São Paulo: capital da moda
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São Paulo: capital da moda Felipe Fagundes O destaque recebido nas redes sociais e como Brás e Bom Retiro. Apesar da nas publicações relacionadas à moda em grandiosidade do setor na cidade, a in- todo o mundo colocou São Paulo, em formalidade e a exploração de mão de 2012, como a sétima capital mais in- obra degradante são problemas que ain- fluente do planeta nesse setor. Sustenta da fazem parte desse mercado. Nos últi- esse posto uma cidade global, com uma mos dois anos, as empresas paulistanas cadeia produtiva formada por renoma- tentam se recuperar da crise provocada dos estilistas, escolas, eventos e, tam- por uma alta carga tributária e anos de bém, importantes endereços que produ- câmbio desfavorável – que fizeram com zem e comercializam bilhões de dólares que seus empresários enfrentassem, ao por ano. Além de um consolidado mer- mesmo tempo, a invasão dos produtos cado de luxo, a cidade atrai varejistas de asiáticos no mercado interno e a perda todas as praças do país, que revendem da competitividade nos mercados inter- Brasil à fora produtos negociados em nacionais. polos de moda popular de São Paulo,
Sérgio Amaral Uma Indústria Sufocada Alta carga tributária freia as exportações brasileiras e favorece a entrada de importados no país. Para especialis- tas, a saída é o investimento na indústria criativa, impostos mais baixos e a manutenção do atual patamar do dólar, que torna competitiva a produção nacional. A ousadia dos biquínis e o colo- A partir da abertura do mercado bra- Com a indústria se modernizando e rido das fantasias de carnaval sileiro para as importações, em 1990, a com a profissionalização do setor ao sempre foram as características indústria local precisou se modernizar longo das duas últimas décadas, feiras que mais chamaram a atenção interna- para poder competir com o que vinha e eventos passaram a fazer parte do ca- cional sobre a moda no Brasil. Porém, o de fora. Para a coordenadora do curso lendário de grandes centros, como São vestuário de um país, onde as tempera- de moda da Faculdade de Belas Artes Paulo. Por conta disso, em 2012, a ci- turas no inverno chegam a ser negativas de São Paulo, Valeska Nakad, a presença dade desbancou Milão, uma das mais em algumas localidades, não pode se desses produtos no país fez com que o importantes do circuito, no ranking das resumir a trajes tão pequenos ou pom- brasileiro se conscientizasse mais sobre a capitais mais influentes da moda em posos. A ideia sobre a moda brasileira moda, tornando-se mais exigente, o que todo o planeta, quando assumiu a sétima começou a mudar durante a década de forçou as empresas a abrirem os olhos posição. A classificação, feita pelo Glo- 1990, sob a influência dos produtos im- para esse novo consumidor. Com isso, bal Language Monitor, leva em conta o portados que começavam a desembarcar iniciou-se um processo de profissionali- destaque que as cidades recebem pelo no país, o consequente desenvolvimento zação de toda a cadeia produtiva. “Há 20 tema nas redes sociais, em publicações do setor têxtil e a realização de gran- anos, as pessoas aprendiam no chão de especializadas e na quantidade de even- des eventos, como a São Paulo Fashion fábrica. Hoje, elas vão atrás de conheci- tos realizados nas mesmas. À frente de Week. mento, especializam-se”, explica. São Paulo, Londres encabeça a lista, se- 2
guida por Nova Iorque, Barcelona, Paris, tram que a indústria deve crescer no país riado de R$ 2,15 a R$ 2,40 nos meses Madri e Roma. entre 0% e 2% neste ano, em relação ao de outubro e novembro, deve dar mais Segundo dados da Associação ano passado. Já o comércio varejista de fôlego aos produtores nacionais. Mas Brasileira de indústria Têxtil e Con- artigos de vestuário deve ter um incre- Silva deixa claro que o impacto da atual fecção (Abit), o mercado de moda no mento de 3% a 4% no seu faturamento. taxa de câmbio deve vir somente no lon- Brasil movimentou R$ 242,5 bilhões Essa diferença entre o aumento da pro- go prazo. “Perdemos muitos mercados em 2012 – foram R$ 132,5 bilhões na dução e do varejo é resultado da invasão ao longo dos últimos anos por conta do indústria e R$ 110 bilhões no varejo. A dos produtos importados no país, e fica real valorizado. Reconquistá-los e fazer cidade de São Paulo representa 15% da evidenciada no saldo da balança comer- com que os compradores acreditem que produção e 11,5% do varejo nacional, ou cial do setor, que passou de U$ 235 mi- possamos voltar a ser bons fornecedores seja, o faturamento do mercado paulis- lhões negativos, em 2011, para U$ 5,3 é algo que demora. Além disso, tradicio- tano de moda foi de R$ 122,5 bilhões bilhões negativos em 2012. nais mercados internacionais também no ano passado – o equivalente à soma O economista da Abit, Haroldo Silva, têm passado por momentos de crise”, do PIB de Goiás e de Alagoas. explica que na última década, com o real lembra, referindo-se à estagnação euro- No mundo, a moda movimentou U$ 1,7 valorizado, os produtos brasileiros per- peia, à recente onda de desemprego nos trilhão no mesmo período, segundo le- deram competitividade nos mercados Estados Unidos e ao Japão, que somente vantamento do Fashion United, institu- internacionais. Em 2002 o Brasil repre- agora começa a apresentar sinais de re- to americano de pesquisas do setor têxtil. sentava 1% das exportações têxteis mun- tomada do crescimento. O valor é superior ao PIB da Austrália, a diais, hoje, não passa de 0,5%. Dentro O economista da Abit também explica 12ª maior economia mundial, que foi de do país também não foi diferente. Com que o alto custo de produção da indús- U$ 1,589 trilhão. Hoje, de acordo com o dólar barato, comerciantes acabavam tria brasileira impacta nos preços nego- um levantamento do Instituto de Estu- vendo mais vantagem em abastecer seus ciados com o mercado externo. Além da dos e Marketing Industrial (IEMI), o estoques com produtos importados. elevada carga tributária no país, os cus- Brasil é o quarto maior produtor de ves- Com a moeda americana variando entre tos trabalhistas também influenciam no tuário do mundo, mas representa apenas R$ 1,70 e R$ 1,80, como foi entre 2009 preço dos produtos nacionais. Para ele, 0,4% das exportações globais. A China, e 2011, a taxa de importação de artigos uma das principais vantagens competi- maior produtora, fica com uma fatia de de vestuário, que é de 35% sobre valor da tivas dos produtores asiáticos é a mão de 36,6%. mercadoria, se tornava irrelevante para obra barata – conquistada às custas de Os números brasileiros revelam uma es- os compradores nacionais, enfraquecen- péssimas condições de trabalho e remu- tagnação no setor – e em 2013 não deve do seu papel de medida protecionista. neração a que são submetidos os traba- ser diferente. Projeções da Abit mos- O novo patamar do dólar, que tem va- lhadores de China, Bangladesh e Índia, 3
por exemplo. Silva lembra que, apesar alavancaria o faturamento do setor atra- de ainda ser registrado esse tipo de pro- vés da exportação de produtos finais de blema em confecções de São Paulo, não marcas brasileiras.” há comparação entre as duas realidades. Ela explica que a geração de profissio- “Aqui são casos isolados e há fiscaliza- nais formados pelas escolas de moda ção. Lá é um problema geral e ignorado está começando a ingressar no mercado, pelos governos.” o que deve fazer com que o setor per- Para o presidente da Agência Brasileira ceba uma mudança significativa na área de Promoção de Exportações e Investi- de criação. Para Nakad, ao sair da uni- mentos (Apex), Mauricio Borges, o ca- versidade, hoje, esses profissionais têm minho para o aumento das exportações à disposição uma indústria preparada no país é o investimento na indústria para atender as suas demandas. “Além criativa. Para ele, o Brasil precisa ex- disso, eles estudam para ser gestores, são portar produtos com valor agregado, já visionários, especialistas em encontrar que o mundo inteiro aposta nesse tipo nichos e em negociar.” de economia, e país, em especial São Para incentivar o processo de agregar Paulo, tem muito potencial. com uma valor à produção nacional e promover forte indústria na cidade, seus renoma- o fortalecimento da moda brasileira no dos estilistas, produtores e escolas de mercado externo, o Banco Nacional de moda. A Apex realiza ações em parce- Desenvolvimento (BNDES) liberou ria com a Abit nos principais centros do uma linha de crédito de R$ 500 milhões mundo, a fim de promover a jornalistas para projetos de design de segmentos e empresários locais as marcas de em- como têxtil e confecções, calçadista e presas brasileiras que tenham potencial moveleiro. Além disso, para diminuir exportador para atuar no mercado in- a carga de tributos que incide sobre os ternacional. “Somente com empresas produtos têxteis, a Abit elaborou uma que tenham capacidade de atender esses proposta de Regime Tributário Com- clientes é que conseguimos consolidar a petitivo para Confecção (RTCC) e imagem do país como um fornecedor de entregou, em junho deste ano, ao Mi- excelência. E a indústria de São Paulo, nistério da Fazenda e ao Ministério do que tem o maior parque fabril do país, é Desenvolvimento, Indústria e Comér- que deve tomar a dianteira dessa expan- cio Exterior (MDIC). O projeto prevê são”, explica. o fortalecimento da confecção nacional Valeska Nakad também acredita que reduzindo os impostos federais para até o caminho seja investir em criativida- 5% sobre o faturamento, que hoje gira de. Na sua opinião, além de incentivos em torno de 18%. O objetivo é comba- vindos do governo, o que provocaria ter as importações desleais, como a dos maiores investimentos por parte do produtos têxteis asiáticos, que enfraque- empresariado, falta maior valorização cem o setor no país. “Nossa indústria da capacidade criar, o que renderia um oferece produtos de melhor qualidade. pouco mais de ousadia por parte dos Se oferecermos valores competitivos, profissionais da moda. “Isso tudo co- com certeza seremos os escolhidos”, diz locaria em evidência nossos talentos e o economista da Abit, Haroldo Silva. 4
Fios subterrâneos e postes emaranhados Apesar das diferenças entre mercado de luxo e de moda popular, parte do que é produzido no Brás vai parar nas prateleiras da Oscar Freire, um dos endereços comerciais mais sofisticados do mundo. P ara se ter ideia da importância da reanos. No bairro, há lojas de atacado e moda em São Paulo, basta cami- varejo, além de confecções que produ- nhar por suas ruas. A cidade con- zem e comercializam, ali mesmo, roupas ta com importantes endereços, tanto de que são revendidas em todo o país. comércio de roupas populares como de luxo. A sétima cidade mais influente da Grifes nacionais, inclusive populares, moda mundial tem a oitava rua de co- têm chegado à região da Oscar Freire mércio mais luxuosa do planeta e polos para dividir espaço com as internacio- de confecção que atraem comerciantes nais. Faz parte do seu processo de re- de todo o Brasil. conhecimento como marca de moda, De acordo com um estudo da organi- explica Rosângela Lira, presidente da zação Excellence Mistery Shopping In- Associação dos Lojistas Oscar Frei- ternational divulgado em 2008, que reú- re (Alof ). A rua funciona como vitri- ne institutos de pesquisa de mercado de ne internacional a essas empresas, que diversos países, a Oscar Freire, na região apostam em lojas-conceito, as flagships. dos Jardins, figura ao lado de endereços Nessas unidades, os consumidores têm como a Champs Élysées, em Paris, e a a oportunidade de experimentar pro- 5th Avenue, em Nova Iorque, na lista dutos, conhecer mais sobre eles e seus dos 10 mais sofisticados do mundo. Ao processos de produção e, ainda, poder caminhar por suas calçadas nos quatro comprar itens exclusivos dessas marcas. quarteirões entre as ruas Padre Melo e A Chilli Beans, que comercializa ócu- João Manuel, com mobiliário urbano e los e relógios em pequenas lojas dentro fios subterrâneos, percebe-se que é um de shoppings, inaugurou em maio deste endereço global. Pessoas conversam em ano sua flagship na Oscar Freire. A loja francês nos cafés gourmets ali instala- tem 700 metros quadrados, conta com dos, outras pedem informações em in- um palco para apresentações culturais glês e caminham segurando sacolas de e um espaço para exposições de arte. grifes como Dior, Salvatore Ferragamo Além de comercializar toda a linha de e Mont Blanc numa das mãos, e, na ou- produtos da marca, 20% deles são ven- tra, sacolas das brasileiras Havaianas e didos com exclusividade por ali, como Le Lis Blanc. São cerca de 60 mil pes- sua primeira linha de camisetas e de soas circulando por dia neste reduto dos chinelos. A gerente de produto e negó- Jardins, um bairro onde predomina a cios da Chilli Beans, Bianca Yuri, expli- classe AAA paulistana. ca que a unidade faz parte do projeto de Já nas ruas do Brás, região de comércio marketing da empresa, já que agrega um popular em São Paulo, os fios elétricos ganho indireto, onde o mais importan- formam emaranhados nos postes de luz. te não é a receita com as vendas, mas o Lanchonetes oferecem pão na chapa e quanto aquela loja impacta na imagem vendedores chamam, aos gritos, a aten- da marca. Para a empresa, estar presente ção de quem transita por ali. O francês num endereço que se tornou internacio- e o inglês, ouvidos na Oscar Freire, dão nal é uma oportunidade de se projetar lugar ao espanhol dos bolivianos e ao no universo da moda. sotaque carregado dos comerciantes co- Essa atitude representa um amadure- 5
cimento das grifes nacionais. Para ex- Vuitton também está nos dois endere- bilhões. Circulam por lá 300 mil pessoas pandir, elas precisam ser vistas, explica ços, e tem, no Cidade Jardim, sua maior por dia, muitas delas vindas de outros Rosângela Lira, que, além de presiden- loja na América Latina: mil metros qua- lugares do país. São aproximadamente te da Alof, é gerente da grife Dior no drados. 300 ônibus fretados diariamente, que Brasil. A chegada de marcas como Ria- trazem, principalmente, pequenos lojis- chuelo, Lupo e Melissa à Oscar Freire A comerciante Mônica Santos, de São tas do interior de Minas Gerais, Mato não representa a popularização da rua, Lourenço, sul de Minas Gerais, vem Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo e dos e, sim, uma estratégia de negócio dessas duas vezes por mês para São Paulo. O três estados da Região Sul. empresas. Figurar ao lado de marcas in- endereço escolhido são as ruas do Brás. Eles vêm negociar com os produtores do ternacionais mostra que elas querem se A cada quinzena, ela desembolsa ali maior polo de confecção do país. Não impor no mercado de moda, não neces- cerca de cinco mil reais em produtos só pequenos lojistas, mas muitas lojas de sariamente no de luxo. que irão para as prateleiras de sua loja, departamento e até grifes nacionais têm Além das grifes na própria rua, como principalmente calças jeans e blusas parte de seus estoques produzida nas Lacoste e Calvin Klein, outras impor- femininas. “Todo mundo quer roupas ruas do bairro, como as Lojas America- tantes marcas internacionais escolheram de São Paulo. Eu vendo esses produtos nas e a grife Le Lis Blanc, que leva para seus arredores para expandir seus ne- pelo triplo do que pago aqui. Faturo o a Oscar Freire roupas confeccionadas no gócios mundiais, como Louis Vuitton suficiente para pagar os impostos, as Brás. São cinco mil lojas, quatro mil com e Dior, ambas instaladas na Haddock operadoras das máquinas de cartão e, produção própria, que mantêm 150 mil Lobo, que corta a Oscar Freire. E pa- ainda, fico com 100% de lucro”, explica. empregos diretos e 300 mil indiretos. rece que a estratégia tem dado certo. Ela trabalha sozinha, numa loja anexa a Parte dessa mão de obra é de imigrantes Das 180 lojas próprias da Dior em todo sua casa, no interior de Minas. Não paga bolivianos que vivem em situação ilegal o mundo, a dos Jardins está entre as 50 aluguel de espaço comercial e conta que, no país e são, em muitos casos, explora- mais lucrativas. E seus investimentos com o advento do cartão de crédito, não dos por seus empregadores. em São Paulo não param. Além de ter teve mais problemas de calote com seus O conselheiro da Alobrás, Jean Makdisi inaugurado uma megaloja de 500 me- clientes. Jr, diz que o problema das condições de tros quadrados no shopping Cidade Jar- Segundo dados da Associação de Lojis- trabalho precárias a que são submetidos dim, em fevereiro deste ano, a Dior está tas do Brás (Alobrás), o faturamento no os imigrantes existe, mas que vem sendo dobrando o tamanho das instalações da local, em 2012, foi de R$ 12 bilhões, o fortemente combatido por frequentes Haddok Lobo, que ficará com a mesma que representa 10% do total do fatura- fiscalizações do Ministério Público do metragem da loja do shopping. A Louis mento da cidade, que foi de R$ 122,5 Trabalho e pela repercussão na mídia, 6
Klauss Schramm principalmente quando envolve grandes marcas. Makdisi Jr lembra que o bairro é, tam- bém, o maior exportador de jeans do país. Das 10 milhões de calças produzi- das mensamente no Brás, 12% vão para o mercado externo, principalmente para os Estados Unidos. Apesar de produ- tores, como a Lemier, não terem suas marcas reconhecidas, o produto, em si, é valorizado lá fora. “É o famoso jeans brasileiro, como é anunciado em Nova Iorque e Miami”, explica Makdissi Jr. O empresário Fauze Junes, proprietá- rio da Dinho’s Modas, que confecciona roupas masculinas e femininas, diz que seu faturamento em 2013 deve ser 10% maior do que no ano passado. Ele espera atingir essa meta entre novembro e de- zembro, quando a circulação de pessoas no bairro chega a um milhão por dia. Os planos para 2014 são de ganhar o mer- cado externo, investindo na ampliação do negócio com as exportações. Se o dólar se mantiver no patamar atual, va- riando de R$ 2,20 a R$ 2,40, o produto brasileiro passa a ser competitivo lá fora, tornando a exportação viável para seus negócios.
João Pimenta O Brasil na Passarela São Paulo Fashion Week chega a sua 36ª edição e coloca a cidade no centro das atenções do mundo da moda. O evento deixa de lado o exotismo brasileiro e evidencia a contemporaneidade dos seus estilistas. O técnico em informática Luiz Brigadeiro. Quando as portas se abri- chcovitch. A intenção não é lançar ten- Antônio Prado, 29 anos, ves- ram, um verdadeiro desfile de moda to- dências, é simplesmente levar o clima do tia sua camisa do Corinthians, mou conta dos vagões, e os corredores evento a outras pessoas, outros lugares, bermuda jeans e um tênis confortável. entre os assentos se transformaram em disse a diretora de projetos especiais da Ele havia embarcado na estação Suma- passarela de moda. O evento itinerante SPFW, Graça Cabral. ré, linha verde do metrô de São Paulo, e marcava o início da São Paulo Fashion Ela explica que trazer o evento para iria até o Sacomã, onde assistiria ao jogo Week (SPFW), a quinta maior semana locais como o metrô faz parte de ações do seu time, pela 31ª rodada do Campe- de moda do mundo – atrás de Paris, Mi- baseadas no tema deste ano: deslo- onato Brasileiro, na televisão da casa de lão Nova Iorque e Londres. camentos. Ou seja, levar a semana de um amigo, no dia 27 de outubro. Já era a sexta estação em que as 40 mo- moda para toda a cidade, fazer as pes- Aos domingos, praticamente em qual- delos que participavam da intervenção soas notarem e participarem, explicou. quer horário do dia, o movimento no haviam desembarcado de um trem e “Além de tanta mulher bonita, a gente metrô da maior cidade brasileira é tran- embarcado em outro. Elas vestiam rou- acaba percebendo o quanto esse evento quilo. Tanto que Luiz Antônio Prado pas que já haviam passado pela passarela é organizado e importante. É algo que estava sentado, sozinho, em um dos principal da SPFW em edições anterio- eu jamais esperava ver num vagão de bancos do quinto vagão daquele trem. res, assinadas por estilistas como Carlos metrô”, comentou Luiz Antônio Prado. A calmaria chegaria ao fim na estação Miele, Ronaldo Fraga e Alexandre Her- 8
Na última semana de outubro, São Pau- uma impecável iluminação, onde eram lo respirou moda. Grifes nacionais ins- oferecidos coquetéis e produtos pró- talaram showrooms em universidades, prios aos clientes. Lá dentro, na área de shoppings e museus da cidade, onde desfiles, só entram convidados e profis- apresentavam suas coleções e comercia- sionais da imprensa credenciados, que lizavam suas roupas. Eventos itinerantes conferem as tendências para o inverno inseriam a moda no dia a dia paulistano de 2014. e os principais estilistas brasileiros apre- Além da estrutura fixa, cerca de dois mil sentavam, em alto estilo, suas criações showrooms ficam espalhados pela cidade nas passarelas da SPFW. durante a semana. A gerente de vendas A 36ª edição do evento, que ocorreu da grife Cleo Aidar, Izabel Carneiro, entre os dias 27 de outubro e 1º de no- afirma que foi através da SPFW que a vembro, foi deslocada para um novo en- empresa expandiu no país, aumentando dereço. Deixou as instalações da Bienal seu faturamento anual. “Aqui os com- de São Paulo, no Ibirapuera, e foi para pradores vêm nos conhecer, não precisa- o Parque Villa-Lobos, a maior área ver- mos bater de porta em porta para apre- de da cidade. A cenografia das enormes sentar nosso produto.” tendas, que ocupavam 15 mil m², foi assinada pela cineasta Daniela Thomas, Os 25 desfiles principais não acontece- filha do cartunista Ziraldo. O ambiente ram somente no Parque Villa-Lobos. criado para esta edição entrava em har- Pedro Lourenço, que até então apresen- monia com o local: a estampa das lonas tava suas criações somente na semana mostrava imagens de folhas verdes e ar- de moda de Paris, realizou seu desfile ranha-céus, já a decoração da área exter- no auditório da Fundação Armando na contava com grandes bolas brancas, Álvares Penteado (FAAP). Ele é filho iluminadas durante a noite. dos estilistas Glória Coelho e Reinaldo Na área aberta ao público era possível Lourenço, que também apresentaram observar a movimentação nos lounges suas coleções nesta edição. dos patrocinadores, locais que já de- Em agosto, Pedro Lourenço se envolveu monstravam a grandiosidade do evento: em uma polêmica sobre a Lei Rouanet. espaços modernos, confortáveis e com Após a rejeição de seu projeto pela Co- 9
missão Nacional de Incentivo à Cultu- janeiro, e a Tecnotêxtil, feira de tecnolo- ra, uma intervenção da Ministra Marta gia para a indústria que ocorre em abril. Suplicy reverteu a decisão, o que gerou Mas é a SPFW, realizada duas vezes uma polêmica sobre a validade da inclu- ao ano, que mais se destaca nesse meio. são da alta costura na captação de recur- Segundo a organização do evento, cada sos através dessa Lei. O estilista recebeu edição gera R$ 1,5 bilhão em negócios a liberação de R$ 2,8 milhões para a re- e garante 11 mil empregos diretos e in- alização de seu projeto, uma coleção ins- diretos e contribui com R$ 100 milhões pirada em Carmen Miranda, que seria em impostos municipais. apresentada em São Paulo e em Paris. Além disso, há impactos positivos no Durante a semana de moda paulistana, turismo da cidade. Uma pesquisa da São ele se negou a dar qualquer declaração Paulo Turismo (SPTuris), realizada na sobre o assunto à imprensa. 34ª edição da SPFW, revelou que 12% Para a coordenadora do curso de moda dos cerca de 100 mil participantes são da Faculdade de Belas Artes, Valeska turistas e que eles movimentam cerca Nakad, São Paulo é onde a moda brasi- de R$ 26 milhões durante os cinco dias leira acontece, e a SPFW é o palco para em que ficam, em média, hospedados na mostrar isso ao mundo. Ela cita Ronal- cidade. O deslocamento do evento para do Fraga, Alexandre Herchcovitch e o o Parque Villa-Lobos lotou os hotéis da próprio Pedro Lourenço como os prin- região. O Go Inn da Avenida Jaguaré, cipais designers brasileiros. O destaque que cobra R$ 199,00 a diária, apresen- de Lourenço, o mais novo deles, com tou 90% de ocupação. Segundo a agente 21 anos, é sua excelência técnica, com a de reservas Mariana Hono, no mesmo utilização de tecidos tecnológicos e seu período do ano anterior, quando o even- estilo minimalista, sem exageros. to foi realizado no Parque do Ibirapuera, Para o inverno de 2014, Herchcovitch a taxa de ocupação foi de 60%. levou ao Theatro Municipal uma cole- Para o organizador da semana, Pau- ção com estilo romântico. Enquanto lo Borges, a importância dos grandes Lourenço optou por tecidos tecnológi- eventos do setor para a cidade, além da cos, ele apostou em materiais mais clás- geração de empregos e arrecadação de sicos, como rendas e bordados, além de impostos, é mostrar ao mundo o pro- cores em tons pastel e escuros. Ronaldo fissionalismo do seu mercado de moda. Fraga, por sua vez, elegeu o couro como “Conseguimos mudar a imagem do o tecido do próximo inverno, que, aliado Brasil lá fora. Hoje, o estrangeiro não a peças de crochê, estrelou sua coleção, espera mais algo exótico na produção inspirada no sertão. brasileira, ele espera boas ideias, produ- tos com criatividade.” Borges é mais um A cidade de São Paulo recebe grandes defensor de que a saída para uma balan- eventos, de todas as áreas, durante o ça comercial positiva é a exportação de ano inteiro. No setor têxtil e de moda produtos com valor agregado. O Brasil se destacam também outras feiras, como precisa vender marcas, não commodi- a Premiére Brasil, de acessórios, fios e ties. E a SPFW está aí para isso. complementos têxteis que acontece em 10
Aline Valverde/Visionari Escravos da Moda Em meio às confecções de São Paulo, imigrantes bolivianos baixam a cabeça e enfrentam jornadas de até 14 horas por dia. Aliciados em seu país, eles vêm para São Paulo já em dívida com seus patrões brasileiros. T odos os domingos, por volta das horas por dia numa confecção do Brás, jeitou à intensa jornada de trabalho, já 11h da manhã, o colorido e os Hugo Moreno, 29 anos, resolveu incre- que seu salário seria de acordo com a sons da Bolívia invadem uma mentar sua renda. O boliviano, de Oru- quantidade de peças produzidas. pequena praça no bairro Pari, zona les- ro, expõe todos os domingos os produ- Com tudo pago, Moreno resolveu se te de São Paulo. Na quadra de cimento, tos que recebe de seu país a cada 15 dias. mudar para uma pensão no Pari, envol- crianças disputam, às risadas, um tor- Na empresa em que trabalha ganha em veu-se com a comunidade do seu país e neio de futebol. Os gritos de vendedo- torno de R$ 250,00 por semana. Parte teve a ideia de montar sua própria bar- res, comuns em outras feiras nos bairros desse dinheiro ele nem chegava a ver. raca na feira local, onde fatura em torno paulistanos, dá lugar ao som emitido Quando veio para São Paulo, no início de R$ 200,00 a cada domingo. Com o harmonicamente pelos flautistas que ali deste ano, sua viagem foi custeada por dinheiro que ganha em seus dois em- se reúnem. Há uma estreita relação en- seu empregador brasileiro. Ao chegar ao pregos no Brasil, ele pretende comprar tre a moda brasileira e o fato daqueles país, já acumulava essa dívida na con- uma casa para viver com sua mulher e bolivianos estarem ali, na praça Kantuta, ta com seu patrão – que só aumentou. filho quando voltar à Bolívia, em, “no comercializando bolsas, polleras (saias), Além de trabalhar, comia e dormia na máximo, dois anos”, enfatiza. Ele, as- casacos e outros produtos do vestuário e pequena confecção do Brás, e tudo isso sim como centenas de outros bolivianos da culinária típica de seu país. seria pago com seu esforço. Para se ver que desembarcam todos os dias em São Após seis meses trabalhando de 12 a 14 livre da dívida o quanto antes, ele se su- Paulo, foi aliciado em seu país e veio 11
para o Brasil para ter sua mão de obra tidade presta aos imigrantes, está a in- era bem diferente. Sem segurança algu- explorada pela indústria têxtil local. termediação nos acertos de contas en- ma, veio lotado de bolivianos que ten- tre patrões e empregados. “A intenção tariam a vida no Brasil. A proposta de Dados oficiais do Ministério da Justiça é somente receber o dinheiro, nenhum emprego estava estampada num anún- contabilizam cerca de 50 mil imigrantes deles vem aqui para denunciar as péssi- cio de jornal. Ganhando o equivalente a bolivianos vivendo no Brasil. Porém, de mas condições em que a gente sabe que R$100,00 por mês como guia turístico acordo com estimativas do consulado da trabalham”, conta. em Oruro, ele não hesitou em se can- Bolívia, esse número ultrapassa os 350 Se por um lado os próprios bolivianos didatar à vaga no Brasil. Durante a via- mil, sendo 300 mil só na cidade de São têm medo de denunciar a situação por gem, antes de cruzar a fronteira, em Co- Paulo. Com frequência, esses imigrantes receio de estarem ilegais no Brasil, por rumbá, Mato Grosso do Sul, teve seus são submetidos a jornadas exaustivas, outro lado os empresários também têm documentos recolhidos, e só foram de- atividades forçadas e servidão por dívi- medo de serem denunciados ao Minis- volvidos após quatro meses de trabalho. da. tério do Trabalho. Segundo Patussi, os Roque Patusi conta que muitos imi- Esse regime de trabalho a que são ex- empregadores sempre são chamados grantes, que conseguem sair das confec- postos os bolivianos que vêm trabalhar para contar o outro lado da história e, na ções em que vivem, procuram o Centro na indústria têxtil da cidade de São maioria dos casos, por saber que estão de Apoio ao Migrante para tentar recu- Paulo é considerado, no Brasil, como errados, se dispõem a negociar com os perar seus documentos. Assim como nas uma atividade análoga à escravidão. Os ex-funcionários. negociações de dívidas, os empregado- bolivianos, porém, não veem dessa for- res costumam devolvê-los pelo mesmo ma. Hugo Moreno, por exemplo, diz As roupas típicas que Hugo Moreno motivo: medo de serem denunciados. que no seu país as pessoas estão acos- vende aos domingos na praça Kantuta Os trabalhadores que buscam essa ajuda tumadas com a falta de emprego ou são compradas por sua esposa em Oru- são, geralmente, aqueles que desistem da com condições de trabalho piores que ro. Lá, ela despacha as encomendas do vida no Brasil, e querem seus documen- aquelas que encontram aqui. O coorde- marido num ônibus convencional que tos apenas para voltar ao seu país. nador do Centro de Apoio ao Migrante parte com destino a São Paulo, através da Confederação Nacional dos Bispos de um dos passageiros, com quem nego- Em 2013, grandes grupos, como o GEP, (CNBB), Roque Patusi, confirma essa cia ao chegar à rodoviária. que controla as marcas Luigi Bertolli, versão. Dentre as assistências que a en- O ônibus que trouxe Moreno ao Brasil Emme e Cori, o Restoque, das grifes 12
Le Lis Blanc, Bo. Bô e John John, e Para enfrentar o problema, algumas me- tipo de prática, já que cancela o cadas- as Lojas Americanas, foram acusados didas, como um selo de certificação e até tro no ICMS das empresas envolvidas, de exploração de mão de obra de imi- uma lei estadual, que inviabiliza a ativi- impedindo suas negociações comerciais. grantes. Todas essas marcas terceirizam dade comercial de empresas envolvidas A lei prevê a punição para empresas que a produção de parte das suas coleções, com esse tipo de mão de obra, foram apresentem práticas trabalhistas análo- através de confecções de bairros como tomadas. O selo da Associação Brasilei- gas à escravidão em qualquer elo da sua o Brás e o Bom Retiro. Algumas dessas ra do Varejo Têxtil (ABVTEX) foi lan- cadeia produtiva. terceirizadas utilizam esse tipo de mão çado em 2010 e consiste na certificação Apesar de todos os problemas que en- de obra, ou tem como fornecedores ou- de empresas de todos os elos da cadeia frentam no Brasil, os bolivianos da praça tras empresas que exploram essa forma têxtil que não utilizam mão de obra es- Kantuta riem e se divertem aos domin- de trabalho. Não importa se o problema crava – nem própria e nem de seus for- gos. Roque Patusi lembra que a maioria foi na malharia que confeccionou ape- necedores. Mas há falhas. deles vem para ficar. E, quando tomam nas as golas das camisas. A empresa que A empresa HippyChick Moda Infan- essa decisão, procuram o consulado de terceiriza a confecção é responsável por til, terceirizada pelas Lojas America- seu país e o próprio Centro de Apoio ao toda a cadeia de produção. nas, possuía essa certificação, mas tinha Migrante para ajudá-los nesse processo. Roque Patusi, do Centro de Apoio ao como fornecedora a malharia onde Porém, só cabe a essas instituições es- Migrante, lembra que são muitos os ca- foram identificadas características de clarecer-lhes as maneiras pelas quais um sos de bolivianos que chegam ao Bra- trabalho escravo. Por meio de sua asses- imigrante pode regularizar sua situação sil, vivem nessas condições, e, depois, soria de imprensa, a ABVTEX explicou no país: casar-se com um brasileiro nato quando quitam suas dívidas com seus que a certificação depende de auditorias ou com quem já possua registro perma- patrões, abrem seus próprios negócios, anuais e que, na época em que foi con- nente; investir U$200 mil no país; pedir como lanchonetes e malharias. Foi o cedido o selo à HippyChick, sua cadeia abrigo, sendo que é necessário provar caso da empresa que confeccionava as de produção não apresentava esse tipo que vem de um país em conflito; ou roupas infantis para as Lojas America- de problema. ter um filho no Brasil. Pelos choros de nas. O dono do local, boliviano, empre- Quanto à lei 1.034, sancionada pelo criança e a quantidade delas brincando gava cinco parentes na oficina sob pés- Governador Geraldo Alkmin em janei- na praça Kantuta, é provável que a úl- simas condições de ventilação, higiene e ro deste ano, Luís Camargo acredita que tima opção seja a mais recorrida pelos segurança. ela será fundamental no combate a esse bolivianos que vivem em São Paulo. 13
Do Lixo ao Luxo O Brasil importa o mesmo material que descarta diariamente. No Bom Retiro, o Projeto Retalho Fashion prevê transformar em fios todo o resto de tecidos das confecções do bairro. T odos os dias, por volta das 7h vasculhados pelos poucos catadores que não pode ser reaproveitado pela própria da manhã, caixas e sacos de lixo transitam pela região. Após uma breve malharia é separado num saco destina- são colocados em frente às con- análise visual, pouco, de todo aquele do somente aos retalhos e colocado em fecções do bairro Bom Retiro, em São material, é selecionado por esses traba- frente à loja na manhã seguinte. “Como Paulo. Através do plástico transparente, lhadores. Às 7h30, o caminhão de lixo não há uma coleta específica, a recicla- podem-se observar as cores dos reta- da prefeitura começa a passar pelas ruas gem vai depender do recolhimento, ou lhos de tecidos ali depositados. Difícil é do bairro e mistura ao lixo comum o que não, pelos catadores”, explica Carvalho. calcular o quão valioso eles possam ser. poderia servir de matéria-prima para a Segundo dados do Sindicato das Indús- produção de novos fios, utilizada na fa- O projeto Retalho Fashion, lançado em trias de Fiação e Tecelagem do estado bricação de novas roupas, sacolas, tape- junho de 2012 pelo SintêxtilSP, prevê a de São Paulo (SindtêxtilSP), as 1200 tes, redes. implementação de um serviço comple- confecções do Bom Retiro enviam para O gerente de produção José Paulo Car- to de reciclagem dos resíduos têxteis no o lixo 12 toneladas de retalho por dia. valho, da Action, confecção de meias Bom Retiro, através da mobilização dos Enquanto isso, o país importa cerca de no bairro, explica que os retalhos nada empresários, capacitação de catadores, 12 mil toneladas desse material por ano. mais são do que as sobras de cortes de coleta seletiva e destinação da matéria- Após serem depositados do lado de fora tecido e, também, as peças com defeitos, -prima para a indústria de fios. A pri- dos estabelecimentos, os pacotes são separadas ao longo do dia. Aquilo que meira etapa já foi concluída. Com base 14
em questionários respondidos pelos fa- ção da grife Osklen, Oskar Metsvathe, bricantes do local, foi feito um levanta- que desfila suas coleções na São Paulo mento das necessidades logísticas para a Fashion Week, conta que a empresa implantação do projeto. prioriza a criação de peças que possam Para a segunda fase, o presidente do utilizar fibras recicláveis, como as de po- SindtêxtilSP, Alfredo Emílio Bonduk, liéster. É uma forma de reduzir os im- conta que esteve reunido com o Secretá- pactos ambientais inerentes à cadeia de rio Municipal de Serviços, Simão Pedro, produção. no mês de setembro, para iniciar as con- No Bazar das Noivas, no Jardim Vila versas sobre a contratação dos serviços Formosa, Zona Sul de São Paulo, pode- de coleta. A previsão é de que o projeto -se encontrar um produto que se trans- seja plenamente executado dentro de formou em símbolo da sustentabilidade: um ano. Os recursos para a infraestrutu- as sacolas ecológicas, ou ecobags. Lá são ra devem vir da iniciativa privada. Já os comercializados desde modelos para o serviços de coleta deverão ser efetuados dia a dia até encomendas de persona- em parceria com a prefeitura municipal. lização do produto para outros estabe- Bonduk explica que a ideia é levar o lecimentos, feiras e eventos. A sacola é Retalho Fashion a todos os polos de feita com poliéster e alguns modelos são confecção da cidade e, na sequência, do customizados com retalhos de tecido estado de São Paulo – e que sirva de de algodão. Segundo a gerente de pro- modelo para todo o país. Ele conta que, dução Marta Favoretto, as encomendas segundo estimativas da Associação Bra- vêm, muitas vezes, de estabelecimentos sileira da Indústria Têxtil (Abit), o Bra- que querem agregar valor a sua marca, sil importou, em 2011, 12 mil toneladas oferecendo esse tipo de embalagem aos de trapos e, ao mesmo tempo, 80% das seus clientes. 170 mil toneladas produzidas no país foram parar no lixo. A pesquisadora de moda Lilian Berlim Os 20% que são reciclados, provém do explica que hoje começa a haver uma trabalho de catadores informais, como conscientização do consumo, com clien- Júlio Mendes, de 28 anos. O catador tes dispostos a pagar mais por produtos passa todas as manhãs pelas ruas do de material reciclado, que sejam éticos. Bom Retiro empurrando seu carrinho, Para ela, quando se aliam fibras de po- onde cabem, segundo ele, cerca de 200 liéster, que vêm de garrafas PET, com quilos de retalhos. O recolhimento dos fibras de algodão, provenientes de reta- sacos colocados em frente às confec- lhos, têm-se um produto 100% recicla- ções não é aleatório. “Nos retalhos de do e com um grande valor agregado. tecidos claros a gente ganha pouco. Eu O projeto Retalho Fashion prevê a cria- tento pegar só o que for colorido, por- ção de uma associação de catadores, com que ganho mais”, explica. As fabricantes cursos profissionalizantes disponibiliza- de fios pagam de R$1,00 a R$2,00 por dos pelo Senai. Eles devem trabalhar quilo de trapos, dependendo da cor, já nas usinas de reciclagem, para onde as que os coloridos exigem pouca ou ne- confecções deverão enviar seus resíduos nhuma tintura . Ao chegar a sua casa, sólidos. Lá, será feito, em larga escala, o Júlio separa os retalhos pelo tipo do ma- mesmo trabalho que Júlio Mendes faz terial e envia aos compradores. Quando sozinho em sua casa. A partir daí, tem- trabalha todos os dias, seu faturamento -se a matéria prima para a indústria, que semanal chega a R$ 1300,00. vai desfibrilar os tecidos e produzir fios. Se o projeto for adotado por todos os A utilização de materiais reciclados já estados com indústrias têxteis, o Brasil, é um fato na indústria têxtil. Segundo que é o quarto maior produtor de vestu- dados obtidos por uma pesquisa da As- ário do mundo, pode se tornar o maior sociação Brasileira da Indústria do PET produtor de fios e tecidos recicláveis. (Abipet), 59% das garrafas PET descar- Com a moda do país em evidência in- tadas no Brasil são recicladas. Destas, ternacional, é possível que tecidos eco- a cada seis garrafas, 2,4 vão para a in- lógicos sejam cada vez mais utilizados, dústria têxtil, onde são utilizadas na fa- tornando esse mercado um negócio bricação de poliéster. O diretor de cria- cada vez mais sustentável. 15
Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina apresentado à disciplina de Projetos Experimentais Ministrada pela Profª. Gislene Silva No segundo semestre de 2013 Orientador: Prof. Rogério Christofoletti Acadêmico: Lucinei João Schmitz
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