt;       O inverno cobriu de branco a minha cabeça;
Und warum ich nun weine                       De manhã rio de alegria,                   doch fließt das Blut, das rote, durchs              contudo, o meu sangue flui vermelho no meu
Bei des Abends Scheine,                       E nem eu própria sei                       Herzgemach.                                         coração.
Ist mir selb’ nicht bewußt.                   Porque choro ao pôr-do-sol,                Der Jugendflor der Wangen, die Rosen sind           A suavidade das faces, as rosas partiram,
                                                                                         gegangen, all gegangen einander nach, –             todas partiram, uma após outra, –
Weinen und Lachen zu jeglicher Stunde         Chorar e rir a toda a hora.                wo sind sie hingegangen? ins Herz hinab:            para onde foram? Desceram para o meu coração:
Ruht bei der Lieb auf so mancherlei Grunde.   Acompanha o amor por tanta                 Da blühn sie nach Verlangen, wie vor so nach.       Aí florescem segundo o desejo, tanto antes como
Abends weint ich vor Schmerz;                 e tão variadas razões.                     Sind alle Freudenströme der Welt versiegt?          depois.
Und warum du erwachen                         À noite choro de dor,                      Noch fließt mir durch den Busen ein stiller Bach.   Secaram todas as fontes de alegria do mundo?
Kannst am Morgen mit Lachen,                  E porque podes acordar de manhã a rir,     Sind alle Nachtigallen der Flur verstummt?          No meu peito ainda flui um tranquilo riacho.
Muß ich dich fragen, o Herz.                  Tenho de perguntar-te, oh coração.         Noch ist bei mir im Stillen hier eine wach.         Emudeceram todos os rouxinóis do campo?
                                                                                         Sie singet: Herr des Hauses! verschleuß dein        Junto de mim no silêncio ainda está um
                                                                                         Thor,                                               acordado.
Du bist die Ruh                               Tu és a calma                              daß nicht die Welt, die kalte, dring ins Gemach.    Ele canta: Ó Senhor da casa! Fecha à chave o teu
Friedrich Rückert                                                                        Schleuß aus den rauhen Odem der Wirklichkeit,       portão,
                                                                                         und nur dem Duft der Träume gib Dach und            para que o mundo, as frias multidões não
Du bist die Ruh,                              Tu és a calma,                             Fach.                                               penetrem em casa.
Der Friede mild,                              A paz repousante,                                                                              Fecha o duro sopro da realidade,
Die Sehnsucht du                              Tu és a saudade,                                                                               e dá só abrigo ao perfume dos sonhos!
Und was sie stillt.                           E o que ela suaviza.
                                                                                         WOLFGANG RHIM
Ich weihe dir                                 Consagro-te,
Voll Lust und Schmerz                         Com alegria e dor,                         Tasso-Gedanken                                      Pensamentos de Tasso
Zur Wohnung hier                              Para neles habitares,                      Monolog-Stücke aus “Torquato Tasso”                 Excertos-Monólogo de “Torquato Tasso”
Mein Aug und Herz.                            Os olhos e o coração.                      Johann Wolfgang von Goethe

Kehr ein bei mir,                             Recolhe-te em mim                          1. (Vierter Aufzug, Szene 1)                        1. (Quarto Ato, Cena 1)
Und schließe du                               E fecha suavemente                         Bist Du aus einem Traum erwacht, und hat            Acordaste de um sonho e
Still hinter dir                              Atrás de ti                                Der schöne Trug auf einmal dich verlassen?          Aquela doce ilusão abandonou-te de súbito?
Die Pforten zu.                               A porta.                                   Hat dich nach einem Tag der höchsten Lust           Num dia de volúpia sem igual
                                                                                         Ein Schlaf gebändigt, hält und ängstet nun          Um sono dominou e aprisionou e amedrontou
Treib andern Schmerz                          Afasta outras dores                        Mit schweren Fesseln Deine Seele? Ja,               Com pesados grilhões a tua alma? Sim,
Aus dieser Brust!                             Deste peito!                               Du wachst und träumst. Wo sind die Stunden hin,     Sonhas acordado. Para onde foram as horas
Voll sei dies Herz                            Que este coração fique repleto             Die um dein Haupt mit Blumenkränzen spielten?       Que a cabeça te engrinaldaram?
Von deiner Lust.                              Com a tua alegria.

08                                                                                                                                                                                         09
Die Tage, wo dein Geist mit freier Sehnsucht       Os dias em que o teu espírito cheio de desejo               […]                                               [...]
Des Himmels ausgespanntes Blau durchdrang?         Cruzava o esplendoroso céu azul?                   Doch ach! je mehr ich horchte, mehr und mehr      Mas ah! Quanto mais escutava,
Und dennoch lebst du noch, und fühlst dich an,     E apesar disso ainda estás vivo, sentes o corpo,   Versank ich vor mir selbst, ich fürchtete,        Mais eu perante mim me afundava, e temia,
Du fühlst dich an, und weißt nicht, ob du lebst.   Sentes o corpo e não sabes se estás vivo.          Wie Echo an den Felsen zu verschwinden,           Desvanecer-me como um eco num rochedo,
                                                                                                      Ein Widerhall, ein Nichts mich zu verlieren.      Perder-me como uma ressonância, como um
                                                                                                                                                        nada.
2. (Fünfter Aufzug, Szene 2)                       2. (Quinto Ato, Cena 2)
           […]Ganz                                             [...]Todo                              4. (Fünfter Aufzug, Szene 5)                      4. (Quinto Ato, Cena 5)
Ruht mein Gemüt auf diesem Werke nun.              O meu ser depende desta obra.                      Die Träne hat uns die Natur verliehen,            As lágrimas que a natureza nos deu,
Nun muss es werden, was es werden kann.            Agora ou nunca será o que tem de ser.              Den Schrei des Schmerzens, wenn der Mann          O grito da dor, se um homem
           […] ich bin gesund,                                 [...] sinto-me bem,                    [ossia: Mensch] zuletzt                           [ossia: Homem] por fim
Wenn ich mich meinem Fleiß ergeben kann,           Quando me posso dedicar ao trabalho,               Es nicht mehr trägt – Und mir noch über alles –   Não mais pode – E a mim, mais que a ninguém –
Und so macht wieder mich mein Fleiß gesund. –      e assim é o trabalho que me cura.                  Sie ließ im Schmerz mir Melodie und Rede,         Deu-me ela na dor, voz, melodia,
           […] mir ist nicht wohl                             [...] sinto-me mal                      Die tiefste Fülle meiner Not zu klagen:           Para chorar este abismo de tristeza:
In freier Üppigkeit. Mir läßt die Ruh’             Na abundância ociosa. E o repouso                  Und wenn der Mensch in seiner Qual                E se o homem comum na dor se cala,
Am mind’sten Ruhe. […]                             É o que menos me descansa. [...]                   verstummt,                                        Deu-me um deus o dom de cantar a minha alma.
Wenn ich nicht sinnen oder dichten soll,           Se não posso pensar nem fazer versos,              Gab mir ein Gott, zu sagen wie ich leide.                    [...] estás aí tão firme,
So ist das Leben mir kein Leben mehr.              a vida para mim deixa de ter vida.                            […] du stehest fest und still,         E eu sou como a onda na tempestade.
Verbiete du dem Seidenwurm zu spinnen,             Tenta impedir o bicho-da-seda de fiar              Ich scheine nur die sturmbewegte Welle.           Mas pensa bem e não te orgulhes tanto
Wenn er sich schon dem Tode näher spinnt.          Quando já fia para a morte:                        Allein bedenk und überhebe nicht                  Da tua força! A grande natureza,
Das köstliche Geweb’ entwickelt er                 Vai tecendo essa trama preciosa                    Dich deiner Kraft! Die mächtige Natur,            Que fez nascer a rocha, também deu
Aus seinem Innersten und läßt nicht ab,            A partir de si próprio, e não desiste              Die diesen Felsen gründete, hat auch              Às ondas a agilidade.
Bis er in seinen Sarg sich eingeschlossen.         Antes de se encerrar no seu caixão.                Der Welle die Beweglichkeit gegeben.              Desencadeia a tempestade, e a onda foge
O geb’ ein guter Gott uns auch dereinst            Ah, se um bom deus nos desse a nós um dia          Sie sendet ihren Sturm, die Welle flieht          E oscila e arqueia-se
Das Schicksal des beneidenswerten Wurms,           O invejável destino desse verme,                   Und schwankt und schwillt und beugt sich          e desfaz-se na espuma.
Im neunen Sonnental die Flügel rasch               Para podermos depois soltar as asas                schäumend über.                                   Nesta onda se refletiu um dia
Und freudig zu entfalten.                          Num radioso vale ensoleirado!                      In dieser Woge spiegelte so schön                 A beleza do sol, e neste peito tranquilo
                                                                                                      Die Sonne sich, es ruhten die Gestirne            um dia os astros descansaram.
                                                                                                      An dieser Brust, die zärtlich sich bewegte.       Foi-se o brilho, desvaneceu-se a calma.
3. (Zweiter Aufzug, Szene 1)                       3. (Segundo Ato, Cena 1)                           Verschwunden ist der Glanz, entflohn die Ruhe.    Já não me conheço no meio do perigo,
           […] Gedanken ohne Maß                              [...] Pensamentos sem rumo              Ich kenne mich in der Gefahr nicht mehr,          Nem já me envergonho de o confessar.
Und Ordnung regen sich in meiner Seele.            Nem ordem agitam-se na minha alma.                 Und schäme mich nicht mehr, es zu bekennen.       O leme está partido, e o navio
Mir scheint die Einsamkeit zu winken, mich         Parece que me acena a solidão                      Zerbrochen ist das Steuer, und es kracht          Geme com grande estrondo,
Gefällig anzulispeln: Komm, ich löse               E me murmura, insinuante: vem, vou tirar-te        Das Schiff an allen Seiten. Berstend reißt        Abre-se o chão debaixo dos meus pés!
Die neu erregten Zweifel deiner Brust.             do peito as últimas dúvidas.                       Der Boden unter meinen Füßen auf!                 Agarro-te com ambos os braços!
Doch werf ich einen Blick […], vernimmt            Mas se volto o olhar [...], o meu ouvido           Ich fasse dich mit beiden Armen an!               Assim como se agarra o barqueiro ao rochedo,
Mein horchend Ohr ein Wort […] –                   atento escuta uma palavra [...] –                  So klammert sich der Schiffer endlich noch        No qual se desmoronará.
So wird eine neuer Tag um mich herum               Assim um novo dia nasce em meu redor               Am Felsen fest, an dem er scheitern sollte.
Und alle Bande fallen von mir los.                 E de todas as correntes me liberto.
Ich will […] gestehn, es hat […]                   Confesso [...] que [...]
           unerwartet[…], nicht sanft,             De súbito [...], abruptamente,
Aus einem schönen Traum mich aufgeweckt;           O meu sonho interrompeu;
           […] Wesen, […] Worte haben mich                    [...] modos, [...] e palavras
So wunderbar getroffen, daß ich mehr               Tocaram-me tão fundo que me senti
Als je mich doppelt fühle, mit mir selbst          Tão dividido como nunca me sentira
Aufs neu in streitender Verwirrung bin.            E volto a estar confuso e perturbado.

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FRANZ SCHUBERT
                                                                                      Einst uns ruft, in seiner Höhen   Nos chame, para nos dirigirmos
                                                                                      Ew’ge Wonnen einzugehen.          Às sublimes alturas da bênção eterna.
Abendbilder                           Imagens noturnas
Johann Peter Silbert

                                                                                      Himmelsfunken                     Centelhas divinas
Still beginnt’s im Hain zu tauen,     Silenciosamente começa a formar-se o orvalho
                                                                                      Johann Peter Silbert
Ruhig webt der Dämm’rung Grauen       no arvoredo,
Durch die Glut                        Calmamente se tece o crepúsculo cinzento
                                                                                      Der Odem Gottes weht,             O hálito de Deus sopra docemente,
Sanfter Flut,                         Entre o brilho do pôr-do-sol
                                                                                      Still wird die Sehnsucht wach;    E a saudade em silêncio acorda;
Durch das Grün umbuschter Auen,       Que flutua suavemente,
                                                                                      Das trunk’ne Herz vergeht         O coração ébrio esmorece
So die trunk’nen Blicke schauen.      E por entre os verdejantes prados rodeados de
                                                                                      In wundersüßen Ach.               Em maravilhosa e doce agonia.
                                      arbustos;
                                      E tudo assim se distorcendo a nossos olhos.
                                                                                      Wie löst sich äthermild           Como dissolve na suave atmosfera –
                                                                                      Der Erde schweres Band!           Os pesados grilhões da vida terrena!
Sieh’, der Raben Nachtgefieder        Olhai! O voo noturno dos corvos
                                                                                      Die heil’ge Träne quillt,         Lágrimas sagradas correm,
Rauscht auf ferne Eichen nieder;      Faz murmurar os carvalhos distantes;
                                                                                      Ach, nach des Himmels Land.       Ah! A caminho da terra divina.
Balsamduft                            Uma essência de bálsamo
Haucht die Luft.                      Paira no ar.
                                                                                      Wie mächtig hebt das Herz         Quão poderoso se ergue o coração
Philomelens Zauberlieder,             As melodias encantadas de Filomela,
                                                                                      Sich zu den blauen Höh’n!         Em direcção às azuis alturas!
Hallet zart die Echo wider.           Repete-as docemente Eco.
                                                                                      Was machst vor süßem Schmerz      Mas, Oh! Porque com tão doce dor,
                                                                                      Es ach! so zart vergehn? –        Se esvai ele tão ternamente? –
Horch! des Abendglöckleins Töne       Escutai! As badaladas das Vésperas
Mahnen ernst der Erde Söhne,          Lembram verdadeiramente os sons da terra,
                                                                                      O süßer Hochgenuß!                Ó doce e alto prazer!
Dass ihr Herz,                        De tal forma que os corações,
                                                                                      Mild, wie des Himmels Tau,        Suaves como o orvalho do céu,
Himmelwärts                           Volvidos para os céus,
                                                                                      Winkt Gottes Feiergruß            Soam as saudações de Deus
Sinnend ob der Heimat Schöne,         Deveriam refletir a beleza desse lugar,
                                                                                      Hoch aus dem stillen Blau!        Do alto do azul tranquilo!
Sich des Erdentands entwöhne.         E afastar-se das coisas deste mundo.
                                                                                      Und das verwaiste Herz            E o coração órfão
Durch der hohen Wolken Riegel         Através do muro de nuvens altas
                                                                                      Vernimmt den stillen Ruf,         Ouve o suave chamamento,
Funkeln tausend Himmelssiegel,        Cintilam milhares de estrelas celestiais,
                                                                                      Und sehnt sich heimatwärts        E anseia pelo regresso a casa
Lunas Bild                            A forma da lua
                                                                                      Zum Vater, der es schuf!          E ao Pai que o criou!
Streuet mild                          Reflete-se suavemente
In der Fluten klaren Spiegel          No claro espelho de água,
Schimmernd Gold auf Flur und Hügel.   Derramando ouro nos prados e nas montanhas.
                                                                                      HUGO WOLF
Von des Vollmonds Widerscheine        À luz do reflexo da lua cheia
Blitzet das bemooste, kleine          Cintila o pequeno telhado da igreja
                                                                                      Gesänge des Harfners              Canções do Harpista
Kirchendach.                          Coberto de musgo.
                                                                                      Johann Wolfgang von Goethe
Aber ach!                             Mas, Ah!
Ringsum decken Leichensteine          À sua volta, os túmulos cobrem
                                                                                      Wer sich der Einsamkeit ergibt    Aquele que se entrega à solidão
Der Entschlummerten Gebeine.          Os ossos dos defuntos.
                                                                                      Wer sich der Einsamkeit ergibt,   Aquele que se entrega à solidão,
Ruht, o Traute! von den Wehen,        Descansai, ó seres amados, de vossas dores,
                                                                                      Ach! der ist bald allein;         Ah! Em breve se encontra só;
Bis beim grossen Auferstehen          Até à grande ressurreição,
                                                                                      Ein jeder lebt, ein jeder liebt   Os outros vivem, os outros amam
Aus der Nacht                         Quando da noite,
                                                                                      Und läßt ihn seiner Pein.         E abandonam-no aos seus desgostos.
Gottes Macht                          O poder de Deus

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Ja! Laßt mich meiner Qual!                      Sim! Deixai-me com o meu tormento!          ALBAN BERG
Und kann ich nur einmal                         E pudera eu, apenas uma vez,                Vier Gesänge / Quatro Canções
Recht einsam sein,                              ficar realmente solitário,
Dann bin ich nicht allein.                      Então não estaria só.                       Dem Schmerz sein Recht                     À dor o seu direito
                                                                                            Friedrich Hebbel
Es schleicht ein Liebender lauschend sacht,     Um amante esgueira-se, furtivo, e espia,
Ob seine Freundin allein?                       Estará a sua amada só?                      Schlafen, schlafen, Nichts als schlafen!   Dormir, dormir, nada senão dormir!
So überschleicht bei Tag und Nacht              Assim me envolvem, noite e dia              Kein Erwachen, keinen Traum!               Não acordar, nenhum sonho!
Mich Einsamen die Pein,                         Os tormentos na minha solidão,              Jener Wehen, die mich trafen,              Das tristezas que me atingiram,
                                                                                            Leisestes Erinnern kaum.                   Nem a mais leve recordação.
Mich Einsamen die Qual.                         As agonias na minha solidão.                Daß ich, wenn des Lebens Fülle             De modo que eu, quando a plenitude da vida
Ach, werd ich erst einmal                       Ah, possa eu estar por fim, um dia          Niederklingt in meine Ruh,                 Ressoa no meu descanso,
Einsam in Grabe sein,                           No retiro do meu túmulo,                    Nur noch tiefer mich verhülle,             Mais profundamente me escondo,
Da läßt sie mich allein!                        Então me deixarão em paz!                   Fester zu die Augen tu!                    E com mais força fecho os olhos!

An die Türen will ich schleichen                Irei prostrar-me às portas                  Schlafend trägt man mich                   Adormecido sou levado
                                                                                            Alfred Mombert
An die Türen will ich schleichen,               Irei prostrar-me às portas
Still und sittsam will ich stehn,               Discreto e mudo ficarei,                    Schlafend trägt man mich                   Adormecido sou levado
Fromme Hand wird Nahrung reichen,               Uma mão piedosa me dará sustento,           In mein Heimatland!                        Para a minha terra natal!
Und ich werde weitergehn.                       E para diante caminharei.                   Ferne komm ich her,                        Venho de longe,
                                                                                            Über Gipfel, über Schlünde,                Sobre cumes, sobre abismos,
Jeder wird sich glücklich scheinen,             E todos parecerão felizes,                  Über ein dunkles Meer                      Sobre um escuro mar
Wenn mein Bild vor ihm erscheint,               Ao contemplar a minha figura,               In mein Heimatland.                        Para a minha terra natal.
Eine Träne wird er weinen,                      Cada um chorará uma lágrima,
Und ich weiß nicht, was er weint.               E eu não saberei, porque ele chora.         Nun ich der Riesen Stärksten überwand      Agora que venci os mais fortes gigantes
                                                                                            Alfred Mombert
Wer nie sein Brot mit Tränen aß                 Quem nunca comeu o seu pão com lágrimas
                                                                                            Nun ich der Riesen Stärksten überwand,     Agora que venci os mais fortes gigantes,
Wer nie sein Brot mit Tränen aß,                Quem nunca comeu o seu pão com lágrimas,    Mich aus dem dunkelsten Land heimfand      Do país sombrio, encontrei o caminho de casa
Wer nie die kummervollen Nächte                 Quem nunca se sentou chorando               An einer weißen Märchenhand –              Pela mão branca de uma fada –
Auf seinem Bette weinend saß,                   Em longas noites de amargura,
Der kennt euch nicht, ihr himmlischen Mächte.   Não vos compreende, ó forças celestes.      Hallen schwer die Glocken.                 Ressoam pesados os sinos.
                                                                                            Und ich wanke durch die Straßen            E eu cambaleio pelo meio das ruas
Ihr führt ins Leben uns hinein,                 Vós arrastais-nos na torrente da vida,      Schlafbefangen.                            Entorpecido.
Ihr laßt den Armen schuldig werden,             Deixais-nos cair em tentação,
Dann überlaßt ihr ihn der Pein:                 E depois abandonais-nos aos tormentos:      Warm die Lüfte                             Quente o ar
Denn jede Schuld rächt sich auf Erden.          Pois todos os pecados se expiam na terra.   Alfred Mombert

                                                                                            Warm die Lüfte,                            Quente o ar,
                                                                                            es sprießt Gras auf sonnigen Wiesen.       a relva brota dos prados solarengos.
                                                                                            Horch!                                     Escuta!
                                                                                            Horch, es flötet die Nachtigall...         Escuta, ali canta o rouxinol…

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Ich will singen:                              Eu quero cantar:
Droben hoch im düstern Bergforst,             Lá no alto, na escura floresta da montanha,   Lied eines Verliebten                         Canção de um apaixonado
es schmilzt und sickert kalter Schnee,        derrete e goteja a fria neve,                 Eduard Mörike
ein Mädchen im grauen Kleide                  uma rapariga num vestido cinzento
lehnt am feuchten Eichstamm,                  ajoelha-se em frente a um carvalho húmido,    In aller Früh, ach, lang’ vor Tag,            De madrugada, ai, o dia tardava ainda,
krank sind ihre zarten Wangen,                As suas ternas faces estão doentes,           Weckt mich mein Herz, an dich zu denken,      O meu coração despertou-me, ao pensar em ti,
die grauen Augen fiebern                      os olhos cinzentos ardem febris               Da doch gesunde Jugend schlafen mag.          Pois só os jovens sadios conseguem dormir.
durch Düsterriesenstämme.                     através dos escuros troncos gigantes.
„Er kommt noch nicht. Er läßt mich warten…“   “Ele ainda não vem. Ele faz-me esperar…”      Hell ist mein Aug’ um Mitternacht,            À meia-noite velam os meus olhos,
                                                                                            Heller als frühe Morgenglocken:               E velam ainda ao soarem os sinos matinais:
Stirb!                                        Morre!                                        Wann hättest du je am Tage mein gedacht?      Porventura pensaste tu nas horas do meu dia?
Der Eine stirbt, daneben der Andere lebt:     Um morre, ao lado do outro que vive:
Das macht die Welt so tiefschön.              O poder do mundo tão profundamente belo.      Wär’ ich ein Fischer, stünd’ ich auf,         Fora eu um pescador, levantar-me-ia,
                                                                                            Trüge mein Netz hinab zum Flusse,             Carregaria as minhas redes para o rio,
                                                                                            Trüg’ herzlich froh die Fische zum Verkauf.   E alegremente traria os peixes para o mercado.

HUGO WOLF                                                                                   In der Mühle, bei Licht, der Müllerknecht,    No moinho, à luz do dia, o servo do moleiro,
                                                                                            Tummelt sich, alle Gänge klappern;            Apressava-se a pôr tudo em marcha:
Begegnung                                     Encontro                                      So rüstig Treiben wär’ mir eben recht.        Tão robustos movimentos seriam do meu
Eduard Mörike                                                                                                                             agrado.

Was doch heut nacht ein Sturm gewesen,        A tempestade que fez esta noite,              Weh! aber ich! o armer Tropf!                 Ai! Mas eu! Oh, pobre simplório!
bis erst der Morgen sich geregt!              Choveu até de manhã cedo!                     Muss auf dem Lager mich müßig grämen,         Devo sofrer de desgosto sobre o leito ocioso,
Wie hat der ungebetne Besen                   Como a indesejada vassoura                    Ein ungebärdig Mutterkind im Kopf.            Tendo no pensamento uma criança impassível.
Kamin und Gassen ausgefegt!                   Varreu chaminés e vielas!
                                                                                            Auf ein altes Bild                            Num quadro antigo
Da kommt ein Mädchen schon die Straßen,       Pela rua vem uma rapariga                     Eduard Mörike
das halb verschüchtert um sich sieht;         Que parece algo intimidada;
wie Rosen, die der Wind zerblasen,            As suas faces estão coradas                   In grüner Landschaft Sommerflor,              Na florescência estival de uma paisagem verde,
so unstet ihr Gesichtchen glüht.              Como rosas que o vento sopra.                 Bei kühlem Wasser, Schilf, und Rohr,          Junto à água fresca, juncos e canas,
                                                                                            Schau, wie das Knäblein Sündelos              Repara como o menino inocente
Ein schöner Bursch tritt ihr entgegen,        Um rapaz vem ao seu encontro,                 Frei spielet auf der Jungfrau Schoss!         Brinca à vontade no colo da Virgem!
er will ihr voll Entzücken nahn:              Aproxima-se com simpatia:                     Und dort im Walde wonnesam,                   E além, no bosque encantador,
wie sehn sich freudig und verlegen            Como se olham satisfeitos e embaraçados       Ach, grünet schon des Kreuzes Stamm!          Ai, cresce já o madeiro da cruz!
die ungewohnten Schelme an!                   Com um invulgar ar travesso!

Er scheint zu fragen, ob das Liebchen         Apetece perguntar se a rapariga               Auf eine Christblume II                       Numa flor de Natal II
die Zöpfe schon zurecht gemacht,              Já arranjou as tranças,                       Eduard Mörike
die heute Nacht im offnen Stübchen            Que esta noite, no seu quarto aberto
ein Sturm in Unordnung gebracht.              Uma tempestade desarranjou.                   Im Winterboden schläft ein Blumenkeim,        Dorme no chão do Inverno, flor ainda em germe,
                                                                                            Der Schmetterling, der eingst um Busch        A borboleta, que esvoaça por bosques e colinas,
Der Bursche träumt noch von den Küssen,       O rapaz sonha ainda com os beijos             und Hügel                                     Nas noites de Primavera embala as suas asas;
die ihm das süße Kind getauscht,              Com que a doce rapariga o cobriu,             In Frühlingsnächten wiegt den                 Porém, nunca ela provará do teu mel virgem.
er steht, von Anmut hingerissen,              Pára, completamente encantado                 sammt’nen Flügel;
derweil sie um die Ecke rauscht.              Enquanto ela desaparece numa esquina.         Nie soll er kosten deinen Hon Honigseim.

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Wer aber weiss, ob nicht sein zarter Geist,   Mas quem sabe, se o seu espírito delicado,       Wolken und Winde.         As nuvens e os ventos.
Wenn jede Zier des Sommers hingesunken,       Quando todos os adornos do Verão desfalecerem,   Steht er mit festen,      E se ele ficar com firmes
Dereinst, von deinem leisen Dufte trunken,    Não beberá, um dia, do teu leve perfume,         Markigen Knochen          Vigorosos ossos
Mir unsichtbar, dich blühende umkreist?       É para mim invisível: já acabaste de florir?     Auf der wohlgegründeten   Sobre a bem fundada
                                                                                               Dauernden Erde,           Perpétua terra,
                                                                                               Reicht er nicht auf,      Jamais se poderá
Schlafendes Jesuskind                         O Menino Jesus adormecido                        Nur mit der Eiche         Nem com o carvalho
Eduard Mörike                                                                                  Oder der Rebe             Ou com a videira
                                                                                               Sich zu vergleichen.      comparar.
Sohn der Jungfrau, Himmelskind!               Filho da Virgem Maria, criança divina!
Am Boden auf dem Holz der Schmerzen           Adormecido no chão sobre o lenho da dor,         Was unterscheidet         O que distingue
eingeschlafen,                                Que o mestre piedoso num jogo sensato            Götter von Menschen?      Os deuses dos homens?
Das der fromme Meister, sinnvoll spielend,    Colocou por trás dos teus sonhos leves;          Daß viele Wellen          Muitas ondas
Deinen leichten Träumen unterlegte;           Flor ainda em botão desabrochando                Vor jenen wandeln,        Rolam perante aqueles,
Blume du, noch in der Knospe dämmernd         Envolvida pela magnificência do pai!             Ein ewiger Strom:         Uma eterna corrente:
Eingehüllt die Herrlichkeit des Vaters!                                                        Uns hebt die Welle,       A onda levanta-nos,
                                                                                               Verschlingt die Welle,    Engole a onda
O wer sehen könnte, welche Bilder             Oh quem pudesse ver que imagens                  Und wir versinken.        E nós naufragamos.
Hinter dieser Stirne, diesen schwarzen        Sob esta fronte, estas pestanas negras,
Wimpern sich in sanftem Wechsel malen!        Se esboçam em suave alternância!                 Ein kleiner Ring          Um pequeno círculo
                                                                                               Begrenzt unser Leben,     Limita a nossa vida,
                                                                                               Und viele Geschlechter    E muitas gerações
Grenzen der Menschheit                        Limites da humanidade                            Reihen sich dauernd       Se sucedem perpetuamente
Johann Wolfgang von Goethe                                                                     An ihres Daseins          Numa infindável cadeia
                                                                                               Unendliche Kette.         Da sua existência.
Wenn der uralte                               Quando o venerável
Heilige Vater                                 Santo Pai
Mit gelassener Hand                           Com mão firme
Aus rollenden Wolken                          Das nuvens rolantes
Segnende Blitze                               Sobre a terra envia                                                        Traduções de Maria Fernanda Cidrais
Über die Erde sät,                            Abençoados raios,                                                          (Schubert D. 741, 775, 776, 777; Wolf/Mörike);
Küss’ ich den letzten                         Eu beijo a última                                                          Ofélia Ribeiro (Schubert D. 6501, 651; Berg Gesänge
Saum seines Kleides,                          Orla do seu manto,                                                         op. 2); Mariana Portas (Wolf Gesänge des Harfners);
Kindliche Schauer                             Tremendo como uma criança                                                  Linguaemundi (Schubert D. 778; Rihm; Wolf Grenzen
Treu in der Brust.                            Fiel no meu peito.                                                         der Menschheit)

Denn mit Göttern                              Porque nenhum mortal
Soll sich nicht messen                        Com os deuses
Irgendein Mensch.                             Se deve medir.
Hebt er sich aufwärts,                        Porque se ele se levantar
Und berührt                                   E tocar
Mit dem Scheitel die Sterne,                  Com a cabeça as estrelas,
Nirgends haften dann                          Em nenhum lado assentam
Die unsichern Sohlen,                         Os seus pés incertos,
Und mit ihm spielen                           Brincam com ele

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Christian Gerhaher                                                                                                                           Gerold Huber                                       cantores de renome internacional como
Barítono                                                                                                                                     Piano                                              Christiane Karg, Christina Landshamer,
                                                                                                                                                                                                Ruth Ziesak, Mojca Erdmann, Michael Nagy,
                                                                                                                                                                                                Maximilian Schmitt ou Franz-Josef Selig.
Durante os seus estudos com Paul Kuen               Olivier (Capriccio), bem como os papéis principais                                       O pianista alemão Gerold Huber nasceu em           É também um músico ativo no domínio da
e Raimund Grumbach, o barítono alemão               em L’Orfeo de Monteverdi, Don Giovanni de                                                Munique. Estudou piano com Friedemann              música de câmara, nomeadamente em parceria
Christian Gerhaher frequentou a Escola de           Mozart, Pelléas et Mélisande de Debussy, ou Der                                          Berger na Academia de Música de Munique e          com Reinhold Friedrich, o Quarteto Artemis
Ópera da Academia de Música de Munique              Prinz von Homburg de H.W. Henze. O papel de                                              frequentou as masterclasses de Dietrich Fischer-   ou o Quarteto Henschel.
e, em conjunto com Gerold Huber, estudou            Wolfram (Tannhäuser) é uma constante na sua                                              Dieskau em Berlim. Em 1998, conjuntamente          Na temporada 2016/2017 destacam-se três
interpretação de Lied com Friedemann Berger.        agenda de representações nos teatros de ópera                                            com Christian Gerhaher, barítono que               apresentações de Die schöne Magelone de Brahms,
Aperfeiçoou o seu treino vocal nas masterclasses    de Berlim, Viena, Londres ou Munique, tendo-o                                            acompanha regularmente há mais de trinta           em Heidelberg, Londres e Munique, com o
de Dietrich Fischer-Dieskau, Elisabeth              interpretado recentemente numa nova produção                                             anos, recebeu o Prix International Pro Musicis,    barítono Christian Gerhaher e Ulrich Tukur
Schwarzkopf e Inge Borkh. Atualmente                de Romeo Castelluci. Para além do regresso à                                             em Paris. Em 2001 foi premiado no Concurso         como narrador. Um CD relacionado foi publicado
orienta com regularidade as suas próprias           Fundação Gulbenkian, depois da sua estreia                                               Internacional de Piano Johann Sebastian Bach,      em 2017; neste último, Martin Walser é o
masterclasses e é professor honorário da            em 2017, com a Gustav Mahler Jugendorchester                                             em Saarbrücken.                                    narrador dos textos baseados em Ludwig Tieck,
Academia de Música e Teatro de Munique.             e o maestro D. Harding, a agenda da presente                                             Como pianista acompanhador, apresenta-se           cuidadosamente adaptados para a interpretação
Foi-lhe atribuído o título Bayerischer              temporada inclui, entre outras atuações, a estreia                                       regularmente em festivais de música como           de Gerhaher e Huber. Em 2018, Gerhaher, Huber
Kammersänger e a Bayerische Maximiliansorden        no papel de Figaro (As bodas de Figaro), na Royal                                        os de Schwetzingen, Rheingau, Salzburgo ou         e Tukur apresentaram de novo este programa
für Wissenschaft und Kunst. Ao longo de mais        Opera House, sob a direção de J. E. Gardiner.                                            as Schubertiade Schwarzenberg. Entre outros        em Bamberg, Frankfurt e Viena.
de trinta anos, as interpretações de Christian                                                                                               prestigiosos palcos, tocou na Philharmonie de      As atividades de Gerold Huber como solistas
Gerhaher e Gerold Huber, o seu pianista                                                                                                      Colónia, na Alte Oper Frankfurt, no Konzerthaus    focam-se sobretudo nas obras de J. S. Bach,
acompanhador, estabeleceram novos padrões                                                                                                    e no Musikverein de Viena, no Concertgebouw        Beethoven, Brahms e Schubert. Apresenta-se
de abordagem ao Lied. Apresentaram-se nas                                                                                                    de Amesterdão, no Wigmore Hall de Londres,         com regularidade em importantes palcos e
mais prestigiadas salas a nível internacional                                                                                                no Musée d’Orsay de Paris, no Lincoln Center       festivais na Europa, mas também noutros
e as suas gravações mereceram a atribuição                                                                                                   e no Carnegie Hall de Nova Iorque. Para além       eventos por todo o mundo como o Festival
de muitos prémios como o Gramophone Award,                                                                                                   de Christian Gerhaher, colabora com outros         da Nova Zelândia, em Wellington.
o BBC Music Award e o Royal Philharmonic Society
Music Award. Atualmente estão concentrados na
gravação integral das canções de R. Schumann.
A presente temporada de recitais iniciou-se com
Schwanengesang de Schubert, prosseguindo com
uma série de recitais que juntam canções
de Wolf, Schubert e Berg, para além da estreia
de Tasso-Gedanken de W. Rihm.
Christian Gerhaher é presença regular em
prestigiados festivais como os de Rheingau,
                                                                                                     christian gerhaher © gregor hohenberg

Londres (BBC Proms), Edimburgo, Lucerna ou
Salzburgo. Foi artista residente da Sinfónica
da Rádio da Baviera, da Filarmónica de Berlim,

                                                                                                                                                           gerold huber © marion köll
do Musikverein de Viena e do Wigmore Hall.
É também um cantor de ópera de primeiro plano,
tendo-lhe sido atribuído o Prémio Laurence
Olivier e o International Opera Award 2013. O seu
repertório inclui personagens como Eisenstein
(O Morcego), Marquês de Posa (Don Carlos) ou

20
O MELHOR
BANCO                                                                                      Pedimos que desliguem os telemóveis durante o espetáculo.
                                                                                           A iluminação dos ecrãs pode igualmente perturbar a concentração
                                                                                           dos artistas e do público.

EM PORTUGAL.                                                                               Não é permitido tirar fotografias nem fazer gravações sonoras
                                                                                           ou filmagens durante os espetáculos.

                                                                                           Programas e elencos sujeitos a alteração sem aviso prévio.

O BPI foi eleito “O Melhor Banco em
Portugal” pelo Euromoney Awards for
Excellence Country 2018.
A revista Euromoney atribuiu ao BPI o prémio Melhor Banco em Portugal em 2018,
no âmbito da iniciativa “Euromoney Awards”. Esta classificação resulta da combinação
de critérios quantitativos e qualitativos como a rentabilidade, crescimento, eficiência,
qualidade,capacidade de inovação e compromisso social.

O vencedor deste prémio é selecionado pela equipa de editores, jornalistas e analistas
da revista Euromoney, uma das mais conceituadas referências editoriais do setor
financeiro a nível internacional.

O BPI exprime o seu orgulho por esta distinção e dedica-a especialmente a todos
os seus Clientes.

Este prémio é da exclusiva responsabilidade da entidade
que o atribuiu.

                                                                                           direção criativa                    tiragem                       Lisboa, Novembro 2018
                                                                                           Ian Anderson                        400 exemplares
                                                                                           design e direção de arte            preço
                                                                                           The Designers Republic              2€
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