A experiência de Belo Horizonte - PBH
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A experiência de Belo Horizonte no enfrentamento às arboviroses: dengue, zika e chikungunya Elaboração Adebal de Andrade Filho Adriana Cristina Camargos de Rezende Alexandre Sampaio Moura Ana Carolina Lemos Rabelo Bianca Giannini Camilla G. Barcala B. Ramos Michelly dos Santos Possidônio Vanessa Ferreira de Souza Colaboração Alexandre Lucas Alves Argus Leão Araújo Eduardo Viana Vieira Gusmao Fabiano Geraldo Pimenta Junior Jaqueline Camilo de Sousa Felício Jandira Aparecida Campos Lemos Lúcia Maria Miana Mattos Paixão Luciana de Melo Borges Maria Tereza da Costa Oliveira Silvana Tecles Brandão Taciana Malheiros Lima Carvalho Vanessa Maria Rodrigues Coelho Wanessa Rocha Equipe CIEVS/GEEPI Projeto Gráfico Produção Visual - Gerência de Comunicação Social Secretaria Municipal de Saúde Belo Horizonte 2016
BOLETIM DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - A experiência de Belo Horizonte no enfrentamento às arboviroses A Secretaria Municipal de Saúde de 22 de dezembro de 2015, que cria o Grupo Belo Horizonte (SMSA-BH) realiza o moni- Executivo para Intensificação do Combate toramento epidemiológico e assistencial ao Aedes aegypti (GEICAEDES), com o ob- da situação de dengue no município du- jetivo de implementar o Plano de Contin- rante todos os meses do ano de forma con- gência de enfrentamento, intensificando a junta e intersetorial, envolvendo a Gerência vigilância epidemiológica, as medidas de de Assistência, a Gerência de Vigilância em combate ao vetor, as ações assistenciais e Saúde, a Gerência de Epidemiologia e In- as ações de mobilização social. Este grupo, formação, a Gerência de Controle de Zoo- conduzido de forma compartilhada pela noses, a Gerência de Comunicação Social, Secretaria Municipal de Saúde e Defesa a Gerência de Urgência e as Gerências Re- Civil do município, promoveu a realização gionais de Saúde sob a coordenação do de ações educativas e de combate ao ve- Secretário Municipal de Saúde. tor de maneira integrada e coordenada, Em razão do aumento das notificações envolvendo amplamente setores públicos de casos e da alta infestação pelo mosqui- e privados. Entre diversas participações to Aedes aegypti, detectada a partir de aná- do setor privado, vale ressaltar a atuação lises de ovitrampas, em dezembro de 2015 da UNIMED BH, detalhada nesse boletim, o município declarou Situação de Emer- tanto promovendo ações educativas, de gência, por meio do Decreto Nº 16.182, de promoção à saúde, como assistenciais. Ações de Vigilância Epidemiológica 1- Dengue 1.1- Situação Epidemiológica Em 2016, desde a primeira semana epi- (Tabela 1). O maior número de casos con- demiológica, observou-se um número de firmados foi nos Distritos Sanitários (DS) casos notificados e confirmados de den- Barreiro (25.520) e Nordeste (21.018); e o gue acima do esperado, o que resultou DS com menor número de casos confir- na maior epidemia de dengue na série mados foi a Centro Sul (10.262). As maiores histórica de Belo Horizonte. Até a sema- taxas de incidência de casos confirmados na epidemiológica (SE) 41 foram notifica- foram registradas no DS Barreiro (9.031 dos 183.160 pacientes com suspeita de casos/100.000 habitantes) e Leste (8.684 dengue, dos quais 154.922 (84,6%) foram casos por 100.000 habitantes). confirmados. Ocorreram 712 (0,4%) casos confirmados como dengue com sinais de alarme e 67 (0,03%) como dengue gra- ve. Há ainda 2.489 (1,3%) casos suspeitos aguardando investigação, e foram descar- tados 25.749 (14%) dos casos notificados 2
Edição nº 7 - Dezembro de 2016 Tabela 1 - Classificação final dos casos de dengue por DS de residência, Belo Horizonte, 2016 % casos % casos Distrito D DcSA DG Descartados Pendentes Total confirmados descartados Barreiro 25.368 148 4 1.761 48 27.329 94 6 Centro sul 10.238 16 8 762 31 11.055 93 7 Leste 20.605 35 9 1.630 145 22.424 93 7 Nordeste 21.008 5 5 4.969 88 26.075 81 19 Noroeste 18.186 44 10 1.463 42 19.745 93 7 Norte 15.951 9 14 3.357 31 19.362 83 17 Oeste 13.369 7 6 4.944 53 18.379 73 27 Pampulha 16.527 330 5 1.572 79 18.513 91 9 Venda Nova 12.524 115 5 5.250 39 17.933 71 29 Ignorado 367 3 1 41 1.933 2.345 90 10 Total 154.143 712 67 25.749 2.489 183.160 86 14 Fonte: SINAN ONLINE/SISVE/GEEPI/GVSI/SMSA/PBH, atualização 11/10/2016 Nota: D: Dengue; DcSA: Dengue Com Sinais de Alarme; DG: Dengue Grave. A situação epidemiológica e a distri- soluto de casos confirmados e também a buição dos casos do município ao longo maior incidência da doença com 6.522,6 da série histórica da vigilância da dengue casos/100.000 habitantes. Observa-se que estão demonstradas no Gráfico 1. O ano neste ano houve uma antecipação do de 2016 apresentou o maior número ab- pico das notificações para a SE 8. Gráfico 1 - Casos confirmados de dengue por semana de início de sintomas, residentes em BH, 2009 a 2016 14000 Casos Confirmados 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Fonte: SINAN ONLINE/SISVE/GEEPI/GVSI/SMSA/PBH, atualização 11/10/2016 3
BOLETIM DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - A experiência de Belo Horizonte no enfrentamento às arboviroses 1.2- Isolamento Viral Foram realizados 3.846 testes rápidos não foram processadas até o momento. NS1 para dengue, sendo 1.427 (37%) com Em relação ao resultado de isolamento vi- resultados positivos. Dessas amostras, 873 ral, 36,6% das amostras foram negativas e foram encaminhadas para FUNED para re- 63,4% positivas; dentre as amostras positi- alização de Isolamento Viral ou transcrição vas houve a identificação apenas do DENV1 reversa combinada à reação em cadeia da (Tabela 2). Das 669 amostras processadas polimerase (RT-PCR), sendo 676 NS1 posi- através de RT-PCR, 65% tiveram resultado tivas (77%) e 197 negativas (23%). Das 873 não detectável e 34,7% detectável. Das 232 amostras, apenas 93 foram processadas amostras positivas, 231 tiveram a identifica- através da técnica de isolamento viral e ção do DENV1 e em apenas uma amostra 669 através de RT-PCR, as demais amostras foi isolado o DENV3 (Tabela 3). Tabela 2 - Amostras enviadas e processadas pelo Laboratório da FUNED pela técnica de isolamento viral, Belo Horizonte, 2016 Amostras Região/UF Negativos Positivos Sorotipos confirmados (%) enviadas n n % n % DENV1 DENV2 DENV3 DENV4 Barreiro 17 2 11,8 15 88,2 15 Centro Sul 4 1 25,0 3 75,0 3 Leste 12 8 66,7 4 33,3 4 Nordeste 5 3 60,0 2 40,0 2 Noroeste 22 6 27,3 16 72,7 16 Norte 3 2 66,7 1 33,3 1 Oeste 7 4 57,1 3 42,9 3 Pampulha 13 7 53,8 6 46,2 6 Venda Nova 6 1 16,7 5 83,3 5 Ignorado 4 0 0,0 4 100,0 4 Total 93 34 36,6 59 63,4 59 Fonte: Gerenciador de Ambiente Laboratorial – GAL/FUNED, atualização 11/10/2016 Foram confirmados 57 óbitos de resi- 53% dos pacientes apresentavam mais de dentes no município relacionados à den- uma comorbidade e apenas 7% não apre- gue entre 1 de janeiro a 23 de novembro sentava nenhuma comorbidade (Quadro de 2016. A maioria dos pacientes apre- 1). A média de tempo decorrido entre o sentava alguma comorbidade e/ou fator adoecimento e o óbito foi de 14 dias. de risco (93%), sendo que 65% tinham 60 anos ou mais. As principais comorbidades relatadas foram hipertensão arterial sistê- mica (HAS), diabetes mellitus (DM), car- diopatia, insuficiência renal crônica (IRC) e anemia falciforme, salientando-se que 4
Edição nº 7 - Dezembro de 2016 Tabela 3 - Amostras enviadas e processadas pelo Laboratório da FUNED pela técnica de RT-PCR, BH, 2016 Amostras Não Região/UF Detectável Inconclusivo Sorotipos confirmados (%) enviadas Detectável n n % n % n % DENV1 DENV2 DENV3 DENV4 Barreiro 71 36 50,7 35 49,3 0 0,0 34 1 Centro Sul 32 19 59,4 13 40,6 0 0,0 13 Leste 42 32 76,2 10 23,8 0 0,0 10 Nordeste 88 58 65,9 30 34,1 0 0,0 30 Noroeste 61 38 62,3 23 37,7 0 0,0 23 Norte 71 50 70,4 19 26,8 2 2,8 19 Oeste 71 44 62,0 27 38,0 0 0,0 27 Pampulha 61 42 68,9 19 31,1 0 0,0 19 Venda Nova 77 58 75,3 19 24,7 0 0,0 19 Ignorado 95 58 61,1 37 38,9 0 0,0 37 Total 669 435 65,0 232 34,7 2 0,3 231 1 Fonte: Gerenciador de Ambiente Laboratorial – GAL/FUNED, atualização 11/10/2016 Quadro 1 - Distribuição dos óbitos por dengue em residentes de Belo Horizonte segundo sexo, faixa etária e comorbidades, 01/01/16 a 23/11/2016 Número Variáveis % (N=57) Feminino 26 46% Sexo Masculino 31 54% 0 a 14 anos 15 a 19 anos 3 5% Distribuição 20 a 39 anos 5 9% por faixa etária 40 a 59 anos 12 21% 60 a 79 anos 14 25% 80 anos e mais 23 40% Mais de uma comorbidade (HAS, DM, IRC, cardiopatia, outras) 30 53% Fator de risco (Idade acima de 65 anos, etilista, câncer de mama) 6 11% Anemia Falciforme 6 11% HAS apenas 6 11% Presença de Transtorno psiquiátrico ou neurológico 2 4% comorbidade Cardiopatia apenas 1 2% Hiperplasia de próstata 1 2% DM apenas 1 2% Ausente 4 7% Fonte: CIEVS/GEEPI/GVSI/SMSA, atualização 23/11/2016 A maioria dos óbitos ocorreram nos meses de fevereiro (23%), março (26%), abril (28%) e maio (14%). Nos meses de ja- neiro e junho ocorreram dois óbitos (4%) e em agosto um óbito (2%). 5
BOLETIM DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - A experiência de Belo Horizonte no enfrentamento às arboviroses 1.3 - Ações realizadas • Capacitação dos médicos e enfer- coleta, realização e divulgação dos meiros dos Centros de Saúde, Unida- resultados de exames laboratoriais; des de Pronto-Atendimento e Hospi- • Alimentação e qualificação dos sis- tais públicos e privados; temas de informação (SINAN Onli- • Sensibilização dos gestores dos hos- ne), análise dos dados e divulgação pitais privados sobre a situação epi- semanal dos mesmos; demiológica no município e impor- • Divulgação de notas técnicas para tância de implementar o protocolo toda a rede SUS-BH com orienta- de manejo clínico; ções sobre isolamento viral, coleta • Sensibilização dos representantes das de sorologia, interrupção de coleta, vilas alertando sobre a situação epide- de acordo com critérios epidemio- miológica do município e importância lógicos definidos; da adoção das medidas de prevenção • Investigação de todos os casos sus- e controle do Aedes aegypti; peitos de dengue grave que evolu- • Investigação dos casos com manifes- íram para óbito para identificação tações clínicas mais graves (dengue de prováveis fatores de risco e/ou com sinais de alarme e dengue grave) dificuldade de acesso oportuno à tendo em vista a nova classificação; assistência à saúde; • Realização de análises de dados se- • Monitoramento dos indicadores de- manais, em conjunto com técnicos finidos no Plano de Contingência da Gerência de Controle de Zoono- Municipal para o enfrentamento da ses, para orientar as ações de con- Dengue, Chikungunya e Zika em Belo trole vetorial; Horizonte e discussão quinzenal dos • Participação na atualização do pro- mesmos no Grupo Executivo de Con- tocolo de manejo clínico e capacita- trole da Dengue, Chikungunya e Zika ção das equipes, em conjunto com a (GECDCZ), para a proposição e avalia- Gerência de Assistência (GEAS), além ção de ações intersetoriais. de acompanhamento dos fluxos de 2- Vírus Zika 2.1- Situação Epidemiológica O Zika vírus (ZikaV) é um RNA vírus, do África (Angola, República Central Africana, gênero Flavivírus, família Flaviviridae. Foi Gâmbia, Uganda, Zâmbia, Nigéria, Tanzânia, isolado pela primeira vez em primatas não Egito, África Central, Serra Leoa, Gabão, Se- humanos em Uganda, na floresta Zika em negal, Costa do Marfim, Camarões, Etiópia, 1947. O principal modo de transmissão Quênia, Somália e Burkina Faso), Ásia (Malá- descrito do vírus é por vetores (Aedes). sia, Índia, Paquistão, Filipinas, Tailândia, Vie- Há registro de circulação esporádica na tnã, Camboja, Índia, Indonésia) e Oceania 6
Edição nº 7 - Dezembro de 2016 (Micronésia, Polinésia Francesa, Nova Cale- investigados como suspeitos de infecção dônia, Ilhas Cook, Ilhas Salomão e Vanuatu). pelo vírus Zika. Em casos de gestantes, o cri- Nas Américas foi confirmada a trans- tério utilizado foi mais sensível, sendo neces- missão autóctone do vírus Zika na Ilha de sária apenas a presença do exantema para se Páscoa (Chile) em fevereiro de 2014. considerar como suspeita de vírus Zika. Os primeiros casos autóctones confir- O vírus Zika foi identificado pela pri- mados no Brasil ocorreram no Nordeste, meira vez em Belo Horizonte no mês de em abril de 2015 e, desde então, houve dezembro de 2015. Nesse ano, foram aumento do número de casos em vários notificados 16 casos suspeitos, dos quais estados brasileiros, inclusive em Minas Ge- 12 foram descartados e quatro confirma- rais. No final de 2015, o Ministério da Saúde dos por critério laboratorial. Todos os ca- informou a associação entre a infecção pelo sos confirmados foram do DS Pampulha, vírus Zika em gestantes e o aumento do nú- sendo os primeiros casos autóctones do mero de microcefalias em recém-nascidos. município. Já em 2016 foram notificados Dessa forma, a Gerência de Vigilância até a SE 47, 1.495 casos com suspeita de em Saúde, a Gerência de Assistência, a Ge- infecção pelo vírus Zika, sendo 560 em rência de Apoio Diagnóstico e a Gerência gestantes. Foram confirmados 526 casos de Urgência e Emergência construíram con- e descartados 369 por critério laboratorial juntamente um plano de contingência para e vinculo epidemiológico. Os outros 600 a prevenção e enfrentamento da doença. O continuam em investigação (Tabela 4). município de Belo Horizonte adotou a defi- Dos 526 casos confirmados para zika, 232 nição de caso do Ministério da Saúde (MS) foram em gestantes, sendo 216 casos en- e Secretaria Estadual de Saúde (SES), onde cerrados por critério laboratorial (RT-PCR) todos os pacientes com exantema maculo- e 16 por vínculo epidemiológico. Destas, papular pruriginoso, acompanhado de pelo 44 são da regional Norte, 38 de Venda menos dois dos seguintes sintomas: febre; hi- Nova, 29 da Nordeste, 27 da Oeste, 26 da peremia conjuntival sem secreção e prurido; Leste, 21 da Pampulha, 19 do Barreiro, 19 poliartralgia e/ou edema periarticular, sejam da Noroeste e 9 da Centro Sul. Tabela 4 - Casos notificados por suspeita de Zika, Belo Horizonte 2016 Distrito de Total de Notificações Confirmados Descartados Pendentes residência notificações gestante Laboratório Vínculo Total Laboratório Vínculo Total Barreiro 100 73 19 4 23 46 5 51 26 Centro Sul 61 30 17 8 25 10 3 13 23 Leste 146 51 27 42 69 23 1 24 53 Nordeste 228 74 34 66 100 33 13 46 82 Noroeste 132 57 19 39 58 25 12 37 37 Norte 261 85 42 52 94 37 1 38 129 Oeste 122 52 17 0 17 31 3 34 71 Pampulha 164 42 20 34 54 16 1 17 93 Venda Nova 214 76 33 31 64 18 79 97 53 Ignorado 67 20 8 14 22 4 8 12 33 Total 1495 560 236 290 526 243 126 369 600 Fonte: SINAN NET/GEEPI/GVSI/SMSA/PBH, atualização 23/11/2016 7
BOLETIM DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - A experiência de Belo Horizonte no enfrentamento às arboviroses 2.2- Ações realizadas para a implantação da vigilância do Vírus Zika • Elaboração do Plano de Contingên- de treinamentos sobre a importân- cia Municipal para o enfrentamento cia da vigilância de todas as gestan- da Dengue, Chikungunya e Zika em tes com exantema; Belo Horizonte; • Colocação de telas na casa de ges- • Capacitação dos médicos e enfermei- tantes residentes em áreas de circu- ros dos Centros de Saúde, Unidades lação comprovada de zika; de Pronto-Atendimento e Hospitais; • Avaliação da situação epidemiológi- • Elaboração e distribuição de notas ca e divulgação das análises sema- técnicas sobre o manejo clínico de nais aos profissionais de saúde; casos suspeitos de infecção por ví- • Instituída sala de situação junto ao rus Zika na rede SUS/BH; GECDCZ para análise dos casos e to- • Sensibilização das equipes por meio mada de decisão. 3- Febre de Chikungunya 3.1- Situação Epidemiológica O Chikungunya é um vírus RNA que O Chikungunya teve a capacidade de pertence ao gênero Alphavirus da família emergir em novas áreas muito rapidamen- Togaviridae. O nome Chikungunya signifi- te devido à presença de mosquitos vetores ca “aqueles que se dobram”, descrevendo competentes e hospedeiros suscetíveis, o a aparência encurvada dos pacientes que que aumentou o risco de transmissão en- desenvolvem artralgia intensa. O vírus foi dêmica do vírus nas Américas, chegando isolado pela primeira vez em humanos na ao Brasil no ano de 2014, onde foi detec- epidemia da Tanzânia em 1952-1953. Ou- tada a circulação autóctone em três Unida- tros surtos ocorreram na África e na Ásia des Federativas do país. Em dois estados durante as décadas de 60 e 70. ocorreram surtos da doença, no Amapá e Após a identificação do vírus Chikun- na Bahia, e em Mato Grosso do Sul houve gunya, os surtos ocorreram esporadica- detecção do vírus de forma autóctone, mas mente, e uma pequena transmissão foi re- com menor intensidade. Em 2015, foram latada após metade dos anos 80. Em 2004, notificados no país 38.332 casos prováveis um surto originário da costa do Quênia de Chikungunya, distribuídos em 696 mu- espalhou-se pelas ilhas do Oceano Índico nicípios, dos quais 13.236 foram confirma- e, a seguir, para a Índia infectando mais 1,39 dos. Houve confirmação de seis óbitos por milhão de pessoas. O surto da Índia con- febre de Chikungunya. A mediana de idade tinuou em 2010 para áreas ainda não en- dos óbitos foi de 75 anos. Em 2016, até a SE volvidas no início da epidemia. Em 2007 foi 21, foram registrados 122.762 casos prová- detectada a transmissão autóctone no nor- veis de Chikungunya, distribuídos em 1.945 te da Itália, e casos importados da doença municípios; destes, 30.315 casos foram con- na França, nos Estados Unidos e no Brasil. firmados. Houve confirmação de 17 óbitos 8
Edição nº 7 - Dezembro de 2016 por febre de chikungunya. A mediana de pacientes chegaram doentes em Belo Ho- idade dos óbitos foi de 69 anos. rizonte e procuraram as unidades de saúde O primeiro caso suspeito de Chikun- locais no mesmo dia da chegada, quando gunya em Belo Horizonte ocorreu no ano foram iniciadas todas as atividades que le- de 2013, mas após investigação laboratorial varam à confirmação dos casos. Em 2015 fo- o caso foi descartado. Já em 2014, foram no- ram confirmados dez casos importados de tificados 41 casos suspeitos, sendo descar- Chikungunya, todos com história de viagem tados 39 e confirmados dois casos importa- para a região nordeste do Brasil. No ano de dos. Essas pessoas saíram dos EUA, tiveram 2016 foram confirmados até a SE 41, 21 casos um período de férias na Jamaica, onde es- autóctones da doença e 18 importados. Os tava ocorrendo uma epidemia de Chikun- primeiros casos autóctones do município gunya (local provável da infecção). Esses foram detectados em janeiro (Tabela 5). Tabela 5 - Casos confirmados e prováveis de Chikungunya, residentes em Belo Horizonte 2016 Distrito de Confirmados Confirmados Suspeitos Total residência autóctones importados Barreiro 0 2 0 2 Centro Sul 0 4 2 6 Leste 2 4 2 8 Nordeste 4 0 2 6 Noroeste 2 2 0 4 Norte 1 1 0 2 Oeste 3 3 0 6 Pampulha 3 1 0 4 Venda Nova 6 1 0 7 Total 21 18 6 45 Fonte: SINAN ONLINE/GEEPI/GVSI/SMSA/PBH, atualização 11/10/2016 3.2- Ações realizadas para a implantação da vigilância do Chikungunya • Elaboração do Plano de Contingên- • Elaboração e distribuição do cartaz cia Municipal para o enfrentamento com fluxograma que orienta a abor- da Dengue, Chikungunya e Zika em dagem do paciente (Figura 1); Belo Horizonte; • Sensibilização das equipes por web con- • Capacitação dos médicos e enfermei- ferência sobre importância da suspeita clí- ros dos Centros de Saúde, Unidades nica de Chikungunya em pacientes oriun- de Pronto-Atendimento e Hospitais; dos de áreas de circulação da doença; • Elaboração e distribuição de cartaz infor- • Avaliação da situação epidemiológi- mativo e do informe técnico sobre ma- ca e divulgação das análises sema- nejo clínico do Chikungunya (Figura 1); nais aos DS; 9
BOLETIM DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - A experiência de Belo Horizonte no enfrentamento às arboviroses • Instituída sala de situação junto ao GECDCZ para análise dos casos e to- mada de decisão. Figura 1 - Cartazes informativos sobre a Chikungunya CLASSIFICAÇÃO DE RISCO E MANEJO DO PACIENTE Febre de Chikungunya INFORME TÉCNICO PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE – CHIKUNGUNYA COM SUSPEITA DE CHIKUNGUNYA (FASE AGUDA) Caso suspeito – fase aguda – paciente com febre por até 7 dias Chikungunya significa aparência curvada dos pacientes, motivada pelas A Febre de Chikungunya (CHIK) é uma doença viral trans- Diagnóstico Diferencial acompanhada de artralgia(s) intensa de início súbito. Pode estar associado a cefaleia, mialgias e exantema. fortes dores musculares e nas articulações, características da doença. mitida pelo mosquito do gênero Aedes, o mesmo que • Dengue; Considerar história de deslocamento nos últimos 15 dias para áreas com transmissão de Chikungunya. transmite a dengue. Desde o final de 2013 foi registrada • Leptospirose; A transmissão ocorre pela picada do mosquito Aedes aegypti, o mesmo a transmissão da doença em vários países do Caribe, com • Meningite; da Dengue. mais de 700.000 casos notificados até o momento. No se- • Doenças exantemáticas (rubéola, sarampo); Sinais de gravidade e critérios de internação: gundo semestre de 2014, os primeiros casos de transmissão • Malária. Grupos de risco: • Acometimento neurológico. autóctone foram registrados no Brasil o que aumenta o risco • Sinais de choque: extremidades frias, cianose, tontura, hipotensão, • Gestantes. enchimento capilar lento ou instabilidade hemodinâmica. de epidemias. Sintomas mais comuns: Comparação das Características Clínicas e Laboratoriais • Maiores de 65 anos. • Menores de 2 anos Avaliar sinais de gravidade, critérios de internação e grupos de risco • Dispneia. • Dor torácica. de Infecções do vírus de Chikungunya e Dengue1 (exceto neonatos). • Vômitos persistentes. Definição de caso suspeito de Chikungunya Características Clínicas e Infecção pelo vírus Infecção pelo • Pacientes com comorbidades. • Neonatos. • Descompensação de doença de base. • Febre alta; Paciente com febre alta de início súbito e artralgia ou artrite Laboratoriais de Chikungunya vírus da Dengue • Sangramentos de mucosas. intensa não explicadas por outras condições e residindo ou • Dor/inchaço nas articulações: tendo visitado áreas endêmicas (ou epidêmicas) até duas Febre (> 39°C) +++ ++ Mialgias + ++ (mais frequente nas mãos, tornozelos e joelhos); semanas antes do inicio dos sintomas. Artralgias +++ +/- Cefaleia ++ ++ Pacientes sem sinais de gravidade, sem critério de Pacientes do grupo Pacientes com sinais de gravidade • Dor de cabeça; internação e/ou condições de risco de risco em observação e/ou critério de internação Manifestações clínicas Exantema ++ + • Dores musculares; Período de incubação: 2-12 dias Distúrbios hemorrágicos +/- ++ Choque - + • Manchas vermelhas. Sintomas mais frequentes Leucopenia ++ +++ Acompanhamento ambulatorial Acompanhamento ambulatorial em observação Acompanhamento em internação Febre Neutropenia + +++ Artralgia* ou Poliartrite Linfopenia +++ ++ Caso apresente febre e algum Exantema maculo-papular Hematócrito elevado - ++ Exames: Exames: Exames: desses sintomas, especialmente Mialgia Trombocitopenia + +++ 1 - Específicos: conforme orientação da Vigilância 1 - Específicos: conforme orientação da Vigilância 1 - Específicos: obrigatório (isolamento viral ou nas articulações, procure Cefaleia Tabela modificada por Staples et al., 2009 Epidemiológica (isolamento viral ou sorologia). Epidemiológica (isolamento viral ou sorologia). sorologia). Outros sintomas 2 - Inespecífico: Hemograma com contagem de 2 - Inespecífico: Hemograma com contagem de 2 - Inespecífico: hemograma com contagem de imediatamente um centro de Lombalgia Exames laboratoriais plaquetas (auxiliar diagnóstico diferencial). plaquetas (auxiliar diagnóstico diferencial). plaquetas (auxiliar diagnóstico diferencial). 3 - Bioquímica: função hepática, transaminase e 3 - Bioquímica: função hepática, transaminases, saúde. Não tome remédios sem Fadiga Exames inespecíficos eletrólitos. função renal e eletrólitos. 4 - Complementares: conforme critério médico. orientação médica. E não se Náuseas e Vômitos Hemograma – deve ser realizado em pacientes com fatores de Diarreia risco ou com sinais de gravidade. Pode auxiliar no diagnóstico Conduta Clínica na Unidade: esqueça: tome bastante líquido. Fotofobia diferencial. Quando indicado, coletar na urgência, utilizando 1 - Droga de escolha: Paracetamol ou dipirona. Conduta Clínica na Unidade: Evitar o uso de aspirina e anti-inflamatórios. Em Dor retrorbitária o mesmo fluxo já pactuado para casos suspeitos de dengue. caso de dor refratária seguir as recomendações 1 - Droga de escolha: Paracetamol ou dipirona. Conduta Clínica: Lesões muco-cutâneas (úlceras orais, lesões de pele do manual de manejo clínico. Evitar o uso de aspirina e anti-inflamatórios. 1 - Avaliar o grau de desidratação e sinais de cho- Bioquímicos – deve ser realizado em pacientes com sinais de 2 - Hidratação oral: avaliar grau de desidratação e Em caso de dor refratária seguir as recomenda- que para instituir terapia de reposição volêmica. vesico-bolhosas) estimular a ingestão de líquidos. ções do manual de manejo clínico. 2 - Droga de escolha: paracetamol ou dipirona. gravidade (perfil hepático, função renal, eletrólitos). 3 - Avaliar hemograma para apoio no diagnóstico 2 - Hidratação oral: avaliar grau de desidratação e Evitar o uso de aspirina e anti-inflamatórios. Em *Principalmente articulações das mãos, punhos e tornozelos. Acometimento diferencial: dengue, malária e leptospirose. estimular a ingestão de líquidos. caso de dor refratária seguir as recomendações 4 - Encaminhar para a unidade de referência a 3 - Avaliar hemograma para apoio no diagnóstico do manual de manejo clínico. é geralmente bilateral, simétrico, e pode estar acompanhado de edema. Exames específicos partir de surgimento de sinais de gravidade ou diferencial: dengue, maláriae leptospirose. 3 - Avaliar hemograma para apoio no diagnóstico • PCR ou isolamento viral: geralmente positivo do 1º ao 8º critérios de internação. 4 - Notificar. diferencial: dengue, maláriae leptospirose. Grupos de risco 5 - Notificar. 5 - Encaminhar para unidade de referência a par- 4 - Tratar complicações graves conforme quadro dia de doença. A sensibilidade é maior até o 5º dia; 6 - Orientar retorno no caso de persistência da tirde surgimento de sinais de gravidade. clínico e recomendações do manual de manejo • Gestantes • Sorologia IgM: pode estar positiva no 1º dia de doença, febre por mais de 5 dias ou no aparecimento de 6 - Orientar retorno diário até o desaparecimento clínico. • Maiores de 65 anos mas a sensibilidade é maior a partir do 4º dia. sinais de gravidade. da febre. 5 - Notificar. 6 - Critérios de alta: melhora clínica, ausência de • Menores de 2 anos (neonato é critério de internação) Obs: para fins de manejo clínico, a melhor data de coleta dos Elimine todos os focos do mosquito para • Pacientes com comorbidades exames acima é apresentada no verso deste boletim técnico. sinais de gravidade, aceitação de hidratação oral e avaliação laboratorial. evitar casos de dengue e de chikungunya. Conduta no domicílio: Conduta no domicílio: Sinais de gravidade ou critério de internação Tratamento 1 - Seguir as orientações médicas. 1 - Seguir as orientações médicas. • Acometimento neurológico • Utilizar sintomáticos (dipirona ou paracetamol) pois não 2 - Evitar automedicação. 2 - Evitar automedicação. 3 - Repouso – evitar esforço. 3 - Repouso – evitar esforço. • Sinais de choque (extremidades frias, hipotensão, cianose, existe medicação específica; 4 - Utilizar compressas frias para redução de da- 4 - Utilizar compressas frias para redução de danos tontura, instabilidade hemodinâmica) • Não utilizar corticóide, acido acetil-salicílico ou AINE na nos articulares. articulares. • Dispneia fase aguda (primeiros 7 a 10 dias de doença). Não utilizar calor nas articulações. Não utilizar calor nas articulações. 5 - Seguir orientação de exercícios leves recomen- 5 - Seguir orientação de exercícios leves recomen- • Dor Torácica dados pela equipe de saúde. dados pela equipe de saúde. Vasos de plantas Descartáveis Pneus em livres dos pratos no lixo locais cobertos • Vômitos persistentes Notificação 6 - Retornar a unidade de saúde no caso de per- 6 - Retornar diariamente na unidade até o desapa- • Neonatos • Imediata (menos de 24h): sistência da febre após 5 dias ou no aparecimento recimento da febre. de fatores de gravidade. • Descompensação de doença de base • por telefone para GEREPI ou CIEVS-BH (após as 18h e nos • Sangramento de mucosa finais de semana e feriados) e por notificação impressa. Fonte: GCSO/SMSA-PBH Ações de controle de zoonoses no combate ao Aedes aegypti Como mencionado anteriormente, em materiais educativos. Em casos mais dezembro de 2015, considerando a gravida- críticos, os proprietários dos imóveis de da situação entomológica, fundamentada são notificados para providenciar nos resultados do monitoramento sistemáti- a limpeza do terreno. As áreas a se- co de ovos de Aedes aegypti por meio das rem trabalhadas são selecionadas ovitrampas, o município decretou Situação com base na infestação do vetor e na de Emergência. Dessa forma, além das ações ocorrência de casos suspeitos das do- de rotina do Programa, foram realizadas di- enças (hot spots/áreas quentes). versas ações estratégicas com o objetivo de • Vistorias para controle do vetor: reduzir a infestação do vetor na cidade. além do trabalho realizado pela Dentre as diversas ações estratégicas, equipe de Agentes de Combate a destacam-se: Endemias - ACE, seguindo a deter- • Ampliação do número e frequência minação do Ministério da Saúde, a dos mutirões de limpeza (Tabela 6): equipe de Agentes Comunitários consiste em ação integrada de visi- de Saúde (ACS) passou a realizar em tação às residências para retirada de sua rotina de trabalho as vistorias materiais que possam servir de cria- e orientações aos moradores para douros do mosquito e distribuição de combate ao vetor (Tabela 7). 10
Edição nº 7 - Dezembro de 2016 Tabela 6 - Mutirões de limpeza realizados em Belo Horizonte, 2016* Nº de Toneladas Imóveis Imóveis Pessoas Distrito Caminhões Viagens mutirões de lixo Fechados vistoriados envolvidas Barreiro 16 274 2968 12666 140 186 1270 Centro Sul 19 182 2796 16072 113 101 1500 Leste 12 416 5706 18387 125 196 1194 Nordeste 29 428 6579 30216 161 321 1546 Noroeste 12 416 8398 24169 127 251 1539 Norte 13 387 2961 11596 131 286 1120 Oeste 23 717 8375 38278 155 360 2184 Pampulha 24 738 5089 15681 210 372 1336 Venda Nova 26 520 4509 27869 172 275 2180 Total 174 4078 47381 194934 1334 2348 13869 Fonte: GCSO/ SMSA - *Dados parciais até 26/08/2016 Tabela 7 - Vistorias realizadas pelos ACE e ACS em Belo Horizonte, janeiro a setembro de 2016 Equipe Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Total ACE 349.686 373.999 587.162 397.939 583.855 481.126 488.922 437.750 289.566 3.990.005 ACS 93.823 113.156 75.326 98.325 112.280 106.451 72.083 87.239 99.520 858.203 Total BH 443.509 487.155 662.488 496.264 696.135 587.577 561.005 524.989 389.086 4.848.208 Fonte: GECOZ/GVSI/SMSA, 2016 • Agendamento noturno: durante as os agentes da Defesa Civil passam atividades de rotina dos agentes, a realizar visitas noturnas nos imó- cerca de 25% dos imóveis não são veis pendentes para agendamentos acessados por ausência do mo- de vistorias a serem realizadas pela rador (imóveis pendentes). Várias equipe de Controle de Zoonoses. Tal tentativas são realizadas, inclusive atividade possibilitou sensível redu- aos finais de semana, mas poucos ção do percentual de imóveis fecha- resultados são obtidos. Em 2016, dos nas áreas trabalhadas (Tabela 8). Tabela 8 - Resgate de imóveis fechados a partir da visita noturna para agendamento, BH, 2016 Áreas trabalhadas Pendência inicial (%) Agendamento (%) Pendência final (%) Centro de Saúde Lindéia 27,8 83,2 11,5 Centro de Saúde Regina 20,0 45,9 12,3 Centro de Saúde Minas Caixa 15,5 58,2 7,1 Centro de Saúde Providência 23,4 49,3 18,9 Centro de Saúde Mantiqueira 36,9 59,5 18,8 Centro de Saúde Lagoa 24,9 39,6 17,1 Centro de Saúde Nova York 25,8 37,6 16,8 Centro de Saúde Santa Terezinha 11,7 34,4 7,9 Fonte: GECOZ/GVSI/SMSA, 2016 11
BOLETIM DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - A experiência de Belo Horizonte no enfrentamento às arboviroses • Abertura de casas abandonadas: essa mento, demonstram a importância ação foi facilitada devido à determi- dessa medida considerando o alto nação federal tornando o processo percentual de imóveis (51%) com menos burocrático e mais imediato. presença de focos (Tabela 9). Os resultados das ações, até o mo- Tabela 9 - Abertura de casas abandonadas, Belo Horizonte, 2016 Nº de imóveis Tipo de imóvel Nº imóveis com Distrito vistoriados Residencial Comercial Lote Outro foco do mosquito Barreiro 2 2 0 0 0 2 Centro Sul 3 2 1 0 0 2 Leste 7 5 0 0 2 3 Nordeste 10 7 0 3 0 6 Noroeste 27 18 1 0 8 13 Norte 9 9 0 0 0 3 Oeste 31 14 0 0 17 14 Pampulha 37 20 0 1 16 21 Venda Nova 8 6 0 1 1 4 Total 134 83 2 5 41 68 Fonte: GECOZ/GVSI/SMSA, 2016 • Ação com as imobiliárias (Tabela imóveis disponíveis para venda e lo- 10): casas e imóveis fechados apre- cação em parceria com as redes de sentam grande possibilidade de ge- imobiliárias do município a fim de rar focos do mosquito. Dessa forma, mitigar os riscos de proliferação do as equipes de Controle de Zoonoses vetor eliminando criadouros. e da COMDEC realizam vistorias nos Tabela 10 - Vistoria em imóveis sob responsabilidade de imobiliárias, Belo Horizonte, 2016 Nº de imóveis Tipo de imóvel Nº imóveis com Distrito vistoriados Casa Apto Barracão Loja Galpão Lote vago foco do mosquito Barreiro 94 19 4 24 45 0 2 2 Centro Sul 64 42 9 2 11 0 0 4 Leste 10 8 0 2 0 0 0 0 Nordeste 19 12 1 0 5 1 0 1 Noroeste 52 45 3 4 0 0 0 3 Norte 9 7 1 0 0 1 0 0 Oeste 71 47 14 1 6 3 0 4 Pampulha 20 20 0 0 0 0 0 2 Venda Nova 20 16 4 0 0 0 0 1 Total 359 216 36 33 67 5 2 17 Percentual de imóveis com foco: 4,74% Fonte: GECOZ/GVSI/SMSA, 2016 12
Edição nº 7 - Dezembro de 2016 Todas essas ações realizadas em 2016 e sustentada do número médio de ovos demonstram resultado positivo no com- por armadilha, mesmo com a ocorrência bate ao vetor. As análises das ovitrampas de chuvas no período, fator determinante realizadas nos meses de fevereiro, março para a proliferação do Aedes aegypti (Grá- e abril indicam uma redução significativa ficos 2 e 3). Gráfico 2 - Média móvel do número médio de ovos por armadilha, Belo Horizonte, 2008-2016* Fonte: GECOZ/GVSI/SMSA, 2016 - *Dados parciais Gráfico 3 - Chuvas e número de ovos coletados por armadilha, Belo Horizonte, 2014-2016* Fonte: GECOZ/GVSI/SMSA, 2016 - *Dados parciais 13
BOLETIM DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - A experiência de Belo Horizonte no enfrentamento às arboviroses Ações assistenciais no controle da doença Desde o início dessa epidemia de den- A reorganização assistencial visando gue, várias ações assistenciais foram de- ao atendimento das pessoas com sinto- senvolvidas, em conjunto com as demais mas de dengue foi necessária a partir de gerências da Secretaria Municipal de Saú- janeiro de 2016, quando os indicadores de. A participação da Gerência de Assis- epidemiológicos sinalizaram entrada em tência no grupo Executivo de Controle e nível 2 de epidemia em alguns Centros de Combate à Dengue, Chikungunya e Zika Saúde. Nesse momento foi iniciado o pro- (GECDCZ) foi de extrema importância por cesso de incremento de profissionais para contribuir no planejamento de ações inte- dar suporte às Equipes de Saúde da Famí- gradas de enfrentamento a partir da situa- lia, conforme previsto no Plano de Contin- ção epidemiológica da doença. gência Municipal para o Enfrentamento da Com o avanço da epidemia de dengue Dengue, Chikungunya e Zika. Isto se deu em Belo Horizonte, muitas ações contin- por meio de equipes volantes para Centros genciais foram implementadas na Aten- de Saúde em todos os Distritos Sanitários, ção Primária do município visando reduzir totalizando 12 equipes, sendo que as re- a morbimortalidade da doença. gionais Nordeste, Norte e Pampulha rece- Os estagiários do Programa “Posso Aju- beram duas equipes e as demais regionais dar” realizaram informes e atividades edu- uma equipe em cada. cativas nas salas de espera das unidades Além de reforço de recursos humanos, de saúde de Belo Horizonte abordando as nestas unidades foi realizada também uma medidas preventivas para Dengue, Zika reorganização interna do processo de tra- e Chikungunya, os respectivos sintomas, balho das equipes, de forma a adequarem- sinais de alarme e medidas a serem toma- -se à crescente demanda de atendimentos das em caso de suspeição das doenças. As de casos de dengue. O acompanhamento ações foram realizadas de maneira intera- e o apoio para essa reorganização foram tiva com os usuários, de forma a esclarecer realizados pela Gerência de Atenção à as dúvidas. Os estagiários passaram por Saúde dos distritos e pela Gerência de As- treinamento específico ministrado pela sistência do nível central, em consonância coordenação do Programa, sendo oferta- com diretrizes publicadas pela SMSA. Des- das 480 vagas. sa forma foi feita a otimização da dinâmica Desde o final de 2015, diversas ações assistencial, aumentando a capacidade de educacionais foram realizadas para capa- atendimento aos casos agudos. citar os profissionais de saúde no adequa- A capacidade assistencial da rede de do manejo de casos suspeitos de dengue. urgência também foi ampliada com a As ações incluíram tanto profissionais dos abertura de quatro Centros de Atendi- Centros de Saúde quanto profissionais mento de Dengue (CAD) localizados nos dos serviços de urgência. Estas ações edu- distritos Barreiro, Nordeste, Pampulha e cacionais foram ampliadas no início de Venda Nova (Tabela 11). 2016, de forma a contemplar profissionais das áreas nas quais era evidenciada uma maior circulação da doença. 14
Edição nº 7 - Dezembro de 2016 Tabela 11 - Funcionamento dos CAD em Belo Horizonte, 2016 Equipamento Regional Abertura Fechamento CAD 1 Venda Nova 20/02/16 06/05/16 CAD 2 Pampulha 10/03/16 13/05/16 CAD 3 Barreiro 21/03/16 17/05/16 CAD 4 Nordeste 15/04/16 30/05/16 Fonte: GEAS/GEUG/SMSA Foi realizado ainda reforço médico de de materiais técnico-assistenciais tais como UPA’s, conforme a demanda. O município protocolos, notas técnicas, informes e car- contou também com a Unidade de Repo- tazes para subsídio ao processo assistencial. sição Volêmica (URV) no Hospital Odilon Em relação à Zika, foi elaborada uma Behrens, retaguarda para as UPA’s e CAD’s nota técnica orientando o atendimento a para a realização de hidratação venosa, a casos suspeitos e foi elaborado, de manei- partir de 20/02. ra intergerencial, um fluxo específico para Considerando o grande aumento da de- o atendimento das gestantes suspeitas de manda de realização de exames laborato- Zika, bem como de recém-nascidos com riais, essenciais para o tratamento da dengue, microcefalia, contendo os direcionamen- foram realizados incrementos de máquinas tos para notificação, fluxos, exames e en- de hemogramas e técnicos de laboratório. caminhamentos. O acompanhamento das Para a viabilização das rotas de transportes gestantes com suspeita de Zika constitui dos exames foi ampliado o número de mo- uma medida importante, garantindo aces- tos, conforme a logística dos distritos. Foram so da gestante ao acompanhamento siste- disponibilizadas 13 máquinas, sendo: duas mático com testagem laboratorial do Zika para o Barreiro, uma para Leste, duas para vírus. Quando confirmada a infecção, as Nordeste, duas para Noroeste, uma para gestantes são encaminhadas ao ambulató- Norte, uma para Oeste, duas para Pampulha, rio de Pré-Natal de Alto Risco no Hospital duas para Venda Nova. As unidades foram Odilon Behrens (HOB) para acompanha- contempladas também com técnicos para mento especializado. Os Centros de Saúde o processamento dos exames, alcançando também realizam o seguimento da gesta- o número de 18 profissionais. Os técnicos ção por meio da vinculação das gestantes foram lotados em Centros de Saúde, nos às equipes de saúde da família. CADs, no Odilon e na UPA Nordeste. Quanto Os bebês que nascem com microce- ao transporte, foram disponibilizadas nove falia são referenciados ao CTR Orestes Di- motos, sendo uma por distrito. niz (Centro de Treinamento e Referência Houve um monitoramento da dis- para Doenças Infecciosas e Parasitárias) ponibilidade de insumos necessários ao para acompanhamento com o serviço atendimento das doenças e dos cartões de infectologia pediátrica e investigação. de atendimento à dengue, juntamente ao Os bebês com confirmação para Zika são almoxarifado. A partir desse acompanha- encaminhados para avaliação e acompa- mento foi realizada a previsão e a provisão nhamento no ambulatório de neurologia dos materiais a serem distribuídos nas uni- pediátrica do Hospital Odilon Behrens dades de saúde. Foi realizado ainda o envio (HOB). Os bebês, cujas mães tiverem resul- 15
BOLETIM DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - A experiência de Belo Horizonte no enfrentamento às arboviroses tado positivo para Zika, independente da estavam no primeiro e segundo trimestre presença de microcefalia também são en- de gestação, residentes em áreas de circu- caminhados ao HOB. Os casos em que há lação comprovada de Zika em gestantes. A comprometimento neuropsicomotor são instalação foi realizada mediante assinatu- encaminhados para estimulação preco- ra do termo de consentimento. ce nos Centros de Reabilitação (CREAB's). As telas utilizadas são de polietileno, Além do acompanhamento nos serviços impregnadas com inseticida do grupo especializados, é feito o acompanhamen- piretróides, representando uma dupla to do crescimento e desenvolvimento da proteção para as gestantes, considerando criança nos Centros de Saúde. que fazem uma barreira física e química Em relação à prevenção, foram elaborados ao mosquito transmissor das doenças. Tra- folders contendo informações acerca da pre- ta-se um projeto pioneiro conduzido pela venção da doença, com ênfase nas gestantes. Secretaria Municipal de Saúde. Até o dia Em março de 2016, iniciou-se a telagem 10/10/16 foram teladas 607 residências no das janelas de residências de mulheres que município de Belo Horizonte. Figura 2 e 3 - Instalação de tela de proteção com inseticida em residência de gestante, Regional Norte, Belo Horizonte, 2016 Fonte: GCSO/SMSA Os casos de Chikungunya são atendi- dos nas Unidades de Pronto-Atendimento e Centros de Saúde. Os pacientes que evoluíram com cronicidade da artralgia foram encaminhados ao serviço de reu- matologia e à reabilitação. O monitoramento epidemiológico e assistencial da situação de dengue, zika e chikungunya no município, de forma con- junta e intersetorial, proporcionou ações integradas de enfrentamento para o con- tingenciamento efetivo. 16
Edição nº 7 - Dezembro de 2016 Ações de comunicação e mobilização social O Mobiliza SUS-BH, equipe de mobili- e empresas e também intervenções em zação da Secretaria Municipal de Saúde de locais de grande circulação de pessoas, Belo Horizonte, desenvolve diversas ações como Mercado Central, CBTU, Estações educativas em locais estratégicos a fim de BHBUS e MOVE, PSIU, BH Resolve, confor- sensibilizar a população para atitudes de me descrição abaixo: promoção a saúde e prevenção de ende- mias através de variadas possibilidades de • Instituições de ensino: foram mobi- comunicação, planejados de acordo com o lizadas 93 instituições de ensino em objetivo e público a serem atingidos. O gru- Belo Horizonte, do ensino infantil ao po busca o empoderamento da população ensino superior, beneficiando cer- nas questões relativas à saúde, formando ca de 24 mil alunos. A abordagem multiplicadores no combate ao Aedes ae- ocorre de forma lúdica e educativa, gypti, transmissor das três preocupantes levando contação de estória para as doenças: Dengue, Chikungunya e Zika. crianças de 2 a 6 anos, tabuleiro da No primeiro semestre de 2016, a equi- saúde (jogo de perguntas e respos- pe realizou 263 eventos de mobilização tas) ao ensino fundamental e pales- social. Foram ações pontuais em escolas tra aos adolescentes e adultos. Figura 4 - Apresentação do MobilizaSUS em escola infantil de Belo Horizonte, 2016 Fonte: GCSO/SMSA • Empresa sem Aedes: o projeto bus- de seus colaboradores, a empresa é ca o comprometimento das empre- convidada a divulgar a informação sas e de seus funcionários no com- de combate ao vetor aos clientes e bate diário/semanal ao mosquito comunidade na qual está inserida. Aedes aegypti. Além de incentivar a Em 2016 foram visitadas 72 empre- ampliação dos cuidados a serem to- sas em Belo Horizonte; mados dentro da empresa e na casa 17
BOLETIM DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - A experiência de Belo Horizonte no enfrentamento às arboviroses Figura 5 - Palestra com MobilizaSUS em empresa de Belo Horizonte, 2016 Fonte: GCSO/SMSA Figura 6 - Ação do MobilizaSUS no metrô, BH, 2016 • Meu Bairro em foco: explora o bairro que apresenta altos índices de casos notificados e/ou entrada de novos casos de dengue, levando ao co- nhecimento dos estabelecimentos, escolas e outros pontos estratégicos, a situação local e formas de elimina- ção dos focos. Também abordado nos eventos intitulados área comer- cial e mutirão de limpeza; • Quinta em Movimento: a ação é destinada aos locais de grande cir- culação e acesso ligados ao trans- porte de Belo Horizonte, como o CBTU (metrô), rodoviária, estações BHBUS e MOVE. As estratégias rea- lizadas são: música, teatro, persona- gens itinerantes além de distribui- ção de material informativo. Fonte: GCSO/SMSA 18
Edição nº 7 - Dezembro de 2016 Tendo em vista a grande circulação ção do público. Em um espaço montado diária de pessoas, o MobilizaSUS-BH tam- nesses locais, são apresentadas as fases do bém realiza atividades no PSIU/UAI, Merca- mosquito Aedes aegypti e técnicos em mo- do Central, BHResolve e Mineirão. Nessas bilização social esclarecem as dúvidas da ações são utilizados personagens itine- população. rantes e música de forma a chamar aten- Figura 7 - Ação do MobilizaSUS no estádio Mineirão, Belo Horizonte, 2016 Fonte: GCSO/SMSA Nos meses de janeiro e fevereiro as in- BHTRANS (GEDUC) participou das ações tervenções de mobilização social ganha- com a equipe de arte e mobilização so- ram reforço. A Gerência de Educação da mando esforços junto ao MobilizaSUS-BH. Capacitações Capacitação de multiplicadores A Gerência de Controle de Zoonoses combate ao Aedes aegypti. Durante esses da SMSA realizou capacitações de gru- encontros os técnicos abordaram as três pos específicos para atuarem como mul- doenças (dengue, chikungunya e zika), tiplicadores nas ações de prevenção e controle vetorial, cenário epidemiológico 19
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